MC Poze do Rodo, cantor carioca com quase 6 milhões de ouvintes mensais no Spotify, foi solto nesta terça-feira, 3 de junho de 2025, após ser preso no dia 29 de maio em um condomínio no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio de Janeiro. A detenção, conduzida pela Polícia Civil, ocorreu sob acusações de apologia ao crime e suposto envolvimento com o tráfico de drogas, ligadas à facção Comando Vermelho. O artista, conhecido pelo estilo “trap de cria”, nega as alegações e afirma que suas letras refletem a realidade das favelas, sem promover a criminalidade. A soltura, determinada pela Justiça, reacende debates sobre a criminalização do funk e os limites da liberdade artística. Poze, que cresceu na Favela do Rodo, transformou sua trajetória em música, alcançando sucessos como “Tô Voando Alto” e “Vida Louca”. O caso, amplamente comentado nas redes sociais, destaca a tensão entre cultura, arte e repressão policial no Brasil.
A prisão de Poze gerou intensa repercussão, com fãs e críticos discutindo o impacto de suas letras, que abordam a violência nas favelas e a ostentation de riquezas. O cantor, que já foi baleado e preso no passado, diz ter deixado o crime para focar na música, uma narrativa que ecoa em seu álbum O Sábio, lançado em 2022. A operação policial, descrita pela defesa como “espetacularizada”, incluiu buscas e apreensões de bens, como joias, levantando questionamentos sobre os métodos utilizados.
- Detalhes da prisão:
- Local: Condomínio no Recreio dos Bandeirantes, Rio de Janeiro.
- Data: 29 de maio de 2025.
- Acusações: Apologia ao crime e associação com o tráfico.
- Soltura: 3 de junho de 2025, por decisão judicial.
A trajetória de Poze, marcada por hits e polêmicas, reflete a complexidade do funk carioca, um gênero que enfrenta estigmas enquanto ganha espaço global.
Início no trap de cria
Poze do Rodo, cujo nome real é Marlon Brandon Coelho, emergiu como um dos principais nomes do “trap de cria”, gênero que mistura batidas de funk com elementos do trap e do rap. Sua ascensão começou em 2019 com o single “Tô Voando Alto”, que o apresentou como “o Pitbull do funk”. O sucesso abriu portas para parcerias com artistas como MC Cabelinho, Orochi e Oruam, consolidando sua posição no cenário musical carioca.
O álbum O Sábio, lançado em 2022, reúne 12 faixas que narram sua trajetória, desde a infância na Favela do Rodo até a fama. O disco, produzido pela Mainstreet, gravadora influente no funk, alcançou milhões de streams e reforçou a imagem de Poze como um artista que transforma adversidades em arte. Suas apresentações, com cachês que chegam a R$ 200 mil por show, atraem multidões em eventos como o Rock in Rio.
Letras sob escrutínio
As letras de Poze do Rodo frequentemente abordam a violência nas favelas, a desigualdade social e a ostentation de joias e carros de luxo. Músicas como “A Cara do Crime (Nós Incomoda)” e “Eu Fiz o Jogo Virar” mencionam armas, como a Glock, e fazem críticas à repressão policial. Essas características, típicas do subgênero proibidão, geram controvérsia por supostamente glorificar o crime, segundo autoridades.
Em “Talvez”, Poze referencia a Chacina do Jacarezinho, que deixou 28 mortos em 2021, e a morte de Marielle Franco, assassinada em 2018. Os versos, que misturam denúncia social e relatos pessoais, são vistos por fãs como um reflexo da realidade, mas a Polícia Civil considera que promovem a “narcocultura” do Comando Vermelho. O debate sobre as letras reacende discussões sobre a liberdade de expressão no funk.
- Temas nas letras:
- Violência nas favelas e desigualdade de classes.
- Críticas à polícia e ao sistema político.
- Ostentation de riquezas, como joias e carros.
- Referências a eventos reais, como a Chacina do Jacarezinho.
Posicionamento da polícia
A Polícia Civil do Rio de Janeiro afirma que Poze utiliza suas músicas para disseminar a ideologia do Comando Vermelho, maior facção criminosa do estado. A operação que resultou em sua prisão foi liderada pela Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Propriedade Imaterial, com base em investigações que apontam as letras do cantor como propaganda criminosa.
Durante a coletiva de imprensa, autoridades destacaram que as canções de Poze enaltecem o uso de armas e drogas, além de incentivar disputas territoriais entre facções. A polícia também alega que o artista atua na cooptação de jovens para o crime, utilizando sua influência como MC. A operação incluiu a apreensão de bens, como joias, que a defesa afirma terem sido confiscadas de forma irregular.
Defesa do artista
A defesa de Poze do Rodo contesta as acusações, argumentando que a prisão foi marcada por abusos de autoridade e práticas policiais exageradas. Segundo os advogados, a operação desrespeitou limites legais, com buscas e apreensões que extrapolaram o mandado judicial. A exposição pública do caso, com coletivas de imprensa, também foi criticada por comprometer o sigilo da investigação.
Durante o processo de triagem no sistema penitenciário, Poze declarou filiação ao Comando Vermelho, uma prática comum para evitar conflitos em unidades prisionais divididas por facções. A defesa esclarece que essa declaração não implica confissão de crimes, mas reflete uma medida de segurança dentro do sistema carcerário fluminense. O cantor foi encaminhado à Penitenciária Serrano Neves, conhecida como Bangu 3, destinada a membros do CV.
