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O Grande Casarão de Madeira

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ONDE TUDO COMEÇOU: A HISTÓRIA NÃO CONTADA DO CASARÃO DE MADEIRA QUE ANTECEDEU O PALÁCIO RIO BRANCO

Quando se pensa no poder político do Acre, a imagem que imediatamente vem à mente é a fachada imponente e clássica do Palácio Rio Branco. Contudo, a história da capital e de sua administração é muito mais antiga e, ironicamente, bem mais simples. Por anos, o coração do governo territorial bateu em uma estrutura completamente diferente: um grande e elegante casarão de madeira, erguido sob o regime da borracha e que representava, em sua arquitetura, a essência amazônica daquele período.

A história da capital, antes da construção em alvenaria, era uma saga de pioneirismo e adaptação. A crença predominante entre os engenheiros e a elite da época era de que o terreno argiloso de Rio Branco não suportaria grandes edifícios de tijolos e concreto, o que obrigava as construções a se apoiarem na madeira robusta da floresta. O Casarão de Madeira, sede do governo entre 1912 e 1929, era um símbolo dessa adaptação. Ele possuía um charme peculiar, com suas janelas amplas, varandas e o estilo típico dos barracões seringalistas, mas adaptado para a função administrativa. Era ali, em meio ao cheiro de látex e madeira de lei, que se tomavam as decisões que pavimentaram a anexação do Acre ao Brasil e a sua organização inicial.

Essa fase da “arquitetura da madeira” começou a mudar de forma drástica com a chegada do governador Hugo Ribeiro Carneiro. Assumindo o cargo com uma visão modernizadora, Carneiro desafiou o consenso local e lançou um audacioso plano de obras. Seu objetivo não era apenas construir, mas sim projetar uma imagem de progresso e solidez para a capital, que ansiava por se equiparar aos grandes centros brasileiros.

O plano de Carneiro, executado entre 1927 e 1930, culminou em uma verdadeira revolução urbana. Foi nesse curto período que surgiram as primeiras construções grandiosas em alvenaria, que hoje são marcos da cidade: o Mercado Público, o Quartel da Força Policial, a primeira agência do Banco do Brasil e, claro, o Palácio Rio Branco. A construção do Palácio, projetado no estilo Eclético com forte influência Art Déco – a última moda arquitetônica no mundo –, era o atestado de que Rio Branco havia superado a fase inicial e se consolidava como uma capital moderna.

A transição do Casarão de Madeira para o Palácio de Alvenaria é, na verdade, um metáfora histórica. Ela representa a passagem de um Território Federal em desenvolvimento, dependente da matéria-prima local, para uma entidade política mais organizada, projetada para o futuro. O velho Casarão, que já não comportava o crescimento da máquina pública e se encontrava deteriorado, foi substituído por uma construção que contava com “escadas em mármore de Carrara” e “pisos de parquets de madeira de lei do Pará,” unindo o luxo do centro-sul com a riqueza dos materiais amazônicos.

Embora o Palácio seja o monumento que perdurou, a memória do Casarão de Madeira é fundamental para entender a origem humilde e resiliente da capital. Ele é a prova de que as raízes do Acre foram fincadas com a engenhosidade e o recurso da própria floresta. Lembrar-se dele é reconhecer o esforço dos primeiros administradores e o salto de qualidade que a cidade deu em pouquíssimo tempo, pavimentando a estrada de progresso que culminou na emancipação do estado. O Casarão de Madeira, antes de se tornar apenas uma lembrança, foi a testemunha silenciosa da construção de uma identidade e da formação de um povo.

Você conhece alguma outra história ou curiosidade fascinante sobre os antigos casarões de Rio Branco ou marcos históricos da cidade? Compartilhe conosco!

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