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Copom eleva Selic a 14,75% em reunião e sinaliza pausa no ciclo de altas

Banco Central do Brasil

Pressionado pela inflação persistente, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou, nesta quarta-feira, 7 de maio de 2025, um novo aumento na taxa básica de juros, a Selic. A decisão elevou a taxa de 14,25% para 14,75% ao ano, marcando o maior patamar desde 2006. A alta de 0,5 ponto percentual, conforme esperado pelo mercado financeiro, reflete a tentativa de conter a escalada de preços, especialmente em alimentos e energia. A reunião, conduzida sob a presidência de Gabriel Galípolo, sinalizou que este pode ser o último ajuste no atual ciclo de aperto monetário.

O aumento da Selic ocorre em um cenário de desafios econômicos globais e domésticos. A inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acumula 5,53% em 2025, segundo o boletim Focus, acima do teto da meta de 4,5% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Fatores como a alta do dólar e os preços de commodities têm pressionado os custos no Brasil. A decisão do Copom busca equilibrar o controle inflacionário com a desaceleração econômica global, que já mostra sinais de impacto no país.

A reunião do Copom, realizada a cada 45 dias, seguiu o padrão de dois dias de debates. No primeiro, analistas apresentaram dados sobre o cenário econômico global e doméstico, incluindo a dinâmica do mercado financeiro. No segundo dia, os diretores definiram a nova taxa, com base em projeções que apontam para uma inflação persistente nos próximos meses. A seguir, alguns pontos discutidos na reunião:

  • Alta nos preços de alimentos devido a questões climáticas e logísticas.
  • Impacto do dólar elevado sobre bens importados.
  • Expectativas de inflação acima da meta para os próximos seis meses.
  • Sinais de moderação no crescimento econômico global.

O comunicado oficial do Banco Central destacou a necessidade de uma política monetária contracionista, mas sugeriu maior cautela em ajustes futuros. A perspectiva de uma pausa no ciclo de altas gerou debates entre analistas, que agora aguardam os próximos passos do Copom.

Pressões inflacionárias em foco

A decisão de elevar a Selic reflete a preocupação com a inflação, que segue desafiando as metas estabelecidas. Em 2024, o IPCA já havia fechado acima do esperado, com 4,84%, segundo o boletim Focus. Para 2025, a projeção de 5,53% indica que os preços continuarão pressionados, especialmente por fatores como a alta de combustíveis e alimentos. A seca prolongada em regiões agrícolas do país contribuiu para a elevação dos custos de produtos como grãos e carne, impactando diretamente o bolso do consumidor.

Além disso, o cenário internacional tem desempenhado um papel crucial. A incerteza sobre a política monetária nos Estados Unidos, com o Federal Reserve mantendo juros elevados, fortalece o dólar e encarece produtos importados no Brasil. O Copom destacou que a conjuntura global exige maior vigilância, já que choques externos podem agravar a inflação doméstica. A alta da Selic, portanto, visa conter a demanda aquecida e estabilizar as expectativas do mercado.

O aumento da taxa básica de juros também reflete a resposta do Banco Central a ruídos fiscais domésticos. O pacote fiscal anunciado pelo governo no final de 2024, embora destinado a equilibrar as contas públicas, gerou críticas por incluir medidas como a isenção de Imposto de Renda para salários de até R$ 5 mil. Analistas apontaram que a renúncia fiscal pode comprometer a credibilidade do ajuste, pressionando ainda mais os juros. O Copom, em seu comunicado, reforçou a importância de uma política fiscal consistente para ancorar as expectativas inflacionárias.

Reações do mercado financeiro

A elevação da Selic para 14,75% estava amplamente precificada pelo mercado, conforme indicado pelo boletim Focus. Instituições financeiras como Itaú, BTG Pactual e Goldman Sachs já projetavam um ajuste de 0,5 ponto percentual, embora algumas casas, como a XP, tivessem considerado a possibilidade de uma alta menor, de 0,25 ponto. A decisão unânime do Copom, com todos os nove diretores votando pelo aumento, foi interpretada como um sinal de coesão na nova diretoria, liderada por Gabriel Galípolo.

No pregão desta quarta-feira, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) operou com volatilidade, refletindo a cautela dos investidores diante do cenário de juros altos. O dólar, que vinha em trajetória de alta, fechou o dia com leve recuo, cotado a R$ 5,85, segundo dados do mercado. Analistas atribuíram a estabilização da moeda à sinalização do Banco Central de que o ciclo de altas pode estar próximo do fim.

