Acordos internacionais recentes firmados entre Brasil e Portugal estão resultando em um marco inédito na indústria aeroespacial: a produção do primeiro avião militar português, o LUS-222. A aeronave, cuja estrutura será inteiramente fabricada em São José dos Campos pela empresa brasileira Akaer, representa não apenas um salto tecnológico como também um aprofundamento nas relações bilaterais de desenvolvimento industrial. Com investimento total de € 225 milhões, o equivalente a R$ 1,4 bilhão, o projeto é parte da estratégia de industrialização europeia, por meio da Agenda Aero.Next, que busca estimular cadeias produtivas de alta complexidade.
A aeronave será montada em Portugal, mas sua engenharia principal e as primeiras peças-chave sairão do Brasil a partir de 2026. A expectativa é de que a primeira unidade esteja pronta até 2028. O projeto envolve, de início, 60 empregos diretos em solo brasileiro, com expansão prevista conforme o andamento da linha de produção.
Com foco na aviação militar, regional e de transporte, o LUS-222 é descrito como uma solução versátil para missões em ambientes de difícil acesso. A fabricação do modelo marca a entrada definitiva de Portugal no setor de produção de aeronaves, enquanto reforça o papel do Brasil como centro de excelência na engenharia aeroespacial.
Detalhes técnicos e missão do LUS-222 no cenário internacional
Projetado como um bimotor de asa alta com porta de carga traseira, o LUS-222 tem capacidade para transportar até 19 passageiros ou duas toneladas de carga. Seu alcance operacional é de 2.100 km e pode atingir velocidade de cruzeiro de 370 km/h. A flexibilidade operacional é uma de suas maiores vantagens, permitindo decolagens e pousos em pistas curtas, sem pavimentação, o que o torna ideal para operações militares em regiões remotas, como selvas, desertos e áreas montanhosas.
Além de sua aplicação militar, a aeronave foi pensada também para o setor logístico e a aviação regional, com capacidade de operação em diferentes configurações. O LUS-222 poderá realizar missões de evacuação médica, transporte tático, patrulhamento de fronteiras, missões de busca e salvamento, e transporte executivo, se adaptado.
A empresa brasileira Akaer é responsável por toda a aeroestrutura do avião, incluindo fuselagem, asas, estabilizadores e superfícies de controle. Esse nível de participação consolida a expertise da companhia, que já atuou em projetos internacionais como o cargueiro KC-390 da Embraer e o caça Gripen E, desenvolvido em parceria com a Saab da Suécia.
Expansão industrial e integração entre os polos tecnológicos
O envolvimento da Akaer neste projeto também prevê, futuramente, a possibilidade de instalar uma unidade fabril em território português, dependendo da evolução da produção e da demanda no mercado europeu. A integração dos polos de engenharia e manufatura entre Brasil e Portugal é uma estratégia de longo prazo para consolidar uma linha de produção transatlântica, capaz de atender clientes na América Latina e na Europa.
O modelo de negócio estruturado para o LUS-222 prevê, inicialmente, a fabricação de seis unidades. Em seguida, poderá ser ampliado para 12 aeronaves em regime de um turno de produção e até 20 unidades em dois turnos. Cada unidade da aeronave deverá custar entre US$ 8 milhões e US$ 10 milhões, com preços finais variando conforme os contratos de fornecimento e customizações operacionais.
A linha de montagem final será instalada na cidade de Ponte de Sor, região do Alentejo, em Portugal, que tem se consolidado como um centro emergente para a indústria aeronáutica portuguesa. O município abriga também o Aeródromo Municipal de Ponte de Sor, que deverá receber a infraestrutura necessária para suportar os testes e a entrega das aeronaves.
Projeção de mercado e negociações internacionais em andamento
Miguel Braga, presidente do conselho da empresa portuguesa Aircraft and Maintenance, que lidera o projeto com apoio da Força Aérea Portuguesa, revelou que há tratativas com vários governos da América Latina e Caribe interessados na aquisição do LUS-222. As negociações estão sendo realizadas com Brasil, Paraguai, Uruguai, Argentina, Chile e República Dominicana.
O projeto preenche uma lacuna no mercado atual, uma vez que poucas fabricantes ainda oferecem aeronaves deste porte para múltiplos usos. A demanda reprimida por aviões leves, de fácil manutenção e operação em pistas reduzidas, foi confirmada por estudos de mercado conduzidos antes da fase de engenharia.
