Notícias

Municípios

Saúde

Educação

Economia

terça-feira, 1 abril, 2025
24.3 C
Rio Branco

Lula nomeia Guido Mantega para Conselho Fiscal da Eletrobras após acordo de influência

Guido Mantega — Foto Reprodução GloboNews

O governo brasileiro anunciou, no dia 27 de março de 2025, a indicação de Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda, para integrar o Conselho Fiscal da Eletrobras. A nomeação ocorre pouco tempo após a assinatura de um acordo que amplia a influência estatal na companhia, privatizada em 2022. Além de Mantega, outros três nomes ligados a gestões petistas foram indicados para o Conselho de Administração da empresa: Silas Rondeau, Maurício Tolmasquim e Nelson Hubner. Todos compartilham um histórico de oposição à privatização da gigante do setor elétrico, o que reacende debates sobre os rumos da estatal sob o comando do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A decisão ainda depende da aprovação dos acionistas, mas já provoca reações no mercado e entre analistas econômicos.

A trajetória de Guido Mantega no cenário político e econômico brasileiro é marcada por períodos de destaque e controvérsias. Ele ocupou o cargo de ministro da Fazenda entre 2006 e 2015, durante os governos de Lula e Dilma Rousseff, sendo um dos arquitetos das políticas econômicas que levaram o país a um ciclo de crescimento, mas também a críticas por medidas como as “pedaladas fiscais”. Sua indicação para a Eletrobras ocorre em um momento delicado, com o governo buscando retomar o controle sobre empresas estratégicas. O Conselho Fiscal, órgão responsável por supervisionar as finanças e garantir transparência nas contas da companhia, ganha um nome de peso, mas também de forte simbolismo político.

Para o Conselho de Administração, responsável por definir as estratégias da Eletrobras, os indicados trazem experiência acumulada em cargos públicos. Silas Rondeau foi ministro de Minas e Energia entre 2005 e 2007, Maurício Tolmasquim atua como diretor de Transição Energética na Petrobras, e Nelson Hubner dirigiu a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Os três nomes reforçam a intenção do governo de alinhar a gestão da empresa a uma visão mais estatal, em contraste com o modelo adotado após a privatização, quando o controle acionário foi diluído entre investidores privados.

Lula Oficial
Lula Oficial – Foto: instagram

Retorno de Mantega ao centro da política econômica

Escolher Guido Mantega para um cargo de relevância na Eletrobras não é uma decisão isolada no histórico recente do governo Lula. Em 2024, o ex-ministro esteve cotado para assumir a presidência da Vale, uma das maiores mineradoras do mundo. Na ocasião, a proposta enfrentou forte resistência de acionistas e investidores, que viam na nomeação uma tentativa de intervenção estatal em uma empresa privada. Diante do impasse, Lula recuou, mas a indicação de Mantega para a Eletrobras mostra que o presidente segue determinado a posicionar aliados de confiança em papéis estratégicos, mesmo que isso gere atritos com o mercado.

A rejeição à indicação na Vale foi um marco em 2024. Investidores chegaram a ameaçar rever planos de aportes no Brasil, argumentando que a presença de Mantega sinalizava um retrocesso em relação à autonomia das empresas privadas. Analistas apontaram que sua gestão no Ministério da Fazenda, embora tenha impulsionado o PIB em anos como 2007 e 2008, também deixou um legado de desconfiança devido a políticas intervencionistas e ao envolvimento em escândalos investigados na Operação Lava Jato. Agora, na Eletrobras, ele assume um papel menos executivo, mas igualmente sensível, com a tarefa de fiscalizar as contas de uma companhia que movimenta bilhões de reais anualmente.

O acordo que ampliou a influência do governo na Eletrobras, assinado semanas antes da indicação, também reflete a estratégia de Lula para o setor elétrico. A privatização da empresa, concluída em 2022 sob o governo de Jair Bolsonaro, reduziu a participação estatal a cerca de 43% das ações com direito a voto. Contudo, cláusulas recentes permitem ao governo indicar membros para cargos-chave, fortalecendo sua voz nas decisões. A escolha de nomes contrários à venda da companhia sugere uma tentativa de reverter, ao menos parcialmente, o modelo adotado há três anos.

Perfil dos indicados e o peso do passado

Silas Rondeau, um dos nomes para o Conselho de Administração, traz uma bagagem significativa ao cargo. Ele comandou o Ministério de Minas e Energia durante o primeiro governo Lula, mas deixou o posto em 2007 após ser citado em investigações de corrupção. Apesar disso, sua experiência no setor energético é reconhecida, e sua indicação reforça a linha de continuidade com políticas petistas. Maurício Tolmasquim, por sua vez, tem se destacado na Petrobras, onde lidera projetos de transição energética, uma pauta prioritária para o governo atual. Já Nelson Hubner, ex-diretor da Aneel, é visto como um técnico com amplo conhecimento regulatório.

