Lançado em 21 de março pelo governo federal, o programa Crédito do Trabalhador trouxe uma nova opção de empréstimo consignado para trabalhadores com carteira assinada, os chamados celetistas (CLT). A iniciativa, regulamentada pela Medida Provisória nº 1.292, alcança cerca de 47 milhões de pessoas, incluindo empregados domésticos, rurais e contratados por microempreendedores individuais (MEI). Diferente dos modelos tradicionais, esse consignado promete juros mais baixos, com parcelas descontadas diretamente na folha de pagamento via eSocial, sem depender de convênios entre empresas e bancos. Até o momento, a adesão tem sido expressiva: em poucos dias, mais de 40 milhões de simulações foram registradas no aplicativo Carteira de Trabalho Digital (CTPS Digital), refletindo o interesse dos trabalhadores por crédito acessível.
A modalidade começou exclusivamente pelo aplicativo CTPS Digital, onde os usuários simulam valores e recebem propostas de instituições financeiras em até 24 horas. A Caixa Econômica Federal foi a pioneira, oferecendo taxas que variam entre 1,60% e 3,17% ao mês, dependendo da análise de crédito. Outros grandes bancos, como Banco do Brasil, Itaú Unibanco e Santander, já confirmaram participação, mas aguardam até 25 de abril para operar em larga escala por meio de seus próprios canais digitais. Enquanto isso, o Nubank informou que ainda não disponibiliza o serviço, mas promete comunicar quando isso ocorrer.
O programa também permite o uso de até 10% do saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e 100% da multa rescisória em caso de demissão sem justa causa como garantia, o que reduz os riscos para os bancos e, consequentemente, os custos para os trabalhadores. A expectativa é que as taxas caiam significativamente em relação às praticadas no mercado, que chegam a 103% ao ano em empréstimos pessoais, para algo próximo de 40% ao ano no consignado CLT.
O que é o Crédito do Trabalhador e quem pode solicitar
Criado com o objetivo de ampliar o acesso a crédito mais barato, o Crédito do Trabalhador é voltado para trabalhadores formais do setor privado. Isso inclui não apenas os empregados sob o regime CLT, mas também categorias muitas vezes excluídas de linhas tradicionais, como domésticos e rurais. Até os assalariados de MEIs, desde que registrados formalmente, podem se beneficiar. A margem consignável é limitada a 35% do salário bruto, abrangendo benefícios como comissões e abonos, o que garante que o pagamento seja sustentável para o trabalhador.
A facilidade de acesso é um dos diferenciais. Não é preciso ir a uma agência bancária ou depender da autorização do empregador. Tudo é feito digitalmente, começando pelo aplicativo CTPS Digital, disponível para Android e iOS. Após o login com a conta gov.br, o usuário autoriza o compartilhamento de dados como nome, CPF, margem salarial disponível e tempo de vínculo empregatício, respeitando as normas da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Bancos participantes e o papel da Caixa na largada
Por enquanto, a Caixa Econômica Federal é a única instituição a oferecer o consignado CLT de forma ativa no aplicativo CTPS Digital. Desde o lançamento, ela já movimentou cifras expressivas, com taxas competitivas que atraem quem busca alternativas aos juros altos do mercado. O Banco do Brasil, por exemplo, informou que ultrapassou R$ 600 milhões em empréstimos concedidos até 29 de março, mas ainda opera em fase inicial, com maior volume previsto para abril.
Outras instituições, como Bradesco, Itaú e Santander, estão ajustando seus sistemas e devem entrar no jogo a partir de 25 de abril, quando poderão usar suas próprias plataformas digitais. O Nubank, embora seja um nome aguardado por muitos, optou por não iniciar as operações imediatamente, deixando os trabalhadores na expectativa de uma futura adesão. Esse escalonamento reflete uma estratégia cautelosa dos bancos, que testam o ambiente antes de expandir a oferta.
Passo a passo para contratar o consignado CLT
Solicitar o empréstimo é simples e pode ser feito em poucos passos pelo celular. Veja como:
- Baixe o aplicativo CTPS Digital na Play Store ou App Store e faça login com sua conta gov.br.
