Quando o Supremo Tribunal Federal proíbe a entrada de celulares na Primeira Turma e exige que os aparelhos sejam lacrados, o que está de fato tentando proteger? A integridade do julgamento? A seriedade dos votos? A blindagem da verdade? Ou apenas o desconforto diante do escrutínio público?
É irônico — para não dizer alarmante — que uma Corte que se diz guardiã da Constituição tenha tanto receio da transparência. A medida, embora revestida do discurso de “segurança institucional”, soa mais como um cerimonial de censura velada. Porque onde a câmera é vedada, o discurso se cala, a verdade se apaga, e o poder se esconde atrás do manto da formalidade.
A pergunta da senadora Margareth Buzetti ecoa com força: “E a liberdade de expressão, fica como?”
Fica sufocada. Fica de mãos atadas diante de uma decisão que não foi debatida com a sociedade, mas imposta. A liberdade de expressão não é só o direito de falar — é também o direito de ver, registrar, compartilhar, fiscalizar. E, neste caso, de acompanhar o funcionamento do Judiciário, que se tornou cada vez mais político e menos jurídico.
O mesmo Alexandre de Moraes que defende a liberdade de imprensa e combate a desinformação agora ergue muros contra o olhar da sociedade civil? Como se celulares fossem mais perigosos que decisões monocráticas com efeitos nacionais. Como se o verdadeiro risco institucional estivesse no bolso do cidadão, e não na toga de quem interpreta a Constituição conforme a maré.
Não se combate o abuso com ocultamento. E não se fortalece a democracia com cerimônias secretas. Proibir celulares é um gesto simbólico de quem prefere o conforto do silêncio ao incômodo do debate público.
Talvez o Supremo tenha esquecido de uma lição básica: “quem não deve, não teme.”




