A saúde mental e os vícios incapacitantes são hoje um dos maiores desafios da administração pública. No Acre, o tema ganha contornos ainda mais urgentes diante das denúncias de que servidores da saúde em tratamento psicológico ou de dependência química estariam sendo punidos com processos administrativos e até risco de exoneração.
Saúde mental e vícios incapacitantes – Essa situação coloca em evidência uma contradição grave: enquanto leis estaduais e federais determinam que o servidor doente deve ser protegido e acompanhado, a prática administrativa sugere um caminho oposto, de exclusão. O Estado, que deveria ser o primeiro a garantir direitos fundamentais, acaba se transformando em agente de agravamento do problema.
Não se trata apenas de números ou estatísticas. Cada servidor atingido representa uma história interrompida de dedicação ao serviço público. Médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares que, após anos de trabalho em condições muitas vezes precárias, acabam adoecendo. Em vez de encontrar apoio, descobrem-se réus em processos sumários que desconsideram sua condição clínica.
Esse quadro expõe falhas de gestão e revela um problema mais profundo: a incapacidade das instituições em lidar com a dimensão humana do trabalho. A saúde mental, tão discutida em campanhas públicas, precisa sair do discurso e se tornar prática efetiva. Do contrário, o Acre corre o risco de abrir um precedente perigoso de criminalização do adoecimento.
O que a lei assegura
- Estatuto do Servidor (LC nº 39/1993)
- Licença médica de até 730 dias remunerados;
- Avaliação obrigatória pela junta médica oficial do Estado;
- Garantia de contraditório e ampla defesa.
- Política Estadual de Saúde Mental (Leis nº 4.314/2024 e nº 4.556/2025)
- Atendimento psicológico, psiquiátrico e multiprofissional custeado pelo Estado;
- Programas de prevenção ao suicídio e combate à dependência química;
- Readaptação funcional e vedação de discriminação.
📌 Em síntese: saúde mental e vícios incapacitantes exigem cuidado e tratamento, não punição.
Onde a realidade falha
Relatos apontam que:
- Servidores foram notificados apenas via Diário Oficial, sem ciência efetiva;
- Processos foram abertos sem laudo completo da junta médica;
- Faltou acompanhamento multiprofissional;
- O adoecimento foi tratado como falta disciplinar.
Essas falhas podem levar à nulidade dos PADs e à reintegração de servidores demitidos.
Riscos à Administração Pública
Se confirmadas as irregularidades, o Estado pode enfrentar:
- Reintegrações em massa;
- Pagamentos retroativos e indenizações por danos materiais e morais;
- Responsabilização administrativa de gestores;
- Judicialização coletiva, com sindicatos acionando a Justiça em defesa dos trabalhadores.
Reflexão
Afastamento temporário para descanso, terapias regulares, medicamentos e socialização não são privilégios, mas direitos fundamentais assegurados em lei. O servidor que adoece precisa de amparo e cuidado, não de estigma. Tratar a saúde mental e os vícios incapacitantes como indisciplina ou como justificativa para processos sumários é inverter a lógica da lei, da ética e da humanidade.
É preciso compreender que o adoecimento não acontece em um vácuo. Ele é fruto de pressões no ambiente de trabalho, sobrecarga de funções, falta de estrutura e ausência de suporte institucional. Punir o trabalhador nesse contexto é transferir para o indivíduo a culpa de um sistema falho. Mais do que injustiça, é um erro estrutural que mina a confiança do servidor no próprio Estado.
Um governo que ignora esse debate cria um ciclo perverso: o servidor se afasta sem apoio, adoece ainda mais, perde vínculo e, no fim, judicializa a questão. O resultado é uma máquina pública fragilizada e uma população mal atendida.
O Acre precisa decidir se será lembrado como um Estado que acolheu seus trabalhadores ou como um Estado que os puniu no momento de maior vulnerabilidade. Essa escolha não será apenas política ou administrativa, mas um marco moral que definirá como a sociedade acreana enxerga seus direitos e valores humanos.
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Por Eliton Lobato Muniz — Cidade AC News
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Editorial de Jornalismo Portal Cidade AC | News — Rio Branco — Acre / Brasil
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