Ação da Polícia Federal atinge associação criminosa que teria desmatado mais de 900 hectares de floresta na Amazônia
Rio Branco (AC), 24 de agosto de 2025
Uma operação com efeitos milionários
A Polícia Federal deflagrou na sexta-feira (22) uma nova etapa da Operação Smoke II, voltada para desarticular um esquema de grilagem de terras públicas, desmatamento ilegal e queimadas criminosas em áreas da Amazônia.
Foram cumpridos seis mandados de busca e apreensão, além de uma prisão preventiva. A Justiça Federal determinou ainda o sequestro de bens e valores superiores a R$ 70 milhões, pertencentes a empresários, intermediários e pessoas físicas ligadas ao grupo. As ordens foram expedidas pela 7ª Vara Federal Ambiental e Agrária, sediada no Amazonas.
De acordo com os investigadores, a organização criminosa teria desmatado mais de 900 hectares de floresta nativa, abrindo espaço para pasto e atividades de pecuária sem qualquer autorização ambiental.
Como funcionava o esquema
Segundo a PF, o grupo utilizava um modus operandi já conhecido nas frentes de ocupação ilegal:
Uso de “laranjas” para registrar imóveis em nome de terceiros e ocultar os verdadeiros beneficiários;
Contratos simulados para dar aparência de legalidade às negociações;
Inserção de documentos falsos em sistemas oficiais de cadastro de terras;
Arrendamento irregular de áreas já embargadas por órgãos ambientais.
O objetivo era construir uma fachada jurídica para áreas que haviam sido tomadas de forma ilícita. Esse “esquema de legalização” permitia ao grupo oferecer terras para exploração pecuária e até negócios imobiliários, elevando o valor de mercado de propriedades obtidas de forma criminosa.
Impactos para o Acre e a região
Embora a operação tenha foco principal em municípios do Amazonas, especialmente na região de Boca do Acre, o caso tem impacto direto sobre o Acre.
Primeiro, porque a fronteira agrícola entre os dois estados é extremamente porosa. O avanço da grilagem em território amazonense pressiona áreas limítrofes do Acre, ampliando conflitos fundiários e incentivando ocupações semelhantes.
Segundo, porque os reflexos ambientais não respeitam fronteiras. As queimadas ilegais aumentam a emissão de fumaça e partículas, afetando a qualidade do ar em cidades acreanas, especialmente durante o auge da estiagem, entre agosto e setembro.
Terceiro, porque a economia local sofre efeitos indiretos: a cadeia clandestina de carne e madeira desestabiliza produtores que tentam se manter dentro da legalidade, criando concorrência desleal.
O que dizem as autoridades
A PF informou que a operação tem caráter preventivo e repressivo, atingindo tanto os agentes diretamente envolvidos quanto os bens que financiam o esquema. A expectativa é que a perda patrimonial seja um fator mais dissuasivo do que prisões isoladas.
“A estratégia é descapitalizar os criminosos. Quando atingimos o bolso e bloqueamos milhões em bens, reduzimos a capacidade de financiar novas invasões e queimadas”, resumiu um delegado ouvido pela imprensa nacional.
O Ministério Público Federal (MPF) acompanha o caso e deve oferecer denúncia pelos crimes de associação criminosa, falsidade ideológica, grilagem e crimes ambientais. As penas somadas podem ultrapassar 20 anos de prisão.
Contexto mais amplo
O Acre e o Amazonas têm enfrentado, ano após ano, a pressão de grupos organizados que veem na floresta uma fronteira de expansão ilegal.
Em 2024, o Acre registrou quase mil focos de incêndio no mês de agosto. Em 2025, dados do governo estadual apontam para uma redução expressiva — 141 focos entre 1º e 20 de agosto, contra 908 no mesmo período do ano anterior. A queda, porém, não elimina a preocupação.
“Cada operação como essa mostra que existe um mercado milionário por trás da devastação. Enquanto houver lucro, haverá crime”, comentou um analista ambiental ouvido pela reportagem.
Um alerta para o futuro
A Operação Smoke II reforça o recado de que o combate à grilagem passa não só pela prisão de executores, mas também pelo desmonte da engrenagem financeira que alimenta o crime ambiental.
No Acre, especialistas defendem que os efeitos da ação devem ser acompanhados de perto, tanto pelo governo estadual quanto pelos municípios fronteiriços. Se as rotas ilegais forem bloqueadas de um lado, é possível que grupos tentem deslocar suas atividades para áreas ainda mais vulneráveis.
Enquanto isso, a Justiça e a PF prometem manter as investigações em sigilo, mas deixam claro que novas fases da operação não estão descartadas.
Serviço
Denúncias ambientais podem ser feitas pelo Linha Verde (0800 61 8080) ou via aplicativo PF Mobile.
Emergência: 193 (Corpo de Bombeiros) e 190 (Polícia Militar).Tempo de leitura: 6 min
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