Em visita relâmpago, presidente anuncia R$ 1,1 bilhão sem detalhar origem, Marina e Janja não aparecem, e palco vira desfile de saudosismo político.

Na última sexta-feira (08), em Rio Branco, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) permaneceu no Acre por apenas quatro horas, anunciando R$ 1,1 bilhão em investimentos sem esclarecer origem ou prazos, enquanto nomes como Marina Silva e Janja ficaram de fora, e o palco foi ocupado por militantes históricos e rostos sumidos da cena política.
“Aqui ninguém é poupado”
Quatro horas cravadas. Esse foi o tempo da visita de Lula ao Acre. O suficiente para cortar fita, prometer bilhões, tirar foto, tomar um café rápido e embarcar de volta para Brasília sem suar a camisa. Na agenda oficial, “missão de Estado”; na prática, mais um episódio da velha Caravana da Promessa, com público selecionado e roteiro ensaiado.
A primeira grande ausência foi Marina Silva. Ministra, acreana de raiz e símbolo do discurso ambiental, simplesmente não quis assistir ao replay da BR-364 “recuperada” pela trigésima vez. Evitou o constrangimento de explicar como se coloca asfalto sem enterrar a própria narrativa ambientalista.
Depois, Janja. A primeira-dama alegou “outros compromissos” e não deixou nem um story no Instagram. Sinal de que até quem divide o travesseiro com o presidente sabe que certos roteiros não rendem boa foto.
E aí entra o “Senado do Caralho” do Acre. Esse elenco que adora o microfone em Brasília, mas some quando é hora de encarar promessa reciclada no palanque. Não subiram no palco. Estratégia? Covardia? Ou medo de sair na foto errada com 2026 batendo à porta?
O que teve foi um revival político: Raimundão Mendes, Francisca Marinheiro, Nilson Morão e outros militantes históricos que não apareciam nem para tomar café no Mercado Velho. Teve militante beijando o tablado e suspirando: “Oh, saudade de ver tanta gente reunida”. Saudade pode ser bonita, mas não ilumina poste nem tapa buraco de ramal.
O encontro reservado na Cooperacre foi tão discreto que funcionários e alunos do lado nem sabiam que o presidente estava ali. Isso diz muito sobre o tipo de evento: controlado, sem riscos, para garantir que a narrativa corra limpa.
Lula prometeu R$ 1,1 bilhão em investimentos. Mas esqueceu de detalhar o que é dinheiro novo, o que é reaproveitado, o que depende de projeto aprovado e o que… simplesmente não existe. Enquanto isso, o Acre segue no velho esquema: “luz para alguns e vela para todos”.
Vale lembrar: entre 2019 e 2022, Bolsonaro destinou R$ 50,77 milhões ao Acre, com obras documentadas, licitação e CNPJ — como a duplicação da AC-405 e a recuperação da AC-10. Pode não ser bilhão, mas foi concreto no chão, não slide em PowerPoint.
Jorge Viana — ou JorgePex para os íntimos — apareceu em todo enquadramento possível. Mais presente que legenda de telejornal, sempre pronto para estampar o santinho eleitoral. Saudosismo vende mais que planejamento, e ele sabe explorar.
Faltou a turma do TCE, aquele reduto onde Jorge Viana e Irailton Lima dão cursos motivacionais, com Naluh Gouveia e Dulcinéia Benício sempre no camarote. Fica para a próxima temporada da série Agora Vai.
Entre gafes e improvisos, sobrou para o anedotário político: evento onde ninguém sabia que teria reunião, militante beijando palco como se fosse altar, discurso de “bilhões” sem cronograma, anúncio repetido da BR-364 e nenhuma prestação de contas do custo da visita.
Reconheço: o governador Gladson Cameli fez bem em acompanhar de perto e mostrar boa vontade em destravar projetos. Mas seria ótimo se exigisse do Planalto não só promessa, mas cronograma assinado e orçamento garantido. E ponto para o secretário Tchê, que levou demandas ambientais com franqueza — sem medo de parecer “desagradável” para o presidente.
Resumo da ópera: pouso rápido, promessas longas, ausências calculadas, saudosismo no palco, zero clareza nos números e um Acre que continua esperando. Quase ninguém acreditou que Lula esteve aqui. Difícil de ACREditar. Impossível mesmo são as promessas cumpridas.

E antes que perguntem: quanto custou essa visita relâmpago? Vai ter prestação de contas ou vão deixar evaporar como poeira da BR no verão? Santa paciência…
Eu mesmo ia escrever só na segunda-feira, mas ouvi um grito de bastidor: “Só amanhã o c@r@lho. Você tem que me respeitar, rapaz!”. Então foi no domingo mesmo. Desculpa aí, senador.
Linkagem interna sugerida (Cidade AC News):
Eliton Lobato Muniz — Letal, direto e sem poupar ninguém. Jornalismo de impacto, sem pestanejar.






