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Avenida marcada pela morte de Jonhliane Paiva segue sendo usada como pista de corrida ilegal por jovens em carros de luxo; moradores relatam medo, barulho e ausência total de fiscalização.
Mesmo após a tragédia que matou a administradora Jonhliane Paiva em 2020, a Avenida Antônio da Rocha Viana, uma das principais vias de ligação de Rio Branco, segue sendo palco de rachas noturnos e abusos de velocidade. De acordo com relatos de moradores e comerciantes da região, as corridas ilegais acontecem quase todas as noites, principalmente entre 22h e 2h da manhã, com veículos de alto desempenho disputando espaço em plena área urbana.
“A gente escuta o ronco dos motores quase todo dia. Eles arrancam em alta velocidade, freiam, gritam. É um terror pra quem mora aqui. Parece que a morte da moça não ensinou nada a ninguém”, desabafa um morador da área próxima ao bairro Custódio Freire, que pediu anonimato.
Fiscalização fantasma
Apesar da repercussão nacional do caso Jonhliane Paiva, e da realização de audiências no Tribunal do Júri para julgar os dois motoristas envolvidos no racha de 2020, a realidade nas ruas não mudou. A avenida recém-reformada, com recapeamento e estrutura nova, acabou se tornando ainda mais atrativa para os corredores ilegais, que agora trafegam em carros como Camaro, Audi, BMW, Mustang e motos de alta cilindrada.
Segundo os moradores, não há presença da Polícia Militar ou da RBTrans no período noturno. Também não há radares fixos ou lombadas físicas suficientes para inibir os abusos. “A pista está lisinha. Eles voam. E ninguém aparece pra coibir. É como se a avenida fosse deles”, reclama um comerciante que fecha às 23h.
Risco eminente, memória esquecida
O caso Jonhliane Paiva, símbolo de descaso com a vida e imprudência de classe média alta, completou cinco anos. A jovem foi atropelada por uma BMW a 150 km/h e arrastada por mais de 100 metros. O motorista, Ícaro Pinto, e o colega Alan Araújo, que conduzia um Novo Fusca na mesma velocidade, foram denunciados por homicídio doloso. Ambos respondem em liberdade.
Mesmo com provas claras, como vídeos e laudos da perícia, a resposta do Estado segue lenta e a impunidade se reproduz na prática. “O que estamos vendo é um escárnio com a memória da Jonhliane. Ela morreu, e tudo continuou como antes. Ou pior”, afirma uma ativista de direitos urbanos que acompanha o caso.
A pergunta que não cala
Quantos mais precisarão morrer para que o Estado aja? O que impede a instalação de radares, blitzes noturnas e câmeras inteligentes em uma das avenidas mais perigosas da cidade? A omissão virou rotina, e os rachas seguem sendo disputados à margem da lei e da atenção pública.
Assinatura:
Eliton Lobato Muniz
Cidade AC News – Rio Branco – Acre
