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Aleac promove audiência pública para debater sobre hanseníase no Estado do Acre

Na manhã desta quinta-feira, 19 de setembro, a Assembleia Legislativa do Acre (Aleac) promoveu uma audiência pública, a pedido da deputada Maria Antônia, do Progressistas, para discutir a hanseníase no estado. O encontro reuniu profissionais de saúde, representantes do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), e autoridades locais para debater a situação da doença, que ainda representa um desafio para o sistema de saúde acreano.

A audiência, que segue um rito diferenciado das sessões regulares da Aleac, permitiu que os convidados e a comunidade discutissem em profundidade as medidas necessárias para combater a doença no estado. Além das apresentações técnicas, o debate centrou-se na importância da sensibilização pública e no fortalecimento das políticas públicas de saúde voltadas à hanseníase.

A deputada Maria Antônia, autora do requerimento, deu início ao debate destacando a importância do tema para o estado. “A hanseníase é uma doença que, embora tenha tratamento eficaz, ainda carrega muito preconceito. Precisamos unir esforços para garantir não apenas o diagnóstico e o tratamento, mas também a reinserção social dos pacientes”, afirmou.

A parlamentar também destacou a importância de tratar a doença com seriedade e responsabilidade. “Sabemos que o tema hanseníase ainda precisa ser visto com muito carinho, com muita atenção e com muita responsabilidade”, afirmou. A deputada enfatizou ainda a necessidade de uma ação mais proativa por parte da Secretaria de Saúde, especialmente em regiões com maior incidência da doença, como as comunidades periféricas e rurais.  “A Secretaria tinha que fazer essa busca ativa nessas comunidades”, disse.

 Maria Antônia também lembrou que, embora a hanseníase seja uma doença antiga, ela ainda persiste e precisa de maior atenção. “Estamos falando de uma doença milenar. Não era para existir mais, tantos anos, e a gente ainda tem a infelicidade de saber que a hanseníase ainda está no meio de nós”, complementou.

Representando a secretaria de Saúde de Rio Branco, Emerson Lima, coordenador da área técnica de hanseníase, destacou os desafios enfrentados no combate à doença. Ele enfatizou que a hanseníase, apesar de ser uma doença prolongada com tratamento difícil, tem cura. “Não é uma tarefa fácil, é uma tarefa difícil, porque é uma doença que acomete muitas pessoas, mas que tem tratamento e tem cura, que é o importante”, afirmou. Ele também ressaltou a dificuldade de garantir que os pacientes completem o tratamento devido à sua longa duração.

Emerson Lima explicou que a Secretaria tem se esforçado para aproximar o atendimento dos pacientes, especialmente nas áreas rurais de difícil acesso. “A gente tem tentado fazer com que cheguemos perto dessas pessoas, através da busca ativa dos contactantes, através da busca ativa dos faltosos”, disse. Ele enfatizou que, em 2024, o Ministério da Saúde capacitou unidades de saúde em Rio Branco, colocando quatro delas como referência para o atendimento da hanseníase. “Estamos no início, é um processo árduo e contínuo, mas estamos trabalhando para identificar as fragilidades e melhorar o atendimento”, completou.

Em seguida, Élson Dias da Silva, coordenador estadual do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), ressaltou a importância da conscientização para o diagnóstico precoce da doença. Ele compartilhou a história do Sr. João Pereira, diagnosticado com hanseníase apenas aos 9 anos, apesar de apresentar os primeiros sinais aos 5 anos, o que o deixou com sequelas. “Essa é a nossa preocupação com o diagnóstico tardio. Se a pessoa não souber reconhecer os sinais e sintomas da doença, pode chegar ao centro de referência já com sequelas”, afirmou Élson, destacando a importância de campanhas públicas e da Semana Estadual de Combate à Hanseníase para alertar a população.

Élson Dias também mencionou os dados preocupantes sobre a hanseníase no estado. De 2023 a 2024, o Acre registrou 220 casos da doença, sendo 10 em crianças menores de 15 anos. “Quando há casos em crianças menores de 15 anos, isso quer dizer que há uma fonte de transmissão próxima, geralmente no seio familiar”, explicou, enfatizando a necessidade de tratamento adequado para evitar a transmissão. Ele também celebrou o apoio financeiro do Ministério da Saúde, que destinou recursos para a prevenção e campanhas nos municípios mais afetados, como Rio Branco, Cruzeiro do Sul e Xapuri.

O senhor Raimundo Oceano, servidor da Oficina Ortopédica do Estado, também participou do debate. Na ocasião, ele destacou a importância do trabalho realizado pela oficina na prevenção e tratamento de sequelas causadas pela hanseníase, especialmente por meio de palmilhas e calçados ortopédicos. Ele ressaltou ainda que muitas pessoas chegam à oficina com ferimentos, e esses dispositivos ajudam a prevenir o agravamento das lesões. No entanto, o representante alertou sobre a atual falta de materiais, o que está prejudicando o atendimento de uma demanda de mais de 200 próteses.

Suilane Souza, representando no encontro a Secretaria Estadual de Saúde do nosso Estado (Sesacre), enfatizou que, apesar dos serviços e recursos disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS), falta “informação e capacitação adequada” entre os profissionais da atenção primária. Ela apontou a necessidade urgente de “descentralizar o atendimento da hanseníase” e de outros programas de saúde, como HIV, hepatite e sífilis, para que o tratamento alcance todos os municípios. No entanto, Suilane lamentou que, diferentemente de outras doenças, “não vem incentivo financeiro para a hanseníase”, reforçando que a maior parte do apoio financeiro é destinada a programas de hepatite, HIV e tuberculose.

A servidora da Sesacre também mencionou esforços recentes para capacitar profissionais de saúde em várias regiões do estado, com apoio do Ministério da Saúde. Ela destacou que “122 profissionais foram capacitados na regional do Baixo Acre, 30 em Brasiléia e 62 na regional do Juruá”, tornando-os mais preparados para identificar e tratar a hanseníase. Além disso, Suilane sublinhou que, devido à “escassez de recursos específicos para a hanseníase”, muitas vezes os fundos de combate à tuberculose são usados para custear capacitações e atender os pacientes. “Essa matemática a gente não entendeu muito bem”, disse ela, referindo-se à discrepância na distribuição de recursos entre as doenças, mas salientou a importância de manter os esforços de qualificação e descentralização.

Ao encerrar a audiência, a deputada Maria Antônia reforçou o compromisso da Aleac em buscar soluções: “Precisamos agir rapidamente, tanto no diagnóstico quanto no tratamento, para que a hanseníase não continue a ser uma realidade para tantos acreanos”.

Ela também agradeceu a participação de todos, e frisou que as demandas discutidas na audiência serão levadas adiante, com Emerson Lima encarregado de encaminhá-las e Suilane Souza de reportar os problemas ao secretário, especialmente a situação crítica em Cruzeiro do Sul, onde a falta de vagas e a aposentadoria de profissionais pode deixar os pacientes sem o cuidado adequado.

Texto: Mircléia Magalhães/Agência Aleac

Fotos: Sérgio Vale  

 

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