O cenário financeiro do primeiro trimestre de 2025 trouxe desafios inesperados para o Banco do Brasil, uma das maiores instituições financeiras do país. O lucro líquido ajustado da empresa caiu 20,7% em relação ao mesmo período do ano anterior, atingindo R$ 7,4 bilhões. Esse resultado, bem abaixo das expectativas do mercado, reflete uma combinação de fatores que pressionaram as operações do banco. A notícia gerou debates entre investidores e analistas sobre os rumos da instituição em um contexto econômico volátil.
A inadimplência no setor do agronegócio, um dos pilares do banco, foi um dos principais entraves. Além disso, mudanças regulatórias impostas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) impactaram diretamente o provisionamento para perdas, aumentando os custos de crédito. O banco também enfrentou dificuldades com margens financeiras mais estreitas, resultado de um descasamento entre ativos e passivos. Esses elementos, somados a um ambiente de juros elevados, moldaram o desempenho da instituição.
Os números do Banco do Brasil chamam atenção por sua relevância no mercado financeiro brasileiro:
- Lucro líquido ajustado: R$ 7,4 bilhões, queda de 20,7% em relação ao 1T24.
- Custo de crédito: R$ 10,2 bilhões, reflexo da alta inadimplência e novas regras do CMN.
- Margem financeira: redução significativa devido a pressões macroeconômicas.
- Carteira de crédito: crescimento tímido, com foco em operações de menor risco.
A divulgação dos resultados, realizada em maio de 2025, colocou o Banco do Brasil no centro das discussões econômicas. A instituição, que historicamente desempenha um papel crucial no financiamento do agronegócio e no suporte a políticas públicas, agora enfrenta o desafio de reequilibrar suas operações em um cenário de incertezas.

Reações do mercado
A queda no lucro do Banco do Brasil pegou muitos analistas de surpresa. O consenso de mercado, conforme projeções da Bloomberg, esperava um desempenho bem mais robusto, com o lucro ajustado cerca de 18,6% acima do registrado. As ações do banco, listadas na B3 sob o ticker BBAS3, sofreram volatilidade logo após a divulgação dos resultados, com uma queda inicial seguida de uma leve recuperação ao longo do dia.
Investidores expressaram preocupações com a capacidade do banco de manter sua rentabilidade em um ambiente de alta inadimplência. O agronegócio, que representa uma fatia significativa da carteira de crédito do Banco do Brasil, foi diretamente impactado por condições climáticas adversas e oscilações nos preços das commodities. Esses fatores elevaram os índices de inadimplência, especialmente em operações de crédito rural.
Por outro lado, alguns analistas enxergam o momento como uma oportunidade de ajustes estratégicos. O banco já sinalizou que está revisando suas projeções para 2025, com foco em reduzir a exposição a setores de maior risco. A instituição também planeja reforçar a gestão de crédito, implementando critérios mais rigorosos para aprovações.
- Principais reações do mercado:
- Queda inicial de 3,5% nas ações BBAS3, com recuperação parcial ao fim do pregão.
- Revisão de recomendações por casas de análise, com algumas mantendo a compra.
- Aumento na procura por relatórios detalhados sobre o desempenho do banco.
- Discussões sobre o impacto das novas regras do CMN no setor bancário.
Foco no agronegócio
O agronegócio, historicamente um dos motores do Banco do Brasil, enfrentou um trimestre particularmente desafiador. A inadimplência no setor cresceu, impulsionada por fatores como secas prolongadas em regiões agrícolas e a queda nos preços de grãos como soja e milho. Esses eventos reduziram a capacidade de pagamento de muitos produtores, impactando diretamente os resultados do banco.
O Banco do Brasil é o principal financiador do agronegócio no país, com uma carteira de crédito rural que ultrapassa R$ 200 bilhões. No entanto, as condições adversas levaram a um aumento nas provisões para perdas, que consumiram uma parcela significativa da receita. O custo de crédito, que atingiu R$ 10,2 bilhões no primeiro trimestre, reflete a necessidade de cobrir potenciais calotes.