- Pontos da defesa:
- Acusações de abuso de autoridade na condução da prisão.
- Declaração de filiação ao CV como medida de segurança prisional.
- Crítica à “espetacularização” da operação policial.
- Alegação de apreensão irregular de bens, como joias.
História no crime
Poze do Rodo cresceu na Favela do Rodo, uma comunidade marcada pela presença do Comando Vermelho. Na adolescência, ele admite ter se envolvido com o tráfico de drogas, uma experiência que incluiu trocas de tiros e uma prisão. Em entrevistas, o cantor relata que abandonou o crime para focar na música, uma decisão motivada pelo desejo de oferecer uma vida melhor à sua família.
Essa narrativa de superação é central em suas letras e discursos. Em 2024, durante uma entrevista ao programa Profissão Repórter, Poze afirmou que orienta jovens a evitarem o caminho do crime, usando sua história como exemplo. A transição de traficante a artista, porém, não eliminou as suspeitas das autoridades, que veem suas letras como uma continuidade de sua ligação com o CV.
Proibidão e polêmicas
O proibidão, subgênero do funk carioca, surgiu no final dos anos 1990, influenciado pelo rap nacional e pelo gangsta rap americano. Suas letras, que abordam a vida nas favelas, o crime e a repressão policial, sempre foram alvo de debates. Artistas como Poze enfrentam acusações de glamourizar a violência, enquanto defensores argumentam que as músicas refletem a realidade de comunidades marginalizadas.
Casos de censura ao proibidão não são novos. Em 2008, bailes funk em favelas foram proibidos pelas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Em 2017, um projeto de lei tentou classificar o funk como “crime de saúde pública”, mas foi rejeitado no Senado. Em 2025, a proposta conhecida como “Lei Anti-Oruam” buscou restringir eventos com apologia ao crime, reacendendo discussões sobre a criminalização do gênero.
- Momentos de repressão ao funk:
- 2008: Proibição de bailes pelas UPPs no Rio.
- 2017: Projeto de lei contra o funk como “crime de saúde pública”.
- 2019: Prisão de Poze por apologia ao crime em Sorriso, Mato Grosso.
- 2025: Proposta de lei para limitar eventos com temas criminais.
Repercussão nas redes
A prisão e soltura de Poze do Rodo geraram milhares de postagens no X, com fãs defendendo o cantor e críticos questionando suas letras. A hashtag #PozeDoRodo alcançou os trending topics no Rio de Janeiro, com comentários que destacam a popularidade do artista e a polarização em torno de seu trabalho. Alguns usuários compartilharam trechos de “Mc Não É Bandido”, lançada em 2020, como resposta às acusações.
Postagens também abordaram a ostentation de Poze, com fotos do cantor exibindo joias e carros de luxo. A narrativa de superação, presente em suas entrevistas, foi reforçada por fãs, que o descrevem como um exemplo de resiliência. Por outro lado, autoridades e críticos usaram as redes para condenar o impacto de suas letras em jovens das favelas.
Carreira em números
Poze do Rodo acumula números expressivos no cenário musical. Com quase 6 milhões de ouvintes mensais no Spotify, ele é um dos principais nomes do funk carioca. Seus clipes, como “Vida Louca” e “A Cara do Crime”, ultrapassam 100 milhões de visualizações no YouTube. O álbum O Sábio alcançou o topo das paradas no Brasil, impulsionado por parcerias com artistas da Mainstreet.
O cantor realiza cerca de seis shows por semana, com cachês que variam de R$ 200 mil a R$ 300 mil por apresentação. Sua presença em festivais como o Rock in Rio, em 2024, consolidou sua relevância, atraindo um público diverso. A gravadora Mainstreet, que representa Poze, também gerencia outros nomes do trap, como Orochi e Oruam.
- Números de Poze:
- 5,8 milhões de ouvintes mensais no Spotify.
- Clipe de “Vida Louca” com 120 milhões de visualizações.
- Cachês de até R$ 300 mil por show.
- Álbum O Sábio com 12 faixas e milhões de streams.
Debate cultural
O caso de Poze do Rodo reacende discussões sobre a relação entre arte e criminalidade. Especialistas defendem que as letras do proibidão não incentivam a violência, mas espelham a realidade de comunidades marcadas por desigualdades. A repressão ao funk, segundo pesquisadores, reflete um preconceito contra a cultura periférica, enquanto a polícia argumenta que artistas como Poze contribuem para a “narcocultura”.
A polarização também aparece em projetos legislativos. A tentativa de proibir eventos com apologia ao crime, em 2025, foi criticada por artistas como Oruam, que a classificou como uma forma de criminalizar o funk e o rap. Poze, que já foi absolvido em um caso semelhante em 2019, continua a enfrentar o estigma, mas mantém uma base fiel de fãs que valorizam sua autenticidade.
Shows e agenda
Após a soltura, Poze do Rodo retomou sua agenda de shows, com apresentações marcadas em cidades como São Paulo, Belo Horizonte e Salvador. A Mainstreet anunciou que o cantor lançará um novo single ainda em junho, mantendo o ritmo de produção mesmo após a prisão. A agenda intensa, com até seis shows semanais, reflete a demanda por suas performances, que misturam energia e interação com o público.
Os eventos, realizados em casas de show e festivais, atraem milhares de fãs, com ingressos que variam de R$ 50 a R$ 200. A presença de Poze em plataformas como o Spotify e o YouTube garante que sua música alcance novos públicos, enquanto sua história de superação continua a inspirar debates sobre o papel do funk na sociedade.