Aos 88 anos, o Papa Francisco deixou o Hospital Gemelli, em Roma, neste domingo, 23 de março, após uma internação de 38 dias para tratar uma pneumonia bilateral que o levou a um estado crítico. Antes de retornar ao Vaticano, o pontífice apareceu na sacada do décimo andar do hospital, acenando para centenas de fiéis que o aguardavam em um gesto de gratidão e esperança. A saída marcou o fim de um período desafiador, o mais longo de seu papado de 12 anos, iniciado em 2013. Apesar da alta, os médicos determinaram que ele precisará de pelo menos dois meses de repouso, com fisioterapia respiratória e restrições a atividades intensas, como encontros com grandes grupos. O quadro, que começou com uma bronquite em 14 de fevereiro, evoluiu para uma infecção complexa envolvendo bactérias, vírus e fungos, exigindo cuidados intensivos e levantando preocupações globais sobre sua saúde.
Francisco chegou ao hospital em meados de fevereiro com dificuldade para falar e respirar, sintomas que logo revelaram a gravidade de sua condição. A pneumonia nos dois pulmões, diagnosticada após uma tomografia, foi um golpe para o líder católico, que já teve parte de um pulmão removida na juventude devido a uma pleurisia. Durante a internação, ele enfrentou crises respiratórias, insuficiência renal leve e até um episódio grave de tosse que demandou ventilação mecânica não invasiva. Mesmo assim, sua recuperação foi gradual, com melhoras consistentes nas últimas semanas, permitindo que ele voltasse ao Vaticano em um estado estável, mas ainda frágil.
O retorno do Papa ao lar foi recebido com alívio por fiéis e autoridades da Igreja. Na manhã deste domingo, ele celebrou uma breve aparição pública, abençoando a multidão e destacando uma mulher com flores amarelas entre os presentes. “Obrigado a todos”, disse em voz baixa, visivelmente emocionado, antes de ser levado de volta ao interior do hospital para os preparativos finais da alta. A jornada de quase 40 dias no Gemelli, o segundo maior período de internação de um papa na história recente, reacendeu debates sobre a resiliência de Francisco e os desafios de liderar a Igreja Católica em idade avançada.
- Data de internação: 14 de fevereiro.
- Diagnóstico: pneumonia bilateral.
- Tempo no hospital: 38 dias.
- Prescrição pós-alta: repouso de dois meses.
Uma batalha respiratória que testou limites
A internação de Francisco começou de forma inesperada. Em 14 de fevereiro, ele foi levado ao Hospital Gemelli após apresentar sintomas de bronquite severa, que incluíam dificuldade para falar e respirar. Inicialmente, o Vaticano informou que se tratava de uma infecção respiratória, mas exames posteriores revelaram uma pneumonia dupla, uma condição em que ambos os pulmões são afetados. A gravidade do quadro exigiu uma resposta médica imediata, com o uso de oxigênio suplementar e, em momentos críticos, ventilação mecânica para auxiliar a respiração.
Durante as primeiras três semanas, o estado do Papa oscilou. Crises respiratórias frequentes e um episódio de insuficiência renal leve mantiveram a equipe médica em alerta. O Dr. Sergio Alfieri, chefe do departamento médico-cirúrgico do Gemelli, coordenou os esforços para estabilizar o pontífice, que também enfrentou uma infecção polimicrobiana – uma combinação rara de bactérias, vírus e fungos. A situação só começou a melhorar no início de março, quando os médicos suspenderam a ventilação mecânica e reduziram a dependência de oxigênio, sinalizando que os pulmões de Francisco estavam voltando a funcionar por conta própria.
A história clínica do Papa adicionou camadas de complexidade ao tratamento. Aos 21 anos, ele passou por uma cirurgia para remover parte do pulmão direito devido a uma pleurisia, o que o torna mais vulnerável a infecções respiratórias. Esse fator, aliado à idade avançada, fez da pneumonia um adversário particularmente perigoso. Apesar disso, sua recuperação foi descrita como notável, com pequenos avanços diários que culminaram na alta deste domingo, um marco que poucos esperavam tão cedo diante das complicações iniciais.
Papa Francisco fez sua primeira aparição publica em mais de um mês. pic.twitter.com/jTZCskdHwO
— Catolicismo ‘desconhecido’ (@Catolicismooo) March 23, 2025
O papel do Gemelli na recuperação do Papa
Localizado em Roma, o Hospital Gemelli tem uma longa história com os papas, sendo apelidado de “terceiro Vaticano” por sua frequente associação com a saúde papal. Foi lá que Francisco passou os 38 dias mais desafiadores de seu pontificado, recebendo cuidados intensivos em uma suíte especial no décimo andar, reservada para pontífices. A estrutura inclui uma capela privativa, onde o Papa celebrou missas mesmo durante a internação, mantendo sua rotina espiritual em meio ao tratamento.
