A alta constante no preço dos alimentos básicos tem pressionado o orçamento das famílias brasileiras, especialmente aquelas que dependem do salário mínimo para sobreviver. Em maio de 2025, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) projeta que o salário mínimo necessário para atender às necessidades de uma família de quatro pessoas ultrapasse os R$ 7,2 mil, um valor quase cinco vezes superior ao piso nacional vigente, fixado em R$ 1.518. Esse cálculo reflete o custo elevado da cesta básica em capitais como São Paulo, onde os alimentos essenciais atingem preços recordes. A discrepância entre o salário real e o ideal evidencia a dificuldade de milhões de trabalhadores em garantir uma vida digna.
O cenário econômico de 2025, marcado por inflação controlada mas com aumento persistente nos custos de itens essenciais, reforça a urgência de debates sobre a valorização do salário mínimo. O Dieese utiliza como base a Constituição Federal, que determina que o salário mínimo deve cobrir despesas com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência. No entanto, o valor atual cobre apenas uma fração dessas necessidades, obrigando famílias a priorizar gastos básicos em detrimento de outros direitos.
- Cesta básica em alta: O custo dos alimentos essenciais subiu em 16 das 17 capitais pesquisadas pelo Dieese em 2024, com projeções de continuidade em 2025.
- Poder de compra reduzido: O salário mínimo de R$ 1.518 permite adquirir apenas 1,79 cesta básica em São Paulo, onde o custo médio é estimado em R$ 850.
- Impacto nas famílias: Aproximadamente 59,9 milhões de brasileiros dependem do salário mínimo, incluindo trabalhadores formais, informais e aposentados.
A discussão sobre o salário mínimo necessário ganha relevância em um momento em que o governo federal implementa políticas de valorização, mas enfrenta limitações fiscais. O reajuste de 7,5% aplicado em janeiro de 2025, que elevou o piso de R$ 1.412 para R$ 1.518, trouxe um ganho real de 2,5% acima da inflação, mas ainda está longe de atender às demandas apontadas pelo Dieese.

Cálculo do salário mínimo ideal
O Dieese realiza mensalmente a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, que serve como base para estimar o salário mínimo necessário. Em maio de 2025, a projeção considera o custo da cesta básica mais cara entre 17 capitais brasileiras, com São Paulo liderando, onde o preço médio dos alimentos essenciais deve atingir R$ 860. Esse valor é multiplicado por três, conforme o Decreto-Lei nº 399 de 1938, para cobrir as despesas de uma família de quatro pessoas, composta por dois adultos e duas crianças, com a premissa de que crianças consomem o equivalente a um adulto.
A metodologia também incorpora outras despesas previstas na Constituição, como moradia, saúde e educação. Em dezembro de 2024, o salário mínimo necessário foi calculado em R$ 7.067,68, e a expectativa para maio de 2025 é de um aumento de cerca de 2% devido à alta nos preços de itens como pão francês, manteiga e carne bovina. O cálculo reflete a realidade de um país onde o custo de vida varia significativamente entre regiões, com capitais do Norte e Nordeste registrando cestas básicas mais baratas, como Aracaju (R$ 571,43) e Recife (R$ 598,72).
- Base constitucional: O salário mínimo deve garantir dignidade e acesso a direitos básicos.
- Cesta mais cara: São Paulo, Florianópolis e Rio de Janeiro lideram os custos dos alimentos.
- Variação regional: Cestas mais baratas no Nordeste não compensam a baixa renda geral.
Pressão dos alimentos no orçamento
A alimentação representa o maior peso no cálculo do salário mínimo necessário, consumindo, em média, 55,2% do rendimento líquido de quem ganha o piso nacional. Em maio de 2025, trabalhadores que recebem R$ 1.518 devem dedicar cerca de 121 horas de trabalho apenas para adquirir os produtos da cesta básica, um aumento em relação às 114 horas registradas em abril de 2023. Itens como feijão, arroz e carne bovina, que sofreram reajustes em 2024, continuam a encarecer, enquanto produtos como batata e tomate apresentam quedas sazonais.
