A política da SEE que leva a escola até onde o aluno estiver
No Acre, a educação ultrapassa os muros das escolas públicas, municipais e privadas. Com a Secretaria de Estado de Educação e Cultura (SEE) à frente, programas como o Atendimento Pedagógico Domiciliar (APD) e as Classes Hospitalares asseguram que crianças e adolescentes em tratamento de saúde não percam o direito de estudar e de se desenvolver integralmente.
O APD foi criado para atender estudantes que, por razões médicas, não conseguem frequentar a escola. O serviço é realizado diretamente na residência do aluno, garantindo acompanhamento individualizado, respeitando o ritmo e as necessidades específicas de cada estudante. Já as Classes Hospitalares, localizadas dentro de hospitais e unidades de internação, oferecem atividades educativas adaptadas, lúdicas e pedagógicas, mantendo o vínculo escolar mesmo durante períodos prolongados de internação.
A política da SEE demonstra um compromisso claro com educação inclusiva e direitos humanos. Mais do que transmitir conteúdo acadêmico, o programa promove dignidade, autoestima e desenvolvimento integral, elementos essenciais para crianças que enfrentam desafios de saúde.
Atualmente, mais de 115 estudantes recebem atendimento domiciliar, em Rio branco. enquanto as Classes Hospitalares realizam mais de 90 atendimentos mensais, com o apoio de professores especializados, preparados para adaptar currículos e metodologias a cada necessidade.

Segundo Maria Clarice Oliveira do Nascimento, assessora pedagógica do Departamento de Educação Especial, garante que o compromisso é com o estudante:
“Nosso compromisso é garantir que nenhum estudante perca o direito à educação. Quando ele não pode ir até a escola, levamos a escola até ele. É uma educação que se adapta à realidade de cada aluno, respeitando suas condições de saúde e promovendo aprendizado de forma humanizada”, afirmou Clarice.
Como funcionam o APD e as classes hospitalares
O Atendimento Pedagógico Domiciliar atende estudantes matriculados na rede escolar que estão temporariamente ou permanentemente impossibilitados de frequentar a escola devido a problemas de saúde, mediante comprovação médica. A professora visita a residência do aluno, oferecendo atividades que seguem o currículo da escola, ajustadas de acordo com a condição de cada criança, com estratégias pedagógicas personalizadas que promovem o aprendizado dentro das limitações impostas pela saúde.
Por outro lado, o Atendimento Hospitalar ocorre dentro das unidades de saúde, abrangendo hospitais e unidades de atenção integral. Em Rio Branco, existem Três Classes Hospitalares: no Hospital da Criança, pioneiro desde 1990, no Hospital de Saúde Mental do Acre (Hosmac), e no Hospital do Câncer (Unacon). Nessas unidades, os professores seguem o currículo escolar e, quando necessário, aplicam atividades diversificadas, como contação de histórias, música, jogos educativos e projetos lúdicos, sempre respeitando o ritmo e a condição de cada aluno.

Maria Clarice detalha o que acontece quando uma criança precisa utilizar o programa:
“Quando a criança chega ao hospital, a professora já realiza uma entrevista com a família e inicia o atendimento. Muitos pais confundem a sala com a brinquedoteca, mas hoje reconhecem que se trata de um verdadeiro ambiente escolar, com atividades pedagógicas e acompanhamento contínuo. É um espaço de aprendizado e cuidado simultaneamente”, esclareceu a assessora.
A colaboração entre Classes Hospitalares e Brinquedoteca é estratégica. Enquanto a sala de aula mantém o foco no currículo, a brinquedoteca oferece atividades lúdicas, recreativas e de socialização. Clarice explica sobre a parceria que acontece no Hospital da Criança:
“As professoras da classe e as equipes da brinquedoteca trabalham juntas, promovendo festas, projetos e atividades recreativas, mas sempre garantindo que a criança aprenda e mantenha o vínculo com a escola”, afirmou Clarice.
O impacto humano das Classes Hospitalares

