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Tarcísio culpa Lula por tarifa de Trump e busca soluções com empresas paulistas

Tarcísio culpa Lula por tarifa de Trump e busca soluções com empresas paulistas

tarcisio de freitas governador de sao paulo

O anúncio de uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras para os Estados Unidos, feito pelo presidente Donald Trump em 9 de julho de 2025, desencadeou uma crise econômica e política no Brasil. A medida, que entra em vigor em 1º de agosto, foi justificada por Trump como resposta a supostos ataques à liberdade de expressão e à persecução judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Em São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas se reuniu com Gabriel Escobar, da Embaixada dos EUA, para discutir os impactos da taxa na indústria e no agronegócio. O petista Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, prometeu retaliar com base na Lei da Reciprocidade Econômica, enquanto Tarcísio atribuiu a responsabilidade ao governo federal. A decisão de Trump, a mais alta entre as tarifas impostas a 22 países, ameaça setores-chave da economia brasileira e intensifica disputas políticas internas.

A reação de Tarcísio foi imediata. Em postagem no X, ele afirmou que a responsabilidade pela tarifa recai sobre o governo Lula, acusando-o de priorizar ideologia em detrimento da economia. O governador, aliado de Bolsonaro, já havia criticado o Planalto na véspera, apontando que a tensão com os EUA era resultado de decisões equivocadas.

Principais pontos da crise:

O embate entre Lula e Tarcísio reflete não apenas a crise econômica iminente, mas também a polarização política que ganha força às vésperas das eleições de 2026.

Reações à tarifa no Brasil
A imposição da tarifa de 50% pegou o Brasil desprevenido. Setores industriais e do agronegócio, que dependem fortemente do mercado americano, expressaram preocupação com a viabilidade de suas operações. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) alertou que a medida pode custar milhares de empregos, especialmente em São Paulo, maior polo industrial do país. O estado, responsável por cerca de 30% das exportações brasileiras, enfrenta um cenário de incerteza.

Tarcísio, em sua reunião com Gabriel Escobar, buscou entender os reflexos da tarifa para empresas americanas que operam no Brasil. Ele prometeu abrir um canal de diálogo com o setor privado paulista, utilizando dados econômicos para negociar possíveis soluções. A iniciativa do governador, no entanto, foi vista por aliados de Lula como uma tentativa de capitalizar politicamente a crise.

A ministra Gleisi Hoffmann, das Relações Institucionais, rebateu as críticas de Tarcísio, acusando-o de alinhamento com Bolsonaro e de endossar a “chantagem” de Trump. Para ela, a tarifa é uma extensão das tensões políticas envolvendo o julgamento do ex-presidente no Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também criticou o governador, ironizando que ele seria um “candidato a vassalo” dos interesses americanos.

Impactos econômicos da tarifa
A economia brasileira, já pressionada por desafios internos, enfrenta um novo obstáculo com a tarifa de Trump. O Brasil é o segundo maior parceiro comercial dos EUA na América Latina, atrás apenas da China. Em 2024, as exportações brasileiras para os EUA totalizaram US$ 42 bilhões, com destaque para produtos como café, carne bovina, suco de laranja e aço.

A tarifa de 50% deve encarecer significativamente esses produtos no mercado americano, reduzindo a competitividade brasileira. No setor de carnes, por exemplo, analistas preveem que o imposto efetivo pode chegar a 76%, considerando taxas setoriais já existentes. Isso pode abrir espaço para concorrentes como a Austrália, que já sinalizou interesse em ampliar suas exportações de carne bovina para os EUA.

Outros produtos afetados incluem:

O impacto no consumidor americano também é uma preocupação. Economistas apontam que a tarifa pode elevar os preços de alimentos como hambúrgueres e café, itens essenciais na cesta básica dos EUA.

Justificativas de Trump e contexto político
A carta enviada por Trump ao presidente Lula revelou o caráter político da tarifa. O documento cita o julgamento de Jair Bolsonaro, acusado de tentar um golpe de Estado após as eleições de 2022, como um dos motivos para a medida. Trump classificou o processo como uma “vergonha internacional” e exigiu seu encerramento, uma demanda que analistas consideram uma interferência direta na soberania brasileira.

Além disso, Trump acusou o Brasil de atacar a liberdade de expressão, referindo-se a decisões do STF que responsabilizam plataformas digitais por conteúdos que incitam violência. A menção a “ataques insidiosos” contra eleições livres foi interpretada como uma crítica à regulamentação de redes sociais no Brasil, um tema sensível para aliados de Bolsonaro.

