A Raízen, uma das maiores empresas do setor de energia e agronegócio do Brasil, enfrentou um trimestre desafiador no quarto período do ano-safra 2024/25, que compreende os meses de janeiro a março. O prejuízo líquido reportado alcançou R$ 2,5 bilhões, um salto expressivo de 186,1% em relação às perdas de R$ 878,6 milhões registradas no mesmo intervalo do ano anterior. Esse desempenho reflete uma combinação de fatores operacionais, estratégicos e financeiros que pressionaram os resultados da companhia.
Apesar do cenário adverso, a receita líquida apresentou crescimento. A empresa conseguiu elevar sua receita em 7,5% no trimestre, totalizando R$ 57,7 bilhões, um reflexo de sua capacidade de manter operações robustas em meio a dificuldades. No acumulado do ano-safra, o crescimento foi ainda mais significativo, com a receita líquida atingindo R$ 255,3 bilhões, uma alta de 15,8% em comparação com o ciclo anterior.
Os desafios enfrentados pela Raízen no período incluíram:
- Pressões operacionais que comprometeram a eficiência de suas unidades de negócio.
- Efeitos não recorrentes, como a revisão de estratégias no segmento de Trading.
- Aumento das despesas financeiras, impactadas por condições macroeconômicas.
- Provisão de R$ 900 milhões para não realização de tributos diferidos.

Pressões financeiras elevam alavancagem
O aumento da dívida líquida foi um dos pontos mais críticos do balanço da Raízen no quarto trimestre do ano-safra 2024/25. O montante atingiu R$ 34,3 bilhões, um crescimento de 78,9% em relação ao encerramento do ciclo anterior. Esse avanço elevou a alavancagem da companhia, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda ajustado, de 1,3 vez para 3,2 vezes. O indicador reflete uma maior dependência de financiamentos em um contexto de margens pressionadas.
A alta da dívida está associada a investimentos em expansão e à necessidade de capital de giro para sustentar operações em um período de volatilidade nos preços de commodities. A empresa, que atua em segmentos como produção de etanol, açúcar e distribuição de combustíveis, enfrentou custos elevados em insumos e logística, impactando diretamente sua estrutura financeira.
Por outro lado, a Raízen tem buscado estratégias para mitigar esses efeitos. A venda de ativos considerados menos estratégicos, como uma usina de menor desempenho, foi apontada por analistas como um passo positivo para aliviar a pressão financeira. A companhia também anunciou planos para racionalizar investimentos e reduzir despesas operacionais, visando maior eficiência no curto e médio prazo.
Receita cresce, mas margens encolhem
A receita líquida de R$ 57,7 bilhões no quarto trimestre demonstra a resiliência da Raízen em manter sua base de vendas, mesmo diante de um cenário econômico complexo. O crescimento foi impulsionado pelo aumento no volume de vendas de combustíveis e pela valorização de produtos no mercado internacional, especialmente o açúcar. No entanto, o lucro bruto do período sofreu forte retração, caindo 49,8% para R$ 1,9 bilhão, reflexo de margens comprimidas por custos operacionais mais altos.
No acumulado do ano-safra, a receita líquida de R$ 255,3 bilhões reforça a posição da Raízen como uma das líderes em seu setor. A companhia se beneficiou da demanda global por biocombustíveis e da recuperação parcial dos preços de energia, mas os desafios internos limitaram a conversão dessa receita em lucratividade.
Os fatores que pressionaram as margens incluíram:
- Alta nos custos de produção, especialmente em fertilizantes e combustíveis.
- Volatilidade nos preços de commodities agrícolas, como cana-de-açúcar.
- Impactos de condições climáticas adversas em algumas regiões produtoras.
- Aumento das despesas com transporte e armazenamento.
Desempenho operacional sob pressão
As operações da Raízen enfrentaram dificuldades significativas no quarto trimestre, com reflexos diretos no Ebitda ajustado, que caiu 53,3% para R$ 1,72 bilhão. A redução foi impulsionada por ineficiências em algumas unidades de produção e pelos custos associados à reestruturação de negócios, especialmente no segmento de Trading. A revisão estratégica nesse setor gerou impactos não recorrentes, que pesaram sobre o resultado consolidado.