- Acesse a aba “Empréstimos” ou o banner “Crédito do Trabalhador” e clique em “Faça uma simulação”.
- Informe o valor desejado e o número de parcelas, autorizando o acesso aos seus dados.
- Aguarde até 24 horas para receber propostas dos bancos e contrate a melhor opção diretamente nos canais da instituição escolhida.
Após a contratação, a liberação do valor ocorre assim que a Dataprev, empresa pública responsável pelo sistema, realiza a averbação. O desconto das parcelas começa no mês seguinte, direto na folha de pagamento.
Por que os grandes bancos ainda não oferecem em massa
A entrada gradual das instituições financeiras no programa tem explicação. Todo novo produto bancário passa por uma fase de testes para avaliar riscos e ajustar processos. Com um público potencial de 47 milhões de trabalhadores, os bancos preferem refinar a experiência antes de abrir as portas completamente. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) destaca que, a partir de 25 de abril, quando os canais próprios das instituições forem liberados, o volume de operações deve crescer significativamente.
Até lá, a Caixa lidera as ofertas, enquanto Banco do Brasil, Itaú e Santander preparam suas estruturas. O Bradesco, embora confirmado como participante, ainda não detalhou sua operação inicial. Já o Nubank mantém silêncio sobre prazos, o que sugere uma estratégia diferente, possivelmente focada em condições mais personalizadas quando entrar no mercado.
Vantagens do consignado CLT em relação a outros empréstimos
O grande atrativo do consignado CLT é a redução dos juros, possibilitada pelo desconto automático na folha e pela garantia do FGTS. Enquanto um empréstimo pessoal pode ter taxas superiores a 5% ao mês, o consignado oferece valores bem mais baixos, como os 1,60% a 3,17% da Caixa. Isso representa uma economia considerável, especialmente para quem quer substituir dívidas caras por uma opção mais acessível.
Outro ponto positivo é a praticidade. Sem a necessidade de convênios entre empresas e bancos, o trabalhador tem liberdade para escolher entre várias instituições. Além disso, em caso de demissão, o uso do FGTS e da multa rescisória como garantia evita que a dívida se torne um peso imediato, com a possibilidade de retomada dos descontos ao conseguir novo emprego.
Como o FGTS funciona como garantia no programa
A integração com o FGTS é um diferencial que torna o consignado CLT mais seguro para os bancos e vantajoso para os trabalhadores. Até 10% do saldo do fundo pode ser usado como garantia, e, em caso de demissão sem justa causa, 100% da multa rescisória (40% do saldo) pode quitar ou amortizar o empréstimo. Se o valor disponível não cobrir a dívida, o pagamento é pausado e retomado automaticamente quando o trabalhador ingressa em um novo emprego formal.
Esse mecanismo reduz o risco de inadimplência, o que explica as taxas mais baixas. Para o trabalhador, é uma forma de acessar crédito sem comprometer todo o saldo do FGTS, mantendo parte dele para outras finalidades, como o saque-aniversário, que continua em vigor e não é afetado pelo programa.
Cronograma de implementação do consignado CLT
O programa foi estruturado em etapas para garantir sua eficiência. Confira as datas principais:
- 21 de março: Início das operações exclusivamente pelo aplicativo CTPS Digital, com a Caixa como principal ofertante.
- 25 de abril: Liberação para que todos os bancos operem o consignado em seus próprios canais digitais.
- 6 de junho: Início da portabilidade entre instituições, permitindo aos trabalhadores migrar contratos para bancos com melhores condições.
Essa cronologia reflete o cuidado em ajustar sistemas e ampliar o alcance gradualmente, beneficiando milhões de celetistas ao longo do ano.
Demanda supera expectativas nos primeiros dias
Nos três primeiros dias após o lançamento, o consignado CLT registrou números impressionantes. Foram mais de 35 milhões de simulações até 23 de março, com cerca de 7,6 mil contratos fechados. Até 25 de março, o volume contratado ultrapassava R$ 340 milhões, com 48 mil trabalhadores beneficiados. O valor médio por contrato ficou em torno de R$ 7 mil, mostrando que a modalidade tem atraído quem busca valores moderados para reorganizar finanças ou realizar projetos.
