O homem que plantou a semente da capital acreana
Rio Branco (AC) – À sombra da grande Gameleira, de frente para o barrento Rio Acre, nasceu não apenas um seringal, mas o coração da cidade que mais tarde se tornaria capital do Estado. O responsável? Um cearense de fala arrastada e coragem de sobra: Neutel Maia. Migrante como tantos, ele chegou em 1882, empurrado pela seca do Nordeste e atraído pelo “ouro branco” da Amazônia — a borracha que fazia o mundo girar.
Do sertão ao barranco do Acre
Neutel não veio por acaso. Como milhares de nordestinos, fugia da fome e encontrou no Acre a promessa de sobrevivência. Em 28 de dezembro de 1882, decidiu que ali, debaixo da Gameleira gigante, fincaria seu barracão de comércio. Era o jeito caboclo de começar: madeira bruta, mercadoria simples, trato direto com seringueiro.
Esse barranco virou referência. Canoeiros sabiam que ali encontrariam pouso, rancho e um pedaço de civilização no meio da mata fechada. Assim, o que nasceu como um ponto de troca de borracha por mantimentos virou o primeiro marco do que mais tarde seria chamado Rio Branco.
Quando o Acre se desenhava no mapa
Neutel Maia não era diplomata, mas sem perceber ajudou a escrever a história da fronteira. Seu gesto de fixar moradia e comércio foi um ato de ocupação brasileira numa terra ainda disputada com a Bolívia.
Foi desse pedaço de chão, aberto no braço, que se desenrolaram as lutas e negociações que culminaram no Tratado de Petrópolis, firmado pelo Barão do Rio Branco. Ironia bonita: a cidade que nasceu da teimosia de um cearense recebeu o nome do diplomata que oficializou o Acre como território brasileiro.
O legado que resiste no imaginário acreano
A Gameleira, hoje cartão-postal, não é apenas uma árvore — é testemunha da coragem de quem acreditou que ali havia futuro. Ruas, escolas e espaços públicos carregam o nome de Neutel Maia. Mais que lembrança, ele representa a saga de quem “se achegou” e ajudou a erguer o Acre com suor, calo na mão e esperança no peito.
Neutel é memória viva de um povo migrante que fez da adversidade matéria-prima para fundar uma cidade. O barranco que antes era ponto de canoa virou a capital onde pulsa a vida política, social e cultural do Estado.
Conclusão acreanizada
A história de Rio Branco não nasceu em gabinetes: nasceu no barranco, no calor úmido da floresta e na ousadia de um cearense que resolveu ficar onde todos apenas passavam. Neutel Maia fundou mais que um barracão — fundou um jeito de pertencer, um símbolo de resistência e a raiz da capital acreana.
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✍️ Por Eliton Lobato Muniz — Cidade AC News
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