Em São Paulo, o custo da cesta básica em janeiro de 2025 foi estimado em R$ 850, um aumento de 10,55% em relação ao ano anterior. Capitais como Natal e João Pessoa registraram altas ainda mais expressivas em 2024, com variações de 11,02% e 11,91%, respectivamente. Esses números indicam que a pressão inflacionária sobre os alimentos básicos persiste, mesmo com a inflação geral controlada em 4,84% pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) até novembro de 2024.
Reajuste do salário mínimo em 2025
O governo federal anunciou o salário mínimo de R$ 1.518 em dezembro de 2024, oficializado pelo Decreto 12.342. O reajuste de 7,5% considerou a inflação de 4,84% medida pelo INPC e um ganho real de 2,5%, limitado pela Lei 15.077/2024, que estabelece um teto de valorização real até 2030. Sem essa restrição, o aumento poderia ter sido maior, incorporando o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,2% em 2023, o que elevaria o piso a R$ 1.528.
Cerca de 59,9 milhões de brasileiros, incluindo trabalhadores formais, informais, aposentados e pensionistas, são diretamente beneficiados pelo novo valor. O reajuste movimenta R$ 81,5 bilhões na economia, com um incremento de R$ 43,9 bilhões em arrecadação tributária. Para trabalhadores com carteira assinada, o impacto na renda é estimado em R$ 23,87 bilhões, enquanto aposentados e pensionistas do INSS contribuem com R$ 38,78 bilhões no consumo.
- Movimentação econômica: O aumento injeta bilhões no mercado interno.
- Benefícios vinculados: Aposentadorias, pensões e abono salarial acompanham o reajuste.
- Limitação fiscal: O teto de 2,5% reflete a busca por equilíbrio nas contas públicas.
- Carga tributária: A arrecadação extra ajuda a compensar o custo previdenciário.
Discrepância entre o real e o ideal
O salário mínimo vigente representa apenas 20,85% do valor necessário para uma vida digna, segundo o Dieese. Em 2020, durante a pandemia, esse percentual era de 23,3%, indicando uma piora no poder de compra ao longo dos anos. Mesmo com os reajustes anuais, a distância entre o piso nacional e o salário mínimo ideal permanece significativa, especialmente em regiões urbanas onde o custo de vida é mais elevado.
A política de valorização do salário mínimo, instituída em 2023, garantiu ganhos reais, mas a limitação de 2,5% impede avanços mais robustos. Em 2024, o salário mínimo de R$ 1.412 permitia comprar 1,74 cesta básica em São Paulo, enquanto a projeção para maio de 2025 indica uma leve melhora, com 1,79 cesta. Ainda assim, famílias continuam a enfrentar dificuldades para arcar com despesas além da alimentação, como aluguel, transporte e saúde.
Variações regionais no custo de vida
As diferenças no custo da cesta básica entre as regiões brasileiras destacam a complexidade de estabelecer um salário mínimo unificado. Em capitais como Aracaju e Recife, o preço dos alimentos básicos é significativamente menor do que em São Paulo ou Florianópolis, mas a renda média nessas regiões também é mais baixa, agravando a desigualdade. Em maio de 2025, a cesta básica em Florianópolis deve custar cerca de R$ 820, enquanto no Rio de Janeiro o valor estimado é de R$ 810.
O Dieese observa que, mesmo nas cidades com cestas mais baratas, o salário mínimo atual não é suficiente para atender às necessidades constitucionais. Trabalhadores em regiões menos custosas ainda enfrentam dificuldades para cobrir despesas com moradia e educação, que não são diretamente contempladas no cálculo da cesta básica, mas pesam no orçamento familiar.
- Capitais mais caras: São Paulo, Florianópolis e Rio lideram os custos.
- Regiões mais acessíveis: Nordeste tem cestas mais baratas, mas renda é menor.
- Desigualdade persistente: O salário mínimo unificado não reflete realidades locais.
