O pregão desta sexta-feira, 23 de maio de 2025, amanheceu sob forte tensão nos mercados globais. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a recomendação de tarifas de 50% sobre importações da União Europeia a partir de 1º de junho, reacendendo temores de uma escalada na guerra comercial. No Brasil, o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, abriu em queda de 1,45%, recuando para 135.286 pontos, enquanto o dólar comercial avançava 0,97%, cotado a R$ 5,716. A revisão parcial do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) pelo governo brasileiro, após forte repercussão negativa, também contribuiu para a instabilidade local.
A decisão de Trump veio acompanhada de críticas à lentidão nas negociações comerciais com a UE. O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, afirmou que a medida busca pressionar os europeus a avançarem nas tratativas. No cenário doméstico, o recuo do governo Lula na elevação do IOF para investimentos no exterior tentou conter especulações, mas não evitou perdas no mercado acionário. A atenção dos investidores agora se volta à palestra do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, marcada para as 14h.

O impacto das tarifas americanas reverberou em Wall Street, com os índices futuros do Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq caindo mais de 1% na pré-abertura. No Brasil, setores como varejo, bancos e educação registraram as maiores perdas, enquanto companhias aéreas e frigoríficos mostraram resiliência.
- Principais movimentações do Ibovespa: Bancos caem até 2%, varejistas perdem até 5%, e Petrobras reduz perdas ao fim da manhã.
- Dólar comercial: Alta de 0,51% às 11h41, cotado a R$ 5,689.
- Mercados globais: Bolsas europeias operam mistas, e índices asiáticos fecham sem direção única.
Reação imediata às tarifas de Trump
A proposta de Trump para impor tarifas de 50% à União Europeia pegou os mercados de surpresa. Em entrevista à Fox News, Scott Bessent destacou que a medida visa forçar a UE a apresentar propostas comerciais mais robustas. A ameaça tarifária gerou uma onda de volatilidade, com o índice VIX, conhecido como “índice do medo”, disparando 24,51% para 25,25 pontos às 9h21.
Nos Estados Unidos, a reação foi imediata. Os futuros do Dow Jones caíam 1,08%, enquanto o S&P 500 e o Nasdaq recuavam 1,11% e 1,32%, respectivamente, às 9h05. A Apple, alvo direto de Trump com a ameaça de tarifas de 25% caso não produza iPhones nos EUA, viu suas ações despencarem 2,5% no pré-mercado. O presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, classificou a proposta como “assustadora” para as cadeias de suprimentos, alertando para a falta de consistência nas políticas comerciais.
Na Europa, os mercados reagiram de forma mista. O índice STOXX 600 caiu 0,02%, enquanto o DAX alemão subia 0,18% e o CAC 40 francês recuava 0,47%. Investidores europeus acompanham indicadores locais, como as vendas no varejo do Reino Unido, que cresceram 1,2% em abril, superando expectativas.
Revisão do IOF no Brasil
O governo brasileiro anunciou na noite de quinta-feira a revisão parcial do aumento do IOF, voltando a alíquota para zero em aplicações de fundos nacionais no exterior. A medida, que inicialmente previa elevação para 3,5%, foi revista após críticas do mercado. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o impacto fiscal da revisão será inferior a R$ 2 bilhões em 2025 e cerca de R$ 4 bilhões em 2026.
Haddad destacou que a decisão foi tomada para evitar especulações sobre a inibição de investimentos. A alíquota de 1,1% para remessas destinadas a investimentos no exterior foi mantida. A rápida correção, segundo o ministro, ocorreu antes da abertura do mercado para conter “boataria”.
- Impactos no mercado: Ações de grandes bancos, como Bradesco e Itaú, caíram mais de 2% na abertura.
- Reação do Banco Central: Gabriel Galípolo, presidente do BC, foi pego de surpresa pela medida inicial e se posicionou contrário ao aumento.
- Expectativas: A palestra de Galípolo às 14h é aguardada para esclarecer a posição do BC sobre as medidas fiscais.
Desempenho setorial no Ibovespa
O Ibovespa enfrentou uma abertura turbulenta, com apenas sete ativos em alta às 10h49. As maiores quedas foram registradas por ASAI3 (-4,00%) e LREN3 (-3,40%). Setores sensíveis às variações do dólar, como varejo e educação, sofreram perdas expressivas, com Magazine Luiza (MGLU3) caindo 5,17% e Cogna recuando 4%.