Para o setor produtivo, no entanto, a nova taxa representa um desafio. Entidades como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) manifestaram preocupação com o encarecimento do crédito, que pode limitar investimentos e contratações. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) destacou que a Selic em 14,75% eleva os custos de financiamento, impactando especialmente pequenas e médias empresas.

Os efeitos da alta dos juros também se fazem sentir no mercado de crédito ao consumidor. Bancos já sinalizam ajustes nas taxas de empréstimos pessoais e financiamentos, o que pode reduzir o consumo em setores como varejo e automotivo. A seguir, alguns impactos esperados:

  • Aumento das taxas de juros para empréstimos pessoais e cartões de crédito.
  • Redução na procura por financiamentos imobiliários e de veículos.
  • Crescimento da poupança, incentivada por rendimentos mais altos.
  • Pressão sobre o varejo, com possível queda nas vendas a prazo.

Histórico recente da Selic

A trajetória da Selic nos últimos anos reflete a tentativa do Banco Central de equilibrar inflação e crescimento econômico. Entre junho e agosto de 2024, a taxa permaneceu em 10,5% ao ano, o menor nível desde fevereiro de 2022. A partir de setembro do mesmo ano, o Copom iniciou um ciclo de altas, com ajustes de 0,25 ponto, 0,5 ponto e três aumentos consecutivos de 1 ponto percentual. A decisão desta quarta-feira marca a sexta elevação consecutiva, consolidando uma política monetária mais restritiva.

O ciclo de aperto começou em resposta à aceleração da inflação, que ganhou força no segundo semestre de 2024. Na época, a alta do dólar e os impactos da seca sobre a produção agrícola foram os principais gatilhos. O Copom, ainda sob a presidência de Roberto Campos Neto, adotou uma postura cautelosa, com aumentos graduais que culminaram na taxa de 12,25% ao final de 2024. A transição para a gestão de Gabriel Galípolo, em janeiro de 2025, trouxe maior ênfase no combate à inflação, com ajustes mais robustos.

Na reunião de dezembro de 2024, o Copom já havia sinalizado a intenção de manter altas de 1 ponto percentual em janeiro e março de 2025. A redução do ritmo para 0,5 ponto na reunião atual reflete sinais de moderação no crescimento econômico, conforme apontado na ata mais recente. O Banco Central destacou que a desaceleração global, combinada com a queda na demanda doméstica, pode aliviar as pressões inflacionárias no médio prazo.

Setores mais afetados

A alta da Selic impacta diferentes setores da economia, com efeitos que variam conforme a dependência de crédito. O setor imobiliário, por exemplo, enfrenta um cenário de maior cautela. Dados da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) mostram que o volume de financiamentos imobiliários caiu 8% no primeiro trimestre de 2025, refletindo o encarecimento do crédito. Construtoras já revisam planos de lançamentos, priorizando projetos voltados para o público de alta renda.

No varejo, a expectativa é de uma desaceleração nas vendas, especialmente em bens duráveis, como eletrodomésticos e móveis. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) projeta uma queda de 3% no volume de vendas a prazo no segundo trimestre de 2025. A alta dos juros também pressiona as margens de lucro das empresas, que enfrentam dificuldades para repassar os custos aos consumidores.

O agronegócio, embora menos dependente de crédito bancário, sente os efeitos indiretos da alta da Selic. O aumento dos custos de insumos importados, como fertilizantes e defensivos agrícolas, reflete a valorização do dólar. Produtores rurais, especialmente nas regiões Centro-Oeste e Sul, relatam dificuldades para manter a rentabilidade, diante da alta nos preços de combustíveis e energia. A seguir, os principais desafios para o setor:

  • Elevação dos custos de produção devido à alta de insumos.
  • Redução dos investimentos em tecnologia e infraestrutura.
  • Impacto da seca na produtividade de culturas como soja e milho.
  • Pressão sobre os preços finais, com reflexos no mercado interno.

Expectativas para o futuro

O comunicado do Copom desta quarta-feira trouxe uma mudança sutil na linguagem, sugerindo que o ciclo de altas pode estar próximo de uma pausa. A expressão “parcimônia” utilizada na ata da reunião de março foi reforçada, indicando que o Banco Central monitora de perto os sinais de desaceleração econômica. Analistas interpretaram a redução do ritmo de alta, de 1 ponto para 0,5 ponto, como um indicativo de que a Selic pode se estabilizar em 14,75% nas próximas reuniões.

