O maior acidente aéreo do estado mudou para sempre a relação do Acre com a aviação
Tragédia do Voo Rico 4823 em Rio Branco (2002) matou 23 pessoas e deixou 8 sobreviventes. Reportagem exclusiva une emoção, relato técnico e memória coletiva.
O que aconteceu
Na tarde de 30 de agosto de 2002, o Acre parou diante do maior acidente aéreo de sua história. O Voo Rico 4823, que ligava Cruzeiro do Sul a Rio Branco, com escala em Tarauacá, não chegou ao destino. A apenas quatro quilômetros da cabeceira da pista da capital, o Embraer 120 Brasília caiu sob forte tempestade, vitimando 23 pessoas e deixando 8 sobreviventes. O episódio marcou para sempre a memória coletiva do estado e redefiniu a discussão sobre segurança aérea na Amazônia.
Lista de vítimas e sobreviventes
Mortos (23)
- José Edilberto Gomes Sousa
- Maria de Fátima Soraes de Oliveira
- Ailton Rodrigues de Oliveira
- Francisco Cândido da Silva
- Walter Teixeira da Silva
- Paulo Roberto Freitas Tavares (piloto)
- Maria Alexandra de Andrade Costa
- Luís Maciel da Costa (vereador de Cruzeiro do Sul)
- Rosângela Pimentel Cidade Figueira
- Francisco Darichen Campos
- Raimundo Araújo Sousa
- Maria José Passos Miranda
- Carina Matos de Pinho
- Cremilda Nogueira
- Kátia Regina Figueiredo Barbosa (comissária)
- Maria Raimunda Iraide Alves da Silva
- Geane de Sousa Lima
- Arlete Soares de Sousa
- João Alves da Silva
- Rosemeire dos Santos Lobo
- José Waldeir Rodrigues Gabriel
- Paulo Roberto do Nascimento (co-piloto)
- Ildefonso Cordeiro (deputado federal)
Sobreviventes (8)
- Raceni de Melo Cameli Theodorico
- Fernandes de Melo
- Antônio Napoleão de Oliveira
- Maria José Albuquerque
- Maria Célia Rocha
- Maria de Fátima Meireles de Almeida
- Luiz Wanderlei da Silva
- João Célio Gonçalves Gaspar
📍 Linha do tempo da tragédia
- 16h10 – Decolagem de Cruzeiro do Sul.
- 16h40 – Pouso em Tarauacá.
- 16h55 – Decolagem para Rio Branco.
- 17h48 – Contato com torre de Rio Branco; comandante informa estar a 25 milhas (na verdade a 40).
- 17h54 – Última comunicação registrada.
- 17h55 – Impacto em fazenda a 4 km da cabeceira da pista 06.
Contexto histórico
O Acre de 2002 vivia dias de expectativa. A ExpoAcre, maior feira agropecuária do estado, reunia negócios, leilões e shows nacionais. Naquela noite, Leandro & Leonardo eram a grande atração. Sem estrada pavimentada ligando Cruzeiro do Sul a Rio Branco, a maioria dependia da aviação regional.
A Rico Linhas Aéreas, fundada em Manaus, era então a principal ligação aérea da Amazônia Ocidental. Operava mais de 30 destinos, com frota de Embraer 110 e 120, e preparava a chegada dos Boeing 737-200. Seus voos eram chamados de “ponte da floresta” — conectavam cidades isoladas à capital.
O voo 4823 fazia parte dessa malha diária: Cruzeiro do Sul → Tarauacá → Rio Branco. A chegada estava prevista para 17h45, com retorno na manhã seguinte. Naquela sexta-feira, os assentos eram disputados — todos queriam chegar à capital para a feira.
Planejamento do voo e tripulação
O 4823 decolou de Cruzeiro do Sul às 16h10. Fez escala em Tarauacá, onde mais passageiros embarcaram, em meio a confusão e disputas de vagas. O avião estava lotado.
No cockpit estavam:
- Paulo Roberto Freitas Tavares, comandante e chefe da frota Embraer 120 na Rico, descrito pelo SENIPA como habilidoso, mas de temperamento difícil e avesso a pernoites fora de casa.
- Paulo Roberto do Nascimento, copiloto escalado de última hora, substituindo Jairo Freitas Saraiva Neto, que escapou do voo por troca de escala.
- Kátia Regina Barbosa, comissária de bordo.
A aeronave era o PT-WRQ (Whiskey Romeo Quebec), um Embraer 120 Brasília com 30 lugares.
A aeronave

Foto real: Embraer 120 da Rico no pátio

🖼️ Logo oficial da Rico Linhas Aéreas
O Brasília foi o primeiro avião comercial pressurizado da Embraer. Produzido entre 1985 e 2002, tornou-se o cavalo de batalha da aviação regional. Capaz de voar a 9.700 metros e alcançar 300 nós, foi usado por companhias do Brasil, EUA e África.
Na Rico, o Brasília era sinônimo de ligação vital entre municípios amazônicos. Porém, no 4823, acumulava falhas: gravador de dados inoperante, GPWS desativado e radioaltímetro com defeito.
A aproximação crítica
Às 17h48, o comandante contatou a torre de Rio Branco. Informou estar a 25 milhas — na verdade, estava a 40. O SENIPA entendeu como perda de consciência situacional.
A torre autorizou aproximação pela pista 06, mas o comandante pediu a 24, para evitar a tempestade. O controlador alertou: a 24 não tinha PAPI nem ALS (luzes de aproximação). Mesmo assim, tentou. Minutos depois, voltou para a 06.
Na cabine de passageiros, clima de tranquilidade. Alguns liam jornal. O deputado Ildefonso Cordeiro mostrava fotos. A comissária pediu preparação para pouso, mas não exigiu cintos afivelados. A luz dos cintos estava apagada — violando checklist de descida.
A queda
Às 17h54, sete chamadas da torre não foram respondidas. O avião atingiu a copa de uma árvore a 4 km da pista. Perdeu sustentação, colidiu com o solo e se arrastou por 650 metros, destruindo cercas e abatendo oito animais.
Partido em três, o Brasília deixou um rastro de destruição. O comandante, o copiloto e a comissária morreram no impacto, junto com a maioria dos passageiros.
O resgate
O local era de difícil acesso. Bombeiros, populares e jornalistas atravessaram lama e mato. Caminhonetes serviram de ambulâncias improvisadas.
O cenário foi descrito como “campo de guerra”. Sobreviventes relataram “apagão como nocaute”. Alguns só entenderam o ocorrido quando estavam fora dos destroços.
Vozes da tragédia
“Eu acordei no impacto, ouvi uma mulher gemer, e vi minha perna presa. O avião caiu.” — sobrevivente.
“O Acre inteiro perdeu asas naquela noite.” — parente de vítima.
“Levei o corpo do meu pai achando que ainda estava vivo. Só depois descobri que minha mãe também estava a bordo.” — filho de Ildefonso Cordeiro.
Investigação do Voo Rico 4823 Acre
Sem gravações de voz ou dados, o CENIPA reconstruiu por radar e destroços. Constatou que:
- Trem de pouso recolhido.
- Flaps em 15°.
- Velocímetro travado em 150 nós.
- Aproximação fora do padrão.
O comandante acumulava funções: pilotava e fazia fonia. O checklist não foi seguido. Conclusão: CFIT (Controlled Flight Into Terrain).
Comparativo internacional
Nos anos 90 e 2000, CFIT foi a principal causa de acidentes fatais no mundo. A ausência de GPWS, cultura de CRM e infraestrutura mínima condenava voos em regiões periféricas. O Acre foi tragicamente incluído nessa estatística global.
O impacto coletivo
O velório coletivo na Assembleia Legislativa marcou a história. Cruzeiro do Sul parou para se despedir de Luís Maciel. O Acre chorou unido.
Consequências
Em 2004, o CENIPA recomendou 8 medidas à Rico: CRM, checklists, verificação de gravadores, palestras sobre CFIT. Mas em 2004 outro Brasília caiu em Manaus. A Rico encolheu até virar táxi aéreo.
O que mudou e o que não mudou
Hoje, a Azul Conecta opera parte das rotas, mas a frequência é menor que em 2002. Municípios do Acre vivem isolamento aéreo semelhante ao início do século.
Infográfico da rota

🖼️ Infográfico gerado – Cruzeiro do Sul → Tarauacá → Rio Branco, com ponto da queda a 4 km da pista
3 coisas que você precisa levar desta notícia
- O Voo Rico 4823 vitimou 23 pessoas e deixou 8 sobreviventes.
- O relatório apontou falhas técnicas, operacionais e humanas.
- O Acre segue dependente da aviação, vulnerável à falta de infraestrutura.
O que isso significa para o Acre
A tragédia é alerta permanente: segurança aérea não pode ser privilégio dos grandes centros. Estados periféricos como o Acre precisam de aeroportos equipados, fiscalização rigorosa e cultura de prevenção.
Foto ilustrativa do Brasília

Alt text: “Foto ilustrativa do Embraer 120 Brasília, aeronave regional dos anos 1990”
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Órgãos da aviação e links oficiais
-
CENIPA – Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (FAB)
🔗 https://www.fab.mil.br/cenipa -
ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil
🔗 https://www.gov.br/anac -
DECEA – Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Força Aérea Brasileira)
🔗 https://www.decea.mil.br
🔗 Leia também no Cidade AC News:
- História da aviação no Acre
- Memória de tragédias que marcaram o estado
- ExpoAcre: cultura e impacto econômico
🔗 Fonte oficial: Relatório CENIPA – FAB
Por Eliton Lobato Muniz — Cidade AC News
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