Leonardo Rodrigues de Jesus, mais conhecido como Léo Índio, está no centro de uma polêmica judicial que ganhou novos contornos nesta sexta-feira, 28 de março de 2025. A defesa do primo dos filhos mais velhos do ex-presidente Jair Bolsonaro confirmou que ele deixou o Brasil e está na Argentina há mais de 20 dias. Réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por participação nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, Léo Índio afirmou, em entrevista à Rádio Massa FM, de Cascavel, no Paraná, que tomou a decisão por receio de ser preso. O caso reacende debates sobre a responsabilização pelos eventos que abalaram a democracia brasileira e coloca em foco as estratégias de investigados para evitar a Justiça.
A saída de Léo Índio do país ocorre em um momento delicado. Na quinta-feira, 27 de março, o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF, intimou os advogados do réu a prestar esclarecimentos em até 48 horas sobre a possível evasão. A determinação veio após a divulgação da entrevista, na qual Léo Índio revelou estar no país vizinho desde o início de março. Ele alega que a permissão para permanecer na Argentina, válida até 4 de junho, permite que trabalhe, estude e utilize serviços públicos de saúde, mas expressou preocupação com a renovação do documento, temendo represálias judiciais.
STF dá 48 horas para Léo Índio explicar saída do Brasil; assista #CNNNovoDia pic.twitter.com/QFWmLGW3Lv
— CNN Brasil (@CNNBrasil) March 28, 2025
O envolvimento de Léo Índio nos atos de 8 de janeiro não é novidade para as autoridades. Ele foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por crimes graves, como tentativa de golpe de Estado e associação criminosa armada, após publicar imagens em redes sociais durante a invasão dos Três Poderes, em Brasília. A decisão do STF de torná-lo réu, em fevereiro de 2025, foi unânime na Primeira Turma, consolidando a acusação de que ele teria instigado e colaborado ativamente na depredação das sedes do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do próprio Supremo.
Quem é Léo Índio e sua relação com os Bolsonaro
Nascido Leonardo Rodrigues de Jesus, Léo Índio é primo de Flávio, Carlos e Eduardo Bolsonaro, filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro com sua primeira esposa, Rogéria Nantes Braga. Apesar do divórcio de Bolsonaro e Rogéria, Léo manteve uma relação próxima com a família, sendo frequentemente associado ao círculo político do ex-mandatário. Sua trajetória ganhou visibilidade pública em 2022, quando se candidatou a uma vaga na Câmara Legislativa do Distrito Federal pelo PL, partido de Bolsonaro, mas não conseguiu se eleger.
Antes dos eventos de 8 de janeiro, Léo Índio já aparecia em investigações relacionadas a atos antidemocráticos. Ele foi alvo de buscas pela Polícia Federal na Operação Lesa Pátria, que apura os ataques às instituições democráticas, e chegou a ter seus passaportes apreendidos por ordem de Moraes em janeiro de 2023. Mesmo assim, conseguiu cruzar a fronteira com a Argentina, aproveitando a proximidade de sua residência no sudoeste do Paraná e a ausência de exigência de passaporte entre países do Mercosul, que aceitam apenas documento de identidade.
Cronologia dos eventos: de réu a foragido
Entender a trajetória de Léo Índio no caso exige uma revisão dos principais marcos:
- 8 de janeiro de 2023: Léo Índio participa dos atos golpistas em Brasília, publicando fotos na cúpula do Congresso Nacional e próximo ao STF durante a invasão.
- Janeiro de 2023: Alexandre de Moraes determina a apreensão de seus passaportes e o inclui nas investigações da Operação Lesa Pátria.
- Fevereiro de 2025: A Primeira Turma do STF aceita por unanimidade a denúncia da PGR, tornando-o réu por cinco crimes, incluindo golpe de Estado e dano qualificado.
- Início de março de 2025: Léo Índio deixa o Brasil rumo à Argentina, solicitando refúgio político no dia 6 de março.
- 26 de março de 2025: Em entrevista à Rádio Massa FM, revela estar no país vizinho há mais de 20 dias, temendo prisão.
- 27 de março de 2025: Moraes intima a defesa para esclarecer a situação em 48 horas; STF rejeita recurso e mantém Léo como réu.
- 28 de março de 2025: Advogados confirmam sua permanência na Argentina, apresentando documento migratório.
Esse cronograma destaca a rapidez com que Léo Índio agiu após se tornar réu, levantando questões sobre a eficácia das medidas cautelares impostas pelo Judiciário.
