No comando da política monetária brasileira, o Banco Central ajustou a taxa Selic em mais 0,50 ponto percentual, alcançando 14,75% ao ano, conforme decisão anunciada nesta quarta-feira, 7 de maio de 2025. Este é o sexto aumento consecutivo no ciclo iniciado em setembro de 2024, marcando o maior patamar desde agosto de 2006, quando a taxa chegou a níveis similares. Sob a liderança de Gabriel Galípolo, novo presidente do Banco Central, o Comitê de Política Monetária (Copom) optou por manter um tom de cautela, destacando a necessidade de avaliar dados econômicos com atenção redobrada. A decisão reflete um cenário global de incertezas, com impactos diretos nas condições financeiras de países emergentes como o Brasil.
O comunicado oficial do Copom trouxe mudanças sutis, mas significativas, em relação às reuniões anteriores. A ausência de indicações claras sobre os próximos passos contrasta com a ênfase em “cautela adicional” e “flexibilidade” na condução da política monetária. Essa abordagem é justificada pela complexidade do ambiente econômico atual, que combina pressões inflacionárias internas com volatilidades externas. O Copom também sinalizou que os efeitos do ciclo de alta, que já acumula 4,25 pontos percentuais, devem se intensificar nos próximos meses, influenciando o ritmo da atividade econômica.
A seguir, alguns pontos centrais destacados na reunião:
- Cautela adicional: O Copom reforçou a necessidade de monitorar indicadores econômicos antes de definir novos ajustes na Selic.
- Incertezas externas: Fatores como políticas comerciais globais e volatilidade em preços de commodities foram mencionados como riscos.
- Política contracionista prolongada: A taxa deve permanecer em patamar elevado por mais tempo para conter a inflação.
A decisão de elevar a Selic ocorre em um momento de desafios para a economia brasileira, com a inflação ainda distante da meta de 3,0% para 2026. O Copom projeta um índice de 3,6% no cenário base, o que exige ajustes contínuos na política monetária.

Ajuste na comunicação do Copom
A reunião de maio trouxe mudanças no tom do comunicado do Banco Central, refletindo uma postura mais equilibrada em relação aos riscos inflacionários. Diferentemente de março, quando o Copom indicava a necessidade de uma política “mais contracionista”, o texto atual destaca a manutenção de juros em níveis “significativamente contracionistas” por um período prolongado. Essa alteração sugere que o ciclo de altas pode estar próximo de uma pausa, embora a porta para novos aumentos não tenha sido fechada.
A remoção da menção a uma assimetria altista no balanço de riscos também chamou atenção. Na prática, o Copom passou a considerar que os riscos de alta e de baixa na inflação estão mais equilibrados. Essa percepção é influenciada por fatores externos, como a possibilidade de queda nos preços de commodities, que pode aliviar pressões inflacionárias globais. No entanto, o comitê alertou que a volatilidade em diferentes classes de ativos, incluindo moedas e mercados financeiros, exige vigilância constante.
A nova composição do Copom, agora presidida por Gabriel Galípolo, parece reforçar a estratégia de comunicação mais flexível. Galípolo, que assumiu o comando do Banco Central em 2025, é conhecido por sua abordagem técnica e por priorizar a análise de dados econômicos em tempo real. Sua liderança tem sido observada de perto por analistas, que buscam sinais de continuidade ou ruptura em relação às gestões anteriores.
Cenário internacional e seus reflexos
O ambiente global foi um dos principais pontos abordados no comunicado do Copom. As políticas comerciais do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foram destacadas como uma fonte de incerteza para a economia mundial. Desde sua posse, Trump tem implementado medidas protecionistas, incluindo tarifas sobre importações, que afetam cadeias produtivas globais. Essas ações têm gerado reflexos nos mercados emergentes, com impactos no câmbio e nos custos de produção no Brasil.
Além disso, o Copom apontou a volatilidade nos preços de commodities como um fator de risco. Nos últimos meses, produtos como petróleo e grãos apresentaram flutuações significativas, influenciadas por tensões geopolíticas e mudanças na demanda global. Para o Brasil, que depende da exportação de commodities agrícolas e minerais, essas oscilações têm efeitos diretos na balança comercial e na inflação.
A seguir, alguns impactos do cenário externo mencionados pelo Copom:
- Volatilidade cambial: A valorização do dólar pressiona os preços de produtos importados.
- Tensões geopolíticas: Conflitos regionais afetam a oferta de energia e matérias-primas.
- Políticas protecionistas: Tarifas impostas por grandes economias reduzem a competitividade de exportações brasileiras.
- Condições financeiras globais: A alta nos juros de economias desenvolvidas limita o fluxo de capitais para emergentes.