Mudanças na metodologia do Dieese
O Dieese estuda uma revisão em sua metodologia para o cálculo do salário mínimo necessário, considerando mudanças no perfil das famílias brasileiras. Dados do IBGE mostram que a média de moradores por domicílio caiu de 3,31 em 2010 para 2,79 em 2022. Com base nisso, o órgão avaliou, em julho de 2024, que o salário mínimo para uma família de três pessoas seria de R$ 5.505,11, contra R$ 6.802,88 para quatro pessoas.
A possível adoção de uma nova metodologia, prevista para 2025, pode reduzir o valor estimado do salário mínimo necessário, alinhando-o a uma realidade demográfica atualizada. Essa mudança reflete também o impacto do Decreto nº 11.936, de março de 2024, que redefine a composição da cesta básica, incorporando hábitos alimentares mais contemporâneos.
Benefícios vinculados ao salário mínimo
O reajuste do salário mínimo impacta diretamente benefícios sociais e previdenciários, como aposentadorias, pensões, seguro-desemprego e o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Em 2025, cerca de 28 milhões de aposentados e pensionistas do INSS recebem o piso nacional, o que representa um custo adicional de R$ 38,9 bilhões na folha de benefícios previdenciários. O abono salarial PIS/Pasep e a pensão alimentícia também são ajustados com base no novo valor.
Trabalhadores domésticos, que representam uma parcela significativa da força de trabalho, também têm seus salários atualizados. O impacto no setor é estimado em R$ 5,57 bilhões no consumo, com R$ 3 bilhões em arrecadação tributária. Esses números reforçam a importância do salário mínimo como instrumento de redistribuição de renda, apesar de suas limitações.
Salários mínimos regionais
Alguns estados brasileiros adotam pisos salariais regionais, superiores ao mínimo nacional, para atender às particularidades de seus custos de vida. Em São Paulo, o salário mínimo regional foi unificado em R$ 1.550 em 2025, um aumento de até 20,7% em relação às faixas anteriores. No Paraná, o piso varia entre R$ 2.057 e R$ 2.275, enquanto em Santa Catarina a faixa mais alta chega a R$ 1.844,40.
Esses valores regionais buscam compensar o alto custo de vida em estados mais desenvolvidos, mas criam desafios para empresas que operam nacionalmente. A negociação dos reajustes, feita por meio de acordos entre sindicatos e empregadores, reflete a pressão por salários mais alinhados às necessidades locais.
- São Paulo: Piso unificado de R$ 1.550 beneficia diversas categorias.
- Paraná: Faixas salariais atendem trabalhadores de diferentes setores.
- Santa Catarina: Maior salário mínimo regional do país.
- Desafios empresariais: Pisos regionais elevam custos de produção.
Projeções para os próximos anos
O governo federal já divulgou estimativas para o salário mínimo nos próximos anos, com valores de R$ 1.724 em 2027, R$ 1.823 em 2028 e R$ 1.925 em 2029. Esses números seguem a política de valorização, que combina o INPC com um ganho real limitado a 2,5%. Apesar do aumento gradual, as projeções indicam que o piso nacional continuará distante do salário mínimo necessário calculado pelo Dieese.
A manutenção do teto de 2,5% reflete a preocupação com a sustentabilidade fiscal, especialmente em um contexto de alta dívida pública. O reajuste do salário mínimo eleva os gastos com benefícios previdenciários e assistenciais, exigindo um equilíbrio delicado entre justiça social e responsabilidade financeira.
Necessidades constitucionais em foco
A Constituição Federal de 1988 estabelece que o salário mínimo deve garantir acesso a direitos básicos, mas a realidade mostra uma lacuna significativa. Em maio de 2025, o trabalhador que ganha o piso nacional precisa comprometer mais da metade de sua renda líquida apenas com alimentação, deixando pouco espaço para outras despesas essenciais. O Dieese destaca que, mesmo com quatro pessoas recebendo o salário mínimo em uma família, o total ainda não alcançaria o valor necessário.
A discussão sobre o salário mínimo ideal ganha força em fóruns sindicais e políticos, com centrais sindicais pressionando por reajustes mais expressivos. A jornada de trabalho necessária para adquirir a cesta básica, que chegou a 121 horas em 2024, deve permanecer elevada em 2025, reforçando a necessidade de políticas públicas que complementem a renda das famílias.