Camila Rebeca dos Santos Rodrigues de Almeida, de 9 anos, moradora do município de Sena Madureira, enfrenta com força e entusiasmo o tratamento de saúde que inclui a retirada da bolsa de colostomia. Camila também é atendida pela Classe Hospitalar durante seu tratamento médico. Apesar de sua jovem idade, Camila demonstra vontade pelo aprendizado, participando de atividades que incluem histórias em quadrinhos, pesquisas científicas e trabalhos sobre saúde, como projetos sobre o Aedes aegypti, que combinam diversão e aprendizado.
Camila compartilhou sua experiência enfatizando que tem aprendido muito:
“Aqui é muito legal e divertido. Aprendi bastante, e não perdi o foco nos estudos. Estou fazendo um trabalho que vale mil reais e me ajuda a pensar nos meus sonhos”, afirmou Camila.
Ela também revela que sonha em ser modelo, mostrando que a educação vai além do currículo escolar: fortalece autoestima, incentiva sonhos e contribui para a construção da identidade.
O caso de Camila evidencia que a Classe hospitalar não se limita ao ensino acadêmico; trata-se de uma abordagem holística, promovendo desenvolvimento cognitivo, emocional e social, mesmo durante períodos de internação prolongada.
Cauã Soares recebe dedicação, individualização e evolução em seu aprendizado
Enquanto Camila é atendida pela classe hospitalar, outro exemplo de transformação educacional no Acre é Cauã Soares, estudante que recebe Atendimento Pedagógico Domiciliar (APD) há seis anos. Cauã convive com encefalopatia crônica não evolutiva, popularmente conhecida como paralisia cerebral, que o impede de frequentar a escola presencialmente.

Seu aprendizado é conduzido pela professora Nazaré Arruda, mais conhecida como Nazinha, que desenvolve atividades individualizadas, adaptadas e funcionais, utilizando alta e baixa tecnologia. O Plano de Ensino Individualizado (PEI) garante que cada aula seja pensada de acordo com as necessidades, habilidades e potencialidades de Cauã, integrando o acompanhamento da escola, a orientação da equipe pedagógica e a participação ativa da família.
A professora Nazinha explica como realiza seu trabalho:
“Trabalhamos habilidades funcionais, comunicação, dicção, coordenação motora e autonomia. Cauã evoluiu muito, não apenas cognitivamente, mas também emocionalmente. Hoje ele sorri, participa das aulas e mantém o vínculo com a escola, mesmo dentro de casa. Cada avanço é celebrado, porque sabemos que cada passo representa mais independência e qualidade de vida para ele.”
A mãe de Cauã, Francisca Adriana, reforça a importância do APD:
“É impossível descrever o quanto o APD mudou a vida do meu filho. Ele desenvolve habilidades, mantém autoestima e participa da vida escolar. A dedicação da professora é impressionante, ela adapta materiais, cria estratégias e garante que Cauã aprenda dentro das suas capacidades.”
As aulas são realizadas no chão, junto ao colchão em que Cauã permanece por questões de segurança e conforto. Tarjetas com velcro, sequências didáticas e atividades funcionais são algumas das ferramentas utilizadas para estimular o aprendizado e promover a autonomia, mostrando que a educação pode ser totalmente adaptada às limitações físicas e cognitivas do aluno.
35 anos das classes hospitalares: tradição e compromisso

O Hospital da Criança, pioneiro no Acre, celebra 35 anos de atendimento hospitalar pedagógico no próximo dia 25 de novembro. A unidade é referência em educação inclusiva, garantindo que crianças internadas não percam o direito de estudar e se desenvolver.
Clarice destaca a relevância histórica e social:
“Apesar de 35 anos de história, muitas pessoas ainda desconhecem a existência dessa classe. A educação hospitalar não é visível para todos, mas é essencial para manter o vínculo escolar e o desenvolvimento integral das crianças.”
As outras unidades hospitalares seguem o mesmo modelo, atendendo estudantes de diferentes idades e condições de saúde, reafirmando o compromisso do Acre com uma educação inclusiva, equitativa e humanizada.
ENAEHD e SINAEHD: debate nacional e internacional

