Crise na Reserva Chico Mendes: A Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre, enfrenta uma crise multidimensional que transcende o debate ambiental, configurando-se como uma emergência institucional e social. Denúncias de abuso estatal pelo ICMBio, protestos com bloqueios de rodovias, roubo de gado e ameaças de facções criminosas como o Comando Vermelho colocam pequenos produtores no limite. Deputados estaduais da ALEAC e análises do Brasil de Fato reforçam a gravidade do conflito, enquanto a bancada federal do Acre pressiona o governo por ações urgentes. O colapso do Estado de Direito, os desafios da conservação e o risco de convulsão social expõem falhas estruturais na governança da Amazônia.
Crise na Reserva Chico Mendes: ICMBio acusado de abuso, gado roubado e facções ameaçam produtores. ALEAC e Brasil de Fato cobram soluções urgentes.
Contexto da Crise na Reserva Chico Mendes
A crise na Reserva Chico Mendes, no Acre, evoluiu de um conflito ambiental para uma grave emergência institucional. Criada em 1990 para proteger a floresta e garantir o uso sustentável por comunidades tradicionais, a Reserva Extrativista Chico Mendes tornou-se palco de operações truculentas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), manifestações com bloqueios de rodovias e a intervenção de facções criminosas. A combinação de abuso estatal, ausência de diálogo e avanço do crime organizado ameaça os direitos comunitários e a estabilidade da região, como denunciado por deputados da ALEAC e contextualizado pelo Brasil de Fato.
Detalhes da Crise na Reserva Chico Mendes
1. Operações do ICMBio: Fiscalização ou Perseguição?
Relatos e documentos apontam que o ICMBio realizou operações, como a Operação Suçuarana em 17 de junho de 2025, com uso de helicópteros, força policial e militar, mirando pequenos produtores dentro da Resex Chico Mendes. As ações incluíram invasão de propriedades, destruição de currais, apreensão de gado e a destruição de um trator em março, denunciadas por vereadores e sindicatos rurais como desproporcionais.
A política ambiental, originalmente voltada à proteção e ao uso sustentável da floresta, é agora percebida como um instrumento de perseguição política e econômica. Pequenos produtores, que dependem da criação de gado em pequena escala para subsistência, acusam o ICMBio de criminalizar práticas tradicionais sem oferecer alternativas.
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Impacto nas comunidades: A perda de gado e equipamentos compromete a renda de famílias, empurrando-as para a miséria ou a vulnerabilidade a grupos criminosos.
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Denúncias: A ausência de notificações claras e a truculência das operações alimentam a revolta nas comunidades rurais.
2. Protestos e Bloqueios: A Revolta dos Produtores
A insatisfação culminou em manifestações severas. Em Xapuri, produtores bloquearam a BR-317, exibindo faixas com mensagens como “Queremos solução, não promessas” e criticando o que chamam de “política de remoção de moradores”. Em Rio Branco, a rodovia Transacreana também foi interditada, afetando o abastecimento de cargas e chamando atenção para os desafios enfrentados pelos pequenos agricultores.
Os protestos, que incluíram a ocupação do salão Marina Silva da ALEAC em 17 de junho de 2025, refletem o desespero de comunidades que se sentem encurraladas por fiscalizações agressivas e pela falta de diálogo com o governo. A ausência de canais institucionais para resolver conflitos fundiários e ambientais intensifica a percepção de abandono estatal.
3. Roubo de Gado e Crime Organizado: O Vácuo de Autoridade
Na madrugada de 17 de junho, durante a Operação Suçuarana, dezenas de cabeças de gado apreendidas pelo ICMBio foram levadas a um frigorífico em Brasiléia. Esse gado foi roubado por invasores, expondo a fragilidade do controle territorial e possíveis falhas de segurança nas ações do ICMBio. No dia 18, áudios atribuídos ao Comando Vermelho circularam, com ameaças diretas à direção do frigorífico, mencionando o sofrimento de um produtor que teria “morrido infartado” após perder seu rebanho.
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Facções como “Estado paralelo”: A intervenção do Comando Vermelho, posicionando-se como “defensor” dos produtores, evidencia a capacidade de facções de explorar o vácuo de autoridade estatal.
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Riscos: A presença de grupos criminosos em conflitos rurais amplia a insegurança e ameaça a governança na região.
4. Bancada do Acre Pressiona por Soluções Urgentes
Em 18 de junho de 2025, os deputados federais Eduardo Veloso, Zezinho Barbary, Roberto Duarte e Coronel Ulysses se reuniram com o secretário-executivo da Presidência, Gustavo Ponce, em Brasília, cobrando medidas imediatas. A bancada denunciou a “fuga da regulamentação legal” nas ações do ICMBio, a ausência de diálogo com os produtores, o uso excessivo da força pública e a infiltração de facções criminosas.
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Proposta: A criação de uma mesa interministerial, envolvendo os Ministérios do Meio Ambiente, Agricultura, Justiça e Casa Civil, para buscar soluções integradas.
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Compromisso: O governo prometeu apresentar um plano de ação em até 48 horas, mas a pressão por resultados concretos permanece.
Falas dos Deputados Estaduais da ALEAC
Deputados da Assembleia Legislativa do Acre (ALEAC) manifestaram-se sobre a crise na Reserva Chico Mendes, especialmente durante a ocupação do salão Marina Silva por produtores em 17 de junho de 2025. Abaixo, as principais declarações:
Deputada Michelle Melo (MDB)
Michelle Melo expressou indignação com as ações do ICMBio e a omissão do governo estadual, destacando o impacto social da crise:
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Impacto social: “O que está acontecendo no Acre é mais do que um problema ambiental. É um atentado social. Quem ataca o produtor rural ataca toda a sociedade. São eles que colocam comida na mesa, que sustentam esse estado. E se continuarem sufocando quem produz, o que vai sobrar é fome, desemprego e miséria espalhada pelo nosso estado inteiro.”
