Cancelaram o culto. Projetaram promessas. Silenciaram o contraditório. E reelegeram o mesmo nome há 20 anos no poder. O que está acontecendo dentro da CEIMADAC?
O culto que foi cancelado — e o espírito que foi retirado
Sexta-feira, véspera da eleição. Em pleno congresso estadual da CEIMADAC, o culto foi cancelado. Nenhuma nota. Nenhuma explicação. Como quem cancela algo por ordem superior. O silêncio virou o novo litúrgico. Nem oração pública. Nem louvor coletivo. Só bastidores.
E essa decisão, aparentemente “administrativa”, é um sintoma grave. Quando uma instituição religiosa opta por cancelar sua expressão pública de fé justamente no auge do seu encontro estadual, o recado é claro: a política interna falou mais alto que a espiritualidade. O culto foi retirado para dar espaço às articulações. O sagrado foi pausado para que o sistema operasse sem interferência.
O cancelamento do culto representou mais do que uma ausência de liturgia: foi a ausência deliberada do Espírito no processo. Um ambiente espiritual que se cala em véspera de decisão é um ambiente que já fez sua escolha — e ela não é divina.
No sábado, o culto virou palanque
No dia seguinte, sábado (19/7), a CEIMADAC montou o que parecia um culto, mas era um evento político-religioso disfarçado. Transferido para o local onde será a sede do novo centro de convenções da instituição, o evento virou vitrine de projeto. No fundo do palco, uma sequência de slides apresentava a arquitetura da futura obra. A fé virou PowerPoint. O altar, uma planta baixa. O púlpito, um cenário de campanha.
A liturgia cedeu lugar ao marketing. Enquanto o povo cantava, as imagens rodavam. Enquanto orações eram feitas, a maquete do poder era exibida. Nada ali era inocente. Cada imagem era uma mensagem: “Estamos construindo algo grande. Não interrompam esse processo.”
Mas a pergunta real é: construir o quê? Um templo ou um trono? Um centro de convenções ou um império pessoal? A obra física virou argumento eleitoral. E isso não tem nada de espiritual — tem tudo de estratégico.
A eleição que já tinha dono
Desde o início, a eleição carregava um vício de origem. O grupo que controla a CEIMADAC é o mesmo que administra os campos com maior número de votantes. E os únicos que podem votar são pastores e evangelistas ativos nesses campos. Ou seja: quem define os cargos já define também os votos.
Não existe voto direto. A base não escolhe. O povo não participa. E os que são nomeados como votantes, em sua maioria, estão sob autoridade direta da presidência. Esse modelo transforma o processo numa engrenagem perfeita de reprodução de poder. A eleição já começa vencida.
É como disputar uma corrida em que um dos competidores desenhou a pista, distribuiu as regras e ainda escolheu os juízes. Não há equilíbrio. Há manutenção. O nome disso não é democracia eclesiástica. É perpetuação de domínio.
Silenciaram quem tentou pregar
O pastor Celso Gregório, o único concorrente à presidência, tentou se pronunciar. Teve o microfone negado. Não pôde falar durante o congresso. Foi tratado como ameaça, não como irmão. Seu direito de expressar visão, proposta e palavra bíblica foi silenciado diante de centenas de ministros.
Mesmo assim, após a eleição, gravou um vídeo e publicou uma carta pedindo paz, respeito e unidade. Uma postura que honra o evangelho. Porque quem crê de verdade não precisa vencer — precisa testemunhar.
Mas o fato de alguém ser calado dentro da própria igreja, por querer disputar uma eleição interna, já diz tudo sobre o nível de controle estabelecido. Quando até a pregação precisa de autorização política, a cruz virou ornamento.
Números que falam por si
A eleição teve mais de 500 votantes. O resultado foi:
Pedro Abreu – 363 votos
Celso Gregório – 255 votos
Uma vitória expressiva, mas longe da unanimidade. Houve resistência. Houve quem dissesse “não”. Isso mostra que a base está dividida. Que há inquietação. Que a fé não é unânime quando a estrutura sufoca.
Muitos votaram por lealdade. Outros, por conveniência. E uma parcela por medo — medo de perder posição, campo, cargo. A pergunta que se impõe é: quantos votaram por fé? Por consciência? Por liberdade?
O apoio de Antônia Lúcia — de novo
A deputada federal Antônia Lúcia (Republicanos) esteve presente mais uma vez. Parabenizou Pedro Abreu. Declarou apoio irrestrito à nova diretoria. Disse que “homens de fé” foram eleitos e que seu mandato está à disposição da CEIMADAC.