A decisão de Trump também reflete sua estratégia de usar tarifas como ferramenta de pressão geopolítica. Economistas como Paul Krugman, Nobel de Economia, destacaram que a tarifa contra o Brasil é um exemplo de como os EUA utilizam políticas comerciais para fins políticos. O ex-presidente do Banco Central Alexandre Schwartsman reforçou que a menção a Bolsonaro indica uma motivação ideológica, e não econômica.

Resposta do governo Lula
Lula reagiu com firmeza ao anúncio de Trump. Em pronunciamento, o presidente defendeu a independência das instituições brasileiras e afirmou que o país não se curvará a pressões externas. Ele destacou que o julgamento de Bolsonaro é uma questão interna, conduzida pela Justiça brasileira, e que qualquer tentativa de interferência será rechaçada.

A Lei da Reciprocidade Econômica, mencionada por Lula, permite ao Brasil impor tarifas equivalentes sobre produtos americanos. Entre os alvos potenciais estão bens de consumo, como eletrônicos, medicamentos e combustíveis, que representam uma fatia significativa das importações brasileiras. O governo também avalia recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) para contestar a legalidade da tarifa americana.

Lula ainda rebateu as alegações de Trump sobre a relação comercial entre os dois países. Dados oficiais mostram que os EUA mantêm um superávit comercial com o Brasil desde 2009, com um acumulado de US$ 90,28 bilhões até junho de 2025. Essa realidade contradiz a narrativa de Trump de que o Brasil impõe barreiras comerciais injustas.

Tensões políticas internas
O embate entre Lula e Tarcísio expôs as divisões políticas no Brasil. O governador de São Paulo, cotado como possível candidato à Presidência em 2026, aproveitou a crise para criticar o governo federal e reforçar sua aliança com Bolsonaro. Suas declarações no X, onde responsabilizou Lula pela tarifa, foram vistas como uma tentativa de consolidar apoio entre eleitores conservadores.

Por outro lado, o PT e seus aliados acusam Tarcísio de oportunismo político. Gleisi Hoffmann sugeriu que o governador está alinhado com os interesses de Trump e Bolsonaro, enquanto Haddad questionou sua lealdade aos interesses nacionais. A polarização entre os dois lados deve se intensificar à medida que a crise econômica se agrava.

A sociedade civil também reagiu. Em São Paulo, protestos contra a tarifa de Trump ocorreram na quinta-feira (10), com manifestantes queimando efígies do presidente americano e de Bolsonaro. As manifestações, embora pequenas, refletem o descontentamento com a possibilidade de aumento do desemprego e dos preços.

Perspectivas para a economia paulista
São Paulo, como principal centro econômico do Brasil, será um dos estados mais afetados pela tarifa. O agronegócio, que representa 25% do PIB estadual, depende das exportações para os EUA, especialmente de suco de laranja e carne. A indústria, por sua vez, enfrenta desafios com a siderurgia e a manufatura, setores já impactados por tarifas setoriais.

Tarcísio anunciou que o governo estadual conduzirá estudos para avaliar o impacto da tarifa e identificar medidas de mitigação. Entre as propostas estão:

Apesar das iniciativas, analistas alertam que as soluções de curto prazo são limitadas. A dependência do mercado americano e a magnitude da tarifa dificultam uma resposta imediata.

Relações bilaterais em xeque
A tarifa de Trump marca um ponto de inflexão nas relações entre Brasil e EUA. Historicamente, os dois países mantiveram uma parceria comercial sólida, com os EUA sendo o segundo maior destino das exportações brasileiras. A decisão de Trump, no entanto, introduz um elemento de instabilidade que pode reverberar por anos.

A Embaixada dos EUA em Brasília, em nota, reforçou que mantém diálogos regulares com governadores brasileiros e que busca promover a cooperação bilateral. A reunião entre Tarcísio e Gabriel Escobar, embora protocolar, sinaliza que há interesse em manter canais de comunicação abertos, mesmo em meio à crise.

O futuro das negociações dependerá da capacidade do Brasil de articular uma resposta coordenada. Enquanto Lula aposta na reciprocidade e na diplomacia multilateral, Tarcísio busca soluções regionais, destacando o papel de São Paulo na economia nacional.

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