Projeto que prometia revolucionar a piscicultura no Norte do Brasil virou sucata industrial após má gestão, omissão do Estado e falhas de fiscalização.
A ascensão e queda de um “projeto vitrine”
Quando foi inaugurada, a Peixes da Amazônia S.A., em Senador Guiomard (BR-364), carregava o selo de “transformação econômica”. O projeto, lançado com pompa e discursos de Lula e Evo Morales, prometia integração produtiva: fábrica de ração, frigorífico e alevinagem. A meta era abastecer mercados de todo o Brasil e exportar para a Bolívia e Peru.
Mas o ciclo virtuoso nunca aconteceu. A planta operava a apenas 20% da capacidade instalada, incapaz de competir com a tilápia sulista, com custos logísticos muito menores. O resultado: dívidas, inadimplência com produtores e a falência decretada em 2019.
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O vídeo que expõe a ruína
Um ex-funcionário gravou o estado atual do complexo: galpões vazios, fios arrancados, tanques secos. Na gravação, ele resume: “Aqui era pra ser o coração da piscicultura. Hoje é só ferrugem e silêncio.”
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Foto atual do frigorífico abandonado ou print do vídeo do ex-funcionário.
O controle que nunca foi público
Apesar de o Estado deter 43% do capital social, sua participação efetiva no comando não passou de 18,8%. A maior fatia de poder (40%) ficou com o empresário Jaime André Brum, presidente do conselho de administração. O governo injetava milhões, mas não mandava.
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Omissão das instituições
O mais perturbador: CGE e TCE nunca realizaram auditorias específicas sobre o empreendimento, apesar do volume de recursos públicos. O Ministério Público também não avançou com ações robustas de improbidade. O resultado foi um vazio de fiscalização que normalizou a tragédia.
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Antes e depois do leilão: o que precisa ser feito
- Antes: inventário dos bens, auditorias pela CGE/TCE, habilitação do Estado como credor e transparência plena dos autos.
- Se vender: exigir plano de reativação com metas de emprego, produção e monitoramento por 24 meses.
- Se der deserto: sublotes, arrendamento temporário ou reconversão industrial (logística, proteína alternativa).
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Conclusão letal — epitáfio da Peixes da Amazônia
A Peixes da Amazônia S.A. não faliu por falta de peixe. Faliu porque foi um arranjo político-financeiro mal desenhado, executado sem visão de mercado e blindado pela omissão dos órgãos de controle.
O resultado é cruel: R$ 68 milhões em investimentos viraram ruínas avaliadas em apenas R$ 19 milhões.
Culpas se distribuem: empresários que erraram na gestão, políticos que usaram o projeto como vitrine e instituições que se calaram.
O epitáfio é claro: mais um sonho amazônico enterrado às margens da BR-364.
Conclusão Analítica
O texto mostra o epitáfio de um projeto vendido como “revolução econômica” e encerrado como sucata em leilão. O Complexo da Peixes da Amazônia é a síntese da política do Acre: muita foto, pouco cálculo. O Estado e empresários privados bancaram R$ 68 milhões para criar uma vitrine. Em menos de 10 anos, o que restou foram portões trancados, 257 empregos sumidos e um prejuízo bilionário em potencial mascarado por um leilão de R$ 19 milhões.
O erro foi de todos:
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governos que estimularam sem garantir viabilidade;
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empresários que entraram no oba-oba político;
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órgãos de controle (TCE, CGE, MP) que deveriam ter soado o alarme e não soaram;
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academia (FGV) que vendeu um plano sem prever riscos reais.
A Peixes da Amazônia morreu de uma mistura de sonho grande com incompetência maior. Agora, quem paga a conta é o contribuinte — e quem arrematar no leilão leva um patrimônio a preço de banana.
✍️ Por Eliton Lobato Muniz — Cidade AC News
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