A Petrobras anunciou uma nova redução no preço do diesel, cortando R$ 0,12 por litro a partir de 18 de abril, em um movimento que reflete a queda nas cotações internacionais do petróleo. Com o ajuste, o preço médio do diesel A vendido às distribuidoras passa a ser de R$ 3,43 por litro, enquanto a parcela da estatal no preço final ao consumidor, considerando a mistura obrigatória de 14% de biodiesel, fica em R$ 2,95 por litro. A medida, que reverte parcialmente o aumento de R$ 0,22 aplicado em janeiro, é a segunda redução no preço do combustível em menos de um mês, após um corte de R$ 0,17 no final de março. A expectativa é de que a queda de R$ 0,10 por litro nas bombas traga alívio aos consumidores, especialmente no setor de transportes, que depende fortemente do diesel para o escoamento de mercadorias. A decisão ocorre em um momento de pressão global sobre os preços do petróleo, impulsionada por disputas comerciais e revisões na demanda, o que pode influenciar ainda mais os custos no Brasil.
O impacto da redução deve ser sentido principalmente no transporte rodoviário, responsável por mais de 65% da movimentação de cargas no país. Como o diesel representa cerca de 35% do custo do frete, a medida tende a aliviar as despesas de caminhoneiros e transportadoras, que enfrentaram aumentos significativos no início do ano. A queda no preço do combustível também pode contribuir para conter a inflação, especialmente em setores sensíveis como o de alimentos, que têm forte dependência logística. A política de preços da Petrobras, ajustada em maio de 2023 para considerar fatores como custos de produção e logística doméstica, busca equilibrar a competitividade da estatal com a estabilidade dos preços internos.
A nova redução foi antecipada por declarações do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que, no início de abril, apontou condições favoráveis para cortes nos preços dos combustíveis devido à desvalorização do petróleo Brent no mercado internacional. A cotação do barril, que chegou a ultrapassar US$ 80 no final de 2024, recuou nas últimas semanas, influenciada por tensões comerciais lideradas pelos Estados Unidos. Apesar de o governo ser acionista majoritário da Petrobras, Silveira negou qualquer pressão direta sobre a estatal para implementar a redução, reforçando que a decisão foi técnica.
- Composição do preço do diesel: O valor final nas bombas inclui o preço do diesel A, impostos federais (PIS e Cofins), ICMS estadual, custo do biodiesel e margens de distribuição e revenda.
- Impacto no frete: Estimativas indicam que o corte pode reduzir os custos de transporte em até 1,5%, dependendo da distância percorrida e do tipo de carga.
- Efeito na inflação: A queda no diesel tende a aliviar a pressão sobre preços de alimentos, que subiram 8,23% em 2024, acima do IPCA geral de 4,83%.
Contexto global impulsiona queda do petróleo
A redução no preço do diesel reflete um cenário internacional marcado por incertezas na demanda por petróleo. A recente imposição de tarifas comerciais pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciada em fevereiro, desencadeou revisões nas projeções de consumo global. As medidas, que incluem sobretaxas de 25% sobre importações de diversos países, geraram temores de desaceleração econômica, reduzindo a expectativa de uso de combustíveis fósseis. Como resultado, o preço do barril de petróleo Brent, referência para o mercado brasileiro, caiu para níveis abaixo de US$ 75 em abril, após picos próximos a US$ 80 no final de 2024.
Além das tarifas, outros fatores contribuíram para a desvalorização do petróleo. A menor demanda projetada por grandes economias, como China e Índia, combinada com o aumento da oferta por países não membros da Opep, como o próprio Brasil, pressionou os preços para baixo. No mercado interno, a valorização do real frente ao dólar, que recuou para cerca de R$ 5,80 em abril, também favoreceu a redução dos combustíveis, já que o petróleo é cotado em moeda americana. Esses elementos criaram um ambiente propício para que a Petrobras ajustasse seus preços, mantendo a política de “abrasileiramento” adotada desde 2023, que busca mitigar a volatilidade internacional.
A decisão da Petrobras também responde a avaliações técnicas conduzidas a cada 15 dias, conforme explicou a presidente da estatal, Magda Chambriard. A executiva destacou que a companhia analisa variáveis como a cotação do petróleo, o câmbio e os custos de refino para definir os preços, evitando repassar flutuações externas diretamente aos consumidores. Essa abordagem tem gerado debates no mercado, com alguns analistas apontando que a defasagem em relação aos preços internacionais, embora reduzida, ainda afeta a competitividade de importadores e produtores de biocombustíveis.