O Copom enfatizou que países emergentes, como o Brasil, precisam adotar uma postura cautelosa diante dessas condições. A decisão de elevar a Selic reflete, em parte, a necessidade de ancorar as expectativas de inflação em um contexto de maior instabilidade externa.
Efeitos econômicos do ciclo de alta
O aumento da Selic para 14,75% intensifica os efeitos contracionistas da política monetária no Brasil. Desde o início do ciclo de aperto, em setembro de 2024, a taxa básica de juros subiu 4,25 pontos percentuais, tornando o crédito mais caro e desestimulando o consumo e os investimentos. Esse movimento é intencional, já que o Banco Central busca reduzir a demanda agregada para conter as pressões inflacionárias.
No entanto, os impactos desse ciclo não são imediatos. Economistas apontam que os efeitos mais significativos devem ser sentidos ao longo do segundo semestre de 2025, quando o encarecimento do crédito pode desacelerar setores como varejo, construção civil e indústria. Pequenas e médias empresas, que dependem de financiamentos, já relatam dificuldades para manter operações em meio aos juros elevados.
Outro ponto de atenção é o mercado de trabalho. Apesar de o Brasil ter registrado taxas de desemprego relativamente baixas nos últimos meses, com cerca de 6,8% em março de 2025, a desaceleração econômica pode limitar a criação de novas vagas. Setores intensivos em mão de obra, como serviços, são particularmente vulneráveis a um ambiente de crédito restritivo.
Reações do mercado financeiro
A decisão do Copom foi amplamente antecipada pelos mercados, que já precificavam um aumento de 0,50 ponto percentual na Selic. No entanto, a ausência de sinais claros sobre os próximos passos gerou interpretações divergentes entre analistas. Alguns acreditam que o ciclo de altas pode estar próximo do fim, enquanto outros projetam pelo menos mais um ajuste na reunião de junho.
No dia do anúncio, o Ibovespa fechou com leve alta de 0,3%, refletindo a estabilidade nas expectativas. O dólar, por sua vez, registrou valorização de 0,5% frente ao real, cotado a R$ 5,65, influenciado por fatores externos como a valorização global da moeda americana. As taxas de juros futuros, negociadas na B3, apresentaram ajustes moderados, com contratos para 2026 subindo cerca de 0,1%.
Os bancos e instituições financeiras também reagiram à decisão. Grandes bancos, como Itaú e Bradesco, revisaram suas projeções para a Selic no final de 2025, com estimativas variando entre 14,75% e 15,25%. A seguir, algumas projeções do mercado:
- Manutenção da taxa: 40% dos analistas esperam que a Selic permaneça em 14,75% na próxima reunião.
- Novo aumento: 35% projetam uma alta adicional de 0,25 ou 0,50 ponto percentual.
- Redução gradual: 25% acreditam que o BC pode iniciar cortes de juros no final de 2025, caso a inflação mostre sinais de arrefecimento.
A cautela do Copom foi interpretada como uma tentativa de evitar compromissos rígidos em um cenário de incertezas, permitindo maior flexibilidade para ajustes futuros.
Mudanças no balanço de riscos
A retirada da menção a uma assimetria altista no balanço de riscos foi um dos pontos mais comentados do comunicado. Em reuniões anteriores, o Copom indicava que a inflação tinha maior probabilidade de superar as projeções, o que justificava aumentos mais agressivos na Selic. Agora, o comitê avalia que os riscos estão mais equilibrados, o que pode sinalizar uma desaceleração no ritmo de altas.
Essa mudança reflete, em parte, a evolução do cenário externo. A possibilidade de queda nos preços de commodities, como petróleo e grãos, é vista como um fator de alívio para a inflação global. No Brasil, produtos como combustíveis e alimentos, que têm peso significativo no IPCA, podem apresentar menor pressão nos próximos meses, caso as cotações internacionais se estabilizem.
Por outro lado, o Copom destacou que a volatilidade em outras classes de ativos, como moedas e títulos públicos, segue exigindo atenção. A valorização do dólar, por exemplo, encarece importações e eleva os custos de produção em setores como indústria e agricultura. A seguir, alguns fatores que influenciam o balanço de riscos:
- Preços de energia: Oscilações no petróleo afetam combustíveis e transporte.
- Câmbio: A depreciação do real eleva o custo de produtos importados.
- Demanda interna: O consumo ainda elevado pressiona preços em setores como serviços.
A nova abordagem do Copom sugere uma maior confiança na capacidade da política monetária atual de conter a inflação, mas sem descartar ajustes adicionais, caso necessário.
