[Cidade AC News – Rio Branco (AC)] — O avanço da conectividade no Acre tem um lado sombrio: os crimes cibernéticos dispararam 42% nos primeiros seis meses de 2025, segundo levantamento atualizado da Delegacia de Repressão a Crimes Cibernéticos (DRCC), divulgado na manhã desta quarta-feira (24). O relatório coloca o Acre no radar nacional como um dos estados com maior crescimento proporcional no número de fraudes digitais por habitante.
As denúncias mais frequentes incluem clonagem de WhatsApp, phishing bancário, roubo de senhas via e-mail falso e extorsão com uso de imagens íntimas obtidas ilegalmente. A maioria dos casos tem como vítimas pessoas com baixo letramento digital — principalmente idosos e moradores de zonas periféricas com acesso recente à internet móvel.
Segundo a delegada responsável pelo núcleo, o aumento se deve a uma combinação perigosa: crescimento do acesso a aplicativos financeiros e redes sociais, aliado à falta de hábitos básicos de cibersegurança. Ela alerta que, em muitos casos, os criminosos sequer estão fora do estado — os ataques vêm de bairros de Rio Branco, Feijó e Cruzeiro do Sul, o que confirma a “interiorização” das ações criminosas digitais.
“Não se trata mais de quadrilhas internacionais. Estamos lidando com golpistas locais que se especializaram em fraudes digitais. O estelionatário trocou o bilhete premiado por um chip clonado”, disse a delegada em entrevista coletiva nesta manhã.
Dentre os registros mais recentes, destacam-se os golpes do falso perfil — em que criminosos criam contas idênticas às de familiares e amigos das vítimas para pedir dinheiro ou transferências urgentes via Pix. Outro tipo que tem se espalhado é o da entrega falsa de encomendas, onde a vítima recebe um SMS com link malicioso simulando empresas de frete.
A DRCC lançou uma campanha emergencial nas escolas públicas para alertar estudantes e seus familiares sobre os riscos, orientando sobre como identificar tentativas de golpe, como proteger dados pessoais e o que fazer ao ser vítima. A cartilha digital “Não Caia na Rede”, elaborada em parceria com a Secretaria de Educação, já está sendo distribuída nos núcleos urbanos e também via WhatsApp das próprias unidades escolares.
No mesmo movimento, a Polícia Civil solicitou ao governo do Estado a ampliação da equipe da DRCC e a compra de novos softwares de rastreamento digital, que devem ser utilizados para mapear redes de perfis suspeitos em tempo real. O uso de ferramentas de inteligência artificial também está em avaliação.
Segundo o especialista em segurança digital da Ufac, professor Danilo Viana, o Acre vive uma “tempestade perfeita” para esse tipo de crime:
“Temos acesso crescente à tecnologia, mas com pouca cultura de proteção. As pessoas ainda clicam em links sem verificar a origem, compartilham dados sensíveis no WhatsApp e acreditam em promessas milagrosas nas redes.”
Ainda segundo o levantamento da DRCC, 3 em cada 5 vítimas não registram boletim de ocorrência por medo de represálias ou constrangimento, especialmente em casos que envolvem vazamento de fotos ou vídeos íntimos. A Delegacia reforça que o atendimento pode ser feito de forma sigilosa e remota, sem a necessidade de exposição presencial da vítima.
O Ministério Público do Acre também acompanha a situação e deve propor ações conjuntas com operadoras de telefonia e bancos para reforçar os protocolos de segurança digital no estado. A ideia é implementar, ainda em 2025, um núcleo de resposta rápida com foco exclusivo em fraudes via Pix.
Enquanto isso, a orientação principal segue sendo a prevenção:
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Desconfie de pedidos urgentes de dinheiro
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Ative a verificação em duas etapas no WhatsApp e redes sociais
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Não clique em links de SMS ou e-mail de remetentes desconhecidos
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Evite postar dados pessoais como CPF e número de celular abertamente
✍️ Eliton Lobato Muniz – Cidade AC News – Rio Branco – Acre