Entre os dias 21 e 23 de outubro, o Acre sediou o 13º Encontro Nacional de Atendimento Escolar Hospitalar e Domiciliar (ENAEHD) e o 3º Simpósio Internacional (SINAEHD). Os eventos ocorreram no Teatro da Universidade Federal do Acre (Ufac), com transmissão online para profissionais de todo o Brasil e do exterior, consolidando o estado como referência em políticas de educação hospitalar e domiciliar.
O encontro reuniu gestores, educadores, pesquisadores e especialistas para debater políticas públicas, metodologias pedagógicas, experiências inovadoras e estratégias de ensino inclusivo. A programação incluiu mesas-redondas, palestras e debates que fortalecem o intercâmbio de práticas educacionais e consolidam o Acre como exemplo de compromisso com a educação de estudantes em situação de vulnerabilidade.
O simpósio também permitiu a troca de experiências entre profissionais, contribuindo para a formação contínua dos professores, o aprimoramento das metodologias pedagógicas e a disseminação de boas práticas em outros estados e países.
O olhar da gestão
O secretário de Educação e Cultura, Abson Carvalho, reforça que os programas refletem um compromisso com a educação universal, inclusiva e de qualidade:
“Não é o aluno que deve correr atrás da escola. É a escola que deve encontrar o aluno onde ele estiver, seja no hospital, em casa ou em regiões de difícil acesso. A educação existe mesmo na floresta, onde há desafios de infraestrutura. Estamos garantindo o direito à educação em qualquer lugar.”
Carvalho também enaltece o governador Gladson Cameli
“É importante reconhecer o apoio do governador, que sempre esteve comprometido com a educação inclusiva e garantiu condições para que programas como o APD e as classes hospitalares funcionem de forma permanente. Sem essa visão e investimento, seria impossível alcançar os resultados que vemos hoje.”
O secretário relembra a atuação dos professores durante a pandemia:
“Mesmo com escolas fechadas, os educadores levaram atividades para as casas, garantindo que os alunos continuassem aprendendo. Isso mostra a resiliência e a capacidade de reinvenção do docente, que mantém acesa a chama da educação em qualquer situação.”
Segundo Carvalho, o APD e as Classes Hospitalares não apenas asseguram a aprendizagem, mas também promovem autonomia, autoestima e desenvolvimento emocional, essenciais para a formação integral dos estudantes.
Metodologias pedagógicas: inovação e adaptação
O trabalho das professoras envolve planejamento detalhado e constante adaptação das atividades. No APD, cada aula é pensada individualmente, considerando tempo de atenção, condição de saúde, habilidades cognitivas e emocionais do aluno.
No hospital, as aulas incorporam tecnologias educacionais, contação de histórias, música, jogos e atividades artísticas, garantindo aprendizado significativo mesmo em ambientes desafiadores. Essa combinação entre ensino formal e atividades lúdicas é fundamental para estimular a criatividade, a concentração e a motivação dos estudantes.

As professoras, muitas vezes, atuam em situações complexas, ajustando o currículo escolar às limitações físicas ou cognitivas, promovendo ensino funcional, que prepara o aluno para habilidades práticas e autonomia no dia a dia, sem deixar de lado os conteúdos acadêmicos essenciais.
Depoimentos e experiências: o valor humano do programa
O APD e as classes hospitalares impactam diretamente a vida das famílias. Para Francisca Adriana, mãe de Cauã:
“O APD garante ao meu filho não apenas aprendizado, mas dignidade, autoestima e participação na sociedade. A professora Nazinha é sensível, dedicada e competente. Ela adapta materiais, cria estratégias e faz tudo para que Cauã aprenda dentro das suas possibilidades. É mais do que educação, é cuidado e inclusão.”
Para Camila, atendida pela classe hospitalar:
“Aqui é divertido e educativo. Aprendi bastante e não perdi o foco nos estudos. Eu quero ser modelo e sei que estudar me ajuda a alcançar meus sonhos.”
Esses depoimentos evidenciam que o programa vai além do ensino tradicional, promovendo transformação social, inclusão e valorização da criança como sujeito de direitos.
Educação, dignidade e inclusão

O Atendimento Pedagógico Domiciliar e Hospitalar no Acre é um modelo exemplar de educação inclusiva e humanizada, que garante a continuidade do aprendizado, respeita as particularidades de cada aluno e fortalece o direito à educação e à dignidade humana.
As histórias de Camila Rebeca e Cauã Soares, somadas ao trabalho de Nazinha e Clarice, demonstram que o programa não se limita à transmissão de conhecimento, mas promove autoestima, vínculo escolar, desenvolvimento integral e sonhos.
O Acre mostra que é possível levar a escola até onde o aluno estiver, mesmo em situações de vulnerabilidade ou limitações físicas e de saúde. Este modelo educacional representa inclusão, cuidado, equidade e transformação social, inspirando políticas e práticas educacionais em todo o Brasil e internacionalmente.