A alta procura sobrecarregou o sistema da Dataprev inicialmente, mas ajustes foram feitos para suportar a demanda. O interesse reflete a necessidade de crédito acessível entre os trabalhadores formais, muitos dos quais lidam com dívidas de juros altos.
Preparação dos bancos para a próxima fase
Com a proximidade de 25 de abril, os grandes bancos intensificam os preparativos. O Banco do Brasil, que já concedeu R$ 600 milhões até 29 de março, planeja liderar o mercado, aproveitando sua experiência com consignado público. Itaú e Santander também se dizem prontos para operar em larga escala, enquanto o Bradesco mantém discrição sobre seus planos iniciais.
A Febraban prevê que, com a entrada de mais instituições, a concorrência aumentará, podendo reduzir ainda mais as taxas. Isso beneficia os trabalhadores, que terão mais opções para comparar e escolher as melhores condições.
Cuidados ao solicitar o consignado CLT
Embora o programa ofereça vantagens, é preciso cautela. A margem de 35% do salário deve ser respeitada para evitar comprometer a renda mensal. Além disso, o trabalhador tem sete dias para desistir da contratação, devolvendo o valor recebido sem custos adicionais, caso mude de ideia.
Analisar as propostas com calma é essencial. As taxas podem variar entre os bancos, e a simulação no aplicativo CTPS Digital serve como ponto de partida para encontrar a melhor oferta. Em caso de dúvidas, o acompanhamento mensal dos descontos no eSocial ajuda a manter o controle.
Impacto econômico esperado com o programa
A iniciativa tem potencial para injetar bilhões na economia. A Febraban estima que, em quatro anos, cerca de 19 milhões de celetistas contratem o consignado, movimentando mais de R$ 120 bilhões. Em comparação, o estoque atual de crédito consignado privado é de R$ 40,4 bilhões, bem abaixo dos R$ 600 bilhões disponíveis a servidores públicos e aposentados do INSS.
Esse aumento no acesso ao crédito pode estimular o consumo e ajudar trabalhadores a saírem de dívidas caras, como as de cartão de crédito. No entanto, especialistas alertam para o risco de endividamento se o uso não for planejado.
Dicas para aproveitar o consignado CLT ao máximo
Para tirar o melhor proveito da modalidade, algumas estratégias são úteis:
- Compare as taxas de todos os bancos disponíveis após 25 de abril.
- Use o empréstimo para quitar dívidas mais caras, como cheque especial ou crédito pessoal.
- Planeje o pagamento dentro da margem de 35%, preservando o orçamento mensal.
- Acompanhe os descontos no eSocial para evitar surpresas.
Essas práticas ajudam a transformar o consignado em uma ferramenta de alívio financeiro, em vez de um novo compromisso pesado.
Números que mostram o sucesso inicial
Os primeiros dias do programa já dão uma ideia de seu alcance. Até 26 de março, mais de 64 milhões de simulações foram feitas, com R$ 340,3 milhões contratados em 48 mil operações. O Banco do Brasil, por sua vez, alcançou R$ 600 milhões em poucos dias, sinalizando que a adesão deve crescer ainda mais com a entrada de outros bancos.
A média de R$ 7 mil por contrato sugere que os trabalhadores buscam valores acessíveis, possivelmente para reorganizar finanças ou realizar pequenos projetos. A tendência é que esses números aumentem à medida que o programa ganha maturidade.
O que esperar a partir de abril
Com a liberação dos canais próprios dos bancos em 25 de abril, o consignado CLT deve ganhar novo fôlego. A concorrência entre instituições tende a beneficiar os trabalhadores, que terão mais opções e, possivelmente, taxas ainda menores. A portabilidade, disponível a partir de 6 de junho, será outro marco, permitindo ajustes em contratos já existentes.
O programa também será monitorado por um grupo gestor formado por técnicos do Ministério do Trabalho e Emprego, Casa Civil e Fazenda, que avaliará seu desempenho e proporá melhorias. Assim, o Crédito do Trabalhador tem tudo para se consolidar como uma alternativa sólida no mercado de crédito brasileiro.
