A reprise de Tieta no Vale a Pena Ver de Novo, da TV Globo, trouxe de volta ao público um dos rostos mais queridos da teledramaturgia brasileira: Roberto Bomfim. O ator, que completou 80 anos em 12 de março, interpreta o inesquecível Amintas, um dos quatro Cavaleiros do Apocalipse na fictícia Santana do Agreste. Afastado das telas desde 2021, Bomfim enfrentou sérios problemas de saúde nos últimos anos, mas sua trajetória de mais de cinco décadas na televisão, no teatro e no cinema permanece viva na memória dos fãs. Sua participação na novela de Aguinaldo Silva, Ricardo Linhares e Ana Maria Moretzsohn reacende a nostalgia de uma era dourada das telenovelas, marcada por personagens carismáticos e tramas envolventes. A atuação de Bomfim como o violeiro debochado, dono de uma loja de materiais de construção, continua a conquistar espectadores, mesmo 36 anos após a exibição original da obra.
Roberto Bomfim nasceu no Rio de Janeiro, em 1945, e construiu uma carreira marcada pela versatilidade. Ele transitou entre papéis cômicos, dramáticos e até vilanescos, sempre com uma presença marcante. Em Tieta, seu personagem forma um quarteto memorável ao lado de figuras como Perpétua e Coronel Artur da Tapitanga, trazendo humor e mistério à trama. A reprise permite que novas gerações descubram o talento de um ator que participou de mais de 30 novelas, além de humorísticos e filmes nacionais.
A saúde de Bomfim, no entanto, trouxe desafios recentes. Diagnosticado com enfisema pulmonar em 2022, ele precisou se afastar de projetos como a novela Reis, da Record TV. Antes disso, enfrentou complicações relacionadas à obesidade e à artrose, que exigiram cirurgias e cuidados médicos intensos. Mesmo assim, o ator mantém um legado sólido, com atuações que atravessam décadas e continuam a emocionar o público por meio de reprises e plataformas de streaming.
Marcos de uma carreira
Roberto Bomfim começou no teatro na década de 1960, quando o Rio de Janeiro fervilhava com movimentos culturais. Ele se apresentou em peças que misturavam crítica social e humor, ganhando experiência antes de migrar para a televisão. Sua estreia nas novelas veio com Verão Vermelho, em 1969, mas foi nos anos 1970 e 1980 que ele se consolidou como um dos grandes nomes da Globo.
- Primeiros passos: O teatro carioca foi o ponto de partida para Bomfim, com papéis em montagens experimentais.
- Sucesso na TV: Novelas como Selva de Pedra e Gabriela colocaram o ator no radar do público nacional.
- Versatilidade: Ele alternou entre comédia e drama, conquistando papéis em produções de diferentes gêneros.
Do palco para a tela
A transição de Bomfim para a televisão ocorreu em um momento de expansão da teledramaturgia brasileira. Nos anos 1960, o Brasil começava a consolidar sua indústria de novelas, e a Globo investia em talentos vindos do teatro. Bomfim encontrou nesse cenário uma oportunidade de mostrar sua capacidade de interpretação. Ele participou de humorísticos como Faça Humor, Não Faça Guerra, antes de se destacar em tramas que marcaram época.
Em Selva de Pedra (1972), ele viveu um papel coadjuvante que chamou atenção pela naturalidade. Já em Gabriela (1975), baseada na obra de Jorge Amado, Bomfim mostrou sua habilidade em captar o espírito baiano, mesmo sendo carioca. Essas atuações abriram portas para outros projetos, como Cabocla (1979) e Paraíso (1982), onde ele interpretou personagens rurais com autenticidade. Sua capacidade de se adaptar a diferentes contextos culturais foi um diferencial ao longo da carreira.
Além da Globo, Bomfim também deixou sua marca na Record TV. Em Gênesis (2021), ele participou de uma produção bíblica, mostrando que ainda tinha fôlego para novos desafios. No entanto, sua saída de Reis no ano seguinte, devido ao enfisema pulmonar, marcou uma pausa forçada em sua trajetória. Mesmo afastado, ele continua sendo lembrado por papéis que resistem ao tempo.
Personagens que ficaram na história
Roberto Bomfim é sinônimo de personagens memoráveis. Em Tieta (1989), Amintas conquistou o público com suas rimas debochadas e seu jeito simples, mas cheio de camadas. O personagem, que termina a novela ao lado de Amorzinho, vivida por Lilia Cabral, representa o humor ácido que marcou a obra. Bomfim trouxe leveza a um papel que poderia facilmente cair na caricatura, equilibrando ironia e humanidade.
Outras novelas também destacaram seu talento. Em O Clone (2001), ele interpretou um papel secundário, mas marcante, em meio a uma trama que misturava ciência e cultura árabe. Já em Império (2014), Bomfim mostrou sua versatilidade ao viver um personagem mais urbano, integrado à complexa rede de relações da história. Cada atuação reforça sua habilidade em dar vida a figuras que, mesmo coadjuvantes, deixam uma impressão duradoura.
A reprise de Tieta permite revisitar o auge de Bomfim na televisão. A novela, exibida originalmente entre 1989 e 1990, foi um fenômeno de audiência, com média de 60 pontos no Ibope. A química entre Bomfim e os demais atores do núcleo de Santana do Agreste contribuiu para o sucesso da trama, que ainda hoje é celebrada como um marco da dramaturgia nacional.