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Política ambiental: “Querem floresta de pé? Nós também queremos. Mas antes da floresta, tem quem mora nela. E se não entenderem isso, o Acre vai se transformar em uma terra fantasma, condenada ao desemprego, à fome e ao caos social.”
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Cobrança: “Não aceito mais desculpas do governo do Estado, que até hoje não regulamentou a lei de compensação florestal, aprovada pela própria Aleac.”
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Defesa equilibrada: “Minha luta não é contra a preservação, mas contra o extremismo que sufoca quem vive da terra. Isso aqui é a Amazônia real, onde tem gente, onde tem vida, onde tem família.”
Deputado Pedro Longo (PDT)
Pedro Longo criticou a legalidade das operações do ICMBio e propôs soluções fundiárias:
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Legalidade: “Eu vi um deputado federal questionando um servidor do ICMBio sobre a natureza dessa operação, se era de cunho administrativo ou tinha ordem judicial, e ele disse que não tinha permissão para responder. Nunca vi isso na minha vida. Isso não tem respaldo e legalidade.”
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Assentamento: “Essa parte onde as pessoas estão morando não pertencia à reserva, porque ela estava do outro lado do rio. As pessoas estão lá de boa-fé, produzindo. Precisamos transformar uma parte da reserva em assentamento.”
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Compromisso: “Se eu for eleito deputado federal, vou ter essa demanda como uma das principais do meu mandato.”
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Convite a Aldo Rebelo: Longo anunciou a intenção de trazer o ex-ministro Aldo Rebelo para visitar o Acre e testemunhar os conflitos.
Deputado Adailton Cruz (PSB)
Adailton Cruz, embora focado em outra mobilização (servidores da saúde), refletiu o clima de tensão no estado:
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Mobilizações: “Se a categoria não for contemplada até o fim do dia, um novo movimento pode ser deliberado, como greve geral, por exemplo.”
Análise do Brasil de Fato
O Brasil de Fato não publicou matérias específicas sobre a crise na Reserva Chico Mendes em junho de 2025, mas suas coberturas sobre conflitos fundiários e políticas ambientais na Amazônia oferecem contexto relevante:
Conflitos Fundiários
Em 15 de abril de 2024, o Brasil de Fato destacou a luta do MST contra o latifúndio:
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Luta pela terra: “Ninguém ocupa terras porque acha bonito ficar em barracos. Essa é a única tática que encontramos para assentar mais de 400 mil famílias em 40 anos,” afirmou Gilmar Mauro. Essa perspectiva ecoa o desespero dos produtores acreanos, que protestam contra a criminalização de suas atividades.
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Crítica ao agronegócio: O portal critica políticas que favorecem grandes proprietários, uma dinâmica que se conecta à exclusão de pequenos produtores na Resex Chico Mendes.
Mobilizações Sociais
Em 12 de março de 2025, o Brasil de Fato abordou a pressão por redução da semana de trabalho, destacando a importância de ocupações legislativas:
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Pressão política: “As confederações orientam as federações a realizar debates em assembleias legislativas ou câmaras municipais, para pressionar políticos e envolver a classe trabalhadora.” Essa estratégia é semelhante à ocupação da ALEAC por produtores.
Aprofundamento: As Raízes da Crise na Reserva Chico Mendes
A crise na Reserva Chico Mendes reflete falhas estruturais na governança da Amazônia. Abaixo, os três eixos centrais do conflito:
1. Colapso do Estado de Direito
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ALEAC: Michelle Melo denuncia a omissão estatal, enquanto Pedro Longo questiona a legalidade das operações do ICMBio. A ausência de diálogo corrói a legitimidade do Estado.
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Brasil de Fato: A criminalização de comunidades tradicionais é um padrão na Amazônia, agravado pela fragilidade institucional.
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Análise: O ICMBio atua como força repressiva, enquanto facções como o Comando Vermelho exploram o vácuo de autoridade, deixando produtores reféns.
2. Desafio da Conservação
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ALEAC: Melo defende a floresta, mas prioriza as comunidades. Longo sugere assentamentos para regularizar a ocupação de boa-fé.
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Brasil de Fato: A exclusão de pequenos produtores reflete políticas que priorizam grandes interesses em detrimento das comunidades tradicionais.
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Análise: A criminalização de práticas sustentáveis, sem alternativas como o Bolsa Verde, transforma a conservação em exclusão social.
3. Risco de Convulsão Social
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ALEAC: Melo alerta para o “caos social”, e Cruz reflete a tensão geral no estado. A ocupação da ALEAC sinaliza desespero.
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Brasil de Fato: Mobilizações como a do MST mostram o potencial de escalada de protestos.
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Análise: Produtores desesperados e facções armadas criam um cenário explosivo, com risco de violência rural.
Conclusão e Próximos Passos
A crise na Reserva Chico Mendes, amplificada pelas vozes da ALEAC e contextualizada pelo Brasil de Fato, exige ações urgentes:
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Diálogo imediato: Implementar a mesa interministerial com participação de produtores e deputados estaduais.
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Revisão da fiscalização: Garantir legalidade nas ações do ICMBio, como cobrado por Pedro Longo.
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Apoio às comunidades: Investir em programas de crédito e assistência agroflorestal, como sugerido por Michelle Melo.
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Combate ao crime organizado: Reforçar a segurança pública para desarticular facções.
O governo tem 48 horas para apresentar um plano de ação. Um compromisso com a inclusão social e a conservação participativa é essencial para evitar que a Resex Chico Mendes se torne um campo de batalha.