Pontos principais da projeção de mercado:
- Interesse já manifestado por ao menos seis países latino-americanos
- Previsão de aumento na demanda por aeronaves leves multifunção
- Potencial substituto para modelos fora de linha como o C-95 Bandeirante
- Aplicações múltiplas que atendem tanto forças armadas como operadores civis
Engenharia brasileira como diferencial estratégico no projeto
Mais de 20 engenheiros brasileiros estão atualmente integrados à equipe internacional que desenvolve o LUS-222 em Portugal. O diretor do programa, também brasileiro, lidera uma equipe multidisciplinar composta por aproximadamente 150 profissionais. Essa presença técnica brasileira reforça a transferência de conhecimento e a formação de capital humano qualificado para o desenvolvimento de novas tecnologias aeronáuticas.
A versão inicial do LUS-222 utilizará combustível convencional, priorizando viabilidade operacional em regiões com infraestrutura aeroportuária limitada. Porém, o projeto já considera a transição futura para tecnologias sustentáveis, como propulsão híbrida, motores elétricos e combustíveis alternativos como hidrogênio e amônia.

Iniciativas de sustentabilidade em estudo:
- Integração de motores híbridos para reduzir emissão de carbono
- Testes com células de hidrogênio para propulsão elétrica
- Utilização de baterias à base de amônia como fonte de energia
Panorama da aviação militar e substituição de frotas antigas
Com o avanço da idade de aeronaves atualmente em uso por várias forças aéreas da América Latina, há um movimento global de substituição de frotas por modelos mais eficientes. A Força Aérea Brasileira, por exemplo, tem avaliado opções para substituir o C-95 Bandeirante, avião fabricado pela Embraer a partir dos anos 1960, cuja linha de produção foi encerrada na década de 1990.
Ainda que não haja negociações formais entre Brasil e Portugal para aquisição do LUS-222 por parte da FAB, o modelo está sendo analisado por sua compatibilidade com os requisitos operacionais brasileiros. O próprio Ministério da Defesa mantém estudos estratégicos para renovação de frota com foco na vida útil das aeronaves e adequação orçamentária.
Outros países da região também estão seguindo o mesmo caminho, reforçando a atratividade de modelos como o LUS-222. A capacidade de operar em áreas com infraestrutura mínima, aliada ao baixo custo de manutenção, torna o avião especialmente interessante para regiões de geografia desafiadora.
Fase de desenvolvimento e perspectivas para a cadeia produtiva
A Akaer já iniciou a fase de detalhamento da engenharia estrutural do LUS-222, com previsão de início de fabricação dos primeiros componentes em 2026. O projeto está em fase de prototipagem digital e análise de viabilidade de materiais compostos, visando manter o peso da aeronave dentro dos parâmetros ideais de consumo e desempenho.
Entre os principais pontos do cronograma previsto:
- 2025: consolidação do projeto de engenharia detalhada
- 2026: início da produção das estruturas no Brasil
- 2027: primeiro voo de teste do modelo
- 2028: entrega das primeiras unidades
O desenvolvimento do LUS-222 já impacta positivamente a cadeia produtiva de São José dos Campos, com abertura de vagas especializadas e aquecimento do setor de fornecedores de médio porte. O programa também contribui para a valorização do parque tecnológico local, que abriga universidades, centros de pesquisa e laboratórios voltados à inovação em engenharia aeronáutica.
Lista de características técnicas principais do LUS-222
- Tipo: bimotor de asa alta
- Capacidade: 19 passageiros ou 2 toneladas de carga
- Velocidade máxima: 370 km/h
- Alcance operacional: até 2.100 km
- Requisitos de pista: curtas e não pavimentadas
- Aplicações: militar, logística, busca e salvamento, aviação regional
- Preço estimado por unidade: US$ 8 a 10 milhões
- Tecnologia futura: propulsão elétrica e híbrida em estudo
Resumo da parceria entre Akaer e EEA Aircraft
- Akaer será responsável pela fabricação das principais estruturas da aeronave
- Montagem final será feita em Portugal, na cidade de Ponte de Sor
- Projeto avaliado em R$ 1,4 bilhão, financiado por recursos da Agenda Aero.Next
- Envolvimento direto de mais de 150 profissionais na fase inicial
- Engenheiros brasileiros ocupam funções-chave no desenvolvimento