A equipe médica, liderada por Sergio Alfieri, adotou uma abordagem multifacetada para combater a pneumonia bilateral. Antibióticos, corticosteroides e fisioterapia respiratória foram combinados para tratar a infecção e fortalecer os pulmões debilitados. Nos primeiros dias, o uso de uma máscara de ventilação foi essencial para evitar uma deterioração maior, enquanto exames regulares monitoravam os níveis de inflamação e a resposta do organismo. A partir da terceira semana, os sinais de melhora se tornaram evidentes, com o Papa conseguindo se levantar da cama e realizar pequenas atividades, como rezar e trabalhar em documentos.
A alta, confirmada no sábado, 22 de março, veio acompanhada de orientações rigorosas. Francisco precisará de dois meses de repouso no Vaticano, evitando esforços físicos e contatos frequentes com grandes grupos para prevenir novas infecções. A fisioterapia respiratória continuará sendo parte de sua rotina, ajudando a recuperar a capacidade pulmonar afetada pela doença. O Gemelli, mais uma vez, provou ser um refúgio crucial para o Papa, que já havia sido internado lá em 2021 para uma cirurgia no cólon e em 2023 por problemas respiratórios menores.
Cronologia da internação: os 38 dias que marcaram o papado
A trajetória de Francisco no hospital foi um teste de resistência:
- 14 de fevereiro: internação com diagnóstico inicial de bronquite severa.
- Fim de fevereiro: tomografia confirma pneumonia nos dois pulmões; estado crítico é reportado.
- Início de março: suspensão da ventilação mecânica e melhora gradual.
- 16 de março: primeira foto do Papa no hospital é divulgada, celebrando missa na capela.
- 23 de março: alta após 38 dias, com bênção pública da sacada.
Esse período representou a maior ausência de Francisco das atividades públicas desde que assumiu o papado.
Pneumonia bilateral: o que está por trás do diagnóstico
Pneumonia bilateral é uma infecção que compromete os dois pulmões, tornando a respiração mais difícil e aumentando o risco de complicações, especialmente em idosos. No caso de Francisco, a doença surgiu após uma bronquite que evoluiu para um quadro polimicrobiano, envolvendo múltiplos agentes infecciosos. A condição é mais rara e perigosa do que a pneumonia unilateral, com taxas de mortalidade que podem chegar a 30% em pacientes acima dos 80 anos, segundo dados globais.
Os sintomas iniciais de Francisco – dificuldade para falar e respirar – são típicos da bronquite, mas a rápida progressão para pneumonia sugere uma infecção secundária agressiva. Febre, tosse persistente e fadiga são sinais comuns, mas o Papa também enfrentou crises respiratórias que demandaram intervenções urgentes. A combinação de antibióticos e oxigenoterapia foi essencial para conter o avanço da doença, enquanto a fisioterapia ajudou a evitar danos permanentes aos pulmões.
A vulnerabilidade de Francisco a esse tipo de infecção não é surpresa. Além da cirurgia pulmonar na juventude, ele tem enfrentado problemas respiratórios recorrentes nos últimos anos, incluindo uma internação em 2023 por bronquite. A pneumonia bilateral, no entanto, foi um desafio inédito em sua trajetória, destacando a fragilidade de sua saúde em um momento em que a Igreja enfrenta questões globais como reformas internas e conflitos internacionais.
GRANDE DIA: Papa Francisco acaba de fazer sua primeira aparição pública após quase 40 dias internado. O pontífice, de 88 anos, saudou fiéis da janela do hospital. Médicos afirmam que ele está curado, mas precisará de dois meses de repouso. pic.twitter.com/P8CDcjRx1v
— Lázaro Rosa
(@lazarorosa25) March 23, 2025
Reação dos fiéis: apoio e preocupação pelo Papa
A notícia da internação de Francisco mobilizou milhões de católicos ao redor do mundo. Em Roma, dezenas de crianças e jovens se reuniram sob as janelas do Gemelli em meados de março, levando balões nas cores do Vaticano – amarelo e branco – e cartazes com mensagens de apoio. “Ciao Papa Cesco, te amo muito”, dizia um deles, escrito por um menino do grupo de escoteiros mirins conhecido como “castorini”. O gesto emocionou o pontífice, que agradeceu as orações em mensagens escritas.
Nas redes sociais, a hashtag #ForzaPapa ganhou força, com fiéis compartilhando votos de recuperação e lembranças de seus 12 anos de papado. Durante as cinco semanas em que ficou afastado das bênçãos dominicais do Angelus, Francisco enviou mensagens gravadas e escritas, pedindo paz em regiões como Ucrânia, Palestina e Sudão. Sua primeira aparição pública após a alta, na sacada do hospital, foi transmitida ao vivo para a Praça de São Pedro, onde telões exibiram o momento a uma multidão emocionada.
O apoio não veio apenas dos fiéis. Líderes religiosos e políticos, como a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, que o visitou no hospital, expressaram alívio com sua recuperação. A presença constante de Francisco, mesmo em um estado fragilizado, reforçou sua imagem como um líder resiliente, capaz de inspirar esperança em meio às adversidades.