A produção de etanol, um dos pilares do negócio, foi afetada por condições adversas no campo. Chuvas irregulares em regiões do Centro-Sul do Brasil comprometeram a produtividade da cana-de-açúcar, reduzindo o rendimento das safras. Além disso, a empresa enfrentou dificuldades logísticas para escoar sua produção, o que elevou os custos operacionais e comprimiu as margens.
A Raízen também reportou um aumento no capital de giro necessário para manter suas operações. Estoques elevados e prazos mais longos para recebíveis contribuíram para a pressão financeira, exigindo maior uso de linhas de crédito. Essa dinâmica explica, em parte, o crescimento expressivo da dívida líquida no período.
Estratégias para reverter perdas
A administração da Raízen anunciou medidas para enfrentar os desafios do quarto trimestre e melhorar o desempenho no próximo ciclo. Entre as iniciativas, destaca-se o foco no chamado “core business”, com maior ênfase em atividades de maior rentabilidade, como a produção de biocombustíveis e a distribuição de combustíveis. A companhia planeja simplificar sua estrutura operacional, reduzindo a complexidade de seus negócios.
As principais ações estratégicas incluem:
- Venda de ativos não estratégicos para reduzir o endividamento.
- Otimização de processos produtivos para aumentar a eficiência.
- Redução de despesas administrativas e operacionais.
- Revisão do plano de investimentos, priorizando projetos de alto retorno.
A venda de uma usina considerada de baixo desempenho foi bem recebida por analistas, que veem a medida como um passo para liberar capital e focar em operações mais rentáveis. No entanto, especialistas apontam que a Raízen ainda enfrenta um longo caminho para estabilizar sua situação financeira, especialmente em um cenário de incertezas macroeconômicas.
Mercado reage aos resultados
As ações da Raízen (RAIZ4) registraram volatilidade após a divulgação dos resultados do quarto trimestre. Investidores reagiram à combinação de prejuízo ampliado e aumento da dívida, mas alguns analistas destacaram o crescimento da receita como um sinal de resiliência. O mercado aguarda sinais mais claros sobre a eficácia das medidas anunciadas pela companhia para reverter as perdas.
O setor de agronegócio e energia, no qual a Raízen atua, enfrenta um momento de transição. A demanda por biocombustíveis segue em alta, impulsionada por políticas globais de descarbonização, mas os custos de produção e a volatilidade de preços continuam desafiando as empresas do segmento. A Raízen, como uma das maiores do setor, está no centro dessas transformações, com investidores atentos às próximas decisões estratégicas.
Foco na redução de custos
A Raízen intensificou esforços para cortar despesas em diversas frentes. A companhia revisou contratos com fornecedores, buscando negociações mais favoráveis, e implementou tecnologias para aumentar a eficiência em suas unidades industriais. A automação de processos e o uso de dados para otimizar a produção de etanol e açúcar estão entre as prioridades para o próximo ciclo.
A empresa também planeja reduzir o capital de giro, diminuindo estoques e acelerando o ciclo de recebíveis. Essas medidas visam aliviar a pressão sobre a dívida líquida, que atingiu níveis considerados elevados por analistas. A alavancagem de 3,2 vezes o Ebitda ajustado é vista como um ponto de atenção, especialmente em um contexto de taxas de juros ainda altas no Brasil.
Cenário do setor de biocombustíveis
O mercado de biocombustíveis, no qual a Raízen tem forte presença, apresentou dinâmicas mistas no quarto trimestre do ano-safra 2024/25. A demanda por etanol hidratado cresceu no mercado interno, impulsionada pelo aumento do preço da gasolina, que tornou o biocombustível mais competitivo. No entanto, os custos de produção subiram, limitando os ganhos das empresas do setor.
No mercado externo, o açúcar brasileiro continuou valorizado, beneficiando as exportações da Raízen. A companhia ampliou sua participação em mercados como Ásia e Oriente Médio, onde a demanda por produtos agrícolas segue aquecida. Apesar disso, os custos logísticos para exportação, incluindo fretes marítimos, impactaram as margens de lucro.
Os desafios do setor incluem:
- Volatilidade nos preços do petróleo, que afeta os combustíveis fósseis e biocombustíveis.
- Concorrência crescente no mercado de etanol, com novos entrantes.
- Pressões regulatórias para cumprir metas de emissões de carbono.
