Por: Eliton Muniz – Redator FreeLancer
“Nem todo grito de soberania é sinal de força. Às vezes, é só o eco de quem já perdeu o controle da própria narrativa.”
Na diplomacia do século XXI, muitas batalhas não se travam em parlamentos ou assembleias da ONU, mas em posts carimbados com emojis presidenciais e declarações embaladas para viralizar. Foi o que se viu nesta quarta-feira (9), quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu responder — em alto e bom som — a uma manifestação pública do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O cenário? Uma guerra fria digital.
O território? As redes sociais.
A munição? Soberania e economia de 280 caracteres.
A resposta que virou manchete
No texto compartilhado por aliados como Henrique Vieira, o governo brasileiro defendeu o país como “soberano” e “dos brasileiros”, refutando qualquer tentativa de tutela estrangeira. Sobrou para Trump, para o déficit comercial dos EUA, e até para empresas de tecnologia que operam no Brasil sem, segundo o Planalto, respeitar as “normas democráticas”.
A retórica é bonita. Patriótica. Aplaudida por muitos.
Mas quando o discurso sobe o tom, convém checar se os telhados estão de vidro fosco ou de cristal trincado.
A crítica disfarçada de coragem
Enquanto Lula reage a Trump em rede social, o povo brasileiro segue no escuro sobre decisões internas cruciais.
Onde está a mesma altivez na hora de cobrar transparência do STF?
Cadê o enfrentamento contra a censura seletiva disfarçada de moderação?
E a soberania dos brasileiros que veem seus perfis derrubados sem explicação ou respaldo legal — vale menos que o algoritmo estrangeiro?
Soberania seletiva não é soberania.
É teatro diplomático.
No mesmo post em que se fala de “respeito à legislação nacional”, o silêncio é ensurdecedor diante dos julgamentos politizados e dos acordos internacionais que atropelam o Congresso. O grito contra Trump não ecoa da mesma forma quando se trata de defender os brasileiros que estão aqui, em solo firme, pagando a conta.
O déficit de lucidez e o superávit de símbolos
Lula diz que os Estados Unidos têm um superávit de 410 bilhões de dólares com o Brasil nos últimos 15 anos — argumento técnico para rebater a acusação de déficit norte-americano. Está certo. Dados são importantes.
Mas quem calcula o déficit de respeito à soberania popular no Brasil?
— Quando uma empresa americana manda e desmanda na internet nacional, isso não é ingerência?
— Quando decisões judiciais viram símbolo de guerra ideológica, isso não é interferência?
— Quando o Executivo se dobra ao politicamente correto global e ignora a pluralidade brasileira, isso não é submissão?
Na prática, o Brasil vive um paradoxo: grita para fora e cochicha para dentro.
Defende a Constituição na ONU, mas ignora seus próprios princípios ao negociar com ditaduras. Fala em respeito democrático, mas criminaliza opiniões divergentes com base em relatórios sigilosos e interpretações voláteis.
Quem tutela quem?
A fala de Lula serve para alimentar o teatro geopolítico — onde países se acusam, se provocam e depois se abraçam em rodadas comerciais. Mas o cidadão brasileiro, esse sim, precisa de uma soberania mais concreta.
Uma que garanta:
• Liberdade de expressão sem vigilância de pensamento;
• Justiça sem protagonismo político;
• Economia sem bajulação de potências estrangeiras;
• E redes sociais onde o brasileiro não precise de tradução para ser entendido — ou perdão para ser ouvido.
“No Acre, as paredes ouvem e os telhados têm memória.”
A diplomacia nacional também deveria ter.
Porque no fim…
Não se governa com frases de efeito em post institucional.
Nem com soberania de palco em guerra de tuítes.
Quem cuida do Brasil não pode só mirar Washington —
Precisa também escutar Xapuri, o Bujari, o Juruá, o povo real.
Por: Eliton Muniz – Redator FreeLancer
📌 Palavra-chave: política Acre, colunista Eliton Muniz, crítica social, bastidores do poder, governo do Acre, análise política