A composição dos indicados revela um padrão claro: todos têm ligações históricas com o PT e com gestões que priorizaram o fortalecimento do Estado na economia. No caso de Mantega, sua passagem pelo Ministério da Fazenda foi marcada por um crescimento econômico expressivo nos primeiros anos, com o PIB brasileiro atingindo picos de 7,5% em 2010. No entanto, os anos finais de sua gestão foram acompanhados por uma crise fiscal que culminou no impeachment de Dilma Rousseff em 2016. Esse histórico dual – de sucesso e polêmica – acompanha sua chegada à Eletrobras e levanta questões sobre como ele lidará com os desafios financeiros da empresa.

Embora o Conselho Fiscal tenha um papel mais técnico do que político, a presença de Mantega pode influenciar a percepção do mercado sobre a Eletrobras. A companhia, que em 2024 registrou lucro líquido de R$ 4,5 bilhões, enfrenta o desafio de equilibrar os interesses dos acionistas privados com as demandas do governo. A ampliação da influência estatal, somada à escolha de nomes ligados ao PT, pode reacender debates sobre a autonomia da empresa e sua capacidade de atrair investimentos no longo prazo.

Impactos no mercado e reações iniciais

A indicação de Guido Mantega e dos outros nomes para a Eletrobras já provoca reflexos no mercado financeiro. Na manhã do dia 27 de março, as ações da companhia (ELET3) registraram oscilações, com investidores avaliando os rumos da gestão. Especialistas apontam que a presença de figuras associadas a políticas intervencionistas pode gerar cautela entre os acionistas, especialmente aqueles que apostaram na Eletrobras após a privatização. Por outro lado, defensores da medida argumentam que a experiência dos indicados pode trazer estabilidade e alinhamento com os planos do governo para o setor energético.

Entre os pontos de atenção estão os planos de investimento da Eletrobras, que incluem a modernização de usinas hidrelétricas e a expansão de fontes renováveis. Em 2023, a empresa anunciou um plano de aportes de R$ 12 bilhões até 2027, com foco em sustentabilidade e eficiência energética. A chegada de nomes como Tolmasquim, que trabalha diretamente com transição energética, pode reforçar essa agenda. Contudo, a supervisão de Mantega nas finanças será crucial para garantir que os recursos sejam aplicados de forma transparente e eficaz.

Outro aspecto relevante é o histórico da Eletrobras no mercado de capitais. Desde a privatização, a companhia atraiu investidores internacionais, como fundos de pensão e gestoras de ativos, que agora acompanham de perto as mudanças na governança. A indicação de nomes ligados ao governo petista pode ser interpretada como um sinal de maior controle estatal, o que, para alguns analistas, contraria o espírito da abertura de capital realizada há três anos.

Nomes do PT na gestão da Eletrobras

Olhar para o passado dos indicados ajuda a entender o peso político da decisão. Silas Rondeau, por exemplo, enfrentou denúncias de irregularidades durante sua gestão no Ministério de Minas e Energia, mas nunca foi condenado. Sua experiência no setor, no entanto, é vista como um trunfo para lidar com os desafios regulatórios da Eletrobras. Maurício Tolmasquim, atual diretor da Petrobras, tem se destacado por projetos que buscam reduzir a dependência de combustíveis fósseis, uma pauta alinhada aos compromissos internacionais do Brasil, como o Acordo de Paris.

Nelson Hubner, por sua vez, dirigiu a Aneel entre 2008 e 2013, período em que o setor elétrico passou por reformas importantes, como a redução das tarifas de energia. Sua passagem pela agência reguladora é lembrada por decisões técnicas, mas também por embates com empresas do setor. Juntos, os três formam um trio que combina conhecimento setorial com fidelidade política ao projeto de Lula, o que pode facilitar a implementação de políticas públicas na Eletrobras.

A escolha de Guido Mantega, no entanto, é a mais simbólica. Durante sua gestão no Ministério da Fazenda, ele enfrentou crises globais, como a de 2008, e implementou medidas anticíclicas que ajudaram o Brasil a atravessar o período com menos danos do que outros países. Por outro lado, sua reputação foi abalada por denúncias de corrupção e pela deterioração das contas públicas nos anos seguintes. Na Eletrobras, sua missão será garantir a solidez financeira da empresa, uma tarefa que exige equilíbrio entre os interesses do governo e do mercado.

