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Nadine Heredia busca asilo no Brasil após condenação por corrupção da Odebrecht com Ollanta Humala

Nadine Heredia e presidente - Foto: Instagram

A ex-primeira-dama do Peru, Nadine Heredia, desembarcou em Brasília na quarta-feira, 16 de abril de 2025, horas após ser condenada a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro em um caso ligado à construtora brasileira Odebrecht e ao governo venezuelano. Acompanhada de seu filho menor de 18 anos, Heredia buscou refúgio na embaixada brasileira em Lima, onde pediu asilo político para evitar a prisão. A presidente peruana, Dina Boluarte, concedeu um salvo-conduto que permitiu sua saída do país, enquanto seu marido, o ex-presidente Ollanta Humala, permaneceu no Peru e foi detido. O caso, que envolve propinas recebidas durante as campanhas eleitorais de 2006 e 2011, expõe mais uma vez a crise de corrupção que atinge a política peruana, com quatro ex-presidentes implicados no escândalo da Odebrecht.

Ollanta Humala, que governou o Peru entre 2011 e 2016, foi levado a uma prisão especial na zona leste de Lima, onde já estão detidos os ex-presidentes Alejandro Toledo e Pedro Castillo. A sentença contra Humala e Heredia marcou o desfecho de um processo que durou mais de três anos, com acusações de que o casal recebeu US$ 3 milhões em doações ilegais da Odebrecht para a campanha presidencial de 2011. Além disso, promotores apontaram que, em 2006, US$ 200 mil foram desviados do governo de Hugo Chávez, então presidente da Venezuela, para financiar a campanha derrotada de Humala.

A decisão judicial gerou grande repercussão no Peru, onde a corrupção envolvendo a Odebrecht já derrubou outros líderes. A construtora, que mudou seu nome para Novonor em 2020, admitiu em 2016 ter pago cerca de US$ 788 milhões em subornos para garantir contratos de obras públicas em diversos países da América Latina. No Peru, o impacto foi devastador, com investigações que alcançaram nomes de peso da política nacional. A fuga de Heredia para o Brasil e a prisão de Humala intensificaram o debate sobre a impunidade e a crise política no país.

Contexto do escândalo

O caso de Ollanta Humala e Nadine Heredia é apenas uma parte do amplo escândalo da Odebrecht, que abalou a América Latina nas últimas décadas. A construtora brasileira, responsável por grandes projetos de infraestrutura, como estradas e hidrelétricas, usou um esquema sofisticado de propinas para garantir contratos. No Peru, as investigações revelaram que a empresa pagou US$ 29 milhões em subornos entre 2001 e 2016, período que cobre os governos de quatro ex-presidentes.

Além de Humala, Alejandro Toledo, que liderou o país de 2001 a 2006, foi condenado a 20 anos e seis meses de prisão por aceitar US$ 35 milhões em propinas para a construção de uma rodovia que conecta o sul do Peru ao Brasil. Pedro Pablo Kuczynski, presidente entre 2016 e 2018, está em prisão domiciliar enquanto enfrenta acusações de corrupção ligadas ao mesmo esquema. Alan García, que governou em dois mandatos, cometeu suicídio em 2019 ao saber que seria preso por envolvimento com a Odebrecht.

A prisão onde Humala foi detido, localizada em uma base policial nos arredores de Lima, é conhecida como Barbadillo e foi projetada especificamente para abrigar ex-presidentes. Com apenas três celas, o local já esteve lotado, destacando a frequência com que líderes peruanos enfrentam a justiça. A presença de Toledo e Castillo no mesmo presídio reforça a percepção de que a corrupção é um problema sistêmico no país.

Cronologia do caso Humala-Heredia

  • 2006: Ollanta Humala, então candidato presidencial, teria recebido US$ 200 mil do governo de Hugo Chávez para sua campanha, segundo promotores peruanos.
  • 2011: Humala vence as eleições presidenciais, supostamente com US$ 3 milhões em doações ilegais da Odebrecht, conforme investigações.
  • 2016: A Odebrecht admite, em acordo com autoridades americanas, ter pago subornos em vários países, incluindo o Peru, desencadeando investigações.
  • 2017: Humala e Heredia são presos preventivamente por 18 meses, enquanto o caso é investigado.
  • 15 de abril de 2025: O casal é condenado a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro, com Heredia fugindo para o Brasil e Humala sendo detido.

Asilo no Brasil e suas implicações

A decisão de Nadine Heredia de buscar asilo no Brasil levantou questionamentos sobre as relações diplomáticas entre os dois países. Após entrar na embaixada brasileira em Lima, Heredia recebeu rapidamente o salvo-conduto da presidente Dina Boluarte, permitindo sua saída com o filho. A rapidez do processo surpreendeu analistas, especialmente porque o Peru vive um momento de instabilidade política, com Boluarte enfrentando críticas por sua gestão.

No Brasil, a chegada de Heredia ocorre em um contexto de debates sobre o papel do país como destino de figuras políticas latino-americanas em busca de refúgio. O asilo foi concedido com base em tratados internacionais, mas a situação gerou controvérsia, com setores da imprensa peruana questionando se o Brasil estaria abrigando uma condenada por corrupção. A defesa de Heredia argumenta que ela enfrenta perseguição política, mas promotores peruanos afirmam que a sentença foi baseada em provas robustas, incluindo testemunhos de ex-executivos da Odebrecht.

