Avanços logísticos não escondem falhas de gestão de pessoas e denúncias de falta de remédios básicos em unidades de ponta.
📍 Rio Branco – AC | 30 de setembro de 2025 | Atualizado há 1h

Na gestão atual da Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre), chefiada pelo médico Pedro Pascoal, profissional formado em medicina e com histórico de atuação no SAMU e em diferentes unidades da rede pública, a imagem inicial de eficiência técnica foi marcada por avanços visíveis na logística e pela redução das crises de desabastecimento que, no passado, eram constantes nas manchetes. No entanto, relatos de servidores e usuários apontam fragilidades na condução da política de recursos humanos, na resolutividade da rede de atenção básica e até no fornecimento de medicamentos comuns, o que levanta questionamentos sobre a real prioridade da pasta e sobre a coerência entre discurso e prática.
Um gestor técnico que conhece a ponta
Pedro Pascoal não chegou à Sesacre como um político tradicional. Ele é médico, e sua trajetória profissional foi marcada pela atuação direta em unidades de urgência, especialmente no SAMU. Essa vivência lhe deu um olhar diferenciado sobre a realidade dos atendimentos e o cotidiano de profissionais que trabalham em condições muitas vezes precárias.
O fato de conhecer a rotina de plantões, a falta de insumos e as limitações da rede de saúde foi um dos argumentos que sustentaram sua escolha para o cargo. A lógica era simples: se alguém já viveu os problemas da ponta, teria condições de conduzir soluções mais realistas na gestão central.
Contudo, ao longo do tempo, a prática mostrou que ser técnico não basta. Governar a saúde pública exige também liderança política, capacidade de comunicação e, sobretudo, valorização do servidor.
Avanços logísticos reconhecidos
É preciso reconhecer que a Sesacre, sob comando de Pascoal, conseguiu reduzir os chamados “apagões” — momentos em que a falta de medicamentos atingia toda a rede e ocupava manchetes negativas. Produtos como dipirona, omeprazol e antibióticos básicos, que antes eram constantemente apontados como ausentes, tiveram uma reposição mais organizada.
Houve melhorias também no fluxo de insumos hospitalares, na regulação de leitos e na organização de compras emergenciais. Para o paciente comum, isso significou menos idas em vão à farmácia de referência.
Mas esse avanço não foi suficiente para neutralizar outras falhas que permanecem: servidores desmotivados, processos administrativos em excesso e denúncias de desabastecimento pontual de itens essenciais.
Servidores entre processos e desvalorização

A crítica mais recorrente é o distanciamento da gestão em relação aos servidores. Estima-se que centenas de trabalhadores da saúde estejam hoje em processos administrativos disciplinares (PADs). Muitos relatam sensação de perseguição e falta de diálogo, o que fragiliza o ambiente interno.
Na visão de sindicatos e representantes de classe, a secretaria estaria mais preocupada em manter a imagem institucional do que em valorizar quem sustenta o sistema. O gabinete, que deveria funcionar como porta aberta para o servidor, é visto como blindado e inacessível.
Essa postura gera um paradoxo: ao mesmo tempo em que o secretário é lembrado por visitar unidades e ouvir pacientes, internamente sua equipe é criticada por falta de acolhimento e por decisões consideradas autoritárias.
Em 2023, Pedro Pascoal fez duas declarações que ecoaram dentro e fora dos corredores da Sesacre. Primeiro, afirmou: “Eu sou médico e pretendo trabalhar na Saúde que eu vou deixar depois dos quatro anos, então a valorização dos servidores tem que ser de uma forma urgente.” Segundo, reforçou: “Desistir não é uma opção. Vamos lutar até o último minuto.”
Essas frases, ditas com firmeza no início da gestão, hoje voltam à tona como contraste. Para servidores que enfrentam PADs e para usuários que relatam falta de medicamentos, a sensação é de que o compromisso assumido não foi plenamente traduzido em ações.