Por outro lado, companhias aéreas como Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4) abriram em alta, com ganhos de 3,74% e 5,56%, respectivamente. Frigoríficos também mostraram resiliência, com JBS (JBSS3) subindo 0,33% e BRF (BRFS3) avançando 0,37%. A Vale (VALE3), após oscilar, reduziu perdas para 0,17% às 10h34, enquanto Petrobras (PETR3) caía 0,36% às 11h32.
- Destaques positivos: AZUL4 (+1,87%), MRFG3 (+0,88%), e JBS (+0,47%).
- Destaques negativos: Supermercadistas como ASAI3 (-5,08%) e varejistas como MGLU3 (-5,17%).
- Volume negociado: R$ 25,10 bilhões na quinta-feira, com expectativa de maior movimentação na sexta.
Movimentações no dólar e juros
O dólar comercial abriu em alta, atingindo R$ 5,736 às 9h12, mas reduziu o avanço para 0,51% às 11h41, cotado a R$ 5,689. O índice DXY, que mede o dólar contra moedas fortes, caiu 0,65% às 11h30, para 99,31 pontos. No mercado de juros futuros, as taxas operaram mistas, com o DI1F26 caindo 0,015 ponto percentual para 14,755%.
O Banco Central informou a primeira parcial da PTAX às 10h10, com compra a R$ 5,7096 e venda a R$ 5,7102. A segunda parcial, às 11h10, mostrou compra a R$ 5,6995 e venda a R$ 5,7001. A volatilidade cambial reflete a incerteza gerada pelas tarifas americanas e pelas medidas fiscais brasileiras.
Perspectivas para o PIB brasileiro
Projeções do Itaú BBA apontam crescimento de 1,7% no PIB do primeiro trimestre de 2025, com divulgação prevista para 30 de maio. O setor agropecuário deve ser o destaque, com expansão de 10,9% em relação ao primeiro trimestre de 2024. O consumo das famílias deve crescer 2,8% na comparação anual, enquanto os investimentos avançam 8,3%.
O PIB industrial deve manter a taxa de crescimento de 2,5%, enquanto o setor de serviços desacelera para 2,5%. Os dados reforçam a expectativa de recuperação econômica, mas a instabilidade nos mercados pode influenciar as projeções futuras.
- Setores em destaque: Agropecuária com crescimento de 10,9%.
- Contribuição ao PIB: Agropecuária adiciona 0,6 ponto percentual ao crescimento anual.
- Demanda: Consumo e investimentos puxam a expansão econômica.
Energia e aquisições no Brasil
A Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) anunciou a compra de participações em usinas eólicas da Auren Energia e Casa dos Ventos por R$ 158 milhões. Os acordos garantem 115 megawatts médios de energia para uma usina da CBA em São Paulo, reforçando a estratégia de diversificação energética. Os parques eólicos, localizados no Rio Grande do Norte, terão operação e manutenção geridas pelas empresas vendedoras.
A Cemig, por sua vez, obteve suspensão de uma liminar que anulava a venda de quatro pequenas usinas hidrelétricas à Âmbar Energia por R$ 52 milhões. A decisão judicial permite que o processo de desinvestimento avance até a conclusão do julgamento.
Mercados internacionais
Na Ásia, os mercados fecharam sem direção única. O índice Nikkei, do Japão, subiu 0,47%, enquanto o Shanghai SE, da China, caiu 0,94%. A inflação japonesa acelerou para 3,5% em abril, impulsionada pela alta no preço do arroz, o que mantém o Banco do Japão atento aos rendimentos de títulos de longo prazo.
Na Europa, o Banco Central Europeu (BCE) prevê mais um corte de juros em junho, seguido de uma pausa, segundo Yannis Stournaras, presidente do banco central da Grécia. A decisão será baseada em dados macroeconômicos e na estabilização da inflação. O BCE alertou que as tarifas americanas podem impactar o crescimento econômico da zona do euro.
- Movimentações asiáticas: Nikkei (+0,47%), Hang Seng (+0,24%), Kospi (-0,06%).
- Europa: STOXX 600 (-0,02%), FTSE 100 (+0,09%), CAC 40 (-0,47%).
- BCE: Corte de juros previsto para junho, com pausa subsequente.
Setor de combustíveis no Brasil
A Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) informou que os preços da gasolina e do diesel no Brasil estão alinhados à paridade internacional. A Petrobras, que não reajusta a gasolina há 318 dias, manteve os preços estáveis, com variação de 0% na média nacional. O diesel também apresentou paridade, com diferença de -R$ 0,01 por litro.