Impactos diretos no transporte rodoviário
O transporte rodoviário, pilar da logística brasileira, deve ser o principal beneficiado pela redução do diesel. Com mais de 65% da carga nacional movimentada por caminhões, qualquer variação no preço do combustível reverbera em toda a cadeia produtiva. O diesel, que responde por cerca de 35% do custo do frete, impacta diretamente os preços de produtos essenciais, como alimentos, medicamentos e insumos industriais. A queda de R$ 0,10 nas bombas, embora modesta, pode representar uma economia significativa para transportadoras que operam grandes frotas e percorrem longas distâncias.
Caminhoneiros autônomos, que enfrentam margens de lucro apertadas, também devem sentir alívio. Em 2024, o aumento do diesel em fevereiro, combinado com a alta do ICMS, elevou os custos de frete em até 2,5%, pressionando os preços de produtos nas prateleiras. A nova redução pode ajudar a estabilizar esses valores, especialmente em setores como o agronegócio, onde o transporte de grãos e insumos agrícolas depende fortemente do modal rodoviário. Além disso, o impacto do diesel vai além dos caminhões, afetando máquinas agrícolas, usinas termelétricas e o transporte público urbano, que utiliza ônibus movidos a esse combustível.
A dependência do Brasil do transporte rodoviário, no entanto, expõe uma fragilidade estrutural. Diferentemente de países com sistemas logísticos diversificados, como ferrovias e hidrovias, o Brasil concentra a maior parte de sua movimentação de cargas em rodovias, o que amplifica os efeitos das oscilações nos preços dos combustíveis. Especialistas apontam que investimentos em modais alternativos poderiam reduzir essa vulnerabilidade, mas as mudanças demandam tempo e recursos significativos. Enquanto isso, ajustes como o anunciado pela Petrobras oferecem um alívio imediato, mas não resolvem o problema de fundo.
- Custo do frete: A redução de R$ 0,10 por litro pode diminuir os custos de transporte em até 1,5%, beneficiando especialmente rotas de longa distância.
- Setores impactados: Alimentos, medicamentos e produtos agrícolas são os mais sensíveis às variações no preço do diesel.
- Dependência rodoviária: Cerca de 80% do diesel consumido no Brasil é destinado ao transporte de cargas, segundo a Empresa de Pesquisa Energética.

Efeitos na inflação e no bolso do consumidor
A queda no preço do diesel tem potencial para aliviar a pressão inflacionária, uma das principais preocupações do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2024, a inflação dos alimentos atingiu 8,23%, quase o dobro do IPCA geral, que fechou o ano em 4,83%. Como o transporte rodoviário é essencial para a distribuição de produtos, o aumento do diesel no início do ano contribuiu para encarecer itens básicos, como frutas, legumes e carnes. A redução anunciada agora pode ajudar a conter esses preços, embora o impacto seja gradual e dependa de como transportadoras e varejistas repassarão a economia.
O diesel tem um peso pequeno no IPCA, de apenas 0,23%, o que significa que seu impacto direto na inflação é limitado. No entanto, os efeitos indiretos são significativos, já que o combustível está presente em toda a cadeia produtiva. Por exemplo, o aumento do diesel em fevereiro elevou os custos de frete, o que se refletiu em preços mais altos de alimentos e outros bens. A queda atual, embora não elimine completamente esses efeitos, pode estabilizar os valores em setores onde o transporte é um componente relevante do preço final.
Além dos alimentos, o transporte público urbano também pode ser beneficiado. Ônibus movidos a diesel representam uma parte significativa da mobilidade nas grandes cidades, e aumentos no combustível frequentemente pressionam as tarifas. A redução do diesel pode ajudar a evitar novos reajustes nas passagens, aliviando o orçamento de trabalhadores que dependem desse modal. No entanto, o repasse da queda para o consumidor final depende de fatores como a política de preços das distribuidoras e a incidência de impostos, que continuam a encarecer o combustível nas bombas.
Histórico recente de preços do diesel
A trajetória dos preços do diesel no Brasil tem sido marcada por ajustes frequentes, refletindo tanto a volatilidade do mercado internacional quanto as decisões estratégicas da Petrobras. Desde a adoção da nova política de preços em maio de 2023, a estatal busca equilibrar a paridade internacional com os interesses domésticos, evitando repassar flutuações bruscas aos consumidores. Esse modelo, chamado de “abrasileiramento” dos preços, considera fatores como os custos de refino e logística no Brasil, além da participação da Petrobras no mercado interno.
