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Dólar em xeque após rebaixamento dos EUA: como investir no exterior agora

Dolar

A decisão da Moody’s de rebaixar a nota de crédito soberano dos Estados Unidos de AAA para AA1, anunciada na sexta-feira, 16 de maio de 2025, pegou os mercados financeiros de surpresa. A agência justificou a medida apontando o crescimento da dívida pública americana, que alcançou US$ 36 trilhões, e o aumento dos custos com juros, projetados para consumir até 30% da arrecadação federal até 2035. Investidores globais reagiram rapidamente, com o índice DXY, que mede a força do dólar frente a uma cesta de seis moedas, recuando 0,89% na segunda-feira, atingindo 100,05 pontos. No Brasil, o dólar comercial, que chegou a subir 0,38% no início do pregão, fechou o dia em queda de 0,25%, cotado a R$ 5,6552.

O movimento reflete uma reavaliação imediata do apetite por ativos americanos. Os rendimentos dos Treasuries, títulos do governo dos EUA, subiram, com os papéis de 10 anos alcançando 4,55% e os de 30 anos atingindo 5,02%, o maior nível desde novembro de 2023. A alta nos rendimentos indica que os investidores passaram a exigir prêmios de risco maiores para financiar a dívida americana, mesmo que os títulos sigam considerados de baixo risco pelo Comitê da Basileia. No mercado acionário, os índices americanos, como o S&P 500, registraram leves oscilações, fechando praticamente estáveis, enquanto as bolsas europeias e asiáticas anotaram quedas.

  • DXY: Caiu 1,30% em cinco dias, acumulando perda de 7,49% no ano.
  • Dólar x Real: Recuou para R$ 5,60 na semana passada, menor nível em sete meses.
  • Treasuries: Rendimentos de 10 anos a 4,55%; 30 anos a 5,02%.
  • Bolsas: S&P 500 estável; mercados asiáticos e europeus em baixa.

Fatores por trás da decisão da Moody’s

A Moody’s foi a última das três grandes agências de classificação de risco a retirar o selo AAA dos EUA, seguindo a S&P em 2011 e a Fitch em 2023. A agência destacou a ausência de medidas concretas para conter a escalada da dívida federal, que saltou de 63% do PIB em 2008 para 122% atualmente. O rebaixamento também reflete a paralisia política em Washington, com sucessivas administrações e o Congresso falhando em aprovar reformas fiscais de longo prazo.

Além disso, a recente aprovação de um pacote fiscal pela Câmara dos Representantes, que estende cortes de impostos de 2017 e adiciona entre US$ 3 trilhões e US$ 5 trilhões à dívida na próxima década, intensificou as preocupações. A Moody’s alterou a perspectiva da nota americana de negativa para estável, sugerindo que novos rebaixamentos não são iminentes, mas o cenário fiscal permanece desafiador. A agência projeta déficits fiscais anuais próximos de 9% do PIB até 2035, um nível considerado insustentável para uma economia do porte dos EUA.

Impacto no papel do dólar como reserva global

O dólar americano, que responde por cerca de 57% das reservas internacionais, segundo o FMI, enfrenta questionamentos sobre sua hegemonia. O rebaixamento da Moody’s reacendeu debates sobre a sustentabilidade do “privilégio exorbitante” dos EUA, que permite emitir dívida em sua própria moeda com alta demanda global. Países com superávits comerciais, como a China, reduziram suas posições em Treasuries em US$ 19 bilhões em março, enquanto investidores estrangeiros ainda adicionaram US$ 26 bilhões em papéis americanos no mesmo período.

A guerra tarifária iniciada pelo governo Trump, com imposição de barreiras comerciais a diversos parceiros, também alimenta incertezas. As tarifas elevam o custo de bens importados, pressionando a inflação nos EUA e reduzindo a atratividade do dólar frente a moedas de países emergentes. No Brasil, o real ganhou força, beneficiado por juros altos – a Selic está em 14,75% – e pelo desempenho recorde do Ibovespa, que atingiu 140.203 pontos na segunda-feira.