Desafios de saúde
A luta de Roberto Bomfim contra problemas de saúde começou a ganhar destaque em 2016. Naquele ano, ele passou por uma cirurgia bariátrica para combater a obesidade, que já afetava sua mobilidade. O procedimento, que reduz o tamanho do estômago, foi acompanhado de outra operação para tratar artrose, uma condição que desgasta as articulações. Por um período, o ator precisou usar cadeira de rodas, o que limitou sua rotina.
Em 2022, o diagnóstico de enfisema pulmonar trouxe um novo obstáculo. A doença, que compromete a capacidade respiratória, exigiu cuidados intensos e impediu Bomfim de continuar no elenco de Reis. José Rubens Chachá assumiu seu papel na produção, enquanto o ator se dedicava à recuperação. Apesar das dificuldades, Bomfim mantém uma postura reservada, evitando expor detalhes de sua vida pessoal ao público.
A saúde do ator é um lembrete dos desafios enfrentados por artistas que dedicam décadas à profissão. Mesmo com limitações, Bomfim segue sendo uma figura admirada, e sua ausência das telas não diminui o impacto de seu trabalho. A reprise de Tieta serve como uma celebração de sua resiliência e de sua contribuição à cultura brasileira.
- Cirurgias marcantes: A bariátrica e o tratamento para artrose mudaram a rotina de Bomfim.
- Enfisema pulmonar: A doença levou ao afastamento do ator de projetos em 2022.
- Recuperação discreta: Bomfim opta por manter sua vida pessoal longe dos holofotes.
Um legado no cinema e no teatro
Além das novelas, Roberto Bomfim também brilhou no cinema brasileiro. Ele participou de filmes que retratam diferentes facetas do país, como Cidade dos Homens (2007), onde interpretou um personagem ligado ao universo das favelas cariocas. Sua experiência teatral, iniciada nos anos 1960, trouxe uma base sólida para papéis que exigiam intensidade dramática.
No teatro, Bomfim trabalhou em montagens que abordavam questões sociais, muitas delas produzidas em um contexto de resistência cultural durante a ditadura militar. Essa formação o ajudou a construir personagens complexos na televisão, mesmo em papéis menores. Sua trajetória no palco, embora menos conhecida pelo grande público, é parte essencial de sua história como artista.
O cinema nacional também reconhece sua importância. Em produções como O Pagador de Promessas (1988), adaptação da obra de Dias Gomes, Bomfim mostrou sua capacidade de transitar entre o popular e o erudito. Esses trabalhos reforçam a ideia de que sua carreira é um reflexo da diversidade cultural do Brasil.
Momentos-chave da trajetória
A carreira de Roberto Bomfim pode ser resumida em etapas que destacam sua evolução como ator:
- 1960-1970: Início no teatro carioca e estreia na TV com Verão Vermelho.
- 1970-1980: Consolidação em novelas como Selva de Pedra e Gabriela.
- 1980-1990: Sucesso em Tieta e outras tramas de grande audiência.
- 2000-2010: Papéis em O Clone e filmes como Cidade dos Homens.
- 2010-2021: Atuações em Império e Gênesis, antes do afastamento por saúde.
A força de Amintas em Tieta
A reprise de Tieta trouxe Amintas de volta ao centro das atenções. O personagem, com suas rimas e seu jeito provocador, é uma peça-chave no universo de Santana do Agreste. Bomfim conseguiu dar vida a um homem comum, mas cheio de nuances, que reflete o humor e a malícia do interior brasileiro. Sua interação com Amorzinho, vivida por Lilia Cabral, é um dos pontos altos da novela.
O sucesso de Amintas está na autenticidade. Bomfim, com sua experiência teatral, trouxe uma naturalidade que faz o público acreditar na existência daquele violeiro. A química com o elenco, incluindo nomes como Joana Fomm e Betty Faria, elevou o núcleo cômico da trama a um patamar inesquecível. A novela, que abordava temas como hipocrisia e poder, encontrou em Bomfim um intérprete capaz de equilibrar leveza e crítica.
A exibição no Vale a Pena Ver de Novo prova que Tieta ainda tem fôlego. Dados de audiência mostram que a reprise mantém números expressivos, com picos de 15 pontos em São Paulo. O carisma de Bomfim, mesmo em um papel de apoio, é parte do segredo desse sucesso.
O impacto de uma carreira
Roberto Bomfim influenciou gerações de atores. Sua capacidade de dar vida a personagens coadjuvantes, muitas vezes roubando a cena, inspirou nomes como Lilia Cabral, com quem contracenou em Tieta. Ele também abriu portas para que atores vindos do teatro encontrassem espaço na TV, em uma época em que a profissão ainda era vista com desconfiança.
Fora das telas, Bomfim é descrito como um profissional dedicado e reservado. Colegas de elenco destacam sua generosidade em cena, sempre disposto a colaborar com os novatos. Sua trajetória é um exemplo de como o talento pode superar adversidades, incluindo os desafios impostos pela saúde nos últimos anos.
A reprise de Tieta não é apenas uma oportunidade de revisitar um clássico. É também um reconhecimento ao trabalho de Bomfim, cuja carreira reflete a história da televisão brasileira. Enquanto Amintas diverte o público, o legado de Roberto permanece como um convite para celebrar a arte de contar histórias.
- Influência duradoura: Bomfim inspirou atores com sua dedicação e versatilidade.
- Nostalgia viva: A reprise de Tieta conecta gerações por meio de personagens icônicos.
- Resiliência: A carreira do ator é marcada pela superação de desafios pessoais.