Além das questões climáticas e de mercado, as novas normas do CMN também pesaram. As regras, que entraram em vigor no início de 2025, exigem que os bancos mantenham reservas maiores para operações de crédito com maior risco. Para o Banco do Brasil, isso significou um aumento imediato nas despesas, reduzindo a margem de lucro.
Estratégias de ajuste
Diante dos resultados, o Banco do Brasil anunciou que está revisando suas estratégias para o restante do ano. A instituição planeja reduzir a exposição a setores mais vulneráveis, como o agronegócio de pequeno e médio porte, e focar em operações com maior garantia. Essa abordagem visa minimizar os riscos de inadimplência em um cenário econômico instável.
A gestão de crédito também será reforçada. O banco está implementando novas ferramentas de análise de risco, incluindo inteligência artificial para prever padrões de pagamento. Essas iniciativas, embora custosas no curto prazo, são vistas como essenciais para a sustentabilidade financeira da instituição.
Outro ponto de atenção é a margem financeira. O descasamento entre ativos e passivos, agravado por um ambiente de juros altos, reduziu a rentabilidade das operações. Para contornar isso, o Banco do Brasil está ajustando sua política de captação e aplicação de recursos, buscando maior equilíbrio.
- Medidas anunciadas pelo banco:
- Redução de exposição a setores de alto risco.
- Uso de inteligência artificial na análise de crédito.
- Revisão das projeções financeiras para 2025.
- Ajustes na política de captação de recursos.
- Fortalecimento da gestão de riscos operacionais.
Cenário macroeconômico
O desempenho do Banco do Brasil no primeiro trimestre reflete, em parte, o ambiente econômico mais amplo. A taxa básica de juros, mantida em níveis elevados pelo Banco Central, encareceu o crédito e reduziu a demanda por empréstimos. Ao mesmo tempo, a inflação persistente pressionou os custos operacionais do banco, desde despesas com pessoal até investimentos em tecnologia.
O setor bancário como um todo enfrentou desafios semelhantes. Outras instituições, como Itaú e Bradesco, também reportaram pressões relacionadas à inadimplência e ao aumento dos custos de crédito. No entanto, o Banco do Brasil, por sua forte ligação com o agronegócio, sentiu esses impactos de forma mais acentuada.
A volatilidade no mercado de commodities também contribuiu para o cenário. Os preços de produtos agrícolas, que haviam sustentado o crescimento do setor nos últimos anos, sofreram quedas significativas no primeiro trimestre de 2025. Isso afetou diretamente a capacidade de pagamento dos clientes do banco, especialmente no segmento rural.
Investimentos em tecnologia
Apesar dos desafios financeiros, o Banco do Brasil manteve seu compromisso com a transformação digital. A instituição investiu cerca de R$ 1,5 bilhão no primeiro trimestre em iniciativas de tecnologia, incluindo melhorias em plataformas de atendimento e segurança cibernética. Esses investimentos visam aumentar a eficiência operacional e atrair novos clientes no segmento digital.
A digitalização também tem impacto direto na experiência do cliente. O banco lançou novos recursos em seu aplicativo, como ferramentas de planejamento financeiro e opções de crédito pré-aprovado. Essas funcionalidades foram bem recebidas pelos usuários, com um aumento de 15% nas transações digitais em relação ao mesmo período de 2024.
No entanto, os custos associados à transformação digital representam um desafio adicional. A modernização de sistemas legados e a implementação de novas tecnologias exigem investimentos contínuos, que pressionam as margens no curto prazo. Ainda assim, a instituição considera essas iniciativas essenciais para manter sua competitividade no mercado.
- Principais investimentos em tecnologia:
- Modernização de plataformas digitais.
- Reforço em segurança cibernética.
- Lançamento de novos recursos no aplicativo.
- Expansão de serviços de inteligência artificial.
Reestruturação interna
Outro aspecto abordado pelo Banco do Brasil foi a reestruturação de suas operações internas. A instituição anunciou a revisão de processos em áreas como atendimento, gestão de riscos e alocação de recursos. Essas mudanças visam aumentar a eficiência e reduzir custos operacionais, que cresceram 8% no primeiro trimestre.