  • Reservas globais: Dólar representa 57% das reservas internacionais.
  • China: Reduziu posições em Treasuries em US$ 19 bilhões em março.
  • Real: Valorizou-se com Selic a 14,75% e Ibovespa em alta histórica.
  • Tarifas: Pressionam inflação e enfraquecem o dólar globalmente.

O que dizem os especialistas sobre investir em dólar

Analistas de mercado divergem sobre as implicações do rebaixamento para quem investe em dólar. Muitos defendem que a moeda americana segue sendo uma reserva de valor confiável, apesar das turbulências. A força do dólar no comércio global, onde mais de 80% das transações são denominadas na moeda, e a resiliência da economia dos EUA, ainda a maior do mundo, sustentam essa visão. No entanto, há alertas para uma possível desvalorização no médio prazo.

O JPMorgan recomenda cautela, sugerindo que investidores reduzam a exposição ao dólar por meio de hedges cambiais ou diversificação em outras moedas. O banco aponta que os fundamentos que sustentaram o dólar – como a confiança nas instituições americanas e o “excepcionalismo” econômico – estão se desgastando. Por outro lado, especialistas como Luis Ferreira, do EFG Capital, destacam que o juro médio de ativos em dólar, como os Treasuries, supera o de moedas como euro, iene e franco suíço, o que mantém a atratividade da moeda.

No Brasil, a desvalorização do real nos últimos 15 anos, impactada por crises como impeachment e pandemia, reforça a importância de manter parte do patrimônio em dólar. A moeda americana serve como proteção contra riscos locais, especialmente em momentos de instabilidade política ou econômica. Mesmo com o rebaixamento, a recomendação é manter uma exposição moderada, com foco em ativos de alta liquidez, como os Treasuries.

A atratividade dos Treasuries após o rebaixamento

Os títulos do Tesouro americano continuam sendo o ativo mais seguro e líquido do mundo, mesmo com a nota reduzida para AA1. O UBS Group destaca que os rendimentos atuais oferecem oportunidades para renda estável, especialmente em papéis com vencimento de cinco anos. Os títulos de prazos mais longos, como os de 30 anos, também podem ser vantajosos, dependendo da reação do mercado às incertezas fiscais.

A alta nos rendimentos reflete a exigência de prêmios maiores por parte dos investidores. Em novembro de 2023, o rendimento do Treasury de 30 anos já havia atingido 5,02%, e a tendência é de manutenção de níveis elevados. Apesar disso, os títulos americanos seguem amplamente utilizados como colateral em operações financeiras globais, e as regras do Comitê da Basileia garantem que continuam classificados como de baixo risco.

  • Rendimentos: Treasury de 10 anos a 4,55%; 30 anos a 5,02%.
  • Segurança: Títulos mantêm status de baixo risco pelo Comitê da Basileia.
  • Liquidez: Usados como colateral em transações financeiras globais.
  • UBS: Recomenda papéis de cinco anos para renda estável.

Diversificação global ganha força

O rebaixamento da Moody’s ocorre em um momento de mudanças no padrão de alocação de capital global. A guerra tarifária e o nacionalismo econômico têm incentivado investidores a diversificar portfólios, reduzindo a concentração em ativos americanos. Mercados emergentes, como o Brasil, e outras economias desenvolvidas, como a zona do euro, ganham espaço. O euro, que representa 57,6% do índice DXY, valorizou-se 0,7% na segunda-feira, cotado a 1,1243.

No Brasil, o desempenho do Ibovespa e a política monetária restritiva do Banco Central, que sinalizou manutenção da Selic em 14,75%, atraem capital estrangeiro. O índice de atividade econômica IBC-Br avançou 0,8% em março, superando expectativas, enquanto a projeção de inflação para 2025 caiu para 5,50%, segundo o Boletim Focus. Esses fatores fortalecem o real e tornam o mercado brasileiro mais atrativo para investidores globais.