Nos últimos anos, o preço do diesel passou por momentos de alta e baixa. Em 2022, os valores nas bombas chegaram a R$ 7 por litro em algumas regiões, impulsionados pela escalada do petróleo durante o conflito entre Rússia e Ucrânia. Desde então, a Petrobras implementou uma série de reduções, acumulando uma queda de 23,6% no preço do diesel A desde dezembro de 2022, segundo a estatal. Considerando a inflação do período, a redução real chega a 29%, o que representa uma economia significativa para consumidores e empresas.
Os ajustes mais recentes incluem um aumento de R$ 0,22 em fevereiro, seguido por duas reduções consecutivas: R$ 0,17 em março e R$ 0,12 em abril. Esses movimentos refletem a queda do petróleo Brent e a valorização do real, mas também geram debates sobre a sustentabilidade da política de preços. Enquanto alguns analistas elogiam a estabilidade proporcionada pelo modelo atual, outros alertam que a defasagem em relação aos preços internacionais pode prejudicar importadores e o setor de biocombustíveis.
- Fevereiro de 2025: Aumento de R$ 0,22 por litro, elevando o preço do diesel A para R$ 3,72.
- Março de 2025: Redução de R$ 0,17, ajustando o preço para R$ 3,55.
- Abril de 2025: Corte de R$ 0,12, fixando o preço em R$ 3,43 por litro.
Política de preços e debates no mercado
A política de preços da Petrobras, reformulada em 2023, tem sido um ponto central nas discussões sobre combustíveis no Brasil. Antes disso, a estatal seguia uma política de paridade de importação (PPI), que atrelava os preços internos diretamente às cotações internacionais e ao câmbio. Essa abordagem gerava ajustes frequentes e imprevisíveis, o que alimentava críticas de consumidores e caminhoneiros, especialmente durante períodos de alta do petróleo. A greve dos caminhoneiros em 2018, por exemplo, foi impulsionada pelo aumento constante do diesel, que chegou a paralisar o país.
Com a nova política, a Petrobras passou a considerar variáveis domésticas, como os custos de produção do pré-sal e a logística interna, o que permitiu maior controle sobre os preços. A presidente Magda Chambriard defende que o modelo protege os consumidores de “confusões internacionais” e mantém a estatal competitiva. Em 2024, a companhia fechou o ano sem reajustes no diesel, uma marca inédita em 13 anos, o que reforça a eficácia da estratégia na visão da estatal.
No entanto, o mercado financeiro e os importadores de combustíveis têm ressalvas. A Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) aponta que, apesar das reduções, o diesel da Petrobras ainda opera com uma pequena defasagem em relação aos preços internacionais, o que pode limitar a concorrência. Produtores de etanol e biodiesel também enfrentam desafios, já que a estabilidade nos preços dos combustíveis fósseis reduz a atratividade dos biocombustíveis. Esses debates devem continuar, especialmente se o petróleo voltar a subir no mercado global.
Perspectivas para o futuro dos combustíveis
A redução do diesel é uma notícia positiva para consumidores e empresas, mas o futuro dos preços dos combustíveis no Brasil permanece incerto. A volatilidade do mercado internacional, influenciada por fatores como tensões geopolíticas e políticas comerciais, pode pressionar novamente as cotações do petróleo. Além disso, a política de preços da Petrobras, embora mais estável, enfrenta desafios para equilibrar os interesses de consumidores, acionistas e importadores.
Investimentos em fontes alternativas, como biocombustíveis e veículos elétricos, são vistos como uma solução de longo prazo para reduzir a dependência do diesel. O Brasil, que já possui uma matriz energética relativamente limpa, tem potencial para expandir o uso de biodiesel e etanol, mas a infraestrutura para caminhões elétricos ainda é incipiente. Enquanto isso, ajustes como o anunciado pela Petrobras continuam a desempenhar um papel crucial na economia, influenciando desde o preço do pão na padaria até o custo de uma passagem de ônibus.
A interação entre governo, Petrobras e mercado será determinante para os próximos passos. O ministro Alexandre Silveira tem reforçado a importância de manter os preços acessíveis, enquanto a estatal busca preservar sua saúde financeira. Para os consumidores, a esperança é de que quedas como a de abril se tornem mais frequentes, aliviando o peso dos combustíveis no orçamento familiar e empresarial.
- Biocombustíveis: O aumento da mistura de biodiesel, atualmente em 14%, pode reduzir a dependência do diesel fóssil, mas exige incentivos ao setor.
- Transporte alternativo: Investimentos em ferrovias e hidrovias poderiam diminuir a vulnerabilidade do Brasil às oscilações do diesel.
- Monitoramento constante: A Petrobras revisa os preços a cada 15 dias, o que permite ajustes rápidos em resposta ao mercado.