Reflexão necessária
O afastamento do trabalho, as terapias, os medicamentos e a socialização não são favores, mas direitos fundamentais do servidor. Negá-los é violar a dignidade humana. Ainda assim, o Estado trata o adoecimento como indisciplina, ignorando as causas estruturais: sobrecarga, falta de apoio e ambiente precário.
O resultado é um ciclo perverso: o servidor adoece, não recebe suporte, é punido e judicializa. Esse modelo enfraquece não apenas o sistema de saúde, mas também a confiança nas instituições.
A pergunta central que o Acre precisa responder é: qual o valor da vida e da saúde do servidor para o Estado? A resposta definirá como a sociedade entende a relação entre trabalho, dignidade e humanidade.
Faltam medicamentos básicos nas UPAs
A percepção pública da saúde costuma se traduzir na prateleira da farmácia. Se o remédio está disponível, há confiança. Se falta, a descredibilização é imediata.
Embora os grandes apagões de anos anteriores tenham sido controlados, usuários relatam recentemente falta de medicamentos básicos em unidades de pronto-atendimento. Mensagens encaminhadas à redação citam desabastecimento em itens de uso rotineiro. Essa fragilidade, mesmo que pontual, corrói o discurso de eficiência.
A falta de medicamentos na rede pública do Acre é uma mini-série que invariavelmente se transforma em novela, repetida a cada temporada com novos capítulos de frustração. Hoje, relatos dão conta de que itens básicos e indispensáveis como prometazina, omeprazol e até tramal injetável estão em falta em unidades de referência e nas UPAs. Não são medicamentos de luxo, mas remédios corriqueiros, usados tanto em situações de urgência quanto em tratamentos contínuos.
A ausência desses insumos evidencia a fragilidade da logística e da governança clínica: o problema deixa de ser técnico para se tornar humano, pois compromete diretamente a qualidade do atendimento e a confiança do paciente no SUS. Quando um pai sai de madrugada em busca de prometazina para uma criança alérgica e encontra a prateleira vazia, ou quando um idoso não encontra omeprazol para o tratamento gástrico, não há justificativa burocrática que sustente a falha. A novela da falta de medicamentos não apenas corrói a credibilidade da gestão, mas expõe, em cada episódio, o custo social da ineficiência.
Gestão de saúde não se mede apenas em relatórios ou indicadores internos. Mede-se também na experiência do paciente que chega a uma UPA em busca de dipirona para uma criança com febre e sai sem atendimento adequado.
Saúde e política no mesmo tabuleiro
A Sesacre é a maior secretaria do governo do Acre. Comanda mais de 8 mil servidores, administra hospitais, UPAs, unidades básicas e a logística de medicamentos em 22 municípios. É uma estrutura que consome uma fatia significativa do orçamento estadual e que influencia diretamente a vida de praticamente toda a população.
Nesse cenário, a presença de Pedro Pascoal como possível pré-candidato a deputado federal deixa de ser apenas especulação: sua candidatura já é uma realidade dentro da Sesacre. A estratégia, segundo fontes internas, é inspirada no modelo utilizado por José Augusto Soares, o “Aiache”, eleito vereador em 2024 após usar a máquina de forma articulada. A diferença, desta vez, é a ambição maior: transformar a estrutura da saúde estadual em trampolim para uma vaga na Câmara Federal.
Além disso, Pascoal foi eleito recentemente vice-presidente da Região Norte do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), um posto que lhe dá visibilidade nacional e reforça sua imagem de gestor técnico e articulado. Esse título, que poderia fortalecer políticas públicas e parcerias, também serve como ativo político para pavimentar sua campanha.
E aqui está o ponto mais grave: quando há uma pretensão política no meio do caminho, tudo muda — os interesses, a velocidade de alguns processos, as prioridades de gestão. O que era para ser cuidado com zelo, vira um gabinete de negociações políticas. É nesse momento que tudo perde o sentido. O usuário sente, o servidor sente, e a própria secretaria sente o peso de uma máquina que se move mais pela lógica da campanha do que pela lógica da vida.