Riscos de curto prazo para o dólar

A trajetória de desvalorização do dólar, evidenciada pela queda de 7,49% do DXY em 2025, levanta preocupações sobre os riscos de curto prazo. A combinação de juros baixos nos EUA, desaceleração econômica e incertezas fiscais pressiona a moeda. O pacote fiscal de Trump, que pode aumentar a dívida em até US$ 5 trilhões, alimenta temores de maior deterioração das contas públicas.

Analistas do ING apontam que o rebaixamento pode levar a uma realocação de capital para fora dos EUA, especialmente por investidores institucionais e fundos soberanos limitados a títulos AAA. Essa saída de capital pode elevar ainda mais os rendimentos dos Treasuries, impactando o custo de financiamento do governo americano. No Brasil, o dólar oscilou entre R$ 5,6339 e R$ 5,6913 na segunda-feira, refletindo a volatilidade global.

  • DXY: Perda de 7,49% no ano; mínima de 100,064 pontos na segunda-feira.
  • Dívida dos EUA: Projeção de aumento de US$ 3 a 5 trilhões na próxima década.
  • Realocação: Possível saída de capital de fundos soberanos.
  • Volatilidade: Dólar variou entre R$ 5,6339 e R$ 5,6913 no Brasil.

Alternativas de investimento no exterior

Com o dólar sob pressão, investidores buscam alternativas para diversificar carteiras no exterior. Além dos Treasuries, ativos em outras moedas, como o euro e o iene, ganham atenção. No mercado de ações, empresas de alta qualidade, com ratings de crédito superiores ao do governo americano, oferecem oportunidades. O Japão, por exemplo, já registrou casos de empresas com classificação AAA financiando-se a custos mais baixos que o governo.

Os ETFs que replicam o índice DXY, como o Invesco DB US Dollar Index Bullish Fund (UUP), são outra opção para quem busca exposição ao dólar sem investir diretamente na moeda. Contratos futuros negociados na ICE também permitem operações mais agressivas, mas exigem conhecimento técnico. No Brasil, abrir uma conta em corretoras americanas é necessário para acessar esses produtos.

dólar
dólar – Foto: KatMoys/Shutterstock.com

Cenário doméstico favorece o real

O Brasil se beneficia do cenário global de enfraquecimento do dólar. As declarações do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, reforçando a manutenção de juros altos, atraem investidores estrangeiros. O Ibovespa renovou sua máxima histórica, impulsionado por empresas como Itaú e JBS, enquanto o real se valorizou frente ao dólar. A queda do dólar para R$ 5,60 na semana passada reflete essa dinâmica.

A economia brasileira mostra sinais de robustez, com o IBC-Br avançando acima do esperado. A política monetária restritiva, combinada com a redução da projeção de inflação, fortalece a confiança no real. Mesmo assim, analistas recomendam manter uma exposição moderada ao dólar como proteção contra riscos domésticos, como instabilidade política ou choques externos.

  • Ibovespa: Máxima histórica de 140.203 pontos na segunda-feira.
  • Selic: Mantida em 14,75%, atraindo capital estrangeiro.
  • IBC-Br: Alta de 0,8% em março, acima das projeções.
  • Inflação: Projeção caiu para 5,50% em 2025, segundo Boletim Focus.

Perspectivas para os Treasuries de longo prazo

Os títulos do Tesouro americano de prazos mais longos, como os de 30 anos, enfrentam maior volatilidade devido às incertezas fiscais. O rendimento de 5,02% reflete a percepção de risco elevado, mas os papéis continuam atrativos para investidores institucionais. A demanda por Treasuries permaneceu estável após o rebaixamento da Fitch em 2023, sugerindo que o impacto da decisão da Moody’s pode ser limitado no curto prazo.

Analistas do ING destacam que o Federal Reserve e o Departamento do Tesouro têm poucas opções para conter a alta nos rendimentos. Uma taxa de desemprego mais elevada poderia justificar um ciclo de flexibilização monetária, mas os dados econômicos atuais não apontam para essa necessidade. O Tesouro, por sua vez, enfrenta restrições para reduzir emissões de dívida, o que mantém a pressão sobre os rendimentos.

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