Após a repercussão da matéria do Fantástico que revelou a situação precária da educação pública no Acre, o ex-governador Binho Marques publicou um artigo tentando justificar o colapso educacional com uma defesa nostálgica e uma crítica superficial ao atual governo. Porém, uma análise aprofundada dos dados oficiais e do histórico político revela que a realidade é bem diferente daquela pintada por ele.
O passado idealizado e a realidade dos números
Binho Marques tenta vender a ideia de que, durante sua gestão (1999–2010), o Acre teria alcançado um “avanço significativo” na educação, figurando entre as 10 melhores do país no IDEB. No entanto, dados oficiais do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) e do Ministério da Educação (MEC) indicam que a melhora foi tímida e desigual, longe de um “padrão básico de qualidade e dignidade” para todas as escolas.
Em 2023, o Acre ocupa a 20ª posição no IDEB nacional, com desempenho abaixo da média em muitas regiões. A situação das escolas, como a denunciada pelo Fantástico — com estruturas que lembram currais — não é um episódio isolado, mas reflexo da falta de investimento contínuo e da má gestão pública.
Salários e valorização docente: a falácia do “melhor salário do país”
A defesa de Binho Marques sobre o “melhor salário do país” pago aos professores não se sustenta diante dos dados do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Acre (Sinteac) e do Censo Escolar. Mesmo no auge de sua gestão, a categoria enfrentava atrasos salariais, baixos salários comparados a outros estados e falta de incentivo real.
Atualmente, a defasagem salarial persiste, corroendo a motivação dos profissionais e contribuindo para a evasão escolar e a queda na qualidade do ensino.
Irregularidades e corrupção: um legado que não pode ser ignorado
Binho Marques acusa governos posteriores de “populismo, incompetência e corrupção”. Contudo, relatórios da Controladoria Geral da União (CGU) e investigações do Ministério Público revelam que irregularidades na Secretaria de Educação já eram frequentes em sua administração, incluindo contratos superfaturados e desvios de recursos públicos.
Essa falta de transparência e fiscalização rigorosa contribuiu para a atual crise, que não se resolve apenas com discursos ou acusações ao adversário.
Clientelismo zero? A contradição da prática política
O ex-governador defende a fórmula do “clientelismo zero” como responsável pelos avanços passados, mas sua própria trajetória política inclui denúncias de práticas clientelistas e nepotismo que minam a eficiência das políticas públicas. O desafio real é superar o modelo político que privilegia interesses pessoais em detrimento do desenvolvimento social.
O Acre não pode mais aceitar discursos vazios
A educação pública no Acre precisa de gestão eficiente, transparência e investimento contínuo. A nostalgia do passado idealizado de Binho Marques serve apenas para desviar o foco das soluções urgentes.
Escolas em condições indignas, professores desvalorizados e má administração são problemas estruturais, que demandam ações concretas, não discursos demagógicos.
Enquanto o ex-governador tenta maquiar os fatos e minimizar os problemas, a população acreana clama por uma educação digna, capaz de preparar suas crianças para o século XXI.