sexta-feira, 5 dezembro, 2025

Soberania de ocasião e indignações seletivas

A Coluna “Perfil do Tom” reflete sobre a seletividade no discurso de soberania nacional, criticando a incoerência política de figuras como Perpétua Almeida. Uma análise firme sobre memória curta e ética volátil nos bastidores do pode

Redação - Cidade AC News - Eliton Muniz

Soberania de ocasião e indignações seletivas

Nem toda urgência é genuína. Há alarmes que soam mais como pirotecnia política do que como defesa legítima da pátria. E quando o grito por “soberania” parte de quem já se calou – ou conivente se fez – em momentos decisivos da história recente, a palavra perde seu peso. Vira slogan, não valor.

Soberania de ocasião e indignações seletivas
Soberania de ocasião e indignações seletivas

A deputada federal Perpétua Almeida bradou nas redes sociais contra um suposto “grande prejuízo” ao Brasil, atribuído a Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo, que, segundo ela, teriam convencido Donald Trump a taxar produtos brasileiros em 50%. E encerra com a convocação: “É hora de nos unirmos em defesa de nossa soberania!”

Mas… soberania mesmo, deputada?

Onde estavam os gritos quando…

Quando o Brasil se ajoelhava para acordos lesivos de mineração em terras indígenas, travestidos de progresso e desenvolvimento, onde estavam os defensores da soberania? A entrega de territórios sagrados à sanha de multinacionais, muitas vezes com o aval silencioso ou entusiasta de parlamentares ditos progressistas, não configurava também a violação dos interesses nacionais? E a base de Alcântara, no Maranhão — solo quilombola, herança viva de resistência negra —, foi negociada com os Estados Unidos sob a desculpa de cooperação tecnológica, mas sem garantir retorno justo às comunidades que ali vivem há gerações. Onde estavam os gritos naquele momento? Silenciaram-se diante da “aliança estratégica”, como se a soberania pudesse ser suspensa em nome de favores diplomáticos.

E que dizer dos milhões do BNDES enviados para financiar obras em Cuba, Angola, Venezuela e outros países do bloco bolivariano, enquanto hospitais brasileiros enfrentavam colapsos e escolas caíam aos pedaços? A soberania foi rifada em nome de uma “solidariedade internacional” que serviu muito mais a interesses geopolíticos de partidos do que ao bem-estar do povo brasileiro. Projetos ideológicos que se impuseram sobre a prudência econômica, interferindo nos rumos internos do Brasil sob o disfarce de integração latino-americana. Quem aplaudiu tais decisões não pode agora posar de defensor da pátria. Porque soberania não é bandeira de ocasião — é princípio que não pode ser dobrado ao vento das conveniências ideológicas.

A crítica seletiva vira escudo

A verdade é que muitos dos que hoje se dizem paladinos da soberania fizeram vista grossa quando seus aliados políticos avançaram sobre os mesmos princípios. Defender a soberania, sim. Mas sem relativismos. Porque soberania não é apenas barrar carta de ex-presidente norte-americano. É proteger a Amazônia de ONGs internacionais com agendas paralelas. É impedir que a diplomacia brasileira vire moeda de troca para conveniências partidárias. É garantir que o Brasil fale por si – com voz forte, sem ecoar interesses externos disfarçados de cooperação.

O silêncio anterior também fala — e às vezes grita pelo avesso

Perpétua Almeida, é sempre bom lembrar, não é novata no jogo. É liderança histórica da ala mais à esquerda da política acreana e já ocupou nada menos que a presidência da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara. Ou seja: cadeira, microfone e pauta ela teve de sobra. Teve holofotes, poder de fala, de agenda e de denúncia. Mas, curiosamente, as indignações mais inflamadas sempre parecem coincidir com o CPF do adversário político do momento.

Quando as ingerências vinham da turma “amiga”, o tom era diplomático, quase poético. Chamava-se de “integração regional” o que era interferência. Chamava-se de “cooperação internacional” o que era alinhamento cego. Soberania, nessa época, devia estar tomando um chá com Simón Bolívar em algum comitê binacional de obviedades.

Agora, ao menor sinal de um gesto estapafúrdio de Trump – que, sejamos justos, também nunca foi embaixador da prudência –, levanta-se o dedo em riste, a voz em caixa alta e a pátria em risco iminente. O problema não é reagir. É reagir seletivamente, como quem escolhe quando a Constituição vale e quando é só uma folha de discurso de plenário.

Uma soberania que só aparece para castigar os outros e se esconde para blindar os seus não emancipa ninguém. Pelo contrário: escraviza o debate público dentro das trincheiras rasas da ideologia. Quando o senso de nação vira acessório de retórica partidária, não é a oposição que se enfraquece. É o Brasil que murcha.

A carta de Trump é grave? Sim. Mas o contexto é mais grave ainda

Se a alegação for verdadeira, e Trump realmente interviu por influência direta de políticos brasileiros para prejudicar o próprio país, trata-se de uma ação deplorável. Mas isso não pode dar salvo-conduto para que antigos erros sejam esquecidos. Soberania exige coerência, e coerência exige memória.

Política externa não se faz com postagens em tom de desespero, nem com likes inflamados. Faz-se com estratégia, compostura institucional e compromisso com o país – em qualquer governo.

Quando a indignação tem endereço fixo, perde a legitimidade

Não é hora de escolher lados. É hora de escolher princípios. O Brasil merece líderes que defendam sua soberania em tempo integral – não apenas quando isso favorece a narrativa da semana.

Porque, no Acre – e no Brasil – as paredes ouvem.
E os telhados têm memória.

Por: Eliton Muniz – Redator FreeLancer

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