Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima no governo Lula (2023-atual), é uma figura histórica na defesa ambiental no Brasil, mas sua trajetória tem sido marcada por momentos de inércia e silêncios que geram críticas por omissão ou pragmatismo político. Apesar de avanços na redução do desmatamento na Amazônia Legal, sua gestão enfrenta acusações de ineficácia, falta de articulação política, e entraves ao desenvolvimento econômico. Parlamentares e setores da sociedade a acusam de sabotar o progresso do país, enquanto episódios como o do Senado em 27 de maio de 2025 revelam sua tendência a evitar debates técnicos, recorrendo a narrativas identitárias. Este editorial analisa criticamente sua atuação, detalhando episódios de silêncio ou posturas brandas desde 2015, comparando a preservação da Amazônia Legal nos governos Lula e Bolsonaro, examinando negociações que comprometem a riqueza brasileira, e abordando a crise hídrica global, destacada no Dia Mundial da Água.
O Silêncio de Marina Silva no Crime do Rio Doce (2015)
Em 5 de novembro de 2015, o Brasil enfrentou seu maior crime socioambiental: o rompimento de duas barragens da mineradora Samarco, uma joint-venture da Vale e da BHP Billiton, em Bento Rodrigues, Mariana (MG). O desastre devastou o Rio Doce, causou 17 mortes, destruiu biomas, e ameaçou o arquipélago de Abrolhos, um santuário marinho no Atlântico. Mais de 140 dias após o ocorrido, o governo federal anunciou um acordo com a Samarco de R$ 4,4 bilhões, a ser pago em três anos, bem abaixo dos R$ 24 bilhões inicialmente planejados, com a justificativa de um “erro” no comunicado oficial. O gerenciamento do aporte foi entregue a uma fundação controlada pelas empresas responsáveis, com seis dos sete membros do conselho indicados por Samarco, Vale e BHP, e apenas um pelo governo, sem apuração independente ou participação de sindicatos e comunidades afetadas.
Marina Silva, então candidata à presidência pela Rede Sustentabilidade e conhecida por sua militância ambiental, optou pelo silêncio, justificando que “não queria se promover com a desgraça”. Apesar de liderar intenções de voto para 2018, sua postura foi vista como alinhamento com interesses econômicos, especialmente porque a Vale financiou sua campanha em 2014. Ambientalistas e analistas esperavam uma crítica contundente à mineração predatória, mas Marina emitiu apenas notas moderadas, sem liderar o debate nacional. Esse silêncio reforçou a percepção de que sua agenda de sustentabilidade é mais discursiva do que prática, priorizando sua imagem eleitoral.
Crise Hídrica Global e o Dia Mundial da Água (2015)
No Dia Mundial da Água, 22 de março de 2015, a crise hídrica global ganhou destaque. Segundo a ONU, cerca de um bilhão de pessoas não têm acesso a água potável suficiente. O Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento de Recursos Hídricos 2015 – Água para um Mundo Sustentável, da UNESCO, alertou que, sem mudanças drásticas no uso, gerenciamento e compartilhamento da água, o mundo enfrentará um déficit de 40% no abastecimento até 2030, apesar de haver água suficiente para atender ao crescimento do consumo. Críticos argumentam que o discurso de “terrorismo ambiental”, que culpa os cidadãos, mascara a verdadeira causa: a exploração predatória por um sistema econômico que prioriza o lucro de grandes corporações, como mineradoras. O crime do Rio Doce, ocorrido meses depois, exemplifica essa lógica, com impactos diretos na qualidade da água e na sobrevivência de comunidades, mas Marina não se posicionou de forma contundente.
Tragédia de Brumadinho (2019)
Em 25 de janeiro de 2019, outra tragédia socioambiental marcou o Brasil: o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG), que matou 270 pessoas e causou danos irreversíveis ao meio ambiente. Marina Silva, então fora de cargos públicos, emitiu críticas moderadas à mineração predatória, mas não assumiu um papel de liderança no debate nacional. Ambientalistas esperavam uma postura mais agressiva, dado seu histórico como ex-ministra do Meio Ambiente (2003-2008), mas sua atuação foi considerada tímida, limitada a notas e declarações pontuais, sem mobilizar a sociedade ou pressionar por mudanças estruturais na regulação da mineração.
Avanço do Desmatamento na Amazônia (2019–2022)
Durante o governo Bolsonaro (2019-2022), o desmatamento na Amazônia Legal atingiu níveis alarmantes, com uma taxa média anual de 11.088 km², segundo o Prodes do Inpe. Em 2020, o desmatamento alcançou 11.088 km², um aumento de 73% em relação a 2018 (7.536 km²). Apesar de declarações pontuais criticando a gestão de Jair Bolsonaro, que enfraqueceu o Ibama e o ICMBio e suspendeu doações ao Fundo Amazônia, Marina foi criticada por ambientalistas por não assumir uma liderança contínua e agressiva contra as políticas antiambientais. Sua ausência da linha de frente política durante esse período contribuiu para um vácuo de liderança ambiental, reforçando a percepção de inércia.
