
O dólar atingiu R$ 5,5995 na abertura do mercado em 10 de julho de 2025, uma alta de 1,79%, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, válida a partir de 1º de agosto. A medida, comunicada por carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na quarta-feira, 9 de julho, foi justificada por Trump como resposta ao déficit comercial dos EUA com o Brasil e à perseguição judicial contra Jair Bolsonaro, classificada por ele como uma “caça às bruxas”. A notícia abalou o mercado financeiro, com o Ibovespa recuando 1,31% na quarta-feira, fechando a 137.481 pontos. Setores como siderurgia, petróleo e agronegócio, que lideram as exportações brasileiras para os EUA, enfrentam incertezas. Lula prometeu retaliar com base na Lei da Reciprocidade Econômica, enquanto Trump alertou que qualquer retaliação brasileira pode elevar ainda mais as tarifas. A decisão intensifica a guerra comercial global iniciada por Trump, que enviou cartas semelhantes a 21 outros países.
O anúncio pegou investidores de surpresa, ampliando temores sobre inflação global e custos de produção. A alta do dólar reflete a percepção de risco no mercado, enquanto o adiamento do prazo tarifário para agosto oferece um breve alívio.
No Brasil, a divulgação do IPCA de junho, que indica novo estouro da meta de inflação, adiciona pressão ao Banco Central, que planeja uma nova carta aberta ao ministro Fernando Haddad.
Tarifa de 50% contra o Brasil
A carta enviada por Trump a Lula detalha a imposição de uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras para os EUA, a maior entre as 22 nações notificadas. A medida é separada de tarifas setoriais, como as de 50% já aplicadas a aço e alumínio, que afetam diretamente a siderurgia brasileira.
Trump justificou a tarifa citando o déficit comercial dos EUA com o Brasil, que, segundo ele, compromete a economia e a segurança nacional americana. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, no entanto, mostram que o Brasil registra déficits comerciais com os EUA desde 2009, contrariando a narrativa de desequilíbrio favorável ao Brasil.
A menção a Jair Bolsonaro, que enfrenta julgamento no Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe, adiciona um tom político à decisão. Trump classificou o processo como uma “vergonha internacional”, sugerindo que a tarifa poderia ser revista caso o Brasil ajuste suas políticas comerciais e judiciais.
O governo brasileiro avalia retaliar com base na Lei da Reciprocidade Econômica, aprovada para responder a tarifas unilaterais. Essa lei permite ao Brasil impor taxas equivalentes a produtos de países que taxem suas exportações, mas Trump alertou que qualquer retaliação levará a tarifas ainda mais altas.
Reação do mercado financeiro
A notícia da tarifa de 50% gerou forte impacto nos mercados. Na quarta-feira, o dólar subiu 1,06%, fechando a R$ 5,5032, e na quinta-feira atingiu R$ 5,6030 na máxima do dia. O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, caiu 1,31%, acumulando perdas de 2,68% na semana.
Investidores temem que as tarifas elevem custos de produção nos EUA, pressionando a inflação global. Isso pode forçar o Federal Reserve a manter juros altos, fortalecendo o dólar e impactando economias emergentes como o Brasil. A incerteza também afetou bolsas globais, com o S&P 500 recuando 0,8% e o Dow Jones caindo 0,9% na segunda-feira.
Setores brasileiros dependentes do mercado americano, como:
- Petróleo: Principal produto exportado, com US$ 7,2 bilhões em 2024.
- Aço e alumínio: Já enfrentam tarifas de 50%, com perdas estimadas em US$ 1 bilhão.
- Café: Segundo maior item de exportação, com risco de perda de competitividade.
- Carne bovina: Exportações podem ser reduzidas devido a custos elevados.
Resposta de Lula e estratégia brasileira
Lula reagiu à carta de Trump com firmeza, declarando que o Brasil não aceitará imposições externas. Ele destacou que a Lei da Reciprocidade Econômica será usada para proteger os interesses nacionais, mas não detalhou medidas específicas.
O governo brasileiro planeja intensificar negociações com os EUA antes de 1º de agosto, buscando reduzir a tarifa ou garantir isenções para setores estratégicos. Outra estratégia é diversificar mercados, com foco em Ásia, Europa e Oriente Médio, para diminuir a dependência dos EUA, que absorvem cerca de 10% das exportações brasileiras.
Autoridades do Ministério da Economia avaliam que a tarifa pode reduzir o superávit comercial do Brasil, que em 2024 foi de US$ 98,8 bilhões. A perda de competitividade no mercado americano preocupa, especialmente para o agronegócio, que enfrenta concorrência de países com tarifas menores.
Guerra comercial global
Trump intensificou sua política de tarifas desde abril de 2025, quando anunciou taxas de até 50% contra dezenas de países, sob o argumento de corrigir déficits comerciais. Após uma pausa de 90 dias, que terminaria em 9 de julho, ele prorrogou o prazo para 1º de agosto, enviando cartas a 22 nações.