O boletim Focus, publicado na segunda-feira, 5 de maio, trouxe uma leve redução na projeção de inflação para 2025, de 5,65% para 5,53%. Apesar disso, a estimativa segue acima do teto da meta, o que mantém a pressão sobre o Banco Central. Instituições financeiras como o Santander e o Bradesco apontam que a inflação deve permanecer acima de 5% pelos próximos seis meses, com uma possível convergência para o intervalo de tolerância apenas em 2026.

Para o consumidor, a alta da Selic significa um aumento no custo de vida. Empréstimos pessoais, que já acumulam taxas médias de 93,83% ao ano, segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), devem ficar ainda mais caros. O financiamento de veículos, outro segmento sensível aos juros, registra queda de 5% na procura, conforme dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). A poupança, por outro lado, ganha atratividade, com rendimentos mais robustos em um cenário de juros altos.

Mudanças na política monetária

A condução da política monetária sob Gabriel Galípolo tem sido marcada por uma postura mais agressiva contra a inflação. Desde que assumiu a presidência do Banco Central, em janeiro de 2025, Galípolo implementou ajustes que totalizam 2,5 pontos percentuais na Selic. A nova diretoria, composta por três indicados do governo Lula, trouxe maior ênfase na comunicação com o mercado, buscando reduzir a volatilidade nas expectativas.

A reunião desta quarta-feira foi a terceira sob o comando de Galípolo, que enfrenta o desafio de equilibrar o controle inflacionário com as pressões por crescimento econômico. O governo, que tem defendido medidas de estímulo ao consumo, como o aumento do salário mínimo e programas sociais, vê na alta da Selic um obstáculo à retomada. Apesar disso, o Copom mantém a independência, priorizando a meta de inflação de 3%, com tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo.

O sistema de meta contínua, implementado em 2025, exige que o Banco Central avalie a inflação acumulada em 12 meses a cada mês. Em abril, o IPCA acumulado desde maio de 2024 estava em 5,66%, segundo projeções do mercado. A persistência da inflação acima do teto da meta reforça a necessidade de uma política monetária restritiva, mas a desaceleração econômica global pode abrir espaço para ajustes menos intensos no futuro.

Impactos no mercado de trabalho

O aumento da Selic também traz reflexos para o mercado de trabalho, que vinha apresentando sinais de aquecimento. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que o Brasil criou 1,2 milhão de vagas formais em 2024, com destaque para os setores de serviços e comércio. No entanto, a alta dos juros pode frear a geração de empregos, especialmente em setores intensivos em crédito, como a construção civil.

Empresas de pequeno e médio porte, que dependem de financiamentos para expandir operações, enfrentam dificuldades crescentes. A Confederação Nacional das Micro e Pequenas Empresas (Conampe) estima que 30% das pequenas empresas podem reduzir contratações no segundo semestre de 2025, devido ao encarecimento do crédito. Setores como o de tecnologia, que vinham atraindo investimentos, também relatam maior cautela entre investidores, diante do cenário de juros altos.

Por outro lado, o mercado de trabalho formal ainda mantém resiliência, impulsionado pelo aumento da renda média. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o rendimento médio real cresceu 2,8% em 2024, o que sustenta o consumo. A alta da Selic, no entanto, pode limitar esse crescimento, ao encarecer o crédito e reduzir a confiança do consumidor. A seguir, alguns efeitos esperados no mercado de trabalho:

  • Redução nas contratações em setores sensíveis a juros, como construção e varejo.
  • Aumento da seletividade na concessão de crédito para pequenas empresas.
  • Crescimento mais lento da renda média, devido à desaceleração econômica.
  • Maior atratividade de investimentos em renda fixa, como títulos públicos.

Cenário global e incertezas

O aumento da Selic não pode ser analisado isoladamente, já que o cenário global exerce forte influência sobre as decisões do Copom. A política monetária restritiva adotada por bancos centrais de economias desenvolvidas, como o Federal Reserve e o Banco Central Europeu, eleva a pressão sobre os juros no Brasil. A valorização do dólar, que atingiu R$ 5,90 em abril de 2025, reflete a busca por ativos seguros em meio às incertezas globais.

