sexta-feira, 5 dezembro, 2025

Coluna do Ton – Nem toda cerca é progresso

A Coluna Perfil do Tom denuncia o apagamento político e midiático da crise ambiental no Acre, com crítica ética e contundente ao discurso oficial e sua manipulação simbólica.

Ton Pouco Amistoso - Redator FreeLancer

Há quem enxergue na floresta um vazio. Mas o verdadeiro vazio é político — e está nos olhos de quem só vê valor onde a cerca já passou.

Nos tempos atuais, mapas coloridos tentam contar uma história diferente da realidade. Manchetes sem coragem, colunas que tratam o desmatamento como detalhe paisagístico e editoriais que romantizam a motosserra. Convém discordar. Com elegância e incômodo.

O problema do Acre não é falta de pasto. É excesso de miopia institucional.
É a floresta sendo silenciada com palavras como “ocupação”, “expansão” e “progresso”.
Enquanto isso, os mapas de 1985 e 2023 contam a verdade sem filtro: uma mutilação constante do verde. O que era cobertura vegetal virou sobrevivência cercada.

Dizem que “o homem chegou”. Mas esquecem de dizer que o Estado saiu de fininho.

Os desbravadores e o abandono institucional

Há um discurso emocional ganhando força, defendendo os “pobres desbravadores”. Mas poucos mencionam que muitos deles foram jogados ao abandono pelo próprio sistema. Usados como massa eleitoral e depois descartados. Sem título, sem apoio técnico, sem acesso real a uma política de produção sustentável.

Não se trata de demonizar o produtor rural. Mas de exigir do poder público aquilo que ele promete há décadas e nunca entrega: regularização fundiária decente, proteção social no campo e compromisso com a conservação.

Cobrir o quadro de Marina Silva não cobre o buraco deixado pela omissão governamental.
Não há trator que conserte silêncio de Estado.

E não, governar não é oferecer Deus como álibi e o boi como bandeira.
A Bíblia, que tantos citam para justificar ocupações, também fala de mordomia da criação.
E nisso, muitos que se dizem fiéis têm falhado — tratando a terra como trincheira, não como herança.

O que não é dito revela mais que o que é publicado

Falta uma pergunta que ninguém está fazendo: quem lucra com esse avanço?
Porque ninguém derruba mil hectares de floresta só com boa intenção.

Empresas? Grupos políticos? Lobbies disfarçados de cooperativas?

Não se fala da omissão do governo.
Não se fala da fiscalização que não aconteceu.
Não se fala do avanço ilegal dentro da Reserva Chico Mendes.
Não se fala da violência fundiária que acompanha cada hectare tomado.

Fala-se muito no “direito de trabalhar”. Mas o direito à água limpa, à floresta em pé e ao clima equilibrado também é trabalho. Aliás, é a base de todos os outros.

Entre Marina, Bocalom e a fé como performance

Marina Silva incomoda. Não por seus erros, mas por representar uma ideia de governo que incomoda quem lucra com terra aberta. Criticar sua ausência simbólica virou uma forma de mascarar a própria omissão ativa.

Bocalom, por sua vez, ensaia um malabarismo: se equilibra entre o populismo da roçadeira e a tentativa de manter-se aceitável para o eleitorado urbano, que já entendeu que devastação não rima com desenvolvimento.

Já Michelle Bolsonaro vem ao Acre como símbolo de um conservadorismo de vitrine: tira selfie, cita versículo e ignora os dados do INPE, os alertas do IPAM, o ar irrespirável das reservas no verão seco.

No fim das contas, enquanto a política faz teatro com símbolos, o chão segue rachando.

O verde que resta, o jornalismo que falta!

Quando a floresta vira assunto colateral, a verdade virou refém.
E nesse jogo, não é a ideologia que perde:
É o rio que seca,
É o solo que morre,
É o povo que adoece.

Porque tem gente que fala bonito demais pra quem age feio demais.

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✍️ Por: Eliton Muniz – Redator FreeLancer
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