A política externa de um país é, antes de tudo, um reflexo de sua autoestima institucional. Quando um governo aceita ser repreendido por um aliado histórico e responde com uma carta bem redigida, mas sem pulso, está não apenas redigindo um texto — está redigindo sua própria renúncia à autoridade moral.
O recente episódio da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros é um tapa com luva de aço. Não por vir de Donald Trump, cujo estilo já é conhecido — de gestos bruscos e nacionalismo inflado — mas pela resposta que recebeu do governo brasileiro: uma carta protocolar, polida, indignada no papel e dócil no conteúdo. Em vez de se impor com a força dos dados e do interesse nacional, o Brasil optou por repetir o papel do aluno aplicado que espera que o inspetor o ouça no recreio.
Segundo dados do próprio governo norte-americano, o Brasil acumulou, nos últimos 15 anos, um déficit de quase US$ 410 bilhões na balança comercial bilateral. Em outras palavras, o Brasil compra mais do que vende aos Estados Unidos. E, mesmo assim, é taxado como se fosse o vilão da história. Trata-se de uma distorção factual, mas, acima disso, de uma distorção simbólica: somos tratados como ameaça mesmo quando perdemos.
A carta enviada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e pelo chanceler Mauro Vieira diz que a medida “terá impacto muito negativo” e “coloca em risco uma parceria histórica”. Ora, não é de hoje que o termo “parceria” vem sendo usado como manto para encobrir relações assimétricas. A submissão sem resistência, quando travestida de diplomacia, apenas adia o inevitável: seremos sempre o elo fraco enquanto agirmos como tal.
Falta ao governo Lula — e aqui o ponto é mais profundo que a ideologia — a postura de quem sabe o que defende. O Itamaraty, que já foi referência em firmeza e sofisticação, hoje parece mais um departamento de relações públicas. Quando se envia uma “nova carta” sem resposta à anterior, o que se comunica não é insistência — é desespero. E diplomacia não é lugar para desesperos.
O que está em jogo aqui não é apenas uma disputa tarifária. É a imagem que o Brasil projeta ao mundo. Um país que aceita passivamente um bloqueio econômico injustificado, e ainda envia carta pedindo diálogo sem ser convidado à mesa, revela mais sobre si do que sobre o agressor.
É como num baile em que a orquestra desafina e, mesmo assim, a dama insiste em dançar. O problema não está no som, está na submissão ao compasso do outro.
É preciso lembrar que soberania não se negocia por carta. Se o governo brasileiro quiser, de fato, ser respeitado, precisa agir como tal. Não basta protocolar indignações; é necessário demonstrá-las com atos. Retaliações comerciais, revisão de parcerias, apelos internacionais — tudo isso está no cardápio de qualquer país que se leva a sério.
Mas enquanto formos uma nação que responde com sussurros a quem grita, continuaremos nesse ciclo de humilhações discretas e parcerias de mão única.
Se o Brasil não sabe o próprio valor, o mundo também não vai saber.
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