Na segunda-feira, 14 países receberam notificações, com tarifas entre 25% e 40%. Japão e Coreia do Sul enfrentarão 25%, enquanto Laos e Mianmar terão 40%. Na quarta-feira, mais oito países, incluindo Brasil, Argélia e Filipinas, foram notificados. O Brasil, com 50%, enfrenta a maior alíquota.
As cartas seguem um padrão:
- Alegam déficits comerciais como justificativa.
- Ameaçam tarifas mais altas em caso de retaliação.
- Sugerem isenção para empresas que fabriquem nos EUA.
- Permitem negociações até 1º de agosto.
Países como Japão e Coreia do Sul planejam intensificar negociações, enquanto a Tailândia expressou confiança em obter tarifas competitivas. A União Europeia, que não recebeu carta, negocia para manter a taxa de 10% atual.
Inflação e juros no radar
O anúncio das tarifas reacendeu temores de inflação global. Nos EUA, analistas estimam que as taxas podem aumentar os preços ao consumidor em até 2%, pressionando o Federal Reserve a manter juros elevados. No Brasil, o IPCA de junho, divulgado em 10 de julho, confirmou novo estouro da meta de inflação, com alta acumulada de 4,8% em 12 meses.
O Banco Central prepara uma carta aberta ao ministro Fernando Haddad, explicando o descumprimento da meta. A alta do dólar, impulsionada pelas tarifas, pode encarecer importações e pressionar ainda mais a inflação brasileira, limitando cortes de juros.
Empresas brasileiras, como Petrobras e JBS, já avaliam estratégias para mitigar perdas. A Petrobras, que exporta petróleo aos EUA, pode redirecionar vendas à Ásia, enquanto a JBS busca mercados alternativos para carne bovina.
Setores brasileiros mais afetados
As tarifas de Trump atingem setores estratégicos do Brasil. O mercado americano é o segundo maior destino das exportações brasileiras, atrás apenas da China, com US$ 31,2 bilhões em 2024. A tarifa de 50% ameaça:
- Siderurgia: Aço e alumínio já enfrentam barreiras, com perdas de competitividade.
- Agronegócio: Café, carne e soja podem perder mercado para concorrentes como Colômbia e Argentina.
- Petróleo: Redução nas exportações pode impactar a balança comercial.
- Indústria de manufaturados: Produtos como calçados e têxteis enfrentam custos elevados.
A Confederação Nacional da Indústria estima que as tarifas podem reduzir as exportações brasileiras em até 20%, equivalente a US$ 6 bilhões anuais.
Reações internacionais
Outros países notificados por Trump também reagiram. O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, afirmou que negociações avançam para evitar tarifas de 25%, enquanto a Coreia do Sul busca isenções para automóveis e aço. A África do Sul, com tarifa de 30%, planeja diversificar mercados, reduzindo a dependência dos EUA.
A Tailândia, que enfrenta 36%, destacou avanços em negociações prévias, enquanto o Camboja reduziu sua tarifa de 49% para 36%. A União Europeia, ainda sem carta, mantém diálogo para evitar taxas mais altas, especialmente para automóveis e aço.
As cartas de Trump geraram críticas globais. Líderes do BRICS, reunidos no Rio de Janeiro, classificaram as tarifas como uma ameaça à economia global, enquanto o Fundo Monetário Internacional alertou para riscos de recessão devido à escalada comercial.
Negociações até agosto
O adiamento do prazo tarifário para 1º de agosto oferece uma janela para negociações. Trump sugeriu que países podem evitar tarifas ao fabricar nos EUA, prometendo agilizar aprovações para investimentos. No entanto, a viabilidade dessa proposta é questionada, devido aos altos custos de instalação nos EUA.
O Brasil planeja enviar uma delegação a Washington para negociar isenções ou reduções. O Ministério das Relações Exteriores trabalha com a ApexBrasil para promover exportações a outros mercados, como China e Índia, que já absorvem 27% e 8% das vendas externas brasileiras, respectivamente.
A guerra comercial também afeta cadeias globais de suprimentos. A proibição de transbordo, mencionada nas cartas, visa impedir que países como Vietnã sejam usados para desviar produtos chineses, que enfrentam tarifas de até 55%.
Impacto político da carta
A menção a Bolsonaro na carta de Trump gerou debates no Brasil. O ex-presidente enfrenta acusações de tentativa de golpe, e a intervenção de Trump foi vista como uma pressão política. O governo Lula avalia incluir o tema nas negociações, mas prioriza questões econômicas para evitar escalada de tensões.
A carta também menciona a possibilidade de ajustar tarifas com base na relação bilateral, sugerindo que decisões judiciais sobre Bolsonaro podem influenciar as negociações. Essa abordagem foi criticada por juristas brasileiros, que defendem a independência do STF.