Mas essa relação não é nova. Em 2013, foi exatamente assim. Pedro Abreu foi reeleito com apoio dela, vencendo Luiz Gonzaga por 197 a 111. Na época, a deputada celebrou a “vitória espiritual”. Agora, repetiu o enredo.
O que mudou? A estrutura. O número de campos. A influência. E, sobretudo, o silêncio dos que um dia gritaram por renovação. O discurso de que tudo é “para o Reino” vai se esvaziando quando a estrutura passa a servir mais à política do que ao propósito.
Como as eleições poderiam ter sido — se fossem justas
Para que o processo fosse legítimo e digno de uma convenção cristã, bastavam três fundamentos:
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Paridade de fala – Os dois candidatos deveriam ter o mesmo tempo no púlpito, diante do mesmo público, com a mesma liberdade.
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Comissão eleitoral independente – Com pastores não ligados à presidência, capazes de validar regras, urnas, listas e contagem.
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Censo e voto transparente – Com a publicação de votantes aptos, regras definidas com antecedência, e possibilidade de auditoria.
Nada disso foi feito. Nem anunciado. Nem justificado. Apenas ocorreu. E o silêncio institucional engoliu qualquer tentativa de questionamento.
O que poderia ter sido entregue — e não foi
(E por que isso trai a própria finalidade da CEIMADAC)
A CEIMADAC nasceu com uma finalidade clara: ser a instância máxima de comunhão, orientação doutrinária e coordenação ministerial das Assembleias de Deus no Acre. Ou seja, uma convenção — não um quartel-general.
Ela existe para servir os campos, não para dominá-los. Para padronizar doutrina, não para uniformizar pensamento. Para fomentar unidade entre ministros, não para escolher quem pode falar e quem deve se calar.
Na prática, a CEIMADAC se consolidou como instrumento de manutenção de poder. O centro virou curral. O púlpito virou parede institucional. A comunhão foi substituída por estratégias de ocupação.
Não entregaram o que deviam:
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Não entregaram transparência eleitoral;
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Não entregaram paridade entre os candidatos;
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Não entregaram espaço para a escuta dos campos menores;
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Não entregaram o espírito de unidade que a própria Assembleia de Deus prega em sua origem.
Entregaram, sim, um pacote fechado: evento roteirizado, resultado previsível, fé instrumentalizada. O que deveria ser um fórum de reconciliação espiritual virou um palanque de manutenção institucional.
A CEIMADAC poderia ser espaço de renovação, pluralidade, escuta. Um lugar para o novo entrar sem pedir licença ao velho. Mas foi blindada por dentro. A instituição virou escudo. O rito virou cerca. E a liderança virou trono.
O sistema ou a cruz?
Essa é a pergunta que resta para cada pastor e evangelista que viveu esse congresso.
A cruz representa entrega. O sistema representa domínio. A cruz aponta para o alto. O sistema só olha para dentro. A cruz nivela. O sistema hierarquiza.
Quem vota com medo não vota com fé. Quem silencia o irmão no púlpito está negando o direito sagrado à Palavra. E quem usa a estrutura da igreja para impedir o novo de florescer… já não está mais em missão — está em defesa.
Estamos diante de um império eclesiástico consolidado. A reeleição não foi apenas de um nome. Foi de um modelo. De um pacto. De um esquema.
A pergunta já não é mais sobre quem ganhou. A pergunta é: o que perdemos?
“Pedro, tu me amas?”
A provocação é teológica. Mas tem endereço certo. Jesus fez essa pergunta ao apóstolo Pedro não para reafirmar amor, mas para confrontar vocação e corrigir caminho.
Pedro, tu me amas?
Então apacenta.
Não manipule.
Não dome.
Não perpetue.
Sirva.
Essa mesma pergunta serve hoje ao pastor Pedro Abreu e àqueles que o cercam. Porque não se trata mais de liderança. Trata-se de missão. De caráter. De escuta.
A CEIMADAC pode ter vencido uma eleição. Mas ainda pode perder sua identidade. E se perder sua finalidade bíblica, institucional e espiritual… não importa quantos templos construam, quantos seminários ministrem ou quantos políticos celebrem. Será só mais uma estrutura em ruínas — de pé por fora, rachada por dentro.
O desafio final
Aos pastores e evangelistas que ainda crêem na cruz, que ainda sonham com unidade, que ainda entendem que o Espírito sopra onde quer — mesmo sem pedir permissão ao presidente da convenção:
Parem. Reflitam. Perguntem-se com coragem:
Vocês conseguiriam subir no púlpito da CEIMADAC e pregar arrependimento, justiça e liberdade — sem serem taxados de rebeldes?
Se a resposta for não…
Talvez o altar já não seja mais de Deus.
Talvez seja só o último símbolo de uma cruz que foi trocada por estrutura.
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