Ollanta Humala, por sua vez, optou por permanecer no Peru, onde sua defesa anunciou que recorrerá da sentença. O ex-presidente, que já passou 18 meses em prisão preventiva entre 2017 e 2018, enfrenta agora um longo período atrás das grades. Sua decisão de não acompanhar a esposa no Brasil foi vista como uma tentativa de enfrentar o processo judicial diretamente, embora as chances de reversão da condenação sejam incertas.

Escândalo da Odebrecht no Peru

O escândalo da Odebrecht no Peru é um dos mais emblemáticos da América Latina, não apenas pelo volume de subornos, mas pelo impacto político. A construtora brasileira operava um departamento dedicado a pagamentos ilícitos, conhecido como Setor de Operações Estruturadas, que distribuía propinas a autoridades em troca de contratos. No Peru, a empresa esteve envolvida em projetos como a Rodovia Interoceânica, que custou ao país mais do que o dobro do valor inicialmente estimado.

A investigação no Peru começou em 2016, após a Odebrecht firmar um acordo de delação com autoridades dos Estados Unidos, admitindo os subornos. Desde então, a força-tarefa peruana, inspirada na Operação Lava Jato do Brasil, identificou irregularidades em contratos assinados durante os governos de Toledo, García, Humala e Kuczynski. O caso revelou uma rede de corrupção que atravessava partidos e ideologias, comprometendo a confiança dos peruanos nas instituições.

Além dos ex-presidentes, outras figuras de destaque foram implicadas. Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori, cumpriu prisão preventiva entre 2018 e 2020 por receber doações ilegais da Odebrecht para sua campanha presidencial. A amplitude do escândalo levou a uma percepção de que a corrupção é endêmica no sistema político peruano, com poucos líderes escapando de acusações.

Impacto na política peruana

A condenação de Humala e Heredia reforça a crise de legitimidade que afeta a política do Peru. Nos últimos 30 anos, quase todos os ex-presidentes do país enfrentaram acusações de corrupção ou abusos de poder. Alberto Fujimori, que governou de 1990 a 2000, foi condenado por corrupção e crimes contra a humanidade antes de ser libertado em 2023. Pedro Castillo, presidente entre 2021 e 2022, está preso preventivamente por tentar dissolver o Congresso, enquanto enfrenta acusações de rebelião.

A instabilidade política no Peru é agravada por um sistema constitucional que facilita conflitos entre o Executivo e o Legislativo. A Constituição de 1993 permite que presidentes dissolvam o Congresso em certas condições, mas também dá ao Legislativo poderes amplos para impeachment, muitas vezes por motivos vagos. Esse cenário resultou em sete presidentes em sete anos, com frequentes crises institucionais.

A fuga de Nadine Heredia para o Brasil e a prisão de Humala reacenderam o debate sobre a necessidade de reformas políticas no Peru. A condenação do casal, embora vista como um avanço na luta contra a corrupção, também expõe a fragilidade das instituições, que lutam para recuperar a confiança da população. Pesquisas recentes indicam que menos de 20% dos peruanos confiam no sistema judicial, e a percepção de impunidade permanece alta.

Detalhes da sentença

  • Condenação: Ollanta Humala e Nadine Heredia foram sentenciados a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro.
  • Acusações: Recebimento de US$ 3 milhões da Odebrecht em 2011 e US$ 200 mil do governo de Hugo Chávez em 2006.
  • Prisão: Humala foi levado à prisão Barbadillo, enquanto Heredia obteve asilo no Brasil.
  • Recurso: A defesa do casal anunciou que apelará da decisão, alegando irregularidades no processo.
  • Impacto: A sentença é a segunda condenação de um ex-presidente peruano no caso Odebrecht, após Toledo.

Repercussão internacional

O caso de Nadine Heredia e Ollanta Humala também teve eco fora do Peru. A concessão de asilo pelo Brasil foi criticada por setores da sociedade peruana, que veem a medida como uma forma de proteger uma condenada. No entanto, o governo brasileiro justificou a decisão com base em tratados internacionais que garantem o direito ao asilo. A situação coloca o Brasil em uma posição delicada, especialmente considerando sua própria história com a Operação Lava Jato, que inspirou as investigações peruanas.

Na América Latina, o escândalo da Odebrecht continua a gerar desdobramentos. Países como Colômbia, Equador e México também investigaram autoridades ligadas à construtora, embora o Peru se destaque pelo número de ex-presidentes implicados. A sentença contra Humala e Heredia é vista como um marco na luta contra a corrupção, mas também como um lembrete dos desafios para erradicar práticas ilícitas na região.

A trajetória de Heredia, que passou de primeira-dama influente a fugitiva, reflete as complexidades da política peruana. Durante o governo de Humala, ela foi uma figura central, muitas vezes descrita como a verdadeira força por trás das decisões do marido. Sua condenação, no entanto, a coloca ao lado de outros nomes que caír

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