- Dependência de condições climáticas para a produtividade agrícola.
Investimentos em sustentabilidade
A Raízen manteve seu compromisso com a sustentabilidade, mesmo em um trimestre de resultados negativos. A companhia investiu em projetos de energia renovável, como a produção de biogás e etanol de segunda geração. Essas iniciativas visam atender à crescente demanda por fontes de energia limpa e fortalecer a posição da empresa em um mercado global cada vez mais focado na descarbonização.
A produção de etanol de segunda geração, que utiliza resíduos agrícolas, avançou com a expansão de uma planta industrial no interior de São Paulo. A tecnologia permite maior aproveitamento da biomassa, reduzindo custos e impactos ambientais. A Raízen também ampliou parcerias com empresas do setor de tecnologia para desenvolver soluções inovadoras em energia renovável.
Perspectivas operacionais
A Raízen planeja ajustes operacionais para o próximo ano-safra, com foco em aumentar a produtividade no campo e na indústria. A companhia investiu em melhorias genéticas para a cana-de-açúcar, visando plantas mais resistentes a pragas e mudanças climáticas. Além disso, a automação de colheitas e o uso de drones para monitoramento de lavouras estão entre as iniciativas para reduzir custos e melhorar a eficiência.
No segmento de distribuição de combustíveis, a Raízen ampliou sua rede de postos, especialmente nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. A empresa também lançou campanhas de marketing para fortalecer a marca Shell, licenciada no país, visando atrair novos consumidores em um mercado altamente competitivo.
Cenário macroeconômico
O desempenho da Raízen no quarto trimestre foi influenciado por fatores macroeconômicos, como a alta dos juros no Brasil e a volatilidade do câmbio. A valorização do dólar frente ao real encareceu insumos importados, como fertilizantes, e aumentou o custo de dívidas em moeda estrangeira. A empresa, que possui parte de sua dívida atrelada ao dólar, enfrentou despesas financeiras adicionais no período.
A inflação também impactou os custos operacionais, especialmente em transporte e energia. A Raízen reportou um aumento de 12% nos gastos com logística, driven pela alta dos preços de combustíveis fósseis e pela necessidade de maior capacidade de armazenamento. Esses fatores reforçam a importância das medidas de corte de custos anunciadas pela companhia.
Planos de desinvestimento
A venda de ativos não estratégicos é uma das prioridades da Raízen para reduzir sua dívida líquida. Além da usina já negociada, a companhia avalia outras operações que podem ser descontinuadas ou vendidas. A estratégia visa liberar capital para investimentos em áreas de maior retorno, como biocombustíveis e energia renovável.
Analistas do mercado destacaram que a Raízen precisa manter um ritmo acelerado de desinvestimentos para equilibrar sua estrutura financeira. A venda de ativos menos rentáveis, combinada com a racionalização de despesas, pode ajudar a empresa a recuperar a confiança dos investidores no longo prazo.
Competitividade no mercado global
A Raízen continua sendo uma das principais exportadoras de açúcar e etanol do Brasil, com forte presença em mercados internacionais. No quarto trimestre, a empresa ampliou contratos de fornecimento com países asiáticos, onde a demanda por produtos agrícolas segue em alta. A valorização do açúcar no mercado global foi um dos fatores que sustentaram o crescimento da receita líquida.
No entanto, a concorrência no mercado internacional aumentou, com países como Índia e Tailândia ampliando sua produção de açúcar. A Raízen aposta em sua escala e em tecnologias avançadas para manter a competitividade, mas os custos logísticos e as barreiras tarifárias em alguns mercados seguem como desafios.
Avanços tecnológicos
A inovação tecnológica é uma das apostas da Raízen para superar os desafios operacionais. A empresa investiu em sistemas de inteligência artificial para otimizar a gestão de estoques e prever demandas no mercado de combustíveis. Além disso, a digitalização de processos industriais reduziu custos em algumas unidades, embora os benefícios ainda não tenham compensado as perdas do trimestre.
A Raízen também ampliou o uso de energias renováveis em suas operações. Painéis solares foram instalados em algumas unidades industriais, reduzindo a dependência de energia elétrica da rede e cortando custos. Essas iniciativas reforçam o compromisso da empresa com a sustentabilidade, mesmo em um cenário financeiro desafiador.