Em gesto firme pela multipolaridade, Lula reforça pedido por assento permanente para Brasil e Índia no Conselho de Segurança da ONU.
Lula lidera articulação global por reforma no Conselho de Segurança da ONU
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender com veemência, nesta terça-feira (9), a inclusão de Brasil e Índia como membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Em discurso durante a 3ª Reunião Ministerial do G20 sob presidência brasileira, Lula enfatizou que a atual estrutura do conselho “não reflete mais a realidade do século XXI” e que é urgente corrigir a falta de representatividade global.
Ao lado de líderes da Índia e da África do Sul, Lula reafirmou seu compromisso com uma ordem internacional mais justa e equilibrada. Para ele, a inclusão de países emergentes nos organismos centrais da diplomacia mundial é condição indispensável para a legitimidade e eficácia das decisões multilaterais.
“Não podemos continuar com uma estrutura criada após a Segunda Guerra Mundial para resolver os conflitos do século XXI. O mundo mudou, e o Conselho de Segurança precisa mudar também”, declarou o presidente, durante o evento realizado em Brasília.
Contexto geopolítico e a pauta da reforma do CSNU
O Conselho de Segurança da ONU é composto atualmente por cinco membros permanentes com poder de veto: Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido. Desde a criação da ONU em 1945, diversos países têm reivindicado mudanças nesse modelo considerado excludente.
A reforma do CSNU é tema recorrente nas agendas multilaterais, mas enfrenta resistência dos membros permanentes que não desejam abrir espaço ou dividir influência. Lula, assim como outros líderes do Sul Global, sustenta que o atual formato mina a credibilidade e efetividade do sistema multilateral, sobretudo em questões como conflitos armados, mudanças climáticas e desigualdade.
O Brasil, que já ocupou dez vezes uma cadeira rotativa no Conselho, pleiteia desde os anos 1990 um assento permanente, ao lado de Índia, Alemanha e Japão — grupo informalmente conhecido como G4.
Brasil e Índia: convergência diplomática estratégica
A aproximação entre Brasil e Índia ganha força como símbolo da reconfiguração das alianças internacionais. Ambas as nações, integrantes do BRICS e do G20, compartilham posições comuns em temas como reforma das instituições financeiras internacionais, combate à pobreza e soberania energética.
Na fala de Lula, ficou evidente o esforço em elevar o status diplomático brasileiro, utilizando a presidência temporária do G20 como plataforma para consolidar parcerias estratégicas. A menção direta à Índia no pedido de inclusão no CSNU reforça o peso da aliança global sul-sul, com foco na construção de uma nova governança internacional.
Bastidores e sinalizações
Nos bastidores diplomáticos, a movimentação do governo brasileiro é acompanhada de articulações nos bastidores com países africanos, árabes e latino-americanos, com o objetivo de formar um bloco coeso de apoio à reforma do Conselho.
O Itamaraty tem intensificado os diálogos bilaterais e multilaterais, promovendo encontros entre chanceleres e ministros de relações exteriores, para costurar um texto-base que será levado à Assembleia Geral da ONU ainda neste semestre.
Fontes diplomáticas avaliam que a recente crise de legitimidade da ONU diante das guerras na Ucrânia e em Gaza reforça a narrativa brasileira de que o modelo atual está esgotado.
Citações oficiais
“A história da ONU é de conquistas, mas também de omissões graves. O Brasil não quer apenas fazer parte das decisões — queremos que as decisões contemplem todos os povos”, disse Lula, em tom firme, durante a transmissão oficial do evento no Palácio do Itamaraty.
O chanceler Mauro Vieira também reforçou a importância do debate:
“É hora de atualizar as estruturas multilaterais. A inclusão do Brasil e de outras potências regionais é um passo necessário para o equilíbrio da ordem global”.
Perspectivas e próximos passos
Analistas internacionais apontam que o posicionamento de Lula, embora simbólico, tem peso político ao reforçar a protagonismo do Brasil na diplomacia internacional. A presidência do G20 até novembro de 2025 oferece uma rara oportunidade para amplificar essa pauta.
A proposta de reforma será debatida em setembro, durante a Assembleia Geral da ONU, quando Lula fará novo discurso em Nova York. Espera-se que o tema ganhe adesão de países africanos e asiáticos, aumentando a pressão sobre os membros permanentes.
Ao colocar novamente o Brasil na vanguarda das discussões sobre representatividade e governança global, Lula tenta redesenhar o papel do país na arena internacional. Em um mundo cada vez mais multipolar, a voz brasileira busca ressoar não como coadjuvante, mas como protagonista de uma nova ordem mundial — mais inclusiva, mais democrática e mais eficaz.