Cronograma das indicações e próximos passos

As nomeações anunciadas em 27 de março ainda precisam passar pelo crivo dos acionistas da Eletrobras. O processo segue um calendário definido pela governança da companhia, com etapas que incluem:

  • Abril de 2025: Reunião do Conselho de Administração para avaliar os indicados.
  • Maio de 2025: Assembleia geral dos acionistas, onde as nomeações serão votadas.
  • Junho de 2025: Posse dos novos membros, caso aprovados, com início das atividades.

Esse cronograma reflete a urgência do governo em consolidar sua influência na empresa antes do segundo semestre, quando novos planos estratégicos devem ser apresentados. A expectativa é que as indicações sejam aprovadas, já que o governo detém poder de voto significativo, mas a reação dos acionistas privados será determinante para o clima no mercado.

Desafios à vista para a Eletrobras

A chegada de Guido Mantega e dos outros indicados ocorre em um momento de transformações no setor elétrico brasileiro. A Eletrobras, que responde por cerca de 30% da geração de energia do país, enfrenta pressões para modernizar sua infraestrutura e ampliar a oferta de fontes renováveis. Em 2024, a companhia anunciou investimentos em energia eólica e solar, com projetos previstos para entrar em operação até 2028. A supervisão financeira de Mantega será essencial para assegurar que esses planos sejam viáveis sem comprometer o caixa da empresa.

Além disso, a relação com o mercado financeiro será um ponto crítico. Desde a privatização, a Eletrobras busca se posicionar como uma empresa competitiva no cenário global, concorrendo com gigantes como a francesa EDF e a americana Duke Energy. A indicação de nomes ligados ao governo pode gerar dúvidas sobre a independência da gestão, especialmente em um contexto de juros altos e incertezas econômicas globais.

Para os consumidores, o impacto das mudanças na Eletrobras também é uma preocupação. Durante o governo Dilma, a redução das tarifas de energia foi uma bandeira defendida por Mantega e Hubner, mas acabou gerando desequilíbrios no setor. Agora, com o retorno desses nomes, há especulações sobre novas políticas de preço, embora o modelo atual, regulado pelo mercado, limite intervenções diretas.

O que esperar da nova gestão

Analisar o perfil dos indicados permite traçar possíveis rumos para a Eletrobras. Guido Mantega, com sua experiência em gestão econômica, deve focar na estabilização das finanças e na execução do plano de investimentos. Sua presença no Conselho Fiscal pode trazer uma visão mais alinhada às prioridades do governo, como o aumento da geração de energia limpa e a redução de desigualdades regionais no acesso à eletricidade.

No Conselho de Administração, Silas Rondeau, Maurício Tolmasquim e Nelson Hubner têm a missão de definir estratégias que equilibrem os interesses públicos e privados. Entre as prioridades estão:

  • Ampliação de usinas hidrelétricas no Norte e Nordeste.
  • Investimentos em tecnologias de armazenamento de energia.
  • Parcerias com empresas privadas para projetos de longo prazo.

A combinação de experiência técnica e alinhamento político sugere que a Eletrobras pode se tornar um instrumento central na agenda energética do governo Lula, mas o sucesso dependerá da capacidade de diálogo com o mercado e da aprovação dos acionistas.

Histórico da Eletrobras em números

A trajetória da Eletrobras reflete sua importância no cenário nacional. Alguns dados destacam seu peso:

  • Capacidade instalada: 51 mil megawatts, equivalente a 30% da geração de energia do Brasil.
  • Receita em 2024: R$ 37 bilhões, com lucro líquido de R$ 4,5 bilhões.
  • Investimentos previstos até 2027: R$ 12 bilhões em modernização e expansão.

Esses números mostram o tamanho do desafio que os novos indicados enfrentarão. A gestão financeira, sob o olhar de Mantega, precisará garantir que os recursos sejam aplicados de forma eficiente, enquanto o Conselho de Administração, com Rondeau, Tolmasquim e Hubner, definirá o rumo estratégico da companhia.

A indicação de nomes ligados ao PT também reacende o debate sobre o papel do Estado no setor elétrico. Desde a privatização, a Eletrobras opera em um modelo híbrido, com participação acionária dividida entre o governo e investidores privados. A ampliação da influência estatal, simbolizada pelas nomeações, pode ser vista como um retorno às origens da empresa, fundada em 1962 com a missão de eletrificar o país.

Mais Lidas

Vazamento em gasoduto causa incêndio e evacuação em Kuala Lumpur; veja

Um incêndio de grandes proporções, originado por uma fuga...

MorreaRichard Norton, ator de ‘Mad Max’, aos 75 anos

Morreu no último domingo, 30 de março, o ator...

MPF arquiva inquérito contra Bolsonaro por suspeita de importunação a baleia

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O MPF (Ministério Público Federal)...

Últimas Notícias

Categorias populares

  • https://wms5.webradios.com.br:18904/8904
  • - ao vivo