É pra rir ou pra chorar? A COP30, que deveria ser o grande encontro da preservação da Amazônia, virou uma micareta de luxo. Belém se prepara para receber líderes globais, mas o que chama atenção não é a pauta ambiental, e sim os preços indecentes das hospedagens. O Cidade AC News apurou que uma casa simples, que no dia a dia valeria no máximo R$ 1.500 a diária, foi listada por mais de R$ 1,5 milhão o pacote de 11 dias. Estamos falando de R$ 68.850 por pessoa, por noite. É hotelzinho duas estrelas se achando cinco de Paris.
E não para aí. Hotéis tradicionais da capital paraense, acostumados a cobrar R$ 300 por diária, agora pedem R$ 20 mil. É especulação pura. A ONU precisou intervir com reuniões emergenciais porque delegações de países pobres já ameaçam não vir. E se a ideia era dar voz ao Sul Global, como se faz isso com preço que só cabe no bolso de milionário?
Marina Silva não segurou a língua: chamou o caso de “verdadeiro achaque”. E está certíssima. Só que o absurdo vai além da hospedagem. Enquanto isso, o governo posa de inovador, anunciando “navios-hotel” para atracar no Pará e hospedar parte das delegações. A solução soa mais como improviso de carnaval fora de época. Afinal, se o evento é sobre a floresta, por que tudo parece menos sobre ela e mais sobre status?
E vamos falar do famoso greenwashing. Em paralelo, avançam obras de estradas como a BR-319, com direito a ciclofaixa e discurso de “estrada sustentável”. Quer dizer: corta a floresta, mas joga uma ciclovia do lado e diz que tá tudo certo. É como pintar de verde a lâmina da motosserra.
O Cidade AC News ouviu lideranças locais e o sentimento é de revolta. No Ver-o-Peso, entre peixes frescos e farinha, o comentário é que a cidade virou “Paris dos trópicos”, mas só para os de fora. E, claro, o povão continua esquecido. Ribeirinhos, agricultores e indígenas, que deveriam ser protagonistas, assistem de camarote a um espetáculo que se diz amazônico, mas que não tem nada de amazônico.
E enquanto a mídia internacional se encanta com as imagens aéreas de Belém, aqui dentro a fofoca corre solta: “Quem tá ganhando com essa farra?” A resposta é óbvia: redes de hotéis, imobiliárias, atravessadores. O pequeno comerciante, o trabalhador da feira, o barqueiro do rio? Esses seguem invisíveis.
No fundo, é a velha receita brasileira: quando o mundo olha, maquiamos a sala, escondemos a bagunça e cobramos caro pra entrar. O problema é que dessa vez a bagunça é a floresta, e não tem como escondê-la atrás de cortina de marketing.
Entre uma aparelhagem de tecnobrega e uma música da Joelma, fica a sensação de que a COP30 corre risco de virar um reality show verde: cenário bonito, discurso afinado, mas sem transformar nada de verdade. O que deveria ser compromisso histórico pode virar apenas mais um carnaval, com direito a trio elétrico de hipocrisia.
E Ton fecha assim: se a COP30 em Belém for lembrada apenas pelas diárias milionárias e pela maquiagem verde, então já nasceu fracassada. A Amazônia não precisa de circo com ciclofaixa. Precisa de respeito, compromisso e, principalmente, verdade.
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