Em uma tarde marcada por depoimentos intensos, a cantora Dawn Richard subiu ao palco do tribunal federal em Nova York para relatar episódios de violência envolvendo Sean “Diddy” Combs e sua ex-namorada, Casandra “Cassie” Ventura. O julgamento, que entrou em seu quinto dia em 16 de maio de 2025, trouxe à tona acusações graves contra o magnata do hip-hop, incluindo associação ilícita, tráfico sexual e transporte para prostituição. Richard, ex-integrante do grupo Danity Kane e da banda Diddy-Dirty Money, descreveu cenas de agressões físicas que presenciou, deixando a audiência atenta aos detalhes de um relacionamento conturbado.
O caso, que começou a ser julgado em 12 de maio, tem atraído atenção global devido à notoriedade de Combs e às alegações que envolvem um suposto império criminoso. Cassie Ventura, considerada a testemunha principal da acusação, também prestou depoimento por quatro dias consecutivos, relatando abusos físicos e psicológicos. A combinação dos testemunhos de Ventura e Richard reforça a narrativa dos promotores de que Diddy usava violência e coerção para controlar mulheres em sua órbita.
As acusações contra Combs incluem:
- Associação ilícita para atividades criminosas;
- Tráfico sexual por força, fraude ou coerção;
- Transporte interestadual para prostituição;
- Uso de violência, incluindo agressões físicas e ameaças;
- Chantagem com vídeos explícitos para silenciar vítimas.
O julgamento, que deve se estender por cerca de dois meses, promete novas revelações à medida que outras testemunhas são chamadas ao tribunal.

Depoimento de Dawn Richard choca tribunal
Dawn Richard, que conheceu Diddy em 2004 no reality show “Making the Band”, detalhou um incidente ocorrido em 2009 na residência do rapper em Los Angeles. Segundo ela, Combs, em um acesso de raiva, tentou acertar Cassie na cabeça com uma frigideira. Ventura conseguiu desviar, mas acabou no chão, encolhida, enquanto o músico a socava e chutava no corpo e na cabeça. Richard relatou que Diddy agarrou Cassie pelo pescoço e a arrastou por uma escada, uma cena que a deixou paralisada de medo.
A testemunha explicou que não interveio ou chamou a polícia por temor de represálias. “Eu nunca tinha visto algo assim antes”, disse Richard, visivelmente emocionada. Ela também mencionou outros episódios em que presenciou Combs agredir Ventura, incluindo um caso em que ele gritava sobre a localização de seu celular antes de atacá-la. Esses relatos corroboram as acusações de que o rapper usava violência para impor controle sobre sua então namorada.
Além de testemunhar sobre Cassie, Richard trouxe à tona suas próprias experiências. Em 2024, ela entrou com um processo contra Combs, alegando abusos físicos e psicológicos durante os anos em que trabalharam juntos. Suas acusações incluem apalpadelas não consentidas e ameaças, o que reforça o padrão de comportamento violento descrito no tribunal.
Testemunho de Cassie Ventura reforça acusações
Cassie Ventura, que namorou Combs de 2007 a 2018, foi a estrela dos primeiros dias do julgamento. Durante quase 20 horas ao longo de quatro dias, ela descreveu um relacionamento marcado por violência, manipulação e coerção sexual. Grávida de seu terceiro filho e visivelmente emocionada, Ventura relatou como Diddy a forçava a participar de encontros sexuais prolongados, chamados de “freak-offs”, que envolviam prostitutos e uso de drogas.
Ela afirmou que Combs a chantageava com vídeos gravados dessas sessões, ameaçando divulgar as imagens caso ela desobedecesse. Um dos momentos mais impactantes de seu depoimento foi a exibição de imagens de câmeras de segurança de 2016, que mostram Diddy a perseguindo em um corredor de hotel em Los Angeles, jogando-a ao chão e chutando-a repetidamente. Ventura disse que o incidente ocorreu após ela tentar fugir de um “freak-off”.
A cantora também revelou que Combs a estuprou em 2018, após o fim do relacionamento, e que a violência era frequente. Em um texto de 2016 mostrado ao júri, ela escreveu: “Você é doente por achar que está tudo bem fazer o que fez comigo”. Ventura afirmou que aceitou um acordo de 20 milhões de dólares em 2023 para encerrar um processo civil contra Combs, mas decidiu testemunhar no julgamento criminal para “fazer o que é certo”.