A reestruturação inclui a redistribuição de equipes e a centralização de algumas funções administrativas. O banco também está avaliando a possibilidade de fechar agências físicas menos rentáveis, direcionando mais recursos para canais digitais. Essa estratégia reflete uma tendência mais ampla no setor bancário, que busca equilibrar atendimento presencial e digital.
Embora essas medidas sejam vistas como necessárias, elas também geraram debates. Funcionários expressaram preocupações com possíveis cortes de empregos, enquanto clientes de regiões mais remotas temem a redução do acesso a serviços presenciais. O banco, por sua vez, garante que manterá o atendimento em áreas estratégicas.
Desempenho da carteira de crédito
A carteira de crédito do Banco do Brasil apresentou crescimento modesto no primeiro trimestre, com expansão de 2,3% em relação ao final de 2024. O foco foi em operações de menor risco, como crédito consignado e financiamentos imobiliários. No entanto, o segmento de crédito rural, que historicamente impulsiona o crescimento, teve desempenho abaixo do esperado.
A inadimplência geral da carteira atingiu 3,8%, um aumento em relação aos 3,2% registrados no mesmo período do ano anterior. Esse índice reflete principalmente os desafios no agronegócio, mas também pressões em outros segmentos, como pequenas e médias empresas. O banco está monitorando de perto esses indicadores, com ajustes constantes em sua política de crédito.
A qualidade da carteira também foi impactada pelas novas regras do CMN. As exigências de provisionamento mais rigorosas levaram o banco a reservar mais recursos para cobrir perdas potenciais, reduzindo a rentabilidade. Ainda assim, a instituição mantém uma base sólida de capital, com índices de Basileia acima dos requisitos regulatórios.
- Dados da carteira de crédito:
- Crescimento de 2,3% no trimestre.
- Inadimplência de 3,8%, com destaque para o segmento rural.
- Foco em crédito consignado e imobiliário.
- Provisões de R$ 10,2 bilhões para perdas.
Relação com o setor público
O Banco do Brasil, como instituição de controle estatal, desempenha um papel único no financiamento de políticas públicas. No primeiro trimestre, o banco destinou cerca de R$ 15 bilhões a programas governamentais, incluindo iniciativas de agricultura familiar e infraestrutura. Esses recursos, embora importantes para o desenvolvimento do país, muitas vezes oferecem margens menores que operações comerciais.
A relação com o governo também traz desafios regulatórios. As novas normas do CMN, por exemplo, foram implementadas com o objetivo de aumentar a segurança do sistema financeiro, mas acabaram elevando os custos para o banco. Além disso, a instituição precisa equilibrar suas obrigações públicas com a pressão por resultados financeiros.
A atuação do banco em programas sociais, como o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), foi destaque no trimestre. O volume de recursos liberados para pequenos produtores cresceu 5% em relação ao 1T24, mas a inadimplência nesse segmento também aumentou, refletindo as dificuldades econômicas enfrentadas por esses clientes.
Perspectiva setorial
O setor bancário brasileiro enfrenta um momento de transição em 2025. A combinação de juros altos, inflação persistente e volatilidade no mercado de commodities criou um ambiente desafiador para as instituições financeiras. O Banco do Brasil, por sua exposição ao agronegócio e sua ligação com o setor público, está particularmente vulnerável a essas condições.
Outros bancos, como Santander e Nubank, também reportaram desafios, embora com impactos variados. O Santander, por exemplo, registrou crescimento em sua carteira de crédito, mas enfrentou pressões na margem financeira. Já o Nubank, focado no segmento digital, manteve um desempenho sólido, impulsionado pela expansão de sua base de clientes.
A competição no setor também está se intensificando. Bancos digitais e fintechs continuam a ganhar espaço, oferecendo serviços com custos menores e maior conveniência. O Banco do Brasil, ciente desse movimento, está acelerando sua transformação digital para não perder participação no mercado.
- Tendências no setor bancário:
- Aumento da competição com bancos digitais.
- Pressão por margens financeiras mais estreitas.
- Crescimento da demanda por serviços digitais.
- Impacto de juros altos na demanda por crédito.
- Foco em sustentabilidade e governança corporativa.