A fragilidade da governança clínica
Governança clínica é um conceito que envolve três pilares: eficiência logística, valorização do capital humano e transparência.
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Eficiência logística: houve avanços, mas falhas persistem em medicamentos básicos.
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Capital humano: centenas de servidores em PADs e relatos de desmotivação fragilizam o sistema.
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Transparência: a comunicação institucional tenta blindar a imagem, mas não responde de forma clara às denúncias de desabastecimento.
O resultado é um sistema que avança em alguns pontos, mas permanece frágil no essencial: a confiança da população.
O que se sabe até agora
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O secretário Pedro Pascoal é médico e atuou no SAMU antes de assumir a Sesacre.
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A secretaria reduziu os grandes apagões de medicamentos.
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Servidores relatam desvalorização e excesso de processos administrativos.
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Usuários denunciam falta recente de remédios como prometazina, omeprazol e tramal injetável.
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Em 2023, Pascoal prometeu valorização urgente dos servidores e disse que “desistir não é uma opção”.
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Sua candidatura a deputado federal já é tratada como realidade na Sesacre.
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Foi eleito vice-presidente da Região Norte do Conass.
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Especialistas apontam risco de desgaste eleitoral se as falhas não forem corrigidas.
FAQ – Perguntas e respostas
1. Quem é Pedro Pascoal?
Médico acreano, com atuação destacada no SAMU e experiência em unidades da rede pública.
2. O que melhorou na gestão dele?
Controle dos apagões de insumos e melhorias logísticas em hospitais e UPAs.
3. E os problemas?
Falta de acolhimento aos servidores, PADs em excesso e falta de medicamentos básicos.
4. A falta de medicamentos continua?
Sim, ainda há denúncias em unidades de ponta, mesmo após avanços logísticos.
5. Quantos servidores a Sesacre administra?
Mais de 8 mil, distribuídos em todo o estado.
6. O gestor é pré-candidato?
Sim, sua candidatura a deputado federal é tratada como realidade nos bastidores da Sesacre.
7. Isso interfere na saúde?
Críticos dizem que divide prioridades entre gestão e política.
8. O SUS no Acre é sustentável nesse ritmo?
Especialistas alertam que, sem valorização dos servidores, há risco de retrocesso.
9. Qual o maior desafio hoje?
Reconstruir a confiança de servidores e pacientes, garantindo remédios e acolhimento.
10. O que esperar daqui pra frente?
Se a gestão não ajustar o foco, a novela da falta de medicamentos pode voltar a ser manchete frequente.
Conclusão – Editorial opinativo
A Sesacre avançou em logística, mas a saúde pública não se resume a planilhas e licitações. É feita de gente cuidando de gente. Quando servidores se sentem perseguidos e pacientes não encontram prometazina ou omeprazol, o discurso de gestão técnica perde força.
Pedro Pascoal pode ser um bom médico, mas precisa mostrar que é também um bom gestor de pessoas e de prioridades. O maior patrimônio da saúde não está apenas nos remédios, mas no servidor motivado e no cidadão que confia no SUS.
Gestão técnica sem gestão humana é gestão incompleta. E incompletude, em saúde, cobra seu preço em credibilidade, em votos e, sobretudo, em vidas.
Eu acreditei em você, Dr. Essa frase, que poderia ser dita por qualquer servidor ou paciente, carrega a dor da decepção e a urgência de quem não pode mais esperar.
O Acre não pode mais esperar. A saúde pública não sobrevive de discursos. Ou Pedro Pascoal age agora, ou será mais um nome na longa lista dos que prometeram muito, mas deixaram pouco.
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Por Eliton Lobato Muniz — Free Lancer – Cidade AC News
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