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“Passíveis de quê?” – o nome bonito da bagunça oficial na Resex Chico Mendes

Trabalho da equipe de Gestão Socioambiental busca resolver os problemas dos moradores irregulares da reserva.

Trabalho da equipe de Gestão Socioambiental busca resolver os problemas dos moradores irregulares da reserva.

Quando o erro vira método e a irregularidade ganha crachá, não é mais caos: é projeto.

No Acre, até o problema ganha disfarce. “Passível de regularização” — foi essa a categoria mágica criada para não dizer o óbvio: a Resex Chico Mendes está tomada. E não é de hoje. Nem por acidente.

Mais de 70% dos moradores da reserva estão irregulares, segundo os próprios técnicos da gestão socioambiental. Mas em vez de nomear o fracasso da fiscalização, reconhecer a omissão institucional e acionar os órgãos competentes com firmeza, criaram um eufemismo. Eufemismo é aquele tipo de mentira que se veste de burocracia para parecer civilizada.

“Ou fazia isso ou seria o caos”, diz um servidor.

Mas e se o caos já estiver aí, só que autorizado?

A floresta como refém de um Estado covarde

É preciso dizer com todas as letras: a Resex não está apenas ocupada, está sendo lentamente privatizada por dentro. As lideranças comunitárias sérias estão sendo abafadas. As reuniões viraram rituais de ofício, sem escuta real. Os técnicos se desdobram, mas não são cegos — apenas obedientes ao manual de contenção.

Regularizar virou sinônimo de recuar. Não se trata mais de proteger o extrativismo, mas de negociar espaço com interesses que deveriam estar do lado de fora. O resultado? Um mapa fundiário manchado, uma floresta em ruínas, e o Estado fingindo que tudo está dentro da margem legal. Só esqueceram de perguntar à floresta se ela concorda.

O silêncio dos políticos e o grito abafado da terra

O texto oficial evita cuidadosamente mencionar qualquer ator político. Como se as ocupações desordenadas surgissem do mato, como cipó. Mas é público e notório que há décadas prefeitos, deputados e vereadores utilizam essas áreas como moeda de troca eleitoral.

Quem fiscalizou? Ninguém. Quem deixou correr? Todos.
Quem se beneficia agora? Os mesmos que usam caminhonetes bancadas pelo povo para visitar ramais abertos com voto e trator.

E onde está o governador? Onde estão os parlamentares que adoram tirar foto com árvore ao fundo, mas não abrem a boca pra defender a Resex quando ela sangra?

Política no Acre, quando não atrapalha, se esconde.
E quando a base treme, o discurso ensaia cair.

O jeitinho como política pública

Criar uma nova categoria de morador sem amparo legal é transformar o improviso em doutrina. É abrir precedente para que qualquer um — com influência, lobby ou lote na ponta da motosserra — diga que está só “passível de ajuste”.

Isso é um convite à grilagem. É a certidão do caos com firma reconhecida.
E se o MPF não agir com firmeza, vai virar também cúmplice involuntário dessa mutação institucional.

A Resex nasceu como proteção, virou vitrine e agora agoniza como vitimização.
Pior: com conivência da estrutura que deveria defendê-la.

A pergunta que incomoda

“Regular é quem segue a lei. No Acre, virou quem se adapta ao erro.”

Passível de regularização? Não.
Passível de indignação.
Porque quando até a floresta tem que pedir desculpa por existir, o problema não é técnico.
É moral.

— Ton não amistoso!

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✍️ Por: Eliton Muniz – Redator FreeLancer
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