Liderança de Gabriel Galípolo
A estreia de Gabriel Galípolo como presidente do Banco Central trouxe um novo dinamismo às reuniões do Copom. Nomeado em 2025, Galípolo é conhecido por sua formação técnica e por sua atuação como diretor de Política Monetária antes de assumir a presidência. Sua condução da reunião de maio foi marcada por um tom equilibrado, com ênfase na análise de dados e na flexibilidade estratégica.
Sob sua liderança, o Copom parece priorizar uma comunicação mais aberta, evitando sinalizações rígidas que possam limitar as opções do Banco Central no futuro. Analistas destacam que Galípolo tem buscado reforçar a credibilidade da instituição em um momento de desafios econômicos, combinando cautela com pragmatismo.
A nova composição do comitê, que inclui outros diretores nomeados recentemente, também influenciou a dinâmica das decisões. A equipe atual é vista como mais alinhada com a visão de Galípolo, que defende a importância de ancorar as expectativas de inflação sem comprometer o crescimento econômico no longo prazo.
Pressões inflacionárias no Brasil
A inflação segue como o principal desafio para o Banco Central. Em abril de 2025, o IPCA acumulado em 12 meses atingiu 4,8%, acima da meta de 3,0% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Setores como alimentos, combustíveis e serviços têm contribuído para a persistência das pressões inflacionárias, apesar dos esforços do Copom para contê-las.
O aumento dos juros tem como objetivo reduzir a demanda agregada, mas os efeitos são graduais. No setor de varejo, por exemplo, as vendas registraram crescimento de apenas 1,2% no primeiro trimestre de 2025, refletindo a desaceleração do consumo. A indústria, por sua vez, enfrenta dificuldades com o encarecimento do crédito e a alta nos custos de insumos importados.
A seguir, alguns setores mais afetados pela inflação:
- Alimentos: Itens como carne e trigo subiram 6,5% em 12 meses.
- Combustíveis: A gasolina acumula alta de 8,2% no mesmo período.
- Serviços: Tarifas de transporte e educação tiveram reajustes acima da média.
- Habitação: Aluguéis e energia elétrica pressionam o orçamento das famílias.
O Copom espera que a política monetária contracionista contribua para a convergência da inflação para a meta ao longo de 2026, mas reconhece que o processo será lento e sujeito a variáveis externas.
Expectativas para a próxima reunião
A reunião do Copom marcada para junho de 2025 será crucial para definir os próximos passos da política monetária. Embora o comunicado de maio não tenha trazido indicações claras, analistas acreditam que o Banco Central manterá a postura de monitoramento rigoroso dos indicadores econômicos. Dados como o IPCA, o desempenho do câmbio e a evolução do cenário externo serão determinantes para a decisão.
Alguns economistas apontam que a ausência de uma sinalização explícita de pausa no ciclo de altas reflete a cautela do Copom em um contexto de incertezas. Caso os preços de commodities continuem voláteis ou o dólar mantenha a trajetória de valorização, um novo aumento na Selic não pode ser descartado. Por outro lado, sinais de desaceleração na inflação ou na atividade econômica podem abrir espaço para a manutenção da taxa atual.
O mercado também acompanha de perto os indicadores fiscais. O governo brasileiro tem enfrentado dificuldades para cumprir metas de superávit primário, o que pode pressionar as expectativas de inflação no médio prazo. A relação entre o Banco Central e o Ministério da Economia será um fator-chave para a estabilidade econômica nos próximos meses.
Influência das condições financeiras globais
As condições financeiras globais têm desempenhado um papel central nas decisões do Copom. A alta nos juros de economias desenvolvidas, como os Estados Unidos e a Zona do Euro, tem reduzido o fluxo de capitais para países emergentes. No Brasil, isso se traduz em maior pressão sobre o câmbio e em custos mais elevados para o financiamento externo.
Além disso, a volatilidade nos mercados financeiros globais, impulsionada por tensões geopolíticas e mudanças nas políticas comerciais, tem afetado a confiança dos investidores. O Copom destacou que esses fatores exigem uma postura proativa por parte dos bancos centrais de países emergentes, que precisam ajustar suas políticas monetárias para evitar choques inflacionários.
A seguir, algumas tendências globais mencionadas pelo Copom:
- Alta nos juros globais: Bancos centrais como o Federal Reserve elevam taxas para conter a inflação.
- Redução de liquidez: Menor disponibilidade de capitais afeta mercados emergentes.
- Volatilidade em ativos: Oscilações em bolsas e moedas impactam condições financeiras.
O Brasil, como uma economia aberta, é particularmente sensível a essas dinâmicas. A decisão de elevar a Selic reflete, em parte, a necessidade de proteger a economia brasileira contra choques externos, enquanto se busca ancorar as expectativas de inflação no mercado doméstico.