No dia 13 de janeiro de 2025, entrou em vigor no Brasil a Lei nº 15.100/2025, que proibiu o uso de celulares e dispositivos eletrônicos por alunos durante as aulas, recreios e intervalos escolares. A medida foi recebida com reações mistas — enquanto uns aplaudiram como um avanço na disciplina escolar, outros questionaram sua real eficácia. Agora, com seis meses de implementação, surgem dados que ajudam a responder: o que de fato mudou?
A Realidade nas Escolas Brasileiras: Entre a Teoria e a Prática
Uma pesquisa aplicada no Distrito Federal com 210 alunos de duas escolas públicas e uma escola privada revelou que a proibição teve impacto desigual entre os setores da educação.
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Monitoramento efetivo: 81% dos alunos da escola privada disseram que a escola fiscaliza ativamente o uso de celulares. Já nas escolas públicas, apenas 42% relataram esse controle. Isso explica, em parte, os efeitos distintos observados entre os dois tipos de instituição.
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Concentração em sala de aula: Apenas na escola privada houve melhora significativa na concentração, especialmente entre alunos de 16 a 18 anos. Nas escolas públicas, o cenário permaneceu praticamente inalterado.
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Concentração fora da sala de aula: A maior parte dos alunos não percebeu diferença. Cerca de 25% relataram melhora na concentração, mas esse número não se destacou entre faixas etárias ou tipos de escola.
Relações Humanas e Ambiente Escolar
Surpreendentemente, um dos efeitos mais positivos da medida foi observado nas relações sociais entre estudantes:
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66% dos alunos entrevistados relataram que a comunicação interpessoal aumentou, com mais interação durante aulas e intervalos. Muitos descreveram o ambiente escolar como “mais acolhedor e enriquecedor” após a proibição.
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Relação aluno-professor: Apenas 35% sentiram melhora nesse aspecto, sugerindo que a proibição não impactou significativamente o vínculo entre docentes e discentes — um ponto que merece atenção de gestores escolares.
Uso do Celular: Diminuiu Mesmo?
Ao contrário do que se esperava, a proibição não reduziu drasticamente o tempo de uso de celulares fora da escola. A pesquisa revelou que muitos alunos continuaram utilizando os dispositivos da mesma forma, sobretudo os de escolas públicas, onde a fiscalização é menos rigorosa.
Esse dado reforça os resultados do relatório do PISA 2022, que já apontava que 80% dos estudantes brasileiros se distraem com celulares em aula e que o uso excessivo para lazer compromete o desempenho em matemática e leitura.
✅ Prós e ❌ Contras: Um Balanço Necessário
✅ Pontos positivos:
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Redução nas distrações em sala de aula, especialmente em escolas com fiscalização ativa;
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Melhora na interação entre os alunos, fortalecendo o aspecto social da escola;
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Estímulo à convivência real em detrimento da virtual.
❌ Pontos negativos:
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Pouco impacto na concentração e desempenho acadêmico em escolas públicas;
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Falta de padronização na aplicação da lei;
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Não ensina o uso consciente e pedagógico da tecnologia — apenas reprime.
Proibir é o Caminho?
A proibição do uso de celulares nas escolas brasileiras mostra resultados limitados e desiguais. O sucesso da medida depende fortemente de sua aplicação coerente e monitorada. Em escolas privadas, onde a fiscalização é rigorosa, os ganhos são visíveis. Já nas públicas, a ausência de controle e infraestrutura compromete os resultados.
Proibir por proibir não basta. A escola precisa formar cidadãos digitais críticos. Isso exige mais do que uma lei — exige investimento em educação digital, formação de professores, estrutura tecnológica e políticas pedagógicas integradas.
Se queremos formar alunos preparados para o século XXI, precisamos ir além da proibição e ensinar como usar a tecnologia a favor do conhecimento.