Enquanto milhares de campanhas pedem doações de sangue para salvar vidas, no Acre, a boa vontade estacionou em frente à Câmara Municipal de Rio Branco — dentro de um ônibus, esperando por uma tomada.
Sim, senhoras e senhores: o ônibus do Hemoacre, equipado, com equipe médica a postos e doadores engajados, não pôde funcionar porque a Energisa esqueceu de ligar a energia elétrica. Resultado? Ação solidária cancelada, sangue não coletado, vidas que poderiam ser salvas… deixadas para depois. Porque, afinal, o protocolo burocrático é mais importante do que a vida, não é mesmo?
É quase poético: o projeto se chama “Saúde + Perto”, mas acabou ficando mais próximo foi do caos. O herói que alguém precisava hoje, como estampa a frase no ônibus, foi impedido de agir — por um fio, literalmente.
E a Energisa? Essa empresa que cobra tarifa como se fornecesse energia em Marte, mas entrega serviço como se estivéssemos em 1912, com lampião e gerador a manivela. Alegações de solicitação prévia existem. Agenda combinada. Local definido. Só esqueceram de um detalhe: a parte básica, elementar, vital — ligar a energia.
Quem olha de fora até pensa que é exagero. Mas não é. Foi um espetáculo de despreparo com cenário de solidariedade, plateia indignada e protagonista: o descaso.
O presidente da Câmara, vereador Joabe Lira, precisou soltar uma Nota de Repúdio. E não foi por pouco. Porque ver uma ação cancelada por negligência tão básica dói — e envergonha. Mais ainda quando se trata de algo tão essencial quanto a doação de sangue, uma área onde cada frustração pode custar vidas reais em hospitais.
E para completar a tragicomédia acreana, veículos de imprensa — de todos os espectros — noticiaram com manchetes igualmente indignadas:
“Desligada da realidade”, “Energisa atrasa e frustra ação social”, “Não houve coleta por falta de energia”.
A verdade é que, por aqui, a luz no fim do túnel foi cortada antes de começar.
Fica a pergunta: será que a Energisa precisa de um gerador próprio para ligar seu senso de responsabilidade? Ou será que doadores precisarão agora doar sangue à luz de velas?
Porque uma coisa é certa: o que se viu hoje não foi só um apagão elétrico. Foi um apagão de compromisso, empatia e vergonha na cara.