Um histórico de saúde desafiador
Francisco não é estranho a problemas médicos graves. Nascido Jorge Mario Bergoglio em 1936, na Argentina, ele enfrentou a pleurisia aos 21 anos, uma infecção que levou à remoção de parte de seu pulmão direito. O procedimento, realizado em uma época de medicina menos avançada, deixou sequelas que o acompanham até hoje, tornando-o mais suscetível a doenças respiratórias. Em 2021, ele passou por uma cirurgia no cólon para tratar uma estenose diverticular, ficando 10 dias internado no mesmo Gemelli.
Nos últimos anos, infecções respiratórias menores já haviam interrompido sua agenda. Em 2023, uma bronquite o levou ao hospital por alguns dias, mas o quadro atual foi incomparavelmente mais grave. A pneumonia bilateral testou os limites de sua resistência física, mas também destacou sua determinação em continuar liderando a Igreja, mesmo sob condições adversas. Durante a internação, ele aprovou reformas eclesiásticas e manteve encontros esporádicos com assessores, mostrando que sua mente permanece ativa apesar das limitações do corpo.
A idade avançada e o histórico médico levantam questões sobre o futuro do papado. Francisco já mencionou em entrevistas que considera a renúncia uma possibilidade, seguindo o exemplo de Bento XVI, que deixou o cargo em 2013. Por enquanto, porém, sua recuperação sugere que ele pretende seguir em frente, mesmo com a saúde fragilizada.
Impacto na agenda papal: o que muda após a alta
A saída do hospital não significa um retorno imediato às atividades normais. Os dois meses de repouso prescritos pelos médicos implicam uma pausa em eventos públicos e viagens internacionais. O Jubileu de 2025, um dos maiores eventos do calendário católico, está no horizonte, e a saúde de Francisco será crucial para sua realização. Antes da internação, ele planejava visitas a países como Timor-Leste e Papua-Nova Guiné, agora adiadas indefinidamente.
No Vaticano, o Papa deve retomar o Angelus e audiências privadas em um ritmo reduzido, evitando grandes multidões para proteger seus pulmões ainda em recuperação. A fisioterapia respiratória, que inclui exercícios para fortalecer a capacidade pulmonar, será uma prioridade nos próximos meses. Enquanto isso, cardeais e assessores assumirão parte das responsabilidades administrativas, garantindo que a Igreja siga funcionando durante esse período de transição.
A ausência prolongada de Francisco já teve reflexos. Durante as cinco semanas no hospital, ele perdeu as tradicionais celebrações da Quaresma e do aniversário de seu papado, em 13 de março. Sua volta ao Vaticano, mesmo limitada, é vista como um sinal de estabilidade para os 1,3 bilhão de católicos que acompanham seus passos.
Pneumonia no mundo: um problema de saúde pública
A pneumonia permanece uma das principais causas de morte entre idosos globalmente. Estima-se que, anualmente, cerca de 2,5 milhões de pessoas morram da doença, com os maiores índices entre maiores de 65 anos e crianças pequenas. No caso da pneumonia bilateral, a letalidade é ainda mais alta devido ao comprometimento de ambos os pulmões, reduzindo drasticamente a oxigenação do sangue.
Fatores como infecções virais, exposição a poluição e sistemas imunológicos enfraquecidos aumentam o risco. Em idosos como Francisco, condições preexistentes, como a perda parcial de um pulmão, agravam o prognóstico. A recuperação do Papa destaca os avanços da medicina moderna, mas também serve como lembrete da importância da prevenção, como vacinas contra pneumococo e influenza, recomendadas para grupos vulneráveis.
No Brasil, a doença registra cerca de 600 mil casos por ano, com alta incidência em regiões de clima frio e durante o inverno. A história de Francisco ressoa como um alerta para a necessidade de cuidados respiratórios, especialmente em uma população que envelhece rapidamente.
O que esperar dos próximos meses
Com a alta, Francisco inicia uma nova fase de recuperação no Vaticano. Os dois meses de repouso serão marcados por um cronograma leve, focado em fisioterapia e atividades espirituais. Ele deve continuar celebrando missas privadas e supervisionando decisões importantes, mas sem a intensidade de antes. A equipe médica do Vaticano, em parceria com especialistas do Gemelli, acompanhará de perto sua evolução, ajustando o tratamento conforme necessário.
A expectativa é que, ao fim desse período, Francisco retome gradualmente suas funções plenas, embora os médicos alertem que ele nunca recuperará totalmente a capacidade pulmonar de antes da pneumonia. Para os fiéis, o foco está em sua presença, mesmo que limitada, como símbolo de continuidade em um momento de incertezas globais.
- Medidas pós-alta:
- Repouso de dois meses no Vaticano.
- Fisioterapia respiratória diária.
- Restrição a grandes encontros.