
Na manhã de 8 de julho de 2025, a Polícia Federal (PF) realizou uma operação de grande impacto na Câmara dos Deputados, em Brasília, com buscas no gabinete do deputado federal Júnior Mano, filiado ao PSB do Ceará. A ação, batizada de Operação Underhand, investiga uma organização criminosa suspeita de desviar recursos públicos por meio de fraudes em licitações e emendas parlamentares, usados para financiar campanhas políticas nas eleições municipais de 2024. Além da capital federal, 15 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em cinco cidades cearenses: Fortaleza, Nova Russas, Eusébio, Canindé e Baixio. A investigação, conduzida sob sigilo no Supremo Tribunal Federal (STF) e autorizada pelo ministro Gilmar Mendes, resultou no bloqueio de R$ 54,6 milhões em contas de pessoas físicas e jurídicas. O esquema, segundo a PF, envolve crimes como organização criminosa, lavagem de dinheiro e captação ilícita de votos, com apoio técnico da Controladoria-Geral da União (CGU).
A operação expõe um cenário de corrupção que atinge diretamente o uso de verbas públicas destinadas a municípios cearenses. A gravidade das acusações coloca o deputado no centro de um escândalo que pode reverberar na política local e nacional.
- Principais alvos: Gabinete e residência do deputado, além de endereços de outros investigados.
- Crimes investigados: Fraudes em licitações, desvio de emendas e financiamento ilícito de campanhas.
- Bloqueio financeiro: R$ 54,6 milhões para preservar recursos públicos.
As buscas também incluíram o apartamento funcional do parlamentar em Brasília e sua casa no Ceará, intensificando a pressão sobre o político, que até o momento não se pronunciou publicamente.
Detalhes da operação Underhand
A Operação Underhand, deflagrada com autorização do STF, é um desdobramento de investigações iniciadas no Ceará após denúncias de irregularidades em processos licitatórios. A PF identificou um esquema sofisticado, no qual verbas de emendas parlamentares eram direcionadas a municípios específicos. Em troca, parte dos recursos era desviada para pagamentos ilícitos, alimentando campanhas eleitorais. A ação contou com o suporte técnico da CGU, que analisou contratos e movimentações financeiras suspeitas.
O bloqueio de R$ 54,6 milhões visa interromper a circulação de valores de origem ilícita e garantir a reparação aos cofres públicos, caso as irregularidades sejam confirmadas. Os mandados de busca e apreensão, além de coletar provas, incluíram a quebra de sigilo de celulares apreendidos, o que pode revelar novos detalhes sobre a rede criminosa.
A investigação ganhou força após uma denúncia da ex-prefeita de Canindé, Rozário Ximenes, que apontou a participação do deputado em um esquema envolvendo ao menos 51 municípios cearenses. Segundo ela, as emendas eram “lavadas” por aliados, com retornos financeiros de até 15% para os gestores municipais.
Como funcionava o esquema de desvios
O núcleo investigado operava com um modus operandi estruturado. As emendas parlamentares, destinadas a obras e serviços em municípios, eram manipuladas para beneficiar empresas ligadas ao grupo. Essas empresas, muitas vezes controladas por laranjas, participavam de licitações direcionadas, garantindo contratos superfaturados.
- Direcionamento de verbas: Emendas eram enviadas a prefeituras aliadas.
- Fraudes em licitações: Empresas do grupo venciam processos sem concorrência.
- Desvio de recursos: Parte do dinheiro era usada para financiar campanhas.
- Lavagem de dinheiro: Valores eram movimentados por contas de laranjas.
A PF aponta que os recursos desviados alimentaram campanhas municipais em 2024, configurando crimes como captação ilícita de sufrágio e falsidade ideológica eleitoral. A denúncia inicial, feita por Rozário Ximenes, revelou que o esquema era liderado por figuras próximas ao deputado, incluindo o prefeito eleito de Choró, Carlos Alberto Queiroz Pereira, conhecido como Bebeto do Choró, que atualmente é foragido.
A ex-prefeita relatou ameaças e pressões do grupo, que oferecia vantagens financeiras a políticos locais em troca de apoio eleitoral. Em Canindé, por exemplo, pagamentos via Pix e vales-gasolina foram usados para comprar votos, segundo a denúncia.
Origem da investigação e papel do STF
A investigação começou no Ceará, após a denúncia de Rozário Ximenes ao Ministério Público Eleitoral (MPE) em setembro de 2024. Inicialmente conduzida pela PF local, a apuração foi remetida ao STF devido ao foro privilegiado do deputado. O ministro Gilmar Mendes, relator do caso, determinou a apresentação de um relatório parcial em 15 dias, em fevereiro de 2025, o que acelerou as ações da Operação Underhand.
O envolvimento de Júnior Mano foi reforçado por interceptações telefônicas e documentos obtidos em operações anteriores, como Mercato Clauso e Vis Occulta. Diálogos entre Bebeto do Choró e aliados, incluindo um assessor do deputado, indicaram negociações para desviar até 12% de emendas destinadas à saúde em Choró, totalizando R$ 180 mil de uma verba de R$ 1,5 milhão.
Embora outros parlamentares, como o líder do governo José Guimarães, tenham sido mencionados em áudios, a PF não encontrou evidências de seu envolvimento direto. Guimarães negou qualquer relação com o esquema.
Quem é o deputado no centro do escândalo
Júnior Mano, cujo nome completo é Antônio Luiz Rodrigues Mano Júnior, é uma figura proeminente na política cearense. Eleito em 2022 com 216.531 votos, foi o segundo deputado federal mais votado do estado, atrás apenas de André Fernandes. Antes de chegar à Câmara, foi vice-prefeito de Nova Russas, sua cidade natal, em 2016.
- Trajetória política: Iniciou a carreira no PL, mas foi expulso em 2024 após apoiar o petista Evandro Leitão em Fortaleza.
- Acusações anteriores: Em 2021, foi declarado inelegível por abuso de poder, mas a decisão foi revertida pelo TSE.
- Papel no esquema: Apontado como peça central na manipulação eleitoral em 51 cidades.
O parlamentar, que se filiou ao PSB após a expulsão do PL, enfrenta agora o maior desafio de sua carreira. A denúncia de Rozário Ximenes o coloca como articulador de um esquema que envolveu prefeituras, empresas de fachada e laranjas, com impactos em dezenas de cidades cearenses.
Repercussões e próximos passos
A Operação Underhand marca um momento crítico no combate à corrupção eleitoral no Ceará. A PF continua analisando o material apreendido, incluindo celulares e documentos, para identificar outros envolvidos. A prisão preventiva de Bebeto do Choró, que não tomou posse como prefeito de Choró em 1º de janeiro de 2025, evidencia a gravidade do caso.
A investigação também levanta questões sobre a transparência no uso de emendas parlamentares, um tema que tem gerado atritos entre o STF e o Congresso. A falta de rastreabilidade dessas verbas, muitas vezes ocultas como “emendas de comissão”, facilita desvios, segundo especialistas.
No Ceará, a crise política em Choró, onde o vereador Paulo George Saraiva assumiu como prefeito interino, reflete os desdobramentos do esquema. A chapa de Bebeto é alvo de um pedido de cassação, o que pode alterar o cenário eleitoral local.
A PF e o STF devem intensificar as apurações nos próximos meses, com a possibilidade de novas operações. O caso de Júnior Mano, por sua vez, permanece sob sigilo, mas a pressão pública e política sobre o deputado tende a crescer à medida que mais detalhes vierem à tona.