A guerra na Ucrânia e as tensões comerciais entre Estados Unidos e China continuam a impactar os preços de commodities, como petróleo e grãos. No Brasil, o custo da energia, que representa uma parcela significativa do IPCA, subiu 6,2% em 2024, segundo o IBGE. A alta dos combustíveis, por sua vez, pressiona os custos de transporte e logística, com reflexos em toda a cadeia produtiva.

O Copom destacou que a conjuntura externa exige maior cautela, já que choques de oferta podem manter a inflação elevada por mais tempo. A possibilidade de uma recessão global, embora menos provável, também está no radar do Banco Central. Países como Alemanha e Reino Unido já registram crescimento próximo de zero, o que pode reduzir a demanda por exportações brasileiras, como minério de ferro e soja.

Medidas complementares do Banco Central

Além da alta da Selic, o Banco Central tem adotado outras medidas para controlar a inflação. A supervisão do mercado de crédito foi intensificada, com foco na redução da inadimplência. Dados do BC mostram que a taxa de inadimplência em empréstimos pessoais atingiu 3,8% em março de 2025, o maior nível em dois anos. A instituição também ampliou a comunicação com o mercado, publicando relatórios detalhados sobre as projeções econômicas.

A nova diretoria do BC, composta por nomes como Carolina de Assis Barros e Diogo Guillen, trouxe maior diversidade de perspectivas ao Copom. A nomeação de Galípolo, que já atuava como diretor de Política Monetária, foi bem recebida pelo mercado, que viu na transição uma continuidade na luta contra a inflação. As reuniões do Copom, agora mais transparentes, incluem apresentações técnicas detalhadas, que ajudam a ancorar as expectativas dos investidores.

O Banco Central também monitora o impacto das políticas fiscais do governo. O pacote anunciado em dezembro de 2024, que previa cortes de gastos e aumento de arrecadação, ainda enfrenta resistências no Congresso. A aprovação parcial do projeto, com veto a medidas como a isenção de Imposto de Renda, gerou volatilidade no mercado financeiro. O Copom reiterou que a consolidação fiscal é essencial para reduzir a pressão sobre os juros no longo prazo.

Cronologia das decisões recentes

A evolução da Selic nos últimos meses reflete a resposta do Banco Central a um cenário econômico complexo. A seguir, um resumo das decisões mais recentes do Copom:

  • Setembro de 2024: Alta de 0,25 ponto, para 10,75% ao ano.
  • Novembro de 2024: Alta de 0,5 ponto, para 11,25% ao ano.
  • Dezembro de 2024: Alta de 1 ponto, para 12,25% ao ano.
  • Janeiro de 2025: Alta de 1 ponto, para 13,25% ao ano.
  • Março de 2025: Alta de 1 ponto, para 14,25% ao ano.

Cada ajuste foi acompanhado de comunicados que destacaram a necessidade de uma política monetária contracionista. A redução do ritmo de alta na reunião de maio reflete a percepção de que a inflação, embora persistente, pode começar a ceder diante da desaceleração econômica. O Copom também sinalizou que monitorará os dados econômicos de perto, com foco em indicadores como o IPCA e o crescimento do PIB.

Desafios para o consumidor

A alta da Selic impacta diretamente o dia a dia do consumidor, que enfrenta um aumento no custo de vida. O preço dos alimentos, que subiu 7,1% em 2024, segundo o IBGE, continua a pressionar o orçamento das famílias. Produtos como carne, arroz e óleo de soja registraram altas expressivas, refletindo a combinação de seca e aumento dos custos de produção. O setor de energia, por sua vez, enfrenta reajustes nas tarifas, com impacto direto nas contas de luz.

O crédito ao consumidor, que vinha sustentando o consumo em 2024, agora enfrenta taxas mais elevadas. Dados da Anefac mostram que os juros médios de cartões de crédito atingiram 120% ao ano em abril de 2025, o maior patamar em cinco anos. A redução na procura por bens duráveis, como eletrodomésticos, já é perceptível, com o varejo projetando um segundo semestre mais fraco.

Para as famílias de baixa renda, o impacto é ainda mais significativo. Programas sociais, como o Bolsa Família, tiveram reajustes em 2025, mas a alta dos preços consome grande parte do benefício. Entidades como o Dieese estimam que o custo da cesta básica subiu 6,5% no primeiro trimestre de 2025, pressionando o poder de compra. A poupança, embora mais atrativa, não é uma opção viável para grande parte da população, que depende da renda mensal para despesas básicas.

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