A estatal anunciou um acordo com a Unigel para resolver disputas contratuais relacionadas a fábricas de fertilizantes no Nordeste. O acordo fortalece a posição da Petrobras no setor e evita custos adicionais com litígios.
Ameaças tarifárias e Apple
A ameaça de Trump contra a Apple, exigindo que os iPhones sejam fabricados nos EUA sob pena de tarifas de 25%, gerou forte impacto no mercado. As ações da empresa caíram 2,5% no pré-mercado, puxando para baixo os índices futuros de Wall Street. Trump afirmou que a medida visa incentivar a produção local, mas analistas questionam a viabilidade de aplicar tarifas a uma única empresa.
O estrategista de investimentos Ross Mayfield, da Baird, alertou que a retórica de guerra comercial pode interromper a recente recuperação dos mercados. A escalada tarifária, segundo ele, é um “passo na direção errada” para a estabilidade financeira global.
Renda fixa e dividendos
No mercado de renda fixa, a XP destacou as melhores taxas para CDB, LCI e LCA disponíveis na sexta-feira. Investimentos pré-fixados, pós-fixados e híbridos ganharam atenção em meio à volatilidade do mercado acionário. A XP também promoveu o curso “Manual dos Dividendos”, liderado pelo estrategista-chefe Fernando Ferreira, que ensina investidores a gerar renda mensal previsível por meio de dividendos.
A BB Seguridade, líder no mercado de planos VGBL com 30% de participação, pode ser impactada pela nova alíquota de 5% do IOF sobre entradas acima de R$ 50 mil mensais. O Bradesco, com 21% do mercado, também está no radar dos analistas.
- Renda fixa: CDB, LCI e LCA com taxas competitivas na XP.
- Dividendos: Curso da XP atrai investidores em busca de renda passiva.
- Previdência: IOF de 5% pode reduzir volumes de planos VGBL.
Volatilidade e projeções
O índice de volatilidade VXBR subiu 4,84% às 10h36, para 17,11 pontos, refletindo a incerteza no mercado brasileiro. O índice de small caps (SMLL) caiu 2,48% às 10h20, atingindo 2.091,40 pontos. A projeção do Goldman Sachs indica que as mudanças no IOF terão efeitos limitados no setor financeiro, com os bancos podendo repassar custos aos clientes.
A economia americana também enfrenta desafios. As vendas de moradias novas subiram 10,9% em abril, para 743 mil unidades, superando expectativas. No entanto, as licenças de construção caíram 0,4%, para 1,422 milhão, sinalizando cautela no setor imobiliário.
Cronograma de eventos
A agenda econômica desta sexta-feira inclui eventos relevantes. Além da palestra de Galípolo às 14h, o mercado acompanha indicadores internacionais, como as vendas no varejo do Canadá, que subiram 0,8% em março, e a confiança do consumidor no Reino Unido. A Argentina espera um novo repasse do FMI em junho, mesmo sem cumprir metas de reservas cambiais.
- Eventos do dia: Palestra de Galípolo às 14h, indicadores de varejo no Canadá e Reino Unido.
- Argentina: Desembolso do FMI previsto para junho.
- EUA: Vendas de moradias novas superam expectativas em abril.
Investimentos e aquisições
O Patria Investimentos adquiriu seis fundos imobiliários da Genial por R$ 2,5 bilhões, elevando sua carteira de real estate para R$ 26 bilhões. A transação, que aguarda aprovação do Cade, reforça a posição do Patria no mercado de fundos imobiliários. A Vale aprovou a emissão de debêntures no valor de R$ 6 bilhões, com prazos de sete, dez e doze anos, para financiar projetos de longo prazo.
A JBS anunciou a aprovação de uma dupla listagem em assembleia, o que impulsionou suas ações em 0,47% às 10h22. As negociações, no entanto, foram suspensas temporariamente às 10h33 devido à iminência de um fato relevante.
Foco no exterior
O G7 comprometeu-se a reduzir desequilíbrios econômicos globais, minimizando o impacto das tarifas americanas. Os ministros das Finanças do grupo suavizaram referências à guerra na Ucrânia e evitaram menções diretas às mudanças climáticas em seu comunicado final. A reunião destacou a necessidade de sanções adicionais contra a Rússia.
Na Alemanha, o PIB do primeiro trimestre foi revisado para cima, de 0,2% para 0,4%, impulsionado por exportações antecipadas antes das tarifas dos EUA. O crescimento industrial e a demanda externa contribuíram para a revisão positiva.