O que dizem os envolvidos
A defesa de Léo Índio, liderada pelo advogado Rafael Castro Alves, argumenta que ele não invadiu os prédios dos Três Poderes e que os julgamentos do STF carecem de individualização das condutas. Segundo o advogado, a saída do Brasil foi uma medida extrema para preservar a liberdade do cliente, diante da perspectiva de uma condenação iminente. Léo, por sua vez, criticou o PL e outros partidos de direita em sua entrevista, afirmando que a falta de prioridade ao projeto de anistia aos investigados do 8 de janeiro demonstra desinteresse político.
Já o ministro Alexandre de Moraes, em seu voto para tornar Léo Índio réu, foi enfático ao descrever a gravidade das ações. Ele destacou que o acusado não apenas participou das manifestações antidemocráticas, mas também colaborou ativamente na depredação, configurando crimes que ameaçam o Estado Democrático de Direito. A PGR reforça a tese, apontando que as publicações de Léo em redes sociais mostram sua adesão ao grupo que invadiu as sedes dos poderes.
Argentina como destino de investigados
A escolha da Argentina como refúgio não é isolada. Nos últimos anos, o país vizinho tem recebido outros investigados pelos atos de 8 de janeiro, especialmente após a eleição de Javier Gerardo Milei, cuja postura política alinhada à direita atrai simpatizantes de Bolsonaro. Léo Índio solicitou refúgio político em 6 de março, obtendo uma autorização temporária para permanecer até junho. No entanto, ele teme que a prisão de cinco militantes brasileiros no país, em meses anteriores, dificulte a renovação de sua permissão.
A proximidade geográfica também facilita a fuga. Residente no sudoeste do Paraná, Léo Índio estava a poucos quilômetros da fronteira, que pode ser cruzada apenas com carteira de identidade, conforme acordo do Mercosul. Especialistas apontam que a ausência de um mandado de prisão ativo contra ele, até o momento, permitiu a saída legal, embora a ordem de apreensão de passaporte indicasse uma restrição implícita de circulação.
Os crimes imputados a Léo Índio
Léo Índio responde por uma série de acusações graves no STF, baseadas em sua atuação nos atos de 8 de janeiro. A denúncia da PGR lista os seguintes crimes:
- Tentativa de golpe de Estado.
- Abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
- Associação criminosa armada.
- Dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União.
- Deterioração de patrimônio tombado.
As penas, caso ele seja condenado, podem variar de alguns anos a décadas de prisão, dependendo da interpretação judicial e da dosimetria aplicada. A PGR sustenta que as imagens publicadas por Léo Índio, incluindo uma em que aparece segurando uma cápsula de gás lacrimogêneo, comprovam sua participação ativa nos eventos.
Repercussão política e judicial
A fuga de Léo Índio para a Argentina gerou reações imediatas. A deputada Sâmia Bomfim, do PSOL, enviou um pedido de extradição ao STF na quinta-feira, 27 de março, argumentando que a permanência dele no exterior afronta o Estado Democrático de Direito. Ela destacou a necessidade de medidas mais incisivas para garantir a responsabilização dos envolvidos nos atos golpistas, citando a apreensão de seu passaporte como prova de que ele deveria estar sob maior controle das autoridades.
No campo político, a situação expõe tensões dentro da direita brasileira. Léo Índio criticou abertamente o PL, partido de Bolsonaro, e o presidente da Câmara, Hugo Motta, do Republicanos, por não priorizarem o projeto de anistia aos investigados do 8 de janeiro. Ele afirmou que, se houvesse real interesse, os 92 deputados do PL e outros parlamentares de direita paralisariam as votações no Congresso até a aprovação da medida.
Impactos no processo do STF
Com Léo Índio fora do Brasil, o andamento de sua ação penal no STF pode enfrentar complicações. Embora ele ainda não seja considerado foragido, pois não há mandado de prisão ativo, a evasão levanta a possibilidade de medidas mais duras, como um pedido de prisão preventiva ou inclusão em listas de procurados internacionais. Um juiz criminal consultado informalmente avalia que o Supremo deve agir nos próximos dias para coibir a saída de outros réus em situações semelhantes.
A Primeira Turma do STF, composta por Moraes, Cármen Lúcia, Flávio Dino, Cristiano Zanin e Luiz Fux, já rejeitou um recurso da defesa nesta semana, consolidando a condição de réu de Léo Índio. O próximo passo será a abertura formal da ação penal, com a produção de provas e oitiva de testemunhas, mas sua ausência física pode atrasar o cronograma judicial.
Contexto dos atos de 8 de janeiro
Os eventos de 8 de janeiro de 2023 marcaram um dos capítulos mais graves da história recente do Brasil. Naquele dia, apoiadores de Jair Bolsonaro, inconformados com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022, invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília. Vidros foram quebrados, móveis históricos destruídos e patrimônios tombados danificados, em uma tentativa de desestabilizar o governo recém-empossado.
A resposta do STF foi rápida. Sob a relatoria de Alexandre de Moraes, mais de mil pessoas foram presas, e centenas já foram condenadas, com penas que variam de 1 a 17 anos de prisão. Léo Índio integra o grupo de investigados diretamente ligados ao entorno de Bolsonaro, o que aumenta a relevância de seu caso no esforço para esclarecer os responsáveis pela organização e execução dos atos.
Detalhes da fuga e refúgio
Partindo do sudoeste do Paraná, Léo Índio cruzou a fronteira com a Argentina no início de março, logo após a decisão do STF que o tornou réu. Ele vivia em uma região estratégica, próxima a Foz do Iguaçu, cidade conhecida pela intensa movimentação entre Brasil, Argentina e Paraguai. A permissão obtida no dia 6 de março, segundo documento apresentado por sua defesa, garante residência temporária até 4 de junho, mas ele teme que o histórico de prisões de outros brasileiros no país comprometa sua situação.
Na entrevista à Rádio Massa FM, Léo Índio apareceu ao lado de um corretor condenado pelo STF, sugerindo que mantém contato com outros investigados ou apoiadores na Argentina. Seu advogado, Rafael Castro Alves, afirmou que a decisão de sair do Brasil foi exclusivamente do cliente, mas defendeu que a busca por refúgio é uma tentativa de escapar do que considera uma perseguição política.
Pressão por extradição
A presença de Léo Índio na Argentina já mobiliza autoridades brasileiras. Além do pedido de Sâmia Bomfim, especula-se que o STF possa acionar canais diplomáticos para negociar sua volta, embora isso dependa de um mandado de prisão formal e da cooperação do governo argentino. A gestão de Javier Milei, alinhada ideologicamente a Bolsonaro, entregou uma lista de foragidos brasileiros em meses anteriores, mas a situação de Léo Índio permanece indefinida.
A possibilidade de refúgio político, solicitada por ele em 6 de março, adiciona complexidade ao caso. Se concedido, ele poderia permanecer legalmente na Argentina, dificultando ações do Brasil. No entanto, a prisão de outros cinco brasileiros investigados pelo 8 de janeiro no país sugere que as autoridades locais não estão totalmente fechadas à colaboração com o Judiciário brasileiro.
Próximos passos no caso
Enquanto Léo Índio permanece na Argentina, o STF segue com os trâmites da ação penal. A rejeição do recurso da defesa, concluída na sexta-feira, 28 de março, abre caminho para a fase de instrução, na qual provas serão analisadas e testemunhas ouvidas. A ausência do réu, porém, pode levar Moraes a adotar medidas mais rigorosas, como a expedição de um mandado de prisão ou a solicitação de cooperação internacional.
A situação também reacende o debate sobre o projeto de anistia, defendido por aliados de Bolsonaro no Congresso. A proposta, que busca perdoar os condenados e investigados pelos atos de 8 de janeiro, enfrenta resistência de parlamentares de esquerda e de parte da sociedade civil, que veem na medida uma tentativa de enfraquecer a democracia.
Dados e estatísticas do 8 de janeiro
Os atos de 8 de janeiro deixaram marcas profundas. Relatórios oficiais indicam que mais de 1.400 pessoas foram detidas nas semanas seguintes, com cerca de 300 já condenadas até março de 2025. As penas aplicadas refletem a gravidade dos crimes:
- Condenações por associação criminosa: até 5 anos de prisão.
- Danos ao patrimônio público: até 8 anos.
- Tentativa de golpe de Estado: até 17 anos, em casos mais graves.
Léo Índio, por sua vez, enfrenta um processo que pode resultar em uma pena acumulada superior a 20 anos, caso as acusações sejam confirmadas em todas as suas extensões.
O que esperar da Argentina
A permanência de Léo Índio na Argentina depende de fatores políticos e jurídicos. O governo de Javier Milei, que assumiu em dezembro de 2023, mantém uma postura de cooperação limitada com o Brasil em casos de extraditação, mas já extraditou investigados do 8 de janeiro em 2024. A solicitação de refúgio político será avaliada pelas autoridades migratórias argentinas, que podem levar meses para decidir, prolongando a incerteza sobre o destino do réu.
Por ora, Léo Índio segue em Buenos Aires, acompanhando à distância os desdobramentos de seu caso. Sua fuga evidencia os desafios enfrentados pelo STF para garantir a presença de réus em processos de alta complexidade e reforça a percepção de que os ecos do 8 de janeiro ainda reverberam na política e na Justiça brasileira.