Acordo entre Lula e o Agronegócio (2022)
Durante a campanha presidencial de 2022, Lula buscou uma aproximação estratégica com setores do agronegócio, historicamente em conflito com pautas ambientais. Marina Silva, que apoiou a candidatura do PT, manteve silêncio sobre essa aliança, priorizando a estratégia política para garantir seu retorno ao Ministério do Meio Ambiente. Críticos apontam que essa postura pragmática comprometeu sua credibilidade como defensora ambiental, já que o agronegócio é um dos principais vetores de desmatamento e queimadas no Brasil. Sua omissão foi vista como uma escolha por governabilidade em detrimento de princípios ambientais.
Comparação da Preservação da Amazônia Legal: Governos Lula e Bolsonaro
Desmatamento
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Governo Bolsonaro (2019-2022): A gestão de Bolsonaro foi marcada por políticas permissivas ao garimpo e à extração ilegal de madeira, com a suspensão de doações ao Fundo Amazônia por Noruega e Alemanha em 2019. A taxa média anual de desmatamento foi de 11.088 km², com picos em 2020.
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Governo Lula (2023-2024): Sob Marina Silva, o desmatamento na Amazônia Legal caiu significativamente. Em 2023, a área desmatada foi de 5.153 km², uma redução de 50% em relação a 2022 (10.306 km²), segundo o Inpe. Entre agosto de 2023 e julho de 2024, a queda foi de 30%, totalizando uma redução de 45,7% em dois anos. Contudo, a pressão migrou para o Cerrado, onde o desmatamento subiu 43,7% em 2023, a maior taxa em uma década. ONGs e ambientalistas cobram ações mais equitativas entre os biomas, criticando a priorização da Amazônia em detrimento do Pantanal e Cerrado.
Queimadas
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Governo Bolsonaro (2019-2022): As queimadas atingiram picos históricos, com 89.178 focos em 2019, segundo o Inpe. A flexibilização ambiental e a redução de fiscalizações foram associadas ao aumento dos incêndios, com críticas internacionais e ações no STF por omissão.
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Governo Lula (2023-2024): Em 2024, o Brasil registrou 102.670 focos de queimadas de janeiro a agosto, o maior número em 14 anos, superando os índices de Bolsonaro. No primeiro semestre de 2024, as queimadas na Amazônia aumentaram 20% em relação a 2023, com 153.277 km² consumidos pelo fogo até novembro, segundo o Prevfogo/Inpe. Marina atribuiu o aumento à seca histórica e às mudanças climáticas, mas críticos apontam falhas na prevenção, como a falta de brigadistas e articulação com estados, além de uma abordagem desproporcional que negligencia o Pantanal e o Cerrado.
Extração de Recursos (Ouro e Outras Riquezas)
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Governo Bolsonaro (2019-2022): A extração ilegal de ouro, especialmente em terras indígenas como a Yanomami, cresceu com o Decreto nº 10.966/2022, que incentivava o garimpo. A crise humanitária entre os Yanomami foi agravada pela conivência com garimpeiros.
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Governo Lula (2023-2024): Marina revogou o decreto de incentivo ao garimpo e intensificou operações de desintrusão na Terra Indígena Yanomami, com multas ambientais de R$ 4 bilhões aplicadas em 2023, um aumento de 219% nos primeiros 100 dias. O Fundo Amazônia foi reativado, com doações de €203 milhões da Alemanha e US$150 milhões dos EUA. Ainda assim, o garimpo ilegal persiste, e a falta de coordenação com estados e municípios dificulta o controle.
PL da Grilagem, Marco Temporal e Exploração de Petróleo na Foz do Amazonas (2023)
Em 2023, Marina Silva foi criticada por sua postura branda em debates cruciais no Congresso. Durante a tramitação do PL da Grilagem (PL 2.633/2020) e do Marco Temporal (PL 490/2007), temas sensíveis aos povos indígenas e à conservação ambiental, ela demorou a se posicionar ou adotou um tom diplomático, evitando confrontos diretos. Ambientalistas esperavam uma oposição frontal, mas Marina priorizou o diálogo técnico, o que foi interpretado como omissão. Na polêmica sobre a licença para a Petrobras explorar petróleo na Foz do Amazonas, Marina evitou críticas diretas ao governo e à estatal, deixando o Ibama assumir a linha de frente. Sua postura técnica foi vista como uma tentativa de evitar atritos com outros ministros, mas reforçou a percepção de inércia diante de questões que comprometem a riqueza ambiental brasileira.
Projetos de Infraestrutura e Relação com a Bancada Ruralista (2023–2024)
Projetos de infraestrutura com forte impacto ambiental, como a Ferrogrão e a pavimentação da BR-319, têm sido tratados por Marina com silêncio ou diplomacia excessiva. Especialistas criticam a falta de posicionamento firme contra essas iniciativas, que ameaçam a Amazônia. Marina também evita confrontos diretos com a bancada ruralista, mesmo diante de retrocessos ambientais, como a aprovação do PL 2.159/2021, que flexibiliza o licenciamento ambiental. Sua tática de diálogo técnico, em vez de embates políticos, é vista como uma concessão à governabilidade, mas compromete sua credibilidade como defensora ambiental.
Atuação no Senado e Narrativas Identitárias (2025)
Em 27 de maio de 2025, Marina enfrentou um episódio constrangedor na Comissão de Infraestrutura do Senado, convocada para discutir a criação de uma unidade de conservação marinha na Margem Equatorial, vista como um obstáculo à exploração de petróleo. O senador Plínio Valério (PSDB-AM) afirmou que “a mulher [Marina Silva] merece respeito; a ministra, não”, destacando que críticas a ocupantes de cargos públicos são legítimas. Marina alegou “violência de gênero” e se retirou da sessão após ter o microfone cortado, sem responder às perguntas. Em nota, o senador Marcos Rogério repudiou a exploração, que chamou de “abjeta e maldosa”, alimentada pelo vitimismo de quem não respeitou o ambiente da comissão. Marina respondeu: “Eu saí dali, posso te dizer, mais fortalecida. Eles não conseguiram me intimidar. […] O meu lugar é defendendo aquilo que eu acredito.” Essa narrativa identitária foi vista como uma fuga do debate técnico, reforçando a percepção de um ministério engessado.
O jornalista Moisés Mendes, em artigo publicado em 27 de maio de 2025 no Brasil 247, intitulado Depois de Janja, a vez de Marina enfrentar o cerco do fascismo, defendeu Marina, afirmando que ela “foi cercada pela alcateia bolsonarista no Senado” e que “toda situação com tensão política, envolvendo mulheres e fascistas, terá desfechos semelhantes”. Mendes distorce a realidade ao chamar as críticas de machistas, comparando o episódio a confrontos entre Maria do Rosário e Jair Bolsonaro, e sugere que a “valentia” de Marina foi confrontada pela “covardia do entorno hétero”. Ele apela ao identitarismo, afirmando que “mulheres são alvo preferencial do fascismo, ao lado de negros, indígenas, gays e todos os diferentes”, ignorando que o alvo principal de regimes autoritários, como na Alemanha nazista, foram trabalhadores e sindicalistas. Mendes também defende ações autoritárias, como as de Alexandre de Moraes no STF, sugerindo que o Senado deveria ter dado “um tranco” nos críticos de Marina. Críticos argumentam que essa narrativa identitária, encampada por setores da esquerda, é reacionária e desvia o foco da sabotagem à soberania nacional, como a oposição de Marina à exploração de petróleo, que prejudica milhões de brasileiros, especialmente mulheres, mantidos na pobreza.
Pressões e Desafios no Governo Lula
O governo Lula enfrenta críticas de todos os lados, e até aliados protegem sabotadores, como Marina, segundo críticos. Apesar da promessa de “zerar o desmatamento até 2030”, a redução de 50% no desmatamento da Amazônia Legal em 2023 (5.153 km²) é ofuscada pela alta de 43,7% no desmatamento do Cerrado e pelo aumento de 20% nas queimadas na Amazônia no primeiro semestre de 2024. O governo enfrenta resistência do agronegócio, da bancada ruralista e de governadores aliados, enquanto Marina tem protagonismo limitado e já foi alvo de pressões para deixar o cargo.
Dados da Amazônia Legal (2023–2024)
Indicador |
Valor Aproximado |
Fonte |
---|---|---|
Desmatamento na Amazônia Legal |
5.153 km² |
INPE |
Redução em relação a 2022 |
-50% |
INPE |
Alta no desmatamento do Cerrado |
+43,7% |
INPE |
Queimadas (1º semestre de 2024) |
+20% |
Prevfogo/INPE |
Multas ambientais aplicadas |
R$ 4 bilhões |
Ibama/ICMBio |
O governo Lula mostra avanços na redução do desmatamento na Amazônia Legal, com uma queda de 50% em 2023, superando o desempenho do governo Bolsonaro. No entanto, o aumento das queimadas, a alta no desmatamento do Cerrado, e a persistência do garimpo ilegal revelam contradições. O crime do Rio Doce (2015), a tragédia de Brumadinho (2019), e o silêncio de Marina Silva diante de pautas como o acordo com o agronegócio (2022), o PL da Grilagem, o Marco Temporal, e a exploração de petróleo na Foz do Amazonas (2023) expõem sua inércia e pragmatismo político. Sua postura no Senado em 2025, fugindo do debate com uma narrativa vitimista, e sua oposição a projetos como a BR-319 e a Ferrogrão reforçam a percepção de um ministério engessado, que sabota a soberania nacional e a melhoria da vida de milhões. A crise hídrica global, destacada no Dia Mundial da Água de 2015, sublinha a exploração predatória por corporações, que Marina não confrontou de forma consequente. A Amazônia Legal exige ações duradouras, fiscalização independente, e uma política ambiental que enfrente o sistema capitalista de exploração predatória, garantindo desenvolvimento sustentável sob o controle dos trabalhadores e da população.