Ícone do site Cidade AC News | Notícias do Acre, Amazônia e Brasil

Separar o Estado da Campanha: resposta equilibrada aos exageros de Luiz Calixto

Separar o Estado da Campanha: resposta equilibrada aos exageros de Luiz Calixto | Cidade AC News – Notícias do Acre

Diante das recentes declarações do secretário de Governo, Luiz Calixto, sobre incentivos fiscais, atuação do TCE e a antecipação da candidatura de Mailza Assis, o analista político e administrador Eliton L. Muniz propõe um olhar institucional e moderado sobre os fatos, reforçando a importância de separar a execução do Estado da antecipação eleitoral, e valorizar a prudência como instrumento de credibilidade política.

Quando a palavra atropela o calendário

Não é de hoje que a política acreana se confunde entre o governo que executa e o discurso que antecipa. A entrevista do secretário Luiz Calixto, concedida nesta semana ao programa Bar do Vaz, trouxe elementos que merecem reflexão. Houve defesa legítima do governo Gladson Cameli, sem dúvida. Mas houve também exageros que atropelam o calendário institucional e podem fragilizar uma gestão que ainda está em curso e cujos resultados falam mais alto que qualquer projeção.

Tribunal de Contas: crítica mal endereçada

A crítica à conselheira Naluh Gouveia, por sugerir uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar renúncias fiscais, escorregou na forma e no conteúdo. O Tribunal de Contas é, por essência, um órgão opinativo, fiscalizador e provocador de debates técnicos. Não tem poder de instaurar CPIs, tampouco de legislar ou executar.

Atacar o gesto como “militância política” é um ruído desnecessário para uma gestão que sempre defendeu o diálogo com as instituições. O espaço da audiência pública foi legítimo, e a crítica também pode ser — especialmente quando há bilhões em renúncias fiscais sem retorno quantitativo comprovado.

Transformar um apontamento técnico em combate político só enfraquece a transparência que deveria ser o DNA do governo.

Incentivos fiscais não são o centro da economia

Outro ponto problemático foi a afirmação de que “a economia do Acre gira em torno dos incentivos fiscais”. Essa é uma meia verdade que precisa ser contextualizada.

O incentivo é uma ferramenta. Importante, sim, mas não é o alicerce exclusivo do desenvolvimento.

Senado: não existe eleição antecipada

Ao afirmar que o governador Gladson Cameli já estaria “praticamente eleito senador”, Calixto incorre em um entusiasmo perigoso. A política ensina que a única vaga garantida é a que já foi preenchida pelas urnas. As demais pertencem ao povo, não aos confidentes de gabinete.

Não há, até o momento, pesquisa pública registrada no TSE que sustente essa afirmação. Não há cenário consolidado, nem adversários definidos. A antecipação triunfalista pode gerar mais ruído do que mobilização — e nenhum político sério deseja isso em véspera de entrega.

Quando campanha vira risco institucional

Confundir projeto de governo com plano de sucessão é como pintar faixa de pedestre em rodovia federal: pode parecer sinalização, mas é desvio de função. O povo espera condução, não corrida.

A atual gestão tem muito a entregar. Maternidade nova, investimentos em ramais, estruturação da previdência, contenção de gastos com pessoal — tudo isso são entregas concretas. O foco precisa estar aí.

A vice-governadora Mailza Assis, que naturalmente surge como nome do Progressistas, merece ter sua imagem associada ao desempenho institucional, e não à ansiedade eleitoral. O que se espera é preparo, serenidade e respeito ao tempo da política.

Reflexão de fundo: a liturgia do cargo vale para todos

Há um conceito clássico na administração pública chamado “liturgia do cargo”. Serve para juízes, conselheiros, secretários e também governadores. Ser governo não é estar sempre certo — é ser responsável por tudo que dá certo ou errado.

E um governo que começa a se antecipar ao julgamento eleitoral corre o risco de errar o tom, desmobilizar aliados e atropelar alianças. É preciso pisar no chão, não apenas nos microfones. E lembrar que o eleitor acreano já viu esse filme antes — de prefeitos que largaram o cargo para tentar algo maior… e ficaram sem nada.

Política sem serenidade é estratégia com prazo de validade curto

O governador Gladson Cameli tem demonstrado, com sua postura equilibrada e institucional, que é possível fazer política sem perseguição, sem gritos e sem imposições. Sua liderança é construída na confiança, no diálogo e no respeito ao contraditório.

O governo que ele conduz precisa continuar governando. Não é hora de campanha. É hora de foco, entrega e responsabilidade.

Os exageros que surgem no calor da entrevista devem ser tratados com maturidade. E cabe a nós – que defendemos um Acre estável, próspero e democrático – lembrar que a boa política começa com bons modos e termina com bons resultados.

Que as falas apaixonadas deem espaço à razão. E que as convicções pessoais não se sobreponham à lógica institucional.

O que sustenta o governo Gladson Cameli até aqui não é a promessa de vitória, mas o compromisso com o presente.

Sair da versão mobile