Detalhes das acusações contra Combs
Sean Combs enfrenta cinco acusações criminais, detalhadas em um indiciamento federal apresentado em setembro de 2024. Os promotores alegam que ele comandava uma organização criminosa que usava sua influência no mundo da música e do entretenimento para explorar mulheres. Os chamados “freak-offs” são centrais na acusação, descritos como eventos sexuais orquestrados por Combs, muitas vezes envolvendo drogas como MDMA e ketamina.
Durante a busca em um hotel em Manhattan, onde Combs foi preso em 16 de setembro de 2024, agentes encontraram evidências materiais. A agente Yasin Binda, da Homeland Security Investigations, testemunhou sobre a descoberta de frascos de óleo para bebês, lubrificantes e uma bolsa contendo substâncias que testaram positivo para ketamina e MDMA. Esses itens, segundo a promotoria, eram usados nos “freak-offs” para criar um ambiente de coerção.
A defesa, liderada pelo advogado Marc Agnifilo, argumenta que os encontros eram consensuais e que Combs participava de um estilo de vida “swinger”. Agnifilo questionou a credibilidade de Ventura, sugerindo que ela era uma parceira ciumenta e que sua memória poderia estar comprometida pelo uso de drogas. A estratégia da defesa tem sido apresentar mensagens de texto entre Ventura e Combs, incluindo algumas de tom afetivo, para sugerir que o relacionamento era voluntário.
Momentos marcantes do julgamento
O tribunal tem sido palco de momentos de grande impacto emocional e jurídico. A seguir, alguns dos destaques do julgamento até o momento:
- Exibição de vídeos de segurança mostrando Combs agredindo Ventura em 2016;
- Depoimento de Ventura sobre chantagem com vídeos explícitos;
- Relato de Richard sobre a tentativa de Diddy acertar Cassie com uma frigideira;
- Evidências materiais, como frascos de óleo e drogas, encontradas no hotel;
- Testemunho de Ventura sobre um suposto estupro em 2018.
A presença de familiares de Combs, incluindo sua mãe, Janice Combs, e seus filhos, Justin e Christian, também tem chamado atenção. Eles compareceram ao tribunal em apoio ao rapper, mas deixaram a sala durante os depoimentos mais explícitos. A ex-parceira de Combs, Misa Hylton, também foi vista saindo abruptamente durante o testemunho de Ventura.
Reações no tribunal e fora dele
A atmosfera no tribunal tem sido tensa, com o juiz Arun Subramanian buscando agilizar os depoimentos devido à gravidez avançada de Ventura, que está no último trimestre. O magistrado determinou que a defesa concluísse a cross-examination de Ventura antes do almoço de sexta-feira, 16 de maio, para evitar que o depoimento se estendesse para a semana seguinte.
Fora do tribunal, o caso gerou grande repercussão nas redes sociais. Posts no X destacam a gravidade das acusações e o impacto cultural do julgamento, com muitos usuários expressando apoio a Ventura e Richard. Alguns comentários, no entanto, questionam a narrativa da acusação, refletindo a polarização em torno da figura de Combs, que por décadas foi um ícone da música e da moda.
A mídia internacional também tem dado ampla cobertura. Veículos como CNN, The Washington Post e The New York Times publicaram atualizações diárias, destacando a importância do caso para discussões sobre abuso de poder no entretenimento. A visibilidade do julgamento é amplificada pela presença de figuras públicas no tribunal, incluindo Alex Fine, marido de Ventura, que deixou a sala durante discussões sobre o suposto estupro de 2018.
Histórico de denúncias contra Combs
As acusações contra Diddy não surgiram do nada. Desde novembro de 2023, mais de 70 processos por abuso sexual foram abertos contra ele, começando com a ação de Ventura, que foi resolvida rapidamente com o pagamento de 20 milhões de dólares. O processo de Ventura abriu caminho para uma investigação federal, que culminou em sua prisão em setembro de 2024.
Outras mulheres, incluindo Dawn Richard, também entraram com ações judiciais. Richard alega que, além de abusos contra ela, testemunhou Combs agredir outras mulheres, como a ex-namorada Kim Porter. Essas denúncias reforçam a tese da promotoria de que Combs mantinha um padrão de comportamento violento e controlador.
O indiciamento federal menciona pelo menos quatro vítimas, duas das quais devem testemunhar sob pseudônimos. A promotoria planeja apresentar vídeos dos “freak-offs”, mas essas imagens serão exibidas apenas para o júri, sem acesso público, para proteger as vítimas de revitimização.
Evidências materiais apresentadas
A busca no quarto de hotel onde Combs foi preso revelou itens que a promotoria considera cruciais. A agente Yasin Binda descreveu a descoberta de:
- Cinco frascos de óleo para bebês no banheiro;
- Uma bolsa com lubrificantes em uma mesa de cabeceira;
- Um frasco de clonazepam registrado sob o pseudônimo Frank Black;
- Sacos com pó rosa que testaram positivo para ketamina e MDMA;
- Um dispositivo para criar “iluminação de ambiente”.
Esses itens, segundo os promotores, eram usados para facilitar os “freak-offs”. Ventura confirmou que Combs usava o pseudônimo Frank Black e que os óleos e lubrificantes eram comuns nos eventos. A defesa, por sua vez, argumenta que a presença desses itens não prova coerção ou tráfico sexual.
Cross-examination e estratégias da defesa
A cross-examination de Ventura, conduzida pela advogada Anna Estevao, focou em retratar o relacionamento com Combs como consensual. A defesa apresentou mensagens de texto de 2009 a 2016, nas quais Ventura expressava afeto por Combs ou parecia planejar “freak-offs”. Em uma mensagem, ela escreveu: “Mal posso esperar pelo próximo FO”. Estevao sugeriu que Ventura participava voluntariamente e que ciúmes, incluindo sua relação com o rapper Kid Cudi, alimentavam conflitos.
Ventura, no entanto, explicou que muitas mensagens eram tentativas de “controle de danos” para evitar a raiva de Combs. Ela afirmou que os “freak-offs” se tornaram uma “tarefa” que ela temia, especialmente quando gravados. A defesa também questionou o uso de drogas por Ventura, insinuando que sua memória poderia estar comprometida, mas ela manteve sua versão dos fatos.
Conexão com outras testemunhas
Dawn Richard não foi a única a corroborar as acusações de Ventura. Daniel Phillip, um ex-prostituto que testemunhou no primeiro dia, afirmou ter sido pago por Combs para participar de “freak-offs” entre 2012 e 2014. Ele descreveu encontros sexuais explícitos sob o comando de Combs, o que reforça a narrativa de coerção sexual.
Israel Florez, ex-segurança do hotel InterContinental em Los Angeles, também testemunhou, confirmando detalhes do incidente de 2016 capturado em vídeo. A combinação desses depoimentos cria um quadro robusto para a promotoria, que busca provar que Combs operava uma rede criminosa com ramificações interestaduais.
Repercussão na indústria do entretenimento
O julgamento de Combs tem levantado questões sobre o poder e a responsabilidade de figuras influentes no entretenimento. A Bad Boy Records, fundada por Combs, foi por décadas um símbolo de sucesso no hip-hop, lançando artistas como Notorious B.I.G. e Mary J. Blige. Agora, a reputação do selo está sob escrutínio, com ex-artistas como Richard revelando bastidores de abuso.
Organizações de apoio a vítimas de violência doméstica têm usado o caso para destacar a importância de denunciar abusos, especialmente em relacionamentos com desequilíbrios de poder. Grupos como a National Sexual Assault Hotline relataram um aumento nas chamadas desde o início do julgamento, indicando que o caso está incentivando vítimas a buscar ajuda.
Próximos passos do julgamento
O tribunal deve ouvir novas testemunhas na próxima semana, incluindo pelo menos duas mulheres que testificarão sob pseudônimos. A promotoria planeja apresentar mais evidências digitais, como mensagens e vídeos, para reforçar a tese de que Combs usava seu império para explorar mulheres. A defesa, por sua vez, deve chamar testemunhas como Alex Fine, marido de Ventura, para questionar alegações específicas, como o suposto estupro de 2018.
O juiz Subramanian tem mantido um ritmo acelerado, com sessões diárias começando às 9h15. A expectativa é que o julgamento dure até julho, com o júri deliberando sobre um veredicto que pode resultar em prisão perpétua para Combs se ele for condenado por todas as acusações.