
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicou, em 7 de julho de 2025, uma mensagem na rede social Truth Social em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado em 2022. A declaração, que classifica as investigações contra Bolsonaro como uma “caça às bruxas”, gerou reações no Brasil, incluindo críticas da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, que pediu que Trump cuide de seus próprios assuntos. O post também reacendeu debates sobre a soberania judicial brasileira e a influência externa em processos legais. A ação de Trump ocorre em um momento em que ele também pressiona Israel em relação ao julgamento do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, acusado de corrupção.
A mensagem de Trump foi publicada em um contexto de crescente tensão política no Brasil, onde Bolsonaro enfrenta acusações graves relacionadas aos eventos que culminaram nos atos de 8 de janeiro de 2023. O ex-presidente, inelegível até 2030 por decisões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nega envolvimento em planos golpistas. A intervenção de Trump, que prometeu acompanhar a situação “muito de perto”, levantou questionamentos sobre os limites da influência internacional em assuntos judiciais brasileiros.
No Brasil, a resposta ao post de Trump foi imediata. Gleisi Hoffmann, em declaração à imprensa, afirmou que o presidente americano está “equivocado” ao tentar interferir em processos judiciais brasileiros. A ministra destacou que o STF conduz investigações com base em evidências e que o Brasil não aceita pressões externas. Outras autoridades, incluindo parlamentares da base governista, também criticaram a postura de Trump, classificando-a como uma tentativa de desestabilizar a democracia brasileira.
- Principais pontos da declaração de Trump:
- Acusação de perseguição contra Bolsonaro, sua família e apoiadores.
- Promessa de monitoramento próximo da situação no Brasil.
- Comparação do caso de Bolsonaro com o julgamento de Netanyahu em Israel.
Reações no cenário político brasileiro
A declaração de Trump chegou em um momento delicado para o Brasil, com o STF avançando no julgamento de Bolsonaro e outros sete aliados, acusados de integrarem o “núcleo crucial” de uma suposta organização criminosa voltada para subverter o resultado das eleições de 2022. A Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentou denúncias que incluem crimes como tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e associação criminosa armada. Em junho de 2025, o STF encerrou a fase de instrução processual, e o caso agora aguarda alegações finais antes do julgamento definitivo.
Parlamentares da oposição, alinhados a Bolsonaro, utilizaram as redes sociais para amplificar a mensagem de Trump. O senador Flávio Bolsonaro, filho do ex-presidente, agradeceu o apoio do presidente americano e reforçou a narrativa de que as investigações contra seu pai são motivadas por interesses políticos. Por outro lado, líderes do governo Lula, como o senador Randolfe Rodrigues, classificaram a intervenção de Trump como uma afronta à soberania nacional, exigindo uma resposta oficial do Itamaraty.
A sociedade civil também se manifestou. Organizações como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) divulgaram notas defendendo a independência do Judiciário brasileiro e criticando qualquer tentativa de ingerência externa. Manifestações de rua, embora menores que as de 2023, foram registradas em São Paulo e Brasília, com apoiadores de Bolsonaro ecoando a retórica de Trump sobre uma suposta perseguição.
Paralelo com o caso de Netanyahu em Israel
A postura de Trump em relação a Bolsonaro não é isolada. No final de junho de 2025, o presidente americano publicou mensagem semelhante em apoio ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que enfrenta acusações de suborno, fraude e abuso de confiança. Trump classificou o julgamento de Netanyahu como uma “caça às bruxas” e sugeriu que o processo fosse cancelado, sob o argumento de que interfere nas negociações de segurança de Israel com grupos como o Hamas e o Irã.
A pressão de Trump surtiu efeito imediato em Israel. Um tribunal em Jerusalém adiou audiências previstas para o caso de Netanyahu, citando questões de segurança nacional apresentadas pelo premiê e por autoridades de inteligência. A decisão gerou críticas de juristas e opositores em Israel, que acusaram Trump de interferir indevidamente no sistema judicial do país.
No Brasil, a comparação entre os dois casos intensificou o debate sobre a influência de Trump em democracias aliadas. Especialistas em relações internacionais apontam que o presidente americano busca consolidar uma rede de líderes conservadores, usando sua plataforma para apoiar figuras como Bolsonaro e Netanyahu em momentos de crise política.
A trajetória de Bolsonaro no STF
O processo contra Jair Bolsonaro no STF teve início em março de 2025, quando a Primeira Turma da Corte, composta pelos ministros Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia, Flávio Dino e Luiz Fux, aceitou por unanimidade a denúncia da PGR. Além de Bolsonaro, outros sete nomes, incluindo os generais Walter Braga Netto, Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira, foram tornados réus.
As acusações se baseiam em evidências como a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e documentos que apontam a existência de uma “minuta do golpe” discutida em reuniões no Palácio da Alvorada. A PGR alega que o grupo planejava impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, vencedor das eleições de 2022, por meio de ações como a decretação de um estado de sítio ou operações militares.
- Cronologia do caso no STF:
- Março 2025: Primeira Turma aceita denúncia contra Bolsonaro e aliados.
- Junho 2025: Bolsonaro presta depoimento, negando envolvimento em planos golpistas.
- Julho 2025: Fase de instrução processual é concluída, e caso avança para alegações finais.
Bolsonaro, em seu depoimento, admitiu ter discutido “possibilidades” para contestar o resultado eleitoral, mas negou qualquer intenção de ruptura institucional. Ele também criticou o STF, alegando que o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, atua com parcialidade.
Atuação de Eduardo Bolsonaro nos EUA
A declaração de Trump coincide com a presença de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, onde o deputado federal, licenciado desde março de 2025, tem buscado apoio político para a causa de seu pai. Segundo a PGR, Eduardo articula junto a figuras do Partido Republicano, como o deputado Cory Mills, possíveis sanções contra autoridades brasileiras, incluindo o ministro Alexandre de Moraes.
Em maio de 2025, o STF abriu um inquérito para investigar as ações de Eduardo nos EUA, sob a acusação de tentativa de obstrução de Justiça. Mills, por sua vez, defendeu em uma audiência no Capitólio que o Brasil enfrenta violações de direitos humanos, citando as investigações contra Bolsonaro como exemplo. Essas movimentações intensificaram as tensões diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos, com o governo brasileiro monitorando de perto as atividades de Eduardo no exterior.
Respostas institucionais no Brasil
O STF, por meio de nota oficial, reafirmou sua independência e compromisso com a Constituição, destacando que os processos em curso seguem rigorosamente os trâmites legais. O ministro Luís Roberto Barroso, presidente da Corte, evitou comentar diretamente a declaração de Trump, mas reforçou que o Judiciário brasileiro não se submete a pressões externas.
O Itamaraty, responsável pelas relações exteriores, também foi acionado. Fontes do ministério indicam que o governo brasileiro avalia emitir um comunicado oficial rechaçando qualquer tentativa de ingerência estrangeira. A posição do Brasil é de que as investigações contra Bolsonaro são um assunto interno, conduzido com base em provas robustas, como vídeos, documentos e depoimentos.
Contexto das relações Brasil-EUA
As relações entre Brasil e Estados Unidos, historicamente marcadas por cooperação em áreas como comércio e segurança, enfrentam um momento de tensão com a declaração de Trump. Durante o governo Bolsonaro (2019-2022), os dois países mantiveram uma relação próxima, com alinhamento ideológico entre os líderes. No entanto, a vitória de Lula em 2022 e a retomada de uma agenda progressista no Brasil mudaram a dinâmica bilateral.
Analistas apontam que a intervenção de Trump pode complicar negociações em andamento, como acordos comerciais e cooperação em mudanças climáticas. O governo Lula, que busca reposicionar o Brasil como líder em sustentabilidade, enfrenta o desafio de responder à pressão de Trump sem escalar um conflito diplomático.
Números do julgamento no STF
O julgamento da tentativa de golpe de Estado no STF já resultou em condenações significativas. Até julho de 2025, 497 pessoas foram punidas por crimes relacionados aos atos de 8 de janeiro de 2023. As penas, que variam de 3 a 17 anos de prisão, refletem a gravidade das acusações, que incluem danos ao patrimônio público e tentativa de ruptura democrática.
Os réus, em sua maioria, são acusados de participar diretamente dos ataques às sedes dos Três Poderes ou de apoiar logisticamente os atos golpistas. O STF também absolveu oito pessoas, cujas defesas conseguiram comprovar a ausência de envolvimento direto nos crimes.
Debate sobre soberania judicial
A declaração de Trump reacendeu o debate sobre a soberania do sistema judicial brasileiro. Juristas, como o ex-ministro do STF Celso de Mello, criticaram a postura do presidente americano, classificando-a como uma tentativa de agir como “imperador do mundo”. Mello destacou que o Brasil tem o direito de conduzir suas investigações sem interferências externas, especialmente em casos que envolvem a defesa da democracia.
Organizações internacionais, como a Human Rights Watch, também acompanham a situação. Em relatório recente, a entidade elogiou os esforços do STF para responsabilizar os envolvidos na tentativa de golpe, mas alertou para o risco de polarização política decorrente de intervenções externas.
Movimentações políticas no Brasil
A defesa de Bolsonaro, liderada pelo advogado Celso Vilardi, planeja usar a declaração de Trump como parte de sua estratégia para reforçar a narrativa de perseguição política. Em entrevistas recentes, Vilardi questionou a imparcialidade do STF e defendeu que o caso de Bolsonaro deveria ser julgado pelo plenário da Corte, e não pela Primeira Turma.
Enquanto isso, o governo Lula busca evitar que a intervenção de Trump amplifique a base de apoio de Bolsonaro. Pesquisas realizadas em julho de 2025 indicam que 48% dos brasileiros acreditam na inocência do ex-presidente, enquanto 51% apoiam as investigações do STF. A polarização política, intensificada pelo post de Trump, pode influenciar o cenário eleitoral de 2026, embora Bolsonaro permaneça inelegível.