A guerra comercial entre Estados Unidos e China atingiu um novo patamar em abril de 2025, com impactos diretos no bolso dos consumidores americanos. A decisão do presidente Donald Trump de impor tarifas de até 145% sobre produtos chineses, incluindo mercadorias vendidas por plataformas como Shein e Temu, desencadeou uma corrida para estocar itens antes do aumento de preços. A Shein, uma das gigantes do e-commerce chinês, anunciou reajustes de até 377% em seus produtos nos EUA, refletindo o fim de uma isenção tributária para importações abaixo de US$ 800. Esse cenário, que entra em vigor em 2 de maio, transformou o comportamento de compra dos americanos, com redes sociais repletas de vídeos viralizados e alertas de influenciadores sobre a iminente alta de preços. A medida, batizada por alguns como “taxa das blusinhas” em alusão à política brasileira, promete reacender debates sobre inflação e política monetária nos EUA.
A ordem executiva assin, assinada por Trump no início de abril, eliminou a brecha conhecida como “de minimis”, que permitia a entrada de produtos chineses sem impostos se o valor fosse inferior a US$ 800. Agora, essas mercadorias enfrentarão taxas de até 90% do valor total, um salto significativo que triplicou os custos de importação. Empresas como Shein e Temu, conhecidas por oferecerem roupas, acessórios e utensílios domésticos a preços extremamente baixos, foram diretamente afetadas. Dados da Bloomberg Second Measure apontam que as vendas dessas plataformas dispararam em março e nos primeiros dias de abril, à medida que consumidores buscavam antecipar suas compras para evitar os reajustes.
O aumento das tensões comerciais entre as duas maiores economias do mundo também gerou reações na China. Pequim retaliou com tarifas de até 125% sobre produtos americanos, intensificando o conflito. Enquanto Trump sinalizou disposição para negociar, representantes chineses negaram qualquer diálogo em andamento, acusando os EUA de “criar confusão”. Esse embate, que já custa bilhões em comércio bilateral, levanta preocupações sobre os impactos na inflação global e nas decisões do Federal Reserve, que pode ser forçado a manter ou elevar juros para conter pressões de preços.
- Principais impactos da nova política tarifária:
- Fim da isenção para importações abaixo de US$ 800.
- Aumento de até 377% nos preços de produtos da Shein nos EUA.
- Retaliação chinesa com tarifas de 125% sobre bens americanos.
- Corrida de consumidores para estocar mercadorias antes de 2 de maio.

Tarifas de Trump: o fim da era dos preços baixos
A imposição de tarifas massivas por Donald Trump marca o fim de uma era de produtos chineses baratos nos Estados Unidos. A Shein, que se consolidou como referência em moda acessível, viu-se obrigada a repassar os custos adicionais aos consumidores, com reajustes que chegam a 377% em itens como vestidos, acessórios e utensílios domésticos. A Temu, outra plataforma chinesa em ascensão, também anunciou aumentos, embora em menor escala. Essa mudança abrupta reflete a pressão exercida pela ordem executiva de Trump, que não apenas fechou a brecha tributária, mas também triplicou as alíquotas de importação, elevando os custos logísticos e operacionais das empresas.
O impacto no varejo online foi imediato. Consumidores, cientes da proximidade da data de vigência das tarifas, lotaram os sites da Shein e Temu, gerando um aumento de vendas que, segundo a Bloomberg, superou em 30% os números de fevereiro. A urgência em comprar antes de 2 de maio foi amplificada por campanhas promocionais das plataformas, que ofereceram descontos relâmpago e frete grátis com o slogan “compre agora antes do aumento”. Essa movimentação reflete um temor generalizado de que os preços, antes imbatíveis, se tornem proibitivos para muitos americanos.
Além disso, a decisão de Trump reacendeu críticas de varejistas americanos, que há anos acusam Shein e Temu de concorrência desleal. A Forever 21, por exemplo, entrou com pedido de recuperação judicial em março de 2025, citando a dificuldade de competir com os preços baixos das rivais chinesas, que não enfrentavam as mesmas obrigações fiscais e trabalhistas. A nova política tarifária, portanto, é vista como uma vitória para o comércio local, mas a custo de um aumento generalizado nos preços de bens de consumo.
Como os consumidores americanos estão reagindo
A reação dos consumidores americanos às tarifas de Trump foi rápida e visível, especialmente nas redes sociais. Plataformas como TikTok e Instagram registraram um aumento de publicações com a hashtag #ShopBeforeTariffs, onde usuários compartilham vídeos de suas compras em Shein e Temu ou alertam sobre a iminente alta de preços. Influenciadores como Tamika Johnson, de Chicago, ganharam destaque ao mostrar caixas de roupas e acessórios recém-chegados, incentivando seguidores a agirem antes de 2 de maio.
- Estratégias adotadas pelos consumidores:
- Compras em grandes quantidades para estocar produtos.
- Busca por promoções e descontos relâmpago.
- Uso de redes sociais para compartilhar dicas de compras.
- Participação em fóruns online para discutir alternativas às plataformas chinesas.
Essa corrida contra o tempo reflete não apenas a preocupação com o aumento de preços, mas também um receio mais amplo de escassez, semelhante ao observado durante a pandemia de Covid-19. Consumidores como Thomas Jennings, de 53 anos, relataram à Reuters que estão comprando o dobro de itens essenciais, como roupas e utensílios, temendo uma recessão iminente. A memória das prateleiras vazias em 2020 parece alimentar esse comportamento, com muitos optando por acumular produtos antes que os custos se tornem insustentáveis.
Impactos econômicos da guerra comercial
A escalada da guerra comercial entre EUA e China tem implicações que vão além do aumento de preços no varejo. Economistas alertam que as tarifas de 145% impostas por Trump podem gerar um efeito cascata na economia americana, elevando os custos de bens de consumo e pressionando a inflação. O índice de preços ao consumidor nos EUA, que subiu para 3% em janeiro de 2025, pode registrar novas altas, dificultando o alcance da meta de 2% do Federal Reserve.
O banco central americano, liderado por Jerome Powell, já interrompeu o ciclo de cortes de juros iniciado em setembro de 2024, mantendo as taxas entre 4,25% e 4,5%. Powell afirmou que os efeitos das tarifas na economia ainda são incertos, mas a possibilidade de novas altas de juros não está descartada. Um aumento nos custos de empréstimos poderia reduzir o poder de compra dos consumidores e desencorajar investimentos, impactando o crescimento econômico.
Por outro lado, a China enfrenta seus próprios desafios. As tarifas retaliatórias de 125% sobre produtos americanos, como soja, carne e trigo, visam atingir a base eleitoral de Trump, especialmente no setor agrícola. Dados do Financial Times mostram que as exportações de carne bovina brasileira para a China cresceram 33% no primeiro trimestre de 2025, enquanto os EUA enfrentam restrições. Essa reconfiguração do comércio global pode beneficiar países como Brasil e Argentina, mas também aumenta o risco de instabilidade nos mercados internacionais.
- Setores americanos mais afetados pelas tarifas chinesas:
- Agricultura, com destaque para soja, milho e trigo.
- Indústria de tecnologia, apesar de isenções para smartphones e semicondutores.
- Bens de consumo, como roupas e eletrodomésticos.
- Exportadores de carne bovina e suína.
Cronologia da guerra comercial em 2025
A guerra comercial entre EUA e China em 2025 seguiu uma trajetória de escalada rápida, marcada por decisões unilaterais e retaliações. Abaixo, um resumo dos principais eventos:
- Janeiro: Trump assume a presidência e promete tarifas de até 60% sobre produtos chineses.
- Fevereiro: China anuncia tarifas de 10% a 15% sobre bens agrícolas americanos.
- Março: Trump eleva tarifas para 34%, e Pequim responde com alíquotas semelhantes.
- Abril: Ordem executiva de Trump triplica taxas para até 145%, com fim da isenção “de minimis”. China retaliou com 125%.
- 2 de maio: Data prevista para entrada em vigor das novas tarifas americanas.
Essa cronologia reflete a intensidade do confronto, que já reduziu a participação de produtos chineses nas importações americanas de 21% em 2016 para 13% em 2024. No entanto, o comércio bilateral ainda movimenta cerca de US$ 585 bilhões anualmente, com um déficit de US$ 295 bilhões para os EUA em 2024.
O papel das redes sociais na mobilização dos consumidores
As redes sociais tornaram-se um termômetro do impacto das tarifas de Trump nos consumidores americanos. Além de vídeos viralizados, fóruns no Reddit e grupos no Facebook reúnem milhares de usuários discutindo estratégias para driblar os aumentos de preços. Alguns sugerem comprar em atacado, enquanto outros exploram plataformas alternativas, como marketplaces locais ou sites de segunda mão.
Influenciadores desempenham um papel central nessa mobilização. Tamika Johnson, por exemplo, publicou um vídeo no TikTok que alcançou 1,2 milhão de visualizações, mostrando sua última compra na Shein e alertando sobre a data de 2 de maio. Outros criadores de conteúdo compartilharam tutoriais sobre como maximizar descontos ou calcular os novos preços com as tarifas. Essa onda de engajamento online reforça a percepção de que as tarifas não são apenas uma questão econômica, mas também cultural, afetando o estilo de vida de milhões de americanos.
A mobilização nas redes também gerou críticas à política de Trump. Grupos de consumidores organizaram petições online pedindo a revisão das tarifas, argumentando que elas penalizam os mais pobres, que dependem de produtos acessíveis da Shein e Temu. Apesar disso, o governo americano mantém a narrativa de que as medidas protegem a indústria local e reduzem a dependência de importações chinesas.
Repercussões globais da guerra comercial
A guerra comercial entre EUA e China não se limita às duas nações. Países como Brasil, Canadá e México já sentem os efeitos indiretos. No Brasil, o setor agropecuário ganhou espaço no mercado chinês, com aumento de 19% nas exportações de aves e 33% na carne bovina no primeiro trimestre de 2025. Essa oportunidade, porém, vem acompanhada de desafios, como a pressão por preços mais altos devido à demanda elevada.
Na Europa, movimentos de boicote a produtos americanos ganharam força. Grupos como o francês “Boycott USA” e o sueco “Bojkotta varor från USA” reúnem mais de 150 mil membros, promovendo o consumo de produtos locais. Ações simbólicas, como virar produtos americanos de cabeça para baixo em supermercados, tornaram-se comuns no Canadá e na Alemanha, onde 64% da população evita itens dos EUA, segundo o instituto Cuvey.
O risco de uma guerra comercial global preocupa economistas. A imposição de tarifas recíprocas pode desencadear um efeito dominó, reduzindo o comércio internacional e desacelerando as economias. A Organização Mundial do Comércio (OMC) já foi acionada pela China, que acusa os EUA de violar regras comerciais. Enquanto isso, Trump insiste que as tarifas fortalecerão a economia americana, mesmo que a curto prazo gerem “alguma dor” aos consumidores.
O futuro do e-commerce chinês nos EUA
O modelo de negócios da Shein e Temu, baseado em preços baixos e entregas rápidas, enfrenta um teste de sobrevivência com as tarifas de Trump. As empresas já reduziram investimentos em publicidade nos EUA, com a Temu caindo no ranking da App Store, segundo o Financial Times. Para manter a competitividade, ambas planejam explorar novos mercados, como Europa e Arábia Saudita, onde as restrições tarifárias são menores.
No entanto, a adaptação não será simples. Pequenas fábricas em Guangdong, que abastecem Shein e Temu, relatam dificuldades desde a pandemia, com trabalhadores ganhando até 70% menos. A guerra comercial agrava essa crise, forçando muitas empresas a buscar o mercado interno chinês ou novos destinos de exportação. Amy, uma empresária entrevistada pela BBC, planeja vender máquinas de sorvete para a Rússia, enquanto outros apostam na expansão para a América Latina.
Para os consumidores americanos, o futuro é de preços mais altos e menos opções. A Forever 21 e outras varejistas locais podem recuperar parte do mercado, mas a ausência de produtos chineses acessíveis deve impactar especialmente as classes média e baixa. A Tax Foundation estima que as tarifas custarão US$ 3,1 trilhões aos americanos em 10 anos, equivalente a um aumento de impostos de US$ 2.100 por família em 2025.
Desafios para o Federal Reserve
O Federal Reserve enfrenta um dilema com a escalada das tarifas. A inflação, que atingiu 3% em janeiro, pode subir ainda mais com o aumento dos preços de bens importados. A interrupção dos cortes de juros, iniciada em dezembro de 2024, reflete a cautela do banco central diante das incertezas. Jerome Powell destacou que o impacto das tarifas na economia ainda é imprevisível, mas a pressão para manter juros elevados é crescente.
Taxas mais altas afetam diretamente os consumidores, encarecendo empréstimos e reduzindo o consumo. Empresas, por sua vez, podem adiar investimentos, o que compromete o crescimento econômico. O mercado de trabalho, que criou 228 mil vagas em fevereiro, ainda mostra resiliência, mas economistas alertam que os dados refletem um cenário anterior às tarifas. A partir de maio, os efeitos podem ser mais claros, com risco de desaceleração.
A valorização do dólar, impulsionada pelos juros altos, também impacta países emergentes como o Brasil. A fuga de capitais pode forçar o Banco Central brasileiro a elevar a Selic, encarecendo o crédito e freando a economia. Esse efeito global reforça a percepção de que a guerra comercial de Trump tem consequências muito além das fronteiras americanas.
- Medidas do Federal Reserve em 2025:
- Manutenção das taxas de juros entre 4,25% e 4,5%.
- Interrupção dos cortes iniciados em setembro de 2024.
- Monitoramento da inflação, que atingiu 3% em janeiro.
- Avaliação dos impactos das tarifas a partir de maio.
Perspectivas para o comércio global
O comércio global enfrenta um momento de incerteza com a guerra tarifária entre EUA e China. A redução do fluxo de mercadorias entre as duas nações, que movimentaram US$ 585 bilhões em 2024, pode redesenhar cadeias de suprimento. Países como Brasil e Argentina emergem como beneficiários, mas a instabilidade nos preços de commodities, como soja e carne, preocupa analistas.
A China, por sua vez, busca alternativas para mitigar os impactos. Além de retaliações tarifárias, Pequim considera restringir a exportação de metais raros, como lítio e cobre, essenciais para a indústria americana. Essa estratégia, já usada com germânio e gálio, pode agravar as tensões. Os EUA, por outro lado, mantêm o bloqueio à exportação de microchips avançados, limitando o desenvolvimento tecnológico chinês.
A possibilidade de um acordo comercial permanece incerta. Trump, em declarações recentes, elogiou o presidente chinês Xi Jinping, mas negou avanços concretos nas negociações. A China, por sua vez, insiste que não aceitará “chantagem” e exige a reversão das tarifas. Enquanto o impasse persiste, consumidores e empresas de ambos os lados enfrentam os custos de um conflito que não mostra sinais de arrefecimento.