Os mercados financeiros brasileiros iniciaram a sexta-feira, 11 de abril de 2025, com movimentos expressivos, refletindo os desdobramentos globais e domésticos. O Ibovespa futuro avançou 0,92%, alcançando 127.615 pontos, enquanto o dólar comercial caiu 1,23%, cotado a R$ 5,826. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 0,56% em março, acumulando 5,48% em 12 meses, segundo dados do IBGE. No cenário internacional, a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de reduzir tarifas impostas à União Europeia e outros países, após tensões com a China, que elevou taxas sobre produtos norte-americanos a 125%, trouxe alívio aos investidores. Enquanto isso, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) subiu 0,4% em fevereiro, superando expectativas de 0,15%. Esses números pintam um quadro de otimismo cauteloso, com os mercados atentos aos impactos das políticas tarifárias e à inflação persistente no Brasil.
A alta do Ibovespa futuro reflete o bom humor global após Trump recuar em parte de suas tarifas, aliviando temores de uma escalada comercial. A China, que enfrenta previsão de crescimento do PIB de 5,1% no primeiro trimestre, contra 5,4% no último trimestre de 2024, respondeu com medidas retaliatórias, mas o diálogo entre a União Europeia e os EUA, com negociações marcadas para a próxima semana, sugere um esforço para evitar rupturas. No Brasil, o IPCA de março, embora dentro do esperado, reforça preocupações com a inflação de serviços, que segue elevada, enquanto o dólar em queda beneficia importadores e investidores locais.
O desempenho das empresas também movimentou o pregão. A Telefônica Brasil concluiu sua migração para o regime de autorização, um marco para o setor de telecomunicações. Já a Cyrela apresentou números mistos no primeiro trimestre, com lançamentos acima do esperado, mas pré-vendas em desaceleração, segundo analistas do Morgan Stanley. Nos Estados Unidos, bancos como JPMorgan e Morgan Stanley divulgaram lucros robustos, com alta de 26,5% e 3% nas ações, respectivamente, impulsionando os índices futuros em Wall Street. Esses fatores combinados criam um cenário dinâmico, onde o Brasil navega entre oportunidades globais e desafios internos.

Movimentos do mercado em destaque
- Ibovespa futuro: Alta de 0,92%, alcançando 127.615 pontos às 9h26.
- Dólar comercial: Queda de 1,23%, cotado a R$ 5,826 às 9h17.
- IPCA de março: Alta de 0,56%, com acumulado de 5,48% em 12 meses.
Impactos das tarifas de Trump
As decisões tarifárias de Donald Trump continuam a moldar os mercados globais. Após impor taxas de 25% sobre importações automotivas e outros bens no início de abril, o presidente norte-americano anunciou uma redução parcial para a União Europeia e outros parceiros comerciais, gerando alívio em bolsas ao redor do mundo. A medida, que entrou em vigor em 3 de abril, elevou custos estimados em US$ 108 bilhões para montadoras dos EUA, com impacto de US$ 42 bilhões para Ford, General Motors e Stellantis, segundo o Center for Automotive Research. A flexibilização veio após pressões internas e externas, mas a China retaliou, elevando tarifas sobre produtos dos EUA a 125%, o que ameaça cadeias de suprimento globais.
No setor aéreo, a confusão tarifária já causa atrasos. Um jato A220 da Airbus, fabricado no Canadá e destinado à Delta Air Lines, enfrenta incertezas sobre a aplicação de taxas de 25% em peças importadas, com entrega prevista para junho. A instabilidade afeta desde carros até bens de consumo, com atrasos em portos e armazéns. A União Europeia, em resposta, enviará seu comissário de Comércio, Maros Sefcovic, a Washington na próxima segunda-feira para negociar acordos que evitem uma guerra comercial. A pausa nas tarifas sinaliza uma janela de diálogo, mas os mercados permanecem vigilantes.
Inflação e economia doméstica
O IPCA de março, com alta de 0,56%, confirma a trajetória de inflação persistente no Brasil. Embora dentro das projeções, o índice acumula 5,48% em 12 meses, acima do teto da meta de 4,5%. Economistas destacam a resistência dos núcleos de inflação, especialmente em serviços, com média móvel de três meses a 7,9%. Igor Cadilhac, do PicPay, aponta que a composição da inflação preocupa, apesar de um alívio marginal nos núcleos. Para 2025, a projeção é de 5,6%, com riscos de alta ligados à desvalorização do real e à inflação de serviços, mas também possíveis quedas devido à desaceleração econômica global.
A alta de 0,4% do IBC-Br em fevereiro, acima dos 0,15% esperados, traz uma nota positiva. O índice, considerado uma prévia do PIB, sugere que a economia brasileira mantém fôlego, mesmo diante de desafios globais. No entanto, a desaceleração da economia doméstica e os impactos das tarifas internacionais são fatores de risco. Leonardo Costa, do ASA, observa que a inflação de alimentos arrefeceu no início do ano, o que pode aliviar os serviços de alimentação no segundo trimestre, mas bens industrializados seguem pressionando os preços.
Reação dos bancos globais
Nos Estados Unidos, o setor bancário trouxe números animadores. O JPMorgan Chase reportou lucro de US$ 4,32 bilhões no primeiro trimestre, alta de 26,5%, impulsionado por negociações de ações e comissões de fusões. As ações subiram 3% no pré-mercado, apesar das reservas de US$ 3,3 bilhões para inadimplência, reflexo das tensões tarifárias. Jamie Dimon, presidente do banco, alertou para a turbulência econômica causada pelas políticas de Trump, destacando a cautela dos clientes em meio à volatilidade geopolítica e comercial.
O Morgan Stanley também superou expectativas, com lucro por ação de US$ 2,60, contra US$ 2,23 previstos. Os resultados reforçam a resiliência do setor financeiro, mesmo em um cenário de incertezas. No Brasil, o desempenho dos bancos ainda não foi detalhado, mas o avanço do Ibovespa futuro sugere confiança no setor, beneficiado pela queda do dólar e pela perspectiva de juros estáveis. A fala de Neel Kashkari, do Federal Reserve, sobre intervenções cautelosas reforça a postura do banco central dos EUA de evitar ações precipitadas, mantendo o foco na inflação.
Perspectivas para o segundo trimestre
O mercado brasileiro enfrenta um equilíbrio delicado. A queda do dólar a R$ 5,826 beneficia empresas importadoras e alivia pressões inflacionárias, mas a desvalorização cambial segue como risco, especialmente com as tensões comerciais. Os juros futuros, com baixas na curva, refletem expectativas de desaceleração econômica, mas a inflação de serviços mantém o Banco Central em alerta. A projeção de Cadilhac para o IPCA de 2025, em 5,6%, indica um cenário de pressão contínua, com alívio apenas se a economia global arrefecer.
A Telefônica Brasil, ao migrar para o regime de autorização, sinaliza mudanças estruturais no setor de telecomunicações. A alteração, que substitui o modelo de concessão, permite maior flexibilidade para investimentos, beneficiando a Vivo em um mercado competitivo. No setor imobiliário, a Cyrela enfrenta desafios com pré-vendas abaixo do esperado, apesar de lançamentos robustos. Analistas do Morgan Stanley sugerem que as ações da empresa podem sofrer, com investidores aguardando sinais de recuperação no segundo semestre.
- Dólar em queda: Cotação a R$ 5,826 reduz custos de importação.
- Juros futuros: Curva em baixa reflete expectativas de desaceleração.
- Setor bancário: Lucros robustos nos EUA impulsionam confiança global.
China e o impacto global
A desaceleração da economia chinesa, com previsão de crescimento do PIB de 5,1% no primeiro trimestre, reflete os desafios impostos pelas tarifas de Trump. A China, que planeja crescimento de 4,5% em 2025, enfrenta pressões adicionais com a retaliação comercial, elevando taxas sobre produtos dos EUA a 125%. O Ministério das Finanças chinês classificou as tarifas americanas como ineficazes, prometendo ignorar novas medidas. Essa postura aumenta a volatilidade global, com reflexos no Brasil, onde commodities como minério de ferro, representadas por empresas como a Vale, sentem os efeitos.
Os ADRs da Vale subiram 1,12% no pré-mercado dos EUA, a US$ 9,00, sinalizando otimismo cauteloso. A China, maior consumidora de minério, influencia diretamente o desempenho da mineradora. A desaceleração econômica do gigante asiático, combinada com a incerteza tarifária, pode limitar ganhos, mas a pausa nas tensões entre EUA e UE abre espaço para recuperação. O Brasil, dependente das exportações, monitora de perto essas dinâmicas, com o real ganhando força frente ao dólar.
Combustíveis e inflação
Os preços dos combustíveis no Brasil voltaram a ficar acima da paridade internacional, segundo a Abicom. A gasolina registra defasagem de 7% (R$ 0,19), enquanto o diesel S10 está 4% acima (R$ 0,14). A Petrobras, que não reajusta a gasolina há 276 dias e o diesel há 11 dias, enfrenta pressão para alinhar os valores, mas a estatal mantém cautela para evitar impacto direto na inflação. A alta dos combustíveis contribui para a resistência do IPCA, especialmente em bens industrializados, como observado por Leonardo Costa.
A defasagem dos combustíveis reflete a complexidade do mercado brasileiro. Com a Petrobras sob escrutínio, qualquer reajuste pode elevar os custos de transporte e alimentos, pressionando ainda mais os preços ao consumidor. A expectativa para o segundo trimestre é de alívio nos preços de alimentos, mas os combustíveis seguem como variável crítica, com impacto direto na percepção de inflação entre os brasileiros.
Setor automotivo em alerta
As tarifas de Trump sobre o setor automotivo geraram custos significativos. A Ford, General Motors e Stellantis enfrentam aumento médio de US$ 5.000 por carro produzido nos EUA com peças importadas, e até US$ 8.600 para veículos importados diretamente. No Brasil, montadoras como a Stellantis, que opera fábricas em Pernambuco e Minas Gerais, acompanham o cenário com preocupação. A redução das tarifas para o Canadá e México, sob o Acordo EUA-México-Canadá, alivia parte da pressão, mas a instabilidade global mantém o setor em compasso de espera.
A cadeia de suprimentos automotiva, já fragilizada por escassez de peças, enfrenta atrasos adicionais. No Brasil, a produção de veículos, que cresceu 10,2% em 2024, segundo a Anfavea, pode ser impactada caso as tarifas se estendam a insumos importados. A alta do dólar em semanas anteriores elevou custos, mas a queda recente da moeda traz alívio temporário. As montadoras brasileiras apostam em diálogo com o governo para evitar barreiras comerciais que comprometam a competitividade.
Cronograma de eventos econômicos
Os mercados acompanham indicadores e decisões que moldarão o segundo trimestre:
- Abril 2025: Negociações tarifárias entre EUA e UE, com reuniões em Washington.
- Maio 2025: Divulgação do PIB do primeiro trimestre da China e projeções para o Brasil.
- Junho 2025: Reunião do Copom para definir a Selic, com foco na inflação de serviços.
Dinâmica dos mercados globais
A volatilidade impulsionada pelas tarifas de Trump mantém os investidores em alerta. O índice EWZ, que acompanha ações brasileiras nos EUA, subiu 1,82% na pré-abertura, refletindo o otimismo com a queda do dólar e a alta do Ibovespa futuro. Nos EUA, a deflação de 0,4% no índice de preços ao produtor (PPI) de março, contra expectativa de alta de 0,2%, sugere alívio inflacionário, mas revisões de dados anteriores indicam cautela. A força do setor bancário, com lucros robustos, compensa incertezas no comércio.
No Brasil, a queda dos juros futuros, com o DI para 2035 a 14,800%, sinaliza confiança em um cenário de inflação controlada no longo prazo. A alta do Bitcoin Futuro, a 482.640,00, reflete apetite por risco, mas o minidólar e o mini-índice mostram movimentos mistos, com investidores avaliando impactos globais. A redução das tarifas de Trump abre espaço para recuperação, mas a retaliação chinesa mantém os mercados em suspense, com o Brasil posicionado como um observador atento.
Foco na estabilidade doméstica
A economia brasileira enfrenta um cenário de contrastes. A alta do IBC-Br e a queda do dólar sugerem resiliência, mas a inflação persistente, especialmente em serviços, exige atenção. O Copom, que manteve a Selic em 13,75% na última reunião, monitora os núcleos do IPCA, que seguem elevados. A desaceleração esperada para o segundo trimestre pode aliviar a pressão, mas riscos como a desvalorização cambial e os combustíveis acima da paridade preocupam analistas.
Empresas como a Telefônica Brasil, com sua migração para o regime de autorização, mostram adaptação a um mercado em transformação. No setor imobiliário, a Cyrela enfrenta desafios, mas mantém lançamentos robustos, indicando confiança no longo prazo. O desempenho do Ibovespa futuro, com alta consistente, reflete a busca por oportunidades em meio às incertezas globais, com investidores atentos a setores como commodities e tecnologia.
Um cenário em evolução
As negociações entre EUA e UE, marcadas para a próxima semana, serão cruciais para definir o rumo dos mercados. A pausa nas tarifas de Trump, combinada com a resposta chinesa, cria um ambiente de incerteza, mas também de oportunidades. No Brasil, a queda do dólar e a alta do Ibovespa futuro sinalizam confiança, mas a inflação de serviços e os combustíveis mantêm o Banco Central em modo vigilante. O desempenho de empresas como JPMorgan e Vale reforça o potencial de recuperação, mas a volatilidade global exige cautela.
A economia brasileira, com crescimento modesto mas estável, busca equilíbrio. O IBC-Br acima do esperado e o IPCA dentro das projeções indicam um cenário controlado, mas a pressão inflacionária exige monitoramento. Setores como telecomunicações e imobiliário mostram dinamismo, enquanto o mercado financeiro se adapta às oscilações globais. O segundo trimestre promete ser decisivo, com os olhos voltados